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sábado, 8 de setembro de 2018


Até quando, justo Senhor, Deus das vinganças? (II)

                                                                                           ♦  Padre David Francisquini 

No artigo anterior – Até quando, justo Senhor, Deus das vinganças? – prometi voltar ao assunto do aborto. Apenas para recordar um ponto importante, torno a citar Santo Agostinho, quando trata dos homens que se movem por amor a Deus e aqueles que se movem por amor egoístico, colocando entre este último o pretenso direito da mulher de decidir sobre o seu próprio corpo no caso do aborto.
Com efeito, é com interesse – e muita preocupação – que vimos acompanhando o desenrolar da ação (ADPF 442), proposta pelo Partido Socialismo e Liberdade – PSOL, pedindo a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. Não precisaria dizer que se tal proposta for aprovada, escancarará as portas da legislação brasileira para todo tipo de aborto.
Para esse Partido Socialista – na verdade comunista radical –, a lei em vigor viola os princípios fundamentais da dignidade da pessoa humana, da cidadania e da não discriminação, além de outros direitos como ‘liberdade’ e ‘igualdade’. Na minha formação sacerdotal estudei ciências naturais, ética, filosofia, sociologia e, é claro, teologia dogmática e moral, não sendo difícil, portanto, perceber a inconsistência desta ação.
Pela mesma razão, entendo a completa impossibilidade de juízes – máxime os da Suprema Corte – julgarem procedente a ação desse pequeno partido político libertário, que prega a liberdade para tudo e para todos, menos para o nascituro inocente e indefeso. É um verdadeiro absurdo sustentar o “direito fundamental da mulher” de tirar a vida de um ser gerado em seu próprio ventre, ainda que resultante de um pecado.
 Constitui uma gravíssima ofensa a Deus e à própria dignidade da mulher atribuir-lhe o direito de matar seu filho. Só num mundo muito decadente alguém ousaria sustentar o contrário. Se for admitido hoje o princípio de que se pode tirar a vida de uma pessoa inocente pelo simples fato de ela não ser desejada, assistiremos amanhã à matança de qualquer pessoa que venha a prejudicar o nosso egoísmo.  
Em passado recente, esta macabra história tornou-se realidade em inúmeras ditaduras, na Europa e em outras partes do mundo. Jesus Cristo ensinou que “haveis de chorar e de lamentar, enquanto o mundo há de se alegrar: vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em gozo”.
Quando está para dar à luz, a mulher sente-se preocupada. Mas sua aflição se transforma em alegria com o nascimento do filho. É a verdadeira imagem de Cristo ressurreto, que veio à luz no domingo da Ressurreição, pois a ordem natural não se contrapõe à ordem espiritual. Essa imagem empregada pelo Filho de Deus simboliza perfeitamente o ódio que seus inimigos tinham d’Ele, pois era inocente.
Mulher que sofreu aborto espontâneo
Cristo no seio da terra representa uma criança no ventre materno, e assim como Cristo ressurgiu dos mortos, assim a criança virá à luz do mundo. Há também na epístola de São Paulo aos efésios (cap. 5, 22-33), na qual ele trata da sublimidade do matrimônio, tal como a união de Cristo com a Igreja. Se o marido é a cabeça da mulher, Cristo é a cabeça da Igreja. Cristo ama a Igreja e se entrega a Ela para torná-La mais resplandecente e gloriosa.
Como Cristo ama a Igreja, assim o marido deve amar a sua esposa como se fosse o seu próprio corpo, porque ninguém aborreceu a sua própria carne. Antes, a nutre e dela cuida como Cristo procede em relação à sua Igreja, pois somos membros de seu Corpo Místico, de sua carne e de seus ossos. E o aborto é a violação do princípio da relação íntima existente entre Cristo e a Igreja, o esposo e a esposa. E mais. Enquanto São Paulo fala de luz, de santo, de imaculado e sem rugas, o aborto fala de destruição, de trevas, de morte e de corrupção.
O fruto do primeiro momento de um relacionamento entre um homem e uma mulher se chama embrião. Ele contém em grau pequeno um ser vital que não tardará a nascer homem ou mulher. Afirmar, em nome da dignidade da mulher, que ela pode eliminar a seu bel-prazer a vida de um filho gerado em seu ventre, contraria rotundamente os princípios mais elementares da racionalidade e da sanidade mental. O livro do Eclesiastes narra que o abortado é como algo que não conheceu a luz do sol, não teve o seu nome ilustrado entre os vivos; sobretudo, não foi levado à pia batismal.
Isaías, profeta, narra o horror daqueles que morrem na guerra pelo fio da espada, cujos corpos estendidos por terra são pisoteados pelos cavalos e pelos guerreiros, comparando-os aos abortados que não têm sepultura nem honra. Com efeito, a situação do abortado é pior que a do morto na guerra, sem lar, sem o aconchego da família nem sepultura. E o abortado foi morto por uma pena capital imposta por lei humana...
Ancorada em bons teólogos e no Catecismo da Santa Igreja, a moral católica nos ensina que só é lícito matar alguém em legítima defesa da própria vida ou numa guerra justa, ou ainda no cumprimento de uma execução penal ditada por um tribunal legitimamente constituído. Nenhuma autoridade, por mais soberana que imaginar se possa, poderá autorizar ou legitimar tal prática.
A expectativa dos brasileiros é a de que os juízes do Supremo Tribunal Federal julguem com reta consciência esta questão, não se deixando influenciar por pressões daqueles que defendem a cultura da morte, nem mesmo por alguma convicção ideológica própria que vá nesse sentido, mas que pautem seu voto na lei natural, na Lei de Deus e na Constituição brasileira, que garantem o direito à vida desde a concepção.
Em oração e sempre vigilantes, rogamos a Nossa Senhora Aparecida que proteja o Brasil do pecado do aborto, que brada aos céus e clama a Deus por vingança. Que os brasileiros sejam obedientes aos preceitos de Deus, que nunca desampara seus filhos.


sexta-feira, 10 de agosto de 2018


Até quando, justo Senhor, Deus das vinganças?

♦  Padre David Francisquini 

“Abyssus abyssum invocat”, ou seja, um abismo chama outro abismo, como está expresso no Salmo 42,7 para nos ensinar que uma falta cometida predispõe o pecador a cometer outras mais graves. Assim, a avalanche crescente de pecados e de crimes prepara o ambiente psicológico para outros ainda mais hediondos, como o infanticídio que vem grassando por todo o mundo com a prática indiscriminada do aborto.
O frenesi nas tentativas de descriminalizar o crime do aborto através de legislações facciosas se deve em grande medida a essa situação moral em que nos encontramos, sendo incontáveis as organizações públicas e privadas dedicadas a promover o infanticídio — ONU, ONGs, governantes, legisladores, magistrados ativistas —, às quais não faltam imensos recursos financeiros e midiáticos…
Com efeito, há uma sistemática e monumental propaganda no sentido de se criar uma mentalidade cada vez mais favorável ao aborto. Essa maneira de pensar difundida pela mídia parece revestir-se de tal direito, que nos recentes debates propostos em audiência pública no Supremo Tribunal Federal se pretendeu tratar-se de obrigação do Estado legalizar o aborto para garantir aos profissionais da área o livre exercício de sua profissão, transformando o crime hediondo em mera questão de saúde.
Para facilitar os seus objetivos, defensores do aborto levantam objeções — como se fossem de consciência — e procuram impor à sociedade a sua agenda com recursos feitos ao Judiciário por partidos de esquerda, como acabou de se passar com a ADPF 442 do PSOL junto ao STF. São pessoas que não se importam com a Lei de Deus nem com o pensamento do nosso povo, o qual repudia este crime que brada aos céus e clama a Deus por vingança.
Com o paulatino aparelhamento do Estado, tais práticas criminosas são defendidas por movimentos como “Católicas” pelo direito de decidir — que de católicas não têm nada —, por representantes da igreja luterana, como a pastora Lusmarina Campos, que falsamente “lastreada” na Bíblia se posiciona favoravelmente ao crime do aborto, ou ainda por certa mídia e até mesmo pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
O princípio moral (e ético) — válido, portanto, para todos os tempos e todos os lugares — é

A ministra do STF, Rosa Weber, dirigiu as audiências públicas no STF
  a respeito da descriminalização do aborto — a cruel execução 
de inocentes— até a 12ª semana de gestação.
a obrigação que incumbe à mãe de levar a sua gravidez até o fim, pois é outro ser humano que ela leva em seu ventre, com direito fundamental à vida, não podendo em hipótese alguma ser eliminado. A única política pública aceitável é evitar o aborto, oferecendo assistência material e moral à grávida; caso contrário o Estado estará favorecendo o assassinato de um inocente.
Ser católica e favorável ao aborto são termos incompatíveis, irreconciliáveis como a luz e as trevas, o dia e a noite, a verdade e o erro. Não há católica com direito de decidir a favor do aborto. Tal entidade utiliza o nome de “católica” apenas para causar confusão e, nas águas turvas, obter alguma influência na sociedade ao produzir a impressão de que na Igreja há uma corrente que defende o aborto, de modo a parecer que os católicos se encontram divididos. A fundadora desse movimento, Frances Kissling, é uma ex-freira que diz nunca ter sido católica (cfr. Catecismo Contra o Aborto, 3ª edição. pág. 55).
As pessoas que se manifestam defensoras dessa prática criminosa procuram subterfúgios para impor a sua agenda revolucionária através de considerações sentimentais, alegando a contaminação da mulher diante de uma gravidez indesejada, condições de pobreza em que a criança irá viver, e assim por diante. Alegam ainda que a legalização do aborto tirará a inibição da mulher de recorrer ao Estado, em vez de praticá-lo na clandestinidade.
Ao contrário, essas mesmas pessoas nunca ressaltam as consequências do aborto na psicologia das mulheres que o praticam, como a consciência culpada e outros traumas insanáveis que carregarão para o resto de suas vidas. Quanto mais sofismas apresentados pelos defensores de sua prática, mais complicada se torna a situação, pois o ensinamento da Igreja diz que o demônio é o pai da mentira, e, desde o início, é homicida, conforme São João. Foi o demônio que incitou Caim a matar seu irmão Abel e por isso atraiu sobre si a maldição de Deus.
Herodes - A matança dos Inocentes 
O aborto é resultado de um homicídio voluntário, e tanto quem o faz como quem o legaliza atrai sobre si igualmente a maldição divina. Santo Agostinho descreve a humanidade em duas cidades, a Cidade de Deus e a cidade dos homens, guiadas ou por amor de Deus ou por amor egoístico. O direito de decidir sobre o próprio corpo se fundamenta apenas no egoísmo humano, incapaz de se imolar pelo filho e ávido em satisfazer suas próprias paixões, enquanto os habitantes da Cidade de Deus não se movem por amor de si mesmo, mas por dedicação à vontade do Criador.
Se o Brasil oficializar a matança dos inocentes pela legalização do aborto, a gravidade do pecado aumentará, pois passará a ser um pecado coletivo, isto é, de o Brasil adotar enquanto nação uma prática criminosa que clama a Deus por vingança. Com base nos ensinamentos de Santo Agostinho, as nações não irão para o Céu nem para o Inferno, mas serão castigadas ou premiadas nesta Terra por suas obras.
Voltarei brevemente ao tema.

(*) Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira (RJ).

terça-feira, 31 de julho de 2018


Agenda LGBT contra a Igreja


*Padre David Francisquini

O artigo Católicos LGBT organizam movimento para reivindicar mais espaço na Igreja, de Anna Virginia Balloussier (folha.uol, 23/7/18), traz declarações de uma ativista homossexual que de tal maneira deixou cair a máscara, que produziu o efeito da pedrinha de sal ao cristalizar todo o líquido de um copo.
A árvore boa dá bons frutos, e a árvore má dá maus frutos, pelos frutos conhecereis os homens, ensina o divino Salvador (Mt. 7, 20). Toda a árvore que não der bom fruto será lançada ao fogo. Portanto, as pessoas que não produzem bons frutos querem transformar o ambiente católico numa atmosfera concessiva ao pecado que clama a Deus por vingança.
Aprendi nas aulas de Catecismo que a Igreja Católica – sociedade visível fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo – tem seus mandamentos, sua doutrina, suas leis, suas regras, seus cânones. Todo esse conjunto fundamentado na Sagrada Escritura e na Tradição constitui um bloco do qual não se pode aceitar apenas uma parte.
Mais ainda, pelos estudos feitos no Seminário, aprendi também que os princípios da religião católica são inegociáveis. Assim, entre o ensinamento da Igreja e o homossexualismo, por exemplo, não existe aproximação possível; são irreconciliáveis como a luz e as trevas, a verdade e o erro, a virtude e o vício; há entre eles uma incompatibilidade total, pois são excludentes.
Se a Igreja abrisse mão deste ponto, deixaria de ser a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois está no livro do Gênesis: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te esmagará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar” (Gen. 3, 15). E essa inimizade é eterna.
Vejamos as palavras da ativista homossexual que se insurge contra a autoridade eclesiástica: “Questionamos muito a atitude de esperar que o Papa mude alguma coisa, como se tivéssemos de aguardar algum tipo de autorização vinda do alto da Hierarquia para podermos ser Igreja. Isso nós já somos”. Seria bom se essa ativista que diz “ser Igreja” soubesse que, conforme afirma São Paulo na segunda epístola a Timóteo, autoridade alguma na face da Terra pode mudar a doutrina de Cristo.
Ele ainda aconselha:  “Prega a palavra, insiste, quer agrade, quer desagrade; repreende, suplica, admoesta com toda a paciência e doutrina. Porque, virá tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina, e contratarão para si mestres conforme os seus desejos, levados pela curiosidade de ouvir, e afastarão os ouvidos da verdade para os abrir às fábulas” (Tim. 4,1-8).
Afirmar ser igreja revela uma total deformação do conceito de Igreja. São Pio X ensina que a Igreja é uma sociedade visível composta de eclesiásticos e de leigos. Os primeiros pertencem à Igreja docente, ou seja, têm o poder de ensinar, governar e santificar; os leigos são da Igreja discente, isto é, devem ser ensinados, governados e santificados pelos seus pastores. Para ser cristão é indispensável ser batizado, crer e professar a doutrina e a lei ensinadas por Jesus Cristo e contida no magistério da Igreja.
O ensinamento de Nosso Senhor na parábola do Bom Pastor e do filho pródigo que volta à casa paterna ressalta o Seu amor para com as almas afastadas da graça e da amizade divina. Ele faz de tudo para que elas voltem ao redil, pois há mais júbilo no céu por um pecador que faça penitência do que por noventa e nove justos que não precisam dela.
“Haverá mais alegria no Céu por um pecador que se arrepende do que noventa e nove justos que não precisam arrepender-se” (Lucas, 15,7). A pior tragédia de uma alma é quando ela quer justificar sua má conduta impondo-a aos demais. Ao reivindicar cidadania para o erro, o seu coração endurece, dificultando a sua conversão.
Toda sociedade civilizada tem suas leis, seus princípios, seus códigos. Seus membros devem aderir a esse conjunto normativo, pois são afins com ele e existem para o bem comum. Assim, a Igreja como sociedade visível de caráter espiritual não pode transigir em relação aos ensinamentos do seu Fundador, o Filho de Deus encarnado.
O próprio Nosso Senhor nos alerta sobre os falsos profetas que vêm a nós com pele de ovelhas e por dentro são lobos vorazes. Porventura se colhem uvas de espinhos ou figos de cardos? São Paulo Apóstolo, na epístola aos Romanos, afirma que quando somos livres do pecado e feitos servos de Deus, temos por fruto a santidade e por fim a vida eterna.
Essa ativista homossexual, pelo contrário, se considera acima dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Igreja a ponto de querer impor condições à autoridade eclesiástica: “Questionamos muito a atitude de esperar que o Papa mude alguma coisa”... É bom lembrá-la da lição divina de que nem todo aquele que diz “Senhor, Senhor” entrará no reino do céu, mas quem faz a vontade de meu Pai que está no céu, e a vontade de Deus está contida nos Mandamentos.
A ativista vai mais longe. Para ela, essa linguagem progressista do papa não é precisa, ‘não faz sentido’ a Igreja excluir e ferir. ‘Cristo andava com os piores pecadores, os maiores párias da sociedade’. Os apóstolos e discípulos seriam pecadores péssimos, párias da sociedade? Da mesma forma que Lázaro, José de Arimateia e Nicodemos, que comprou 100 libras de mirra e aloés para os funerais do Homem-Deus? (Jo 19-33)
Qual o conselho do Divino Mestre à mulher adúltera, senão “vai e não peques mais”? Se nas palavras de uma ativista homossexual não faz sentido a Igreja excluir e ferir, então o Papa Leão X deveria ter “incluído” os erros de Lutero no Magistério da Igreja? A Igreja deveria ter aceitado o divórcio e “incluído” Henrique VIII e todo o anglicanismo como enriquecimento do magistério? São Pio X deveria ter aprovado e “incluído” os erros modernistas, em vez de condená-los?
A Igreja deveria acatar e “incluir” Frei Boff e os teólogos da Teologia da Libertação em seu seio? Talvez essa ativista inclua na sua agenda a reabilitação de Lúcifer e sua “inclusão” no reino celeste, um verdadeiro absurdo, mas é a conclusão que se pode tirar de seu ‘princípio inclusivo’. Na verdade, ela nega o princípio metafísico da contradição, a incompatibilidade do vício com a virtude.
Convém lembrar o que diz São Pio X no Catecismo Maior: “A sodomia está classificada em gravidade logo depois do homicídio voluntário, entre os pecados que clamam a Deus por vingança. Desses pecados se diz que clamam a Deus por vingança, porque o Espírito Santo assim o diz, e porque a sua iniquidade é tão grave e evidente, que provoca a punição de Deus com os castigos mais severos.”
Por sua vez, São Pedro Damião afirma: “Este vício não pode jamais ser comparado a nenhum outro, pois ultrapassa a enormidade de todos os vícios. Ele corrompe tudo, mancha tudo, polui tudo. Por sua própria natureza, não deixa nada puro, nada limpo, nada que não seja imundície. A carne miserável arde com o calor da luxúria; a mente fria treme com o rancor da suspeita; no coração do homem miserável o caos ferve como o inferno.”
E prossegue: “Depois que essa serpente venenosa introduz suas presas na infeliz alma, o senso é retirado, a memória se desgarra, a clareza da mente é obscurecida. Ele não se lembra mais de Deus, até se esquece de si mesmo. Essa praga solapa os fundamentos da fé, enfraquece a força da esperança, destrói o laço da caridade; afasta a justiça subverte a fortaleza, expulsa a temperança, entorpece a perspicácia da prudência” (Homem e Mulher Deus os Criou", p. 26).
Protestemos contra essa rebeldia, que é também uma ingerência e um insulto à Santa Igreja de Deus. Aconselharia a tal ativista que lesse meu livro Homem e Mulher Deus os Criou — As relações homossexuais à luz da doutrina católica, da Lei natural e da ciência médica. 

domingo, 1 de julho de 2018


Edifiquemos nossa casa sobre a rocha firme


*Padre David Francisquini

Dos ensinamentos emanados dos livros sagrados, é relevante aquele proveniente da parábola da vinha abandonada. Inteiramente dominada pelas ervas daninhas, suas cercas haviam caído, permitindo aos animais de entrar e sair, devastando o que restava do vinhedo.

Se não é próprio à virtude da sabedoria o homem iniciar uma obra e deixá-la inacabada, mais insensato é abandoná-la depois de concluída, seja por imprevidência, falta de zelo ou de coragem para mantê-la próspera e produzindo frutos.

Assim diz o Profeta Jeremias: “Numerosos pastores destruíram a minha vinha, pisaram a minha propriedade, trocaram a minha deliciosa herança em deserto e solidão. Devastaram-na, e ela está de luto diante de Mim. [...] Semearam o trigo e colheram espinhos; receberam a herança, mas não lhes aproveitará; envergonhados sereis dos vossos frutos, por causa da grande cólera do Senhor".

A vinha plantada, cultivada, resplandecente, descrita pelo profeta é a esposa de Cristo, a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, hoje numa situação muito próxima à descrição bíblica sobre a vinha do Senhor. Basta olharmos ao nosso redor a decadência moral e religiosa manifesta na displicência, quando não na cumplicidade em face da conjuração dos ímpios, daqueles que deveriam ser os seus guardiães.  
Para dar um exemplo, a avalanche de erros que contagia por todos os rincões da terra grande número de jovens e crianças, sem reação alguma por parte dos vigilantes da grei do Senhor. A situação se apresenta tão grave que, sem uma assistência muito especial da graça, os fiéis não poderiam continuar crendo que as portas do inferno não prevalecerão em todo o orbe.

Nem sempre é fácil distinguir a verdade do erro. A parábola ensina que, movidos pelo demônio, há na vinha do Senhor os semeadores de más sementes – hoje personificados em modernistas e progressistas – que, ao germinarem e crescerem, acabam por dominar o que foi arduamente plantado e cultivado pelo Senhor.

Em meus numerosos contatos, não apenas em âmbito regional, venho constatando uma ação quase sistemática das prefeituras no sentido de contratar artistas que, no mais das vezes, farão a apologia das drogas, da prostituição, do amor livre e da violência para os seus munícipes. Ouvi dizer que até sacerdotes costumam frequentar esses ambientes...

            Os evangelistas São Lucas, São Mateus e São Marcos se referem à vinha plantada e cultivada pelos lavradores do Senhor. É uma clara alusão à vinha que Deus plantou desde o início da criação do mundo, contratando os operários para a manutenção de seu cultivo.

Assim como o inimigo penetrou nos recintos da Sinagoga antiga a ponto de induzi-la a cometer o pecado de deicídio, assistimos em nossos dias ao final de um processo demolidor iniciado há séculos por inimigos visando à destruição do edifício milenar da Santa Igreja Católica.

Na previsão do que disse Nossa Senhora em Fátima – “a Rússia espalhará seus erros pelo mundo” –, nem sequer a Igreja de Cristo foi poupada do flagelo. E a própria Mãe de Deus promete um castigo jamais visto... Aliás, as suas palavras são um eco da profecia de Isaías:

"Que coisa há que eu devesse fazer mais à minha vinha, que lhes não tenha feito? Far-lhe-ia acaso injúria em esperar que ela desse boas uvas em lugar das labruscas que produziu? Pois agora vos mostrarei o que hei de fazer à minha vinha: arrancar-lhe-ei a sebe, e ficará exposta ao roubo; derrubar-lhe-ei o muro, e ficará sujeita a ser pisada.

“E farei com que fique deserta; não será podada nem cavada; e crescerão nela os espinhos e os abrolhos; e mandarei às nuvens que não derramem sobre ela a chuva. A vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel e os homens de Judá, a planta na qual ele tinha as suas delícias; e esperei que praticasse a retidão, e eis que só a iniquidade, e que praticasse a justiça, e eis que somente se ouvem clamores" (Is. 5, 4-7).

Hoje, a Santa Igreja padece com a infiltração comunista, com a Teologia da Libertação, e com todos os erros que foram tomando corpo depois do concílio Vaticano II. Erros esses reiteradamente denunciados pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, por exemplo, no abaixo-assinado com 1.600.368 (um milhão, seiscentas mil, trezentos e sessenta e oito) assinaturas, coletadas em 1968 e enviadas em seguida ao Papa Paulo VI, pedindo-lhe medidas contra a infiltração comunista na Igreja.

Cooperadores da TFP brasileira em campanha do Abaixo-assinado de 1968
Padre David, em Bragança Paulista, quando era seminarista,
 colhendo assinaturas contra a infiltração comunista na Igreja
Infelizmente, essa petição angustiada não mereceu nenhuma resposta ou providência do Sumo Pontífice. A partir de então, uma defecção da fé, da moral e dos costumes vem dizimando instituições como a família, um dos pilares da sociedade. A que abismos chegaremos se Deus não intervier?


No entanto, fiquemos atentos à Sua voz em nossas almas, pois quem souber ouvi-la e guardá-la no coração, será como alguém que edificou sua casa sobre a rocha firme, e não sobre a areia, como faz o insensato. Mesmo que caia a tempestade, transbordem os rios e soprem os ventos, ela permanecerá de pé, pois essa rocha firme é a Santa Igreja, contra a qual Nosso Senhor prometeu que as portas do inferno não prevalecerão.

segunda-feira, 21 de maio de 2018


“Estarei convosco todos os dias”

*Pe. David Francisquini

           
Jesus Cristo, que se imolou e se ofereceu a Deus Pai por nós no alto do Calvário, é o mesmo que diariamente se imola em nossos altares em oferenda a Deus por nossos pecados.  A fim de comemorar a presença real de Nosso Senhor na Eucaristia, a Igreja Católica instituiu a festa de Corpus Christi, celebrada sempre com beleza, suntuosidade e requinte. Em decorrência deste caráter sagrado, a procissão eucarística se reveste de elevação e nobreza.
            A Eucaristia — ao mesmo tempo sacramento e sacrifício, sinal distintivo e visível da graça — é o próprio Jesus Cristo que se dá em alimento enquanto se imola e se oferece a Deus Pai no sacrifício da nova Lei. A missa é o símbolo do que existe de mais alto, de mais sagrado, de mais perfeito, pois liga Deus aos homens, o Céu à Terra. Aquele mesmo Jesus que se encerrou no ventre materno de Maria se encerra nas nossas igrejas sob as espécies do pão e do vinho.
            Nos Evangelhos, Cristo se autodenomina maná que desceu do céu, cordeiro que foi imolado, “o pão que darei é minha carne”. Como os judeus se escandalizavam com tais palavras, Jesus foi além: “Se não comerdes a carne do filho do Homem, não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeiramente comida, o meu sangue verdadeiramente bebida”.
            Na consagração eucarística ficam apenas as aparências de pão e de vinho. Pode-se fazer uma comparação com o que se passa no interior de um ovo que se transforma em ave e, contudo, sua casca não muda, permanecendo a mesma. As substâncias de pão e vinho se transformam em corpo e sangue pelo mistério da transubstanciação que se opera na Consagração, permanecendo os acidentes do pão e do vinho. Daí a razão de Cristo estar presente todo inteiro, tanto na espécie de pão quanto na de vinho, mas o sacrifício está representado e retratado nas duas distintamente.

            Foi tal a alegria de Cristo ao instituir a Eucaristia na última Ceia, segundo relata São Lucas, que Ele mesmo desejou comer com os discípulos o cordeiro pascal antes de padecer. “Digo-vos, pois, que não mais o comereis até que isto se realize no reino de Deus”. O júbilo do Divino Mestre na instituição da Eucaristia é surpreendente e repleto de unção.
            Ele fica conosco nos altares dia e noite, nimbado pela luz de uma lamparina que Lhe faz companhia. Quem comunga a hóstia consagrada come a carne de Jesus Cristo. Assim o Filho de Deus encarnado fundamentou esta verdade: “O Pai que vive me enviou, eu vivo pelo Pai, assim também o que me comer viverá por mim. Este é o pão que desceu do Céu. Não como o maná que os vossos pais comeram e, contudo, morreram. Quem comer deste pão viverá eternamente”.
            O pão e o vinho consagrados são um dogma para os cristãos, pois o pão se transforma em carne e o vinho em sangue. Aquilo que contemplamos pela fé supera a natureza, como afirma Santo Tomás, pois as espécies diferentes são apenas sinais que ocultam coisas exímias, esplêndidas, uma realidade que é o cume do amor de Cristo para conosco, que não nos deixa órfãos, porque está sempre conosco nesse sacramento divino.
            Ao comungar, o justo e o perverso recebem vida e morte, pois ao consumir essa realidade transcendental e real, conseguem para si a eternidade feliz ou infeliz. Por isso São Paulo Apóstolo afirma que cada um deve examinar a si mesmo, ao receber a Eucaristia, pois quem comunga indignamente come ou bebe a sua própria condenação. E São Tomás continua dizendo que ao receber a Eucaristia, “morte do mau, vida do bom”, ele vê como a mesma comida produz efeitos contrários, isto é, vida e morte.
            Ao fiel e digno comungante são reservados maravilhosos efeitos, como o aumento da vida na alma — a graça santificante — e a eterna bem-aventurança; purifica como o fogo; enfraquece as más inclinações como a ira, a inveja, a avareza, a deslealdade, apaga os pecados veniais. Como o sol que sobrepõe a aurora, a Santa Comunhão esparge luz e calor, e promove as graças atuais. Também aos enfermos é de grande e indispensável benefício, dando-lhes conforto, soerguimento e até a cura dos males de corpo e de alma.
           
Tão misteriosa é esta ação sacramental que o sacerdote, ao pronunciar as palavras da consagração sobre o pão e o vinho, empresta o seu aparelho fonador a Cristo, pois fala em nome de Cristo — in persona Christi, ou seja, como se fosse o próprio Cristo que estivesse pronunciando aquelas palavras que operam a transubstanciação. É um verdadeiro mistério de nossa santa Fé.
            O que os olhos não veem, a fé nos declara como realidade, a presença real de Cristo, presente real e substancialmente em nossos altares. O Céu se liga à Terra como um sol que afasta as trevas da noite. Diz Santo Afonso: “Os gentios imaginaram tantos deuses, mas não engendraram nenhum tão amoroso como o nosso Deus, que está tão perto de nós e com tanto amor nos assiste”.
            “Não há outra nação tão grande que tenha os seus deuses tão perto dela, como o nosso Deus está presente a todos nós” (Det. 4, 7). A Santa Igreja aplica com razão esta passagem do Deuteronômio à festa do Santíssimo Sacramento". 
A eucaristia é um verdadeiro sol que ilumina a vida cristã. Não há nesta terra o que encante mais e anime tanto, nos cumule de esperança e de alegria que ter Cristo presente entre nós: ‘Eis que estarei convosco todos os dias, até à consumação dos séculos.