Do Presépio ao
Calvário
*Pe. David Francisquini
Foto: Familia Pérez y Díaz |
Tratava-se do principal sacramento da
religião mosaica -- simbolizando ao mesmo tempo purificação e santificação -- a
caracterizar e congregar o povo escolhido com a eliminação do pecado original.
Sendo Nosso Senhor Jesus Cristo verdadeiro Deus, descendente de Abraão, não
estava sujeito a essa Lei, mas quis a ela sujeitar-se, em ato de humildade e
obediência, para assim remir e libertar a humanidade da culpa original.
Nesse acontecimento de transcendental
importância, comemorativo da oitava do nascimento do Salvador do mundo, cujo
nome é Jesus -- que significa Salvador e Redentor –, podemos figurar um diálogo
que bem poderia ter ocorrido entre Filho e Mãe, qual melodia harmoniosa e
sublime, para ressaltar o significado desse mistério que a Santa Igreja
Católica comemora.
— Minha Mãe, a mais formosa das
filhas de Israel, vede que vim reinar e conquistar os corações! Sendo Eu Deus,
quis ser pequenino, frágil, mimoso e deleitável, para tocar os corações dos
homens, a fim de que eles trilhem o caminho dos mandamentos. O vagido que se
desprende de meus lábios representa a minha dor, torna-se um hino de homenagem
que ressoa junto ao trono de Deus Pai!
— Meu Filho querido, ao desprender de
vossos lábios o pranto de dor, sinto uma espada que trespassa o meu coração
virginal! Uno-me a Vós de tal forma que na junção de vossa dor com a minha
realiza-se algo que a Terra não pode compreender, pois Mãe e Filho sofrem e
assim unem o Presépio ao Calvário. Vejo em Vós a nova aliança que se instala
com o derramamento de vosso sangue de valor infinito que redime a humanidade
inteira.
— Sendo de Família real, descendente
de Abraão e dos demais patriarcas, Eu não vim abolir a Lei, mas cumpri-la. A
prova do meu amor para com os homens se revela na circuncisão! Foi para padecer
e sofrer por eles, garantindo a sua eterna salvação, que tomei a natureza
humana em vossas entranhas virginais. Ao ouvir o lamento de minha dor, que
desprende de meu coração que tanto ama os homens e faz estremecer os próprios
anjos, espero tocar-lhes o coração.
—
Como pode um Deus tão pequenino, tão frágil e meigo, sofrer sem culpa?
— Minha amada Mãe, foi para mostrar
aos homens que Deus não abandona os pecadores que Eu tomei a natureza humana.
Vejo nisso a expressão do meu sacerdócio, que se instala entre os homens para
remir dolorosamente suas péssimas culpas e conceder-lhes os meios de salvação,
instituindo assim os canais da graça que são os meus sacramentos.
E prossegue o Deus-Menino: -- Como o
povo hebreu fazia parte dessa nação eleita pela circuncisão, assim também pelo
batismo reunirei os filhos prediletos de minha Igreja, fora da qual não há
salvação. Se nesse estábulo sou circuncidado — local aonde os Reis Magos e os
pastores vieram prestar-me homenagens — deixarei, Virgem Imaculada, um
sacerdócio perene, para que este mesmo sangue seja sacrificado sob as
aparências de pão e de vinho.
— Como se dará isso, meu querido
Filho?
— Eu
vim para remir o povo de seus pecados. Como Salvador e Redentor do mundo, não
posso restringir minha ação a um povo, mas conquistar toda a Terra. Diante de
meu Nome dobrar-se-ão os joelhos aqui, nos Céu e no inferno! Meu Nome será
pronunciado pelos meus ministros e filhos queridos para expulsar os demônios e
vencer todos os males.
O meu Nome será uma fonte inesgotável
com poder inexcedível para sanar os males, afugentar os demônios e quebrar o
poder de articulação dos maus. Ao pronunciá-lo com respeito e veneração, ele
confortará nas lutas, consolará nas tribulações e tentações, será o escudo
seguro contra os inimigos de nossa alma e lenitivo a amenizar as chagas do
espírito, tal qual o azeite lançado nas feridas.
— Sei, querido Filho, que dos antros
da humanidade se arrancarão determinações e planos contra a vossa Igreja, a ser
instituída um dia. Como no campo bem cuidado pode proliferar a cizânia, percebo
com a clarividência que me destes, com a luz que me infundistes, que o príncipe
das trevas se articulará nos seus antros de maldade e perversidade, para levar
à ruína vossa Igreja. Como Rainha da história humana, prevejo as articulações para
introduzir em seu seio ministros que difundirão o mal para perverter as almas
que custam o preço infinito de vosso sangue. Sendo vossa Mãe, sê-lo-ei também
da Igreja e sei que as portas do inferno não prevalecerão contra Ela. O fulgor
de vossa santidade e perfeição brilhará um dia em toda a face da Terra. Eu, que
Vos concebi e por obra e graça do Espírito Santo Vos trouxe a este mundo,
estabelecerei sobre ele o meu Reino: Por fim meu Imaculado Coração triunfará!
Assim se unem o presépio com o Calvário e com toda a história da raça humana.
Aquele que sendo Deus quis abraçar a
raça humana revestindo-se da carne desta, começa a derramar as primeiras gotas
de seu sangue preciosíssimo. Vossa carne que está sendo atingida neste momento
tem um valor incomparavelmente maior que o sangue dos cordeiros, ovelhas e
bois.
Não contente com a efusão deste pouco
sangue, quereis mostrar o excesso de vosso amor, de vossa bondade, de vosso
entretenimento, de vosso carinho para com a humanidade inteira. O excesso de
vosso heroísmo para remir uma raça que foi maculada pelo pecado não conhece
limites. O desdobramento de vossa vida é uma contínua imolação, cujo auge será
o sangue derramado por Vós no alto da cruz. O mais sublime exemplo para que a
humanidade inteira compreenda que deve amar e lutar sem limites por Deus, de
toda alma, de todo coração, de toda inteligência.
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