"Se te buscas deleites ou prazeres"
*Pe. David Francisquini
Entre as muitas verdades
esquecidas em nossos dias, ocupa certamente lugar de destaque a existência do
Purgatório. Isso porque tendo o mundo moderno abraçado o hedonismo, cuja
filosofia põe o prazer como finalidade primeira da vida, a lembrança de um
lugar de expiação e reparação, onde há dor, sofrimento, privação e angústias,
põe as pessoas em fuga.
Como era diferente a
sociedade verdadeiramente cristã, que praticava o ensinamento evangélico de procurar
em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, pois todo o resto lhe seria
dado por acréscimo! Para ilustrar o que afirmo, não preciso citar um santo
medieval, mas um poeta renascentista em cuja alma ainda vicejava a têmpera
cristã, o grande Luiz Vaz de Camões:
Tu que descanso buscas cum cuidado/ neste mar do mundo
tempestuoso / não esperes de achar nenhum repouso / senão em
Cristo Jesus Crucificado... Se te buscas deleites ou prazeres, / nele está o dulçor dos dulçores / que a todos nos deleita com vitória.
Tu que descanso buscas cum cuidado/ neste mar do mundo
tempestuoso / não esperes de achar nenhum repouso / senão em
Cristo Jesus Crucificado... Se te buscas deleites ou prazeres, / nele está o dulçor dos dulçores / que a todos nos deleita com vitória.
Afinal, o que é o Purgatório?
– A opinião comum dos tratadistas é que algumas vezes a palavra é tomada no
sentido de um lugar; outras vezes, como sendo um estado intermediário entre o
Céu e o Inferno, mas sempre descrevendo o fogo do purgatório como crudelíssimo,
pois abrasa a alma com a severidade proporcionada à gravidade e ao número de
pecados cometidos contra a infinita justiça Divina.
A doutrina católica
explica que o homem, possuidor de uma alma imortal, ao morrer em estado de pecado
mortal vai para o inferno. Mas se ele se
achar em estado de graça e lhe restar ainda algo a ser expiado, irá para o
Purgatório. Ali ele permanecerá por um tempo determinado, a fim de reparar o
que não conseguiu fazer em sua vida terrena. Na verdade, tal reparação é de
estrita justiça a um Deus ofendido.
O purgatório é na verdade
fruto da misericórdia de Deus, que na Sua infinita bondade dá ao fiel ocasião
de expiar o que lhe resta de impurezas, para poder entrar no Céu e contemplá-Lo
face a face por toda a eternidade. No seu Tratado do Purgatório, Santa Catarina de Gênova (1447-1510) afirmou
não haver felicidade comparável à das almas do Purgatório, a não ser a dos
santos no Céu. E que tal felicidade cresce incessantemente por influência de
Deus, à medida que os impedimentos vão desaparecendo.
Para esta nobre santa – pois
era filha do vice-rei de Nápoles –, tais impedimentos são como a ferrugem, que
à medida que diminui faz aumentar a felicidade das almas. Deus infunde nelas o
desejo de O virem, ao mesmo tempo em que acende nos seus corações um fogo de
amor tão poderoso que torna insuportável qualquer obstáculo entre elas e Deus.
Mas o grande Santo
Agostinho clama a Deus: "Não me castigueis no teu furor. Purifica-me antes
de tal maneira, nesta vida, que eu não necessite ser purificado pelo fogo na
próxima. Sim, eu temo este fogo que foi ateado para aqueles que serão salvos, é
verdade, mas isso pelo fogo!”.
Pelo grande amor que tem à
criatura feita à sua imagem e semelhança, Deus nunca deixará de atrair as almas
à perfeição, pois Ele a bondade. E sendo a essência divina tão pura, a alma
culpada encontra no Purgatório grande misericórdia, a destruição de sua culpa.
Um comentário:
Parabéns pelo o blog, adorei... muito bom mesmo!
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