A
águia, o urubu e a promessa de Fátima
Pe. David Francisquini
Ao contemplar certos aspectos da natureza, o homem muitas
vezes fica tão tomado de admiração que sai de seu microcosmo para remontar a
Deus, num verdadeiro ato de louvor ao Criador de todas as coisas, visíveis e
invisíveis. A Escritura Sagrada costuma mencionar com frequência a águia como a
ave forte e veloz, que vive entre o céu e a terra. Contemplativa e guerreira, ela
simboliza valores próprios a ensinar os homens a viver nesse vale de lágrimas
com os olhos postos nas alturas.
Conhecida como a rainha das aves, a águia é combativa
e majestosa, voa alto, muito alto, com a força própria de sua natureza nobre e,
portanto, cheia de direitos. Se ela conquista os mais altos píncaros é graças à
sua natureza, pois possui todas as prerrogativas de verdadeira rainha. Para
indicar uma nação aguerrida que às vezes vem de longe para conquistar outros
povos e submetê-los ao seu arbítrio, o Deuteronômio
(28, 49) a compara a uma águia que irá devorar todos os frutos dos estados
a serem subjugados. Não sem razão, os povos afeitos à luta costumam tomar por
símbolo a águia.
No espírito do livro bíblico citado acima, as águias não
se compadecem de suas presas. Assim acontecerá com toda a geração perversa e adúltera
que abandona a Lei de Deus, passando a viver apenas para a satisfação de seus
caprichos. De uma sociedade forjada por pessoas desse naipe não ficará pedra
sobre pedra, como disse Nosso Senhor a respeito do povo judeu. Quais presas
fáceis, elas poderão saltar como cabritos, mas a águia se apoderará delas para o
seu sustento e o de seus filhotes.
Até a ira de Deus tem elegância, majestade, agilidade
e nobreza, por isso ela é santa. Para estabelecer a ordem no mundo que Lhe
virou as costas, Deus se serviu de sua Mãe, em Fátima, para anunciar que uma
nação predadora e má – a Rússia – espalharia seus erros pelo mundo. Ela é a
nação que vem de longe para tomar com a precipitação não da águia, mas de um
abutre, as carnes apodrecidas das nações pecadoras.
Uma particularidade dos urubus é que eles parecem não
fazer muita força para voar, enquanto o apetite só faz aumentar a ousadia deles
de pularem sobre a carniça. Assim é a ave de mau agouro russa: enquanto não promove
a guerra cruenta, prepara-se para ela iludindo nações com promessas fátuas, e,
para anestesiá-las mais eficazmente, utiliza-se da mídia colaboracionista, das
cátedras de colégios e universidades a fim de impor a sua revolução cultural e
confiscar todos os seus frutos. Como os urubus para se defender das
turbulências provocadas pelas tempestades são capazes de voar acima das nuvens
e aguardar o momento oportuno para atacar, assim a Rússia – com astúcia e
magnetismo viperinos – enfrenta todos os obstáculos que encontra pela frente,
ora pela mentira, ora por ameaças, ora pela guerra, a fim de tirar a vida da presa
escolhida para depois comê-la e digeri-la.
É de modo particular assustadora a infiltração das
ideias comunistas nos meios religiosos, na hierarquia eclesiástica, ditando as
suas máximas até nos mais altos postos da Santa Igreja, a fim de fazer prevalecer
as suas falácias sopradas pelos espíritos malignos para corromper as almas. Para
enfrentar inimigo tão ágil e tão poderoso, é preciso ter ascese constante, o
que infelizmente não presenciamos ao nosso derredor. Nem mesmo as pessoas
sagradas – já anestesiadas – se interessam mais em alertar as suas ovelhas para
o perigo, pois aqui se aplica o ensinamento divino de que os filhos das trevas são
mais sagazes do que os filhos da luz.
Os maus costumam ter a agudeza de espírito e, na
espreita, esperar o momento e a ocasião para avançar para se apoderarem, por
exemplo, de um alto posto na sociedade civil ou religiosa para impor as suas
ideias e fazer a sua propaganda nefasta. Com efeito, Nossa Senhora advertiu em Fátima
que a Rússia espalharia seus erros pelo mundo, promovendo guerras e
perseguições à Igreja, que várias nações seriam aniquiladas caso os homens não
fizessem oração e penitência. Onde está a oração? Onde está a penitência?
Dr. Plinio Corrêa de Oliveira considerou na 8ª.
Estação da Via Sacra escrita por ele
– Jesus consola as filhas de Jerusalém –
que naquele momento trágico não faltaram almas boas que percebiam a enormidade
do pecado que se praticava e temiam a justiça divina. “Não presenciamos nós
algum pecado assim? Onde estão e o que fazem os filhos da Santa Igreja neste
momento que é trágico como trágica foi a Paixão, momento em que uma humanidade
inteira está escolhendo por Cristo ou contra Cristo? Quantos míopes que
preferem não ver nem pressentir a realidade que lhes entra olhos adentro!”