Alegremo-nos, a luz brilhou nas trevas
*Padre
David Francisquini
A Escritura Sagrada narra que hoje nasceu na cidade de
David o Salvador que se chama Cristo. Cercado o seu presépio por pastores e animais
rudes, ali está com o seu esplendor o Rei da criação. É a imagem do Pai que
veio habitar entre nós.
“Não temais”, diz aos pastores um dos anjos que anunciam
uma grande nova, um nascimento novo e admirável. O anúncio dos mensageiros
celestes, as narrações dos evangelistas enchem os nossos corações de alegria e
de paz. De alegria, porque Cristo Nosso Senhor veio como criança, terno,
amável, doce, comunicando-nos grande esperança.
Envolto em panos, para nos dar segurança de que Ele veio
pobre para iluminar a todos. Veio à noite, para indicar a glória de Deus, a
difundir raios fulgurantes de luz que iluminam os corações dos piedosos
pastores.
Daquela gruta que se tornou o centro da Terra, a Luz do
mundo se expande e subjuga a noite do paganismo, espancando as trevas com a
beleza e sublimidade de sua grandeza.
“Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos
homens de boa vontade”. Jesus nasce num campo para reunir
harmoniosamente em Si todas as classes sociais, ricos, pobres, andrajosos, reis
e plebeus, enfim, o mundo inteiro.
Um cortejo angélico veio anunciar esse nascimento para
louvar a Deus e atrair os homens. Para convidar os homens a unir suas vozes e
prestar um culto ao seu Criador, ao seu Redentor revestido de carne que veio
nos ensinar a ciência sagrada. Para bendizê-Lo com os nossos corações e
agradá-Lo com as nossas boas obras.
Ao se fazer carne e dar-se ao mundo, Jesus Cristo inicia a
sua obra de Redenção pelo gênero humano. Sendo Deus, de um poder infinito, estabelece
com perfeição divina a autoria das leis naturais. Ao se apresentar como homem,
não segue as regras normais da natureza ao vir a este mundo, nem fere os
preceitos do embasamento do principio lógico por Ele mesmo criado.
Nasce sem concurso humano de uma virgem, da qual assume a
natureza, conservando a divindade. Ao dar à luz, a Virgem é maravilhosamente
preservada do sinal de sua inviolabilidade; afinal, seu Filho Jesus é Deus, ao
mesmo tempo homem e transcendente ao próprio homem — pois, no dizer de São João,
quem nasceu da carne é carne e quem nasceu do espírito é espírito.
Ao dar à luz a Vida, Maria nos proporciona a plenitude da
alegria, pois aquela por cujo meio entrou no mundo a morte, introduzindo na
natureza o pecado, geraria na dor e no sofrimento. Mas a que nos deu a
verdadeira Vida iluminou todos os povos com os raios de sua generosidade,
bondade, misericórdia e perdão.
Não é sem motivo que, ao se submeter ao recenseamento de
César, cumpria a Sagrada Família o que foi dito pelo profeta, porque nasceu em
Belém, que significa a casa do pão.
Jesus é o pão vivo que desceu do céu, revestido das
carnes humanas, que restauraria os homens nas trilhas do esplendor da verdade e
alimentaria os homens, reforçando-os com o alimento desse Pão vivo encerrado
debaixo das espécies transubstanciadas do pão e do vinho, a partir de um dado
momento, perdurando ao longo de toda a História.
A luz é o retrato, a
imagem ou símbolo da fé. Ao vir Jesus para os homens, Ele nos trouxe a virtude
da fé para iluminar as almas. As trevas são o símbolo do paganismo ou da heresia,
da infidelidade, porque a fé não ilumina essas almas.
Ao nascer em Belém,
Jesus veio nos comunicar essa luz divina, iluminar todos os homens. Daí o
esplendor do Natal, que é comemorado com toda beleza e encanto. Jesus nos veio
trazer a vida divina, a vida sobrenatural, a vida da graça. Num recôndito ermo,
afastado de qualquer burburinho, nasceu Jesus, encanto dos anjos e dos homens.
Naquela manjedoura, contemplando o
Menino Jesus envolto em panos, elevamo-nos à reflexão de que é o mesmo Deus que
ornou o mundo por Ele criado com variedade de belezas. Quis, no entanto, passar
por enormes privações em seu divino Corpo, para reparar nossas tão grandes
culpas ante o trono de Deus Pai.
Quis nos libertar das cadeias que nos mantêm subjugados
ao vício, ao pecado. Eis que temos como sinal do nascimento do Salvador um
menino, não entre púrpura, mas em pobres panos que O envolviam; não em berço de
ouro cravejado de pedras preciosas, mas em um comedouro para animais.
São desprezíveis os pobres panos? Admiremos, então, o
concerto dos anjos! Se nos causa surpresa a manjedoura, contemplemos a nova e esplendorosa
estrela, que em céu noturno e límpido anuncia o nascimento do Senhor. Se nas
coisas vis e tangíveis acreditamos, deitemos nosso crédito também às
admiráveis, veneráveis e celestiais.
Por meio da graça e da vida sobrenatural que trouxe ao
mundo, Ele nos facilita percorrer o caminho da paz e das virtudes. Seu
peregrinar, apropriando-se da pobreza, enobrece sua pessoa como raios de luz
que se movem nos céus e iluminam as almas, destruindo a soberba e a vanglória.
Como pobre, quer enriquecer a todos; como frágil criança,
enriquece-nos com a grandeza e soberania de sua bondade. Como rico, presenteia-nos
sua infinita sabedoria com o pão da verdade. No estreito espaço daquele rude
presépio está o mesmo que traz sob seus pés divinos o assento de seu poder e
soberania.
Ele estende sobre a Terra as alegrias do Céu, o esplendor
de sua divindade e a grandeza de seu poder. Do presépio no qual está reclinado,
projeta-se a restauração do homem, a purificação da Terra. Estende sobre o
mundo o esplendor do sol da verdade.
Alegremo-nos e exultemos — já nasceu o Menino Deus!