Postagem em destaque

O novo rito da Missa não é substancialmente idêntico ao anterior? Discussão sobre Traditionis Custodes: Dom Jerônimo alega que o Papa Fran...

Postagens mais visitadas

quinta-feira, 12 de setembro de 2019


Não sabemos o dia nem a hora
*Padre David Francisquini



A vigilância como virtude necessária para a conquista do Reino do Céu está contida na lição do Divino Mestre sobre o chefe de família que não sabe a hora em que virá o ladrão. O fiel cristão deve, pois, estar sempre vigilante em relação aos inimigos que o cercam, pois nunca sabe quem o espreita, nem quando será atacado.

E o inimigo está com frequência nos lugares menos imagináveis. Com efeito, infelizmente, como se tornou comum vê-lo – muitas vezes com naturalidade e indiferença – nos verdadeiros absurdos que acontecem nos templos sagrados, nas celebrações litúrgicas, onde Nosso Senhor é tratado indevidamente na recepção da Eucaristia.

Além da ofensa a Ele, esse estado de espírito displicente acaba por abalar a fé e a devoção na presença real de Jesus Cristo Eucarístico. Temos ainda a brutalidade e o ódio contra o sublime Sacramento instituído por Jesus Cristo, verdadeiras profanações dos lugares santos.

– Não constituiriam um desdobramento sinistro do que neles ocorre no dia a dia? Para avaliarmos a sua gravidade, recorramos rapidamente à explicação dada por Orígenes, um dos grandes teólogos do início do cristianismo, às palavras do Evangelho.

Ele nos ensina que o pai de família representa o entendimento do homem; sua casa, a sua própria alma; e o ladrão, o demônio. Esse inimigo se utiliza de discursos lisonjeiros, eivados de falsidades, mentiras e traições para iludir os corações, perverter-lhes o entendimento, saquear suas energias e abalar suas convicções.
O ladrão vem e mina a casa, pois o pai de família dorme sem o cuidado de guardá-la. Em seguida, mata-o sem resistência, pois o surpreendeu dormindo, em vez de vigilante, que deveria ser a sua atitude habitual. O estado generalizado de indolência e torpor das almas torna o terreno propício a todo tipo de profanação.
Profanação do Santíssimo Sacramento

Circulam pela internet pequenas filmagens com exemplos do que vem ocorrendo em muitas igrejas, ou seja, de pessoas que entram na fila de comunhão, recebem a hóstia na mão e não a consome... Lembro-me a propósito de uma notícia proveniente da histórica cidade de Trento, no norte da Itália, em que um comungante ao receber do celebrante a hóstia na mão, partiu-a e deu metade para seu cachorro que o acompanhava na igreja.  Em outra ocasião, um gato subiu ao altar, na hora da comunhão, e passou a comer as partículas consagradas.

Notícias assim nos deixam estupefatos! Não há por trás de tudo isso uma rota do crime do sacrilégio e da profanação investindo contra o que há de mais sagrado em nossas igrejas, que é o Santíssimo Sacramento? Sacrários são destruídos ou jogados nas ruas com as hóstias; estas são também roubadas, incendiadas, lançadas ao chão ou em rios; vestes e objetos litúrgicos profanados; altares quebrados, imagens destruídas...

Profanação de imagens
Quem estaria por trás dessas manifestações furiosas de ódio contra Aquele que está verdadeiramente presente na Sagrada Eucaristia sob as espécies de pão e vinho? Sem dúvida, satanás, por meio de seus sequazes, pois a fúria é verdadeiramente satânica.

O mesmo ódio que levou Jesus Cristo a ser condenado e conduzido ao alto do Calvário se repete em nossos dias com as profanações dos sacrários de nossas igrejas. O sacrilégio constitui uma cacofonia sinistra que reverbera nas profundezas infernais, pois tanto ódio só pode provir do demônio, o eterno derrotado.
            Pretendo voltar ao assunto.

sábado, 13 de julho de 2019


Crise de fé, crise de costumes

Padre David Francisquini


           
Plínio Correa de Oliveira
            A quebra dos valores morais e religiosos ao longo das últimas décadas vem causando não poucos estragos em todos os setores da sociedade, levando-nos a exprobrar em diversas ocasiões o comportamento inescrupuloso de muitos de nossos representantes que ocupam cargos públicos. 

            Como já expliquei em outras ocasiões e volto a insistir, a raiz da questão encontra-se na crise de fé que atinge todos os homens deste início de século, na base da qual estão o orgulho e a sensualidade, como apontou o pensador católico Plinio Corrêa de Oliveira.
            Como essa crise tem como campo de ação o próprio homem com os seus defeitos e vícios decorrentes do pecado original, os quais vêm sendo alimentados artificialmente há mais de meio milênio por meios revolucionários, hoje ela atingiu um clímax. A essa situação podem ser aplicadas as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo quando se referiu ao profeta Isaías:
            "Este povo honra-me com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me presta culto; a doutrina que ensina são preceitos humanos" (Mt. 5. 5-7). E o divino Mestre chama esse povo de hipócrita exatamente por aparentar em seu coração uma coisa e fazer o contrário. Finge prestar culto a Deus, mas na verdade se ocupa das pequenas vantagens terrenas. 
            Ao se jactar de cultuar a Deus, essas pessoas na verdade se encontram bem longe d'Ele, pois seus corações não são retos e não praticam o que é justo diante de Deus. Honram pela boca, exigem de Nosso Senhor sinais e milagres, mas não querem reconhecer a sua divindade, nem recebê-Lo. Ademais, procuram armar traições e ciladas para poder apanhá-Lo em contradição.
            Mas Nosso Senhor desmascarou os fariseus mostrando-lhes o que se passava em seus corações. O que mancha o homem são os homicídios, as glutonarias, os adultérios, a fornicação, as rixas e as contendas, isso é o que mancha o homem; não o que entra bela boca, mas o que sai da boca.
            Não é bem a isso que assistimos nos parlamentos modernos de muitas nações, mais particularmente o nosso parlamento, do qual podemos falar como testemunhas? O Brasil, afundado tanto moral quanto economicamente por malversação do dinheiro público, viveu – talvez anestesiado – uma crise sem precedentes até há pouco.  
            É difícil imaginar o nível de degradação moral e religiosa que chegou o nosso Brasil. Creio ter sido obra de uma graça enorme o fato de ele ter acordado dessa letargia e encher-se de indignação diante do comportamento indecoroso, desleal, mentiroso e túmido de malefícios, ódio e rancor de nossos governantes e ir para as ruas exigindo justiça.
            Ainda hoje subsistem alguns remanescentes que nos deixam pasmos em alguns debates ou inquirições no nosso parlamento, como as sabatinas que muitos deputados e senadores fizeram recentemente ao Ministro Sergio Moro, nas quais faltou gravidade e decoro por parte dos inquiridores que se prevaleceram da chamada imunidade parlamentar para provocar, humilhar e ofender alguém que luta por valores morais.
            As ideias revolucionárias e contestatárias proliferaram como pragas e a elas se aplica o que o profeta Isaías vaticinou:  “A vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá a planta, na qual ele tinha as suas delícias;  esperei que praticassem a retidão, e eis que há só iniquidade, e que praticasse a justiça, e eis que somente se ouvem clamores” (Is. V 7).
São Tomas de Aquino
            E mais adiante Ele afirma, no versículo 29: "Ai de vós que ao mal chamais bem e ao bem mal, que tomais as trevas por luz e a luz por trevas, que tendo o amargo por doce, e o doce por amargo. Ai de vós que sois sábios aos vossos olhos e segundo vós mesmos, prudentes... Vós que justificais o ímpio pelas dádivas, e aos justos tirais o seu direito”.
            Quem é prudente procura edificar sua casa sobre a rocha firme, que vai enfrentar as tempestades, o transbordamento dos rios e a impetuosidade dos ventos, como alerta Nosso Senhor. O insensato edifica sua casa na areia, “cai a chuva, transbordam os rios, sopram os ventos e investem contra aquela casa, e ela cai e sendo grande a sua ruína” (Mt. X, 27).
            É o que o Brasil viveu nesse longo período de governos da esquerda, que aparelharam a máquina do Estado a serviço de sua ideologia.
            É elucidativo quando Santo Tomás de Aquino diz ter sido o diabo quem edificou sua casa por meio de homens ímpios, na areia. Isto é, na inconstância e na infidelidade de homens carnais, chamados de areia devido à sua esterilidade e por não estarem unidos entre si, mas divididos por uma multidão de opiniões.
            A chuva, diz ele, é o ensinamento que rega o homem e as nuvens são de onde sai a chuva. Alguns são despertados pelo Espírito Santo, são os profetas e os apóstolos; os outros pelo espírito do diabo, são os hereges.
            Os bons ventos são os espíritos de diversas virtudes que operam de maneira invisível no sentido dos homens e os inclinam a operar o bem. Já os maus ventos são os espíritos imundos que levam os homens a operar o mal; os bons rios são os evangelistas e mestres do povo; os rios maus são os homens cheios de espírito imundo e instruídos de verbosidade, das profundezas de cujos corações nascem os erros e as mentiras.
            O que se passa no Brasil ocorre mais ou menos em todas as nações, que se encontram na mesma encruzilhada.  Por outro lado, também há uma minoria grande que reage para colocar o Brasil nos trilhos. No fundo dos corações nasce uma esperança, uma certeza da vitória dos bons, porque existe a promessa de Nosso Senhor de que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja.


sábado, 15 de junho de 2019


Reconciliação impossível

Padre David Francisquini

São Tomás de Aquino ensina que nada chega à inteligência humana sem antes passar pelos sentidos. Com efeito, a criação reflete as infinitas perfeições de Deus. Pela contemplação devemos procurar compreender as perfeições postas em cada coisa criada. No artigo anterior eu havia dado o exemplo do que uma águia, por tudo aquilo que simboliza, é capaz de nos ensinar.
Hoje, com mais um texto das Escrituras, cuja linguagem vem sempre revestida de múltiplos e ricos significados e com as luzes do Espírito Santo, espero retirar alguns ensinamentos ao mesmo tempo nobres e benfazejos que possam ser úteis a todos nós. Nobres, pelo fato de saírem dos lábios divinos do Salvador; benfazejos, porque trazem expressiva lição para a vida dos homens.
O texto escolhido é o que segue: Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas, para que não suceda que eles as calquem com os seus pés, voltando-se contra vós, e vos dilacerem” (Mt 3. 6).
Se Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida, não há outro meio senão imitar os seus divinos exemplos e pôr os nossos pés nas suas pegadas cheias de luz e beleza. Se somos verdadeiramente cristãos, devemos ser imitadores e seguidores de Cristo.
O sacerdote tem uma vocação sublime neste Vale de Lágrimas, não podendo subtrair – e muito menos ocultar – a missão salvadora de Cristo, o ideal a ser seguido. Quando Jesus nos ensina o mandamento de amar os inimigos – perseguidores e caluniadores – não nos aconselha a lhes comunicar os bens espirituais indistintamente no que se refere à fé, pois eles são indignos.
Padre Pio dando a Sagrada Comunhão aos recém-casados
Na verdade, Deus concede aos justos e aos injustos os benefícios materiais e carnais, mas não graças espirituais aos ímpios, a não ser que se arrependam e se ponham em disposição para isso. Ademais, Nosso Senhor ensinou também que não se deve colocar vinho novo em odres velhos. Logo, enganam-se aqueles que querem a todo custo aproximar da mesa eucarística os divorciados e recasados sem exigir deles mudança de vida.
Encontram-se na verdade revelada, portanto com fonte nas Escrituras Sagradas, ensinamentos que contrariam cabalmente a posição de certas autoridades eclesiásticas no sentido de deixar aproximar da mesa eucarística pessoas que não se encontram em estado de graça e na amizade com Deus.
São Paulo, em carta aos Coríntios, aconselha cada um a examinar-se a si mesmo antes de se aproximar dessa mesa, pois se o fizer indignamente tornar-se-á réu do Corpo e do Sangue do Senhor.
Sobre o texto bíblico referido acima, costuma-se indagar o significado das palavras santos, cães, pérolas e porcos. Santo é aquilo que não pode ser corrompido e aquele que tentar corromper se torna ímpio. Pérolas são todos os bens espirituais de maior estima. Ainda que possa parecer uma mesma coisa, chama-se de santo o que não se deve corromper, e de pérola aquilo que não se deve desprezar, segundo Santo Agostinho.
As verdades são ministradas para aqueles que têm reta intenção, entendimento e percebem que os ensinamentos revelados são nobres. No hino da festa de Corpus Christi, afirma o Doutor Angélico: “Eis o pão que os anjos comem, transformado em pão do homem; os filhos O consomem: não seja lançado aos cães”.
Os cães são aqueles que voltam ao vômito, isto é, que ensinando erros condenados pelo ensinamento revelado, aconselham, permitem e por vezes fazem questão de introduzir pessoas indignas na mesa eucarística e na frequência dos outros sacramentos. Os porcos são os que ainda não se voltaram para a verdade revelada, mas estão habituados à lama dos vícios, dos prazeres, da ganância. Ao dizer pérolas, algo de muito sublime e nobre, são aqueles que, por falta de retidão, não acatam nem apreciam o seu valor e nobreza, pois não têm fé e não seguem a retidão natural.
Tanto os cães quanto os porcos não têm fé, e desejam continuar na vida avessa à Lei divina, procurando justificá-la. Não podemos conciliar a verdade e o erro, a virtude e o vício, a luz e as trevas. Santo Agostinho afirma "que se alguém não pode compreender por causa da sua condição sórdida, devemos limpá-lo na medida do possível, seja por palavras, seja por obras”.
Ao panorama político, religioso, social e econômico do cenário brasileiro pode se aplicar a parábola dos cães e dos porcos. Do mesmo modo, pela malícia e perversidade com que a esquerda católica vem disseminando ideias de um suposto bem-estar socialista, tentando apagar na mentalidade dos fiéis a noção de erro e de verdade por meio de um relativismo religioso.
O plano puramente social tomou lugar preeminente no diz respeito à fé e à religião. O endurecimento dos corações dos católicos esquerdistas persiste em querer levar o Brasil a renegar as tradições hauridas de seus missionários e colonizadores. Muitas pessoas se negam a abrir seus corações para as verdades sobrenaturais e preferem não ouvir. Por sua ingratidão e insensibilidade, repugna-lhes ouvir palavras de verdade, tornando-se ávidas de ouvir fábulas engenhosas e mentiras propostas pelo ideário comuno-socialista.
Tal insensibilidade ao ouvir os apelos de Fátima – a Mãe de Deus alertando que a Rússia espalharia os seus erros pelo mundo – é proveniente da malícia da vontade, da culpa do próprio arbítrio, pois os homens fecharam os ouvidos ao apelo celestial para a oração e a penitência.
         Ao comentar a dureza de coração dos homens, São João Crisóstomo diz que eles seriam imediatamente curados, caso se convertessem. Não são outras as palavras de Nossa Senhora em Fátima ao pedir oração, penitência e emenda de vida. Não devem aproximar-se da mesa eucarística aqueles que não têm condições de receber dignamente os sacramentos.

sábado, 18 de maio de 2019


A águia, o urubu e a promessa de Fátima

Pe. David Francisquini

Ao contemplar certos aspectos da natureza, o homem muitas vezes fica tão tomado de admiração que sai de seu microcosmo para remontar a Deus, num verdadeiro ato de louvor ao Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis. A Escritura Sagrada costuma mencionar com frequência a águia como a ave forte e veloz, que vive entre o céu e a terra. Contemplativa e guerreira, ela simboliza valores próprios a ensinar os homens a viver nesse vale de lágrimas com os olhos postos nas alturas.
Conhecida como a rainha das aves, a águia é combativa e majestosa, voa alto, muito alto, com a força própria de sua natureza nobre e, portanto, cheia de direitos. Se ela conquista os mais altos píncaros é graças à sua natureza, pois possui todas as prerrogativas de verdadeira rainha. Para indicar uma nação aguerrida que às vezes vem de longe para conquistar outros povos e submetê-los ao seu arbítrio, o Deuteronômio (28, 49) a compara a uma águia que irá devorar todos os frutos dos estados a serem subjugados. Não sem razão, os povos afeitos à luta costumam tomar por símbolo a águia.
No espírito do livro bíblico citado acima, as águias não se compadecem de suas presas. Assim acontecerá com toda a geração perversa e adúltera que abandona a Lei de Deus, passando a viver apenas para a satisfação de seus caprichos. De uma sociedade forjada por pessoas desse naipe não ficará pedra sobre pedra, como disse Nosso Senhor a respeito do povo judeu. Quais presas fáceis, elas poderão saltar como cabritos, mas a águia se apoderará delas para o seu sustento e o de seus filhotes. 
Até a ira de Deus tem elegância, majestade, agilidade e nobreza, por isso ela é santa. Para estabelecer a ordem no mundo que Lhe virou as costas, Deus se serviu de sua Mãe, em Fátima, para anunciar que uma nação predadora e má – a Rússia – espalharia seus erros pelo mundo. Ela é a nação que vem de longe para tomar com a precipitação não da águia, mas de um abutre, as carnes apodrecidas das nações pecadoras.
Uma particularidade dos urubus é que eles parecem não fazer muita força para voar, enquanto o apetite só faz aumentar a ousadia deles de pularem sobre a carniça. Assim é a ave de mau agouro russa: enquanto não promove a guerra cruenta, prepara-se para ela iludindo nações com promessas fátuas, e, para anestesiá-las mais eficazmente, utiliza-se da mídia colaboracionista, das cátedras de colégios e universidades a fim de impor a sua revolução cultural e confiscar todos os seus frutos. Como os urubus para se defender das turbulências provocadas pelas tempestades são capazes de voar acima das nuvens e aguardar o momento oportuno para atacar, assim a Rússia – com astúcia e magnetismo viperinos – enfrenta todos os obstáculos que encontra pela frente, ora pela mentira, ora por ameaças, ora pela guerra, a fim de tirar a vida da presa escolhida para depois comê-la e digeri-la.
É de modo particular assustadora a infiltração das ideias comunistas nos meios religiosos, na hierarquia eclesiástica, ditando as suas máximas até nos mais altos postos da Santa Igreja, a fim de fazer prevalecer as suas falácias sopradas pelos espíritos malignos para corromper as almas. Para enfrentar inimigo tão ágil e tão poderoso, é preciso ter ascese constante, o que infelizmente não presenciamos ao nosso derredor. Nem mesmo as pessoas sagradas – já anestesiadas – se interessam mais em alertar as suas ovelhas para o perigo, pois aqui se aplica o ensinamento divino de que os filhos das trevas são mais sagazes do que os filhos da luz.
Os maus costumam ter a agudeza de espírito e, na espreita, esperar o momento e a ocasião para avançar para se apoderarem, por exemplo, de um alto posto na sociedade civil ou religiosa para impor as suas ideias e fazer a sua propaganda nefasta. Com efeito, Nossa Senhora advertiu em Fátima que a Rússia espalharia seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, que várias nações seriam aniquiladas caso os homens não fizessem oração e penitência. Onde está a oração? Onde está a penitência?
Dr. Plinio Corrêa de Oliveira considerou na 8ª. Estação da Via Sacra escrita por ele – Jesus consola as filhas de Jerusalém – que naquele momento trágico não faltaram almas boas que percebiam a enormidade do pecado que se praticava e temiam a justiça divina. “Não presenciamos nós algum pecado assim? Onde estão e o que fazem os filhos da Santa Igreja neste momento que é trágico como trágica foi a Paixão, momento em que uma humanidade inteira está escolhendo por Cristo ou contra Cristo? Quantos míopes que preferem não ver nem pressentir a realidade que lhes entra olhos adentro!”

terça-feira, 23 de abril de 2019


Bem-aventurados os que não viram,
 e, contudo, creram

Pe. David Francisquini

Inconsolável, ao romper do dia de domingo, Maria Madalena foi visitar o Santo Sepulcro. Ao se aproximar dele foi tomada de grande surpresa, pois se deparou com um anjo, cuja aparência era de um relâmpago, sentado sobre a grande e pesada rocha que ele mesmo havia removido do túmulo de Jesus Cristo.
Santo Agostinho comenta que depois das zombarias, dos açoites, dos suplícios da Cruz, do vinagre e do fel, da morte e descida à região dos mortos, Jesus retornou à nova carne, fazendo ressurgir a salvação para os homens pelos sofrimentos daquela carne, já agora ainda mais bela, pois retinha a contemplação da divindade.
Nosso Senhor havia sido depositado no sepulcro na sexta-feira. Enquanto era lícito trabalhar, os seus amigos prepararam os unguentos e os perfumes, a seguir, segundo ordenava a lei, guardaram o repouso do sábado. Terminada a véspera, quando todos já poderiam voltar às atividades, adquiriram o que ainda faltava para o cumprimento de suas devoções, a unção do Senhor.
De súbito, as santas mulheres se depararam com o sepulcro vazio, pois fora destruída a morte. O inferno foi derrotado, a terra restabelecida com o céu. A ressurreição de Cristo manifesta a grandeza de sua divindade e de seu poder. Estava morta a morte, e Cristo passou a reinar sobre a Terra.
O esplendor e a elevação da ressurreição de Cristo movem os corações dos
apóstolos à esperança e à fé que Cristo é o Senhor da vida e da morte, porque todo o poder lhe fora dado no Céu e na Terra. As santas mulheres haviam anunciado a eles o que viram e ouviram do anjo, sementes de fé e de luz que deveriam anunciar por toda parte Cristo ressuscitado, vencedor da morte.
Em decorrência de o diálogo entre Eva e a serpente ter sido desastroso para a humanidade, o diálogo entre o Anjo do Senhor com as santas mulheres foi fundamental para mover  os apóstolos a propagar até os confins da terra a Redenção e o milagre de Cristo ressuscitado, penhor de nossa ressurreição, pois se Ele não tivesse ressuscitado, vã seria a nossa fé.
Aquelas mulheres fortes, cheias de respeitoso temor e, ao mesmo tempo, maravilhadas pela grandiosidade do milagre da Ressurreição, foram impelidas a apressar os passos para anunciar que Cristo não mais jazia entre os mortos.
Tomados pela notícia, Pedro e João correram até o sepulcro para se certificarem da boa nova. A partir dali, passaram eles a difundir, a semear a semente da verdade de fé católica sobre a ressurreição de Cristo.
Como a fé não provém da exterioridade das coisas, mas das invisíveis, Jesus proíbe Maria Madalena de tocá-Lo, pois deveria acreditar n’Ele ressuscitado contra todas as aparências. Contudo, permite que as outras duas Maria abracem os seus pés e os osculem, a indicar que com suas carnes humanas, era Ele mesmo.
As mulheres tinham percebido que os guardas haviam notificado aos pontífices e sacerdotes de que Cristo não se encontrava mais no sepulcro. Ademais, eles se utilizaram de um ímpio estratagema para negar a ressurreição de Cristo, espalhar que os guardas teriam recebido dinheiro para mentir que o corpo de Cristo teria sido roubado.
O anúncio da verdade da ressurreição foi reforçado pelos próprios adversários de Cristo que lacraram a tumba com o selo imperial, proibiram de tocar naquele sepulcro, além de tê-lo munido com guardas. Todos esses cuidados serviram para tornar a verdade da ressurreição incontestável, como afirma São João Crisóstomo.
Enquanto uns acataram com simplicidade de coração a verdade da boa nova, outros se afundaram no precipício da perversidade e da malícia, negando a verdade conhecida como tal. Foi o que aconteceu com essa gente, pela sua impiedade.
O certo é que Cristo ressuscitado passou a ser um fato apologético de transcendental grandeza entre os judeus, para a missão que recebera do Pai. Ele não fora o pretenso impostor ao afirmar que depois de três dias ressuscitaria, pois de fato ressuscitou.
Imaginemos Cristo Ressurrecto olhando para os nebulosos dias contemporâneos e compreendendo tanta moleza, tanta malícia, tanto ódio à sua obra. Peçamos a Ele e ao Imaculado Coração de Maria que iluminem nossas mentes, aqueçam nossos corações, façam triunfar a Santa Igreja o quanto antes sobre os seus inimigos.