Pe.
David Francisquini
Para quem percorre o meio rural brasileiro, sobretudo em
minha região norte-fluminense, chamam a atenção as linhas férreas desativadas
rasgando as paisagens até se perderem de vista.
Sou levado a pensar a este propósito que um marco nos avanços que vinham
dos tempos do Império foi abatido, pois os interessados eram de um lado os
proprietários rurais, afanosos em fazer escoar a produção de suas terras, e de
outro lado o Estado, que proporcionava assim um meio de transporte mais
adequado aos tempos e às circunstâncias.
Barato e eficiente para todos os que viviam numa
sociedade heril, familiar e plena de bem-estar, o trem, ao se aproximar de uma
estação, despertava um ar de alegria, não apenas nos interessados em despachar
e receber seus passageiros e mercadorias, mas em todos da localidade, pois era
sempre portador de jornais, correspondências, enfim, de notícias novas.
Mas os tempos hoje são bem outros. Os trens foram
substituídos por ônibus, caminhões, carretas, aviões... todos movidos a
petróleo, em grande parte importado, meios caríssimos que concorrem não pouco
para o custo Brasil. Quanto às notícias, elas nos chegam em velocidades
siderais, como de costume as ruins em primeiro lugar, através da Internet, da
TV, dos celulares e das redes sociais...
Como não podia deixar de ser, os moradores do campo,
sobretudo os mais velhos, conservam ainda hábitos de outros tempos, como por
exemplo a manifestação de júbilo ao receber alguém em sua casa, quando falam do
tempo, das plantações e das criações como se fossem uma extensão de si mesmos.
Alguns fazem considerações sobre o lado misterioso de sua
lida com a terra, onde pululam enormes variedades da flora e da fauna. Para
essas pessoas, quem deu à terra sua fertilidade foi o próprio Deus, Ser supremo
e infinito que ao criar todas as coisas quis nos maravilhar com a variedade da
magnificência das criaturas.
Para o homem do campo, as elaborações mentais – mesmo
quando não inteiramente explicitadas – levam-no a considerações ainda mais
altas, até tocarem em Deus, único Ser capaz de prover os campos com a dádiva de
tantas riquezas e variedades próprias a alimentar o corpo e a alma dos homens.
Por efeito do pecado original, na mesma terra onde
vicejam as boas sementes, surge também a erva daninha, que com seus espinhos e
frutos amargos invade às braçadas a terra. E como é difícil combatê-la! Ela é
luz reflexa dos vícios que levam as pessoas a não viverem moralmente bem,
privando-as da amizade e da graça de Deus.
Diz o Evangelho: “O Reino de Deus é como um homem que
lança semente à terra; ele dorme e se levanta noite e dia, e a semente brota e
cresce sem ele saber como. Porque a terra por si mesma produz, primeiramente,
colmo, depois a espiga, e por último o trigo grado na espiga. Quando o fruto
está maduro, põe-se logo a foice, porque é chegado o tempo da ceifa.” (Mc 4, 26
a 29).
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