Levantai os olhos e vede os campos
Pe. David
Francisquini
Os campos de minha terra, outrora povoados, encontram-se
hoje ermos, esvaziados que foram pelo insano êxodo em busca das lantejoulas das
grandes cidades. As poucas casas que ainda restam apresentam
aspecto desolador, guarnecidas por uma vegetação rala que abriga parco rebanho.
Em visita aos fiéis da zona rural, encontrei amigos
velhos e velhos amigos, arraigados em suas terras como árvores frondosas. De raízes
profundas como estas, nunca abandonarão o local onde nasceram, a não ser mortos.
Ali, como de costume, tudo se desenrola dentro da
calma, do bom senso, da arguta observação da natureza, do senso psicológico e
da boa prosa que caracterizam o camponês. Além das estiagens, das pragas, dos
vermes e de uma exígua economia, ele sofre a falta de apoio dos órgãos do governo
e dos políticos, que só se lembram dele para exigir o cumprimento de excessivas
leis ambientalistas os primeiros, e de votos os segundos. “O que conta são os votos! E nós somos poucos”, sussurrou-me um.
Outro procura esticar a conversa: “A cada quatro anos uma eleição, promessas
para lá, promessas para cá, mas os que ocupam os cargos de direção do País
deixam a situação do jeito que está para ver como fica. E nós ficamos na mesma...
Aliás, eles também ficam na mesma com os mensalões, pedágios, propinas, altos
salários, safadezas de todos os lados. Para nós, só se fala nessa demagógica Reforma
Agrária que nunca reformou nada e nem vai reformar”.
Folga ouvir verdades daquelas pessoas simples, mas
honestas, que preferem estar de bem com sua consciência antes que roubar um vintém de quem
quer que seja. Seria chover no molhado responsabilizar os governantes pela sua
negligência em relação ao verdadeiro agricultor, enquanto muitos de seus
membros vestem o boné do MST.
O êxodo rural se deu em nome do desenvolvimento
induzido, com enormes prejuízos para as boas tradições, a família e a
propriedade rural. Dos lares bem constituídos de antanho foram os filhos saindo
para as cidades, desmembrando-se assim de seu antigo tronco, do qual provinha a
seiva que lhes dava a vida.
Triste e ao mesmo tempo cheio de consequências esse
abandono forçado pelas circunstâncias. Sendo a vida no campo mais orgânica e própria
às lides ininterruptas, ela forja o espírito do desbravador no caminho do dever
e da honra.
No contato com aquelas pessoas simples e amantes da
natureza, que veem nesta um reflexo de Deus, percebe-se que seus antepassados
foram almas virtuosas, que encaravam a vida não como feita para os prazeres
tantas vezes mentirosos que a grande cidade oferece, mas para seguir nesta
Terra as pegadas de Jesus Cristo e depois conquistar o Céu.
Pode-se perceber também, naquele ambiente crepuscular,
um lúmen de vitalidade que nos dá a certeza de um novo dia que raiará
fulgurante. Sente-se bem-estar no campo e na vida campestre, estado psicológico
adequado para que as bênçãos de Deus encontrem abrigo nos corações.
Ela é propícia à vida de oração e à obtenção das graças
de Deus, que as distribui mais profusamente onde reina o silêncio – “non in commotione
Domine”. E, como no campo a provação do tédio e da aridez costuma ser mais
frequente, ele é o lugar mais propício para o homem plantar e colher frutos para
a vida eterna. As mais belas passagens de Nosso Senhor não se referem à vida
campestre?
“Se Deus veste assim a erva dos campos, que hoje
cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé?” (Mat.
6, 30). “Quando vedes soprar o vento do
sul, dizeis: Haverá calor. E assim acontece” (Lc. 12). Dizia ainda ao povo: “Quando
vedes levantar-se uma nuvem no poente, logo dizeis: Aí vem chuva. E assim
sucede” (Lc. 12, 54).
“Não dizeis vós que ainda há quatro meses e vem a
colheita? Eis que vos digo: levantai os vossos olhos e vede os campos, porque
já estão brancos para a ceifa. O que ceifa recebe o salário e ajunta fruto para
a vida eterna; assim o semeador e o ceifador juntos se regozijarão” (Jo. 4, 35-
38).
Se o homem for fiel à Lei divina vivendo em estado de
graça, terá mais facilidade para ver as coisas criadas por Deus como luz
reflexa da infinita perfeição divina, o cumprimento de seus deveres tornar-se-á
mais fácil, e ele se preparará assim para seu fim último que é a vida eterna.
2 comentários:
A saída do homem do campo, quer enxotado por grileiros ou por outros motivos, além de praticamente vir com a roupa do corpo, sem qualificação alguma, favoreceu sua perda de identidade católica, alienação e o crescimento desordenado das cidades.
Sem condições, abrigou-se em seu entorno, resultando no surgimento das favelas, nas quais começaram gradativamente a proliferarem todo tipo de promiscuidades, como o tráfico de drogas.
Para complicar, adentraram com facilidade nesses locais os comunistas, seus coadjuvantes vermelhos sacerdotes da TL, simulando a "opção preferencial pelos pobres", mas a realidade mesmo sempre foi a "opção pelos idiotas-uteis* que servem de trampolim para adentrarem no poder", para depois esses mesmos escravizarem, como sucede em Cuba.
As ações dos invasores de terra do MST - braço armado no campo e PCC nas cidades - são promovidas por milícias sob o disfarce de "movimentos sociais", são para dissimularem as reais intenções que são o instigamento das infernais lutas de classes, jogarem os cidadãos uns contra os outros e, todos divididos entre si e se batendo, favorecer seu apresamento por um férreo regime comunista.
* Nome dado nos bastidores comunistas aos pobres e desinformados usados por eles como massa-de-manobra.
A simplicidade da vida no campo aproxima o homem de Deus. É uma pena que hoje, por diversos fatores, a zona rural quase em sua grande parte se encontra abandonada. As pessoas trocaram o sossego do campo pela violência e mundanismo da cidade.
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