O
vencedor da morte
Pe. David Francisquini
Tal é o temor dos inimigos de Nosso Senhor que, mesmo
depois de Lhe infligir morte de cruz, arrancaram de Pilatos autorização para
que o Seu sepulcro fosse selado e vigiado por guardas. Mas o ódio deles era
perfeito. Não se contentaram com aquilo. Era preciso difamar, acusar o Inocente
de sedutor; acusar os seus discípulos de embusteiros, capazes até de violar o
sepulcro e roubarem o corpo do Senhor. Com efeito, a situação de todos aqueles
que tramaram a Sua morte ficaria pior do que antes caso Cristo ressuscitasse.
Além de matar o Divino Salvador, era preciso conspurcar a
sua honra. Quanto aos discípulos, tímidos e medrosos, jamais fariam por si
mesmos aquilo que os inimigos lhes atribuíam. Eles, os algozes, conheciam os
milagres de Nosso Senhor, inclusive a ressurreição de Lázaro. Conheciam a Sua
vida exemplar, constante censura para eles. Jesus Cristo era a própria vida!
Caso Ele ressuscitasse, pairaria sobre os criminosos uma séria ameaça. Seria o
fim de uma vida fácil e despreocupada advinda do prestígio do mando.
Deus Pai, depois de criar o Céu e a Terra, criou numa
sexta-feira o homem à Sua imagem e semelhança, e no sábado descansou. Cristo,
por sua vez, morre numa sexta-feira e descansa tranquilo o sono dos justos no
repouso do sepulcro. Como o profeta Jonas, que fica três dias e três noites no
ventre da baleia, Cristo enquanto homem fica no seio da terra. Não há como
contestar!
Posto que a nação judaica O rejeitara por infidelidade e
incredulidade, os discípulos de Jesus tomaram o Antigo e o Novo Testamento e
estabeleceram a Igreja Católica Apostólica Romana, fundada por Ele com as
palavras: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”.
Ela frutificou entre os povos pagãos, sobretudo pela ação dos apóstolos, ao
levar-lhes a boa-nova de Cristo ressuscitado para que pudessem crer. Assim
nasceu e foi moldada a civilização cristã.
Ao imaginar a Ressurreição de Cristo, aqueles que
tramaram a Sua morte temeram, pois sua situação ficaria muito pior do que
antes... Ao reconhecerem a verdade da Ressurreição pela boca dos guardas,
desprezaram o arrependimento e a contrição do crime, e não fizeram penitência.
São Mateus, em sua narração evangélica, afirma que alguns
guardas foram até à cidade dar a notícia da Ressurreição. Apenas tomaram
conhecimento dela, os príncipes dos sacerdotes se reuniram e deliberaram
subornar com grande soma de dinheiro aqueles guardas, para que dissessem que
enquanto dormiam os discípulos roubaram o corpo do Senhor...
Foi por meio do dinheiro que os inimigos de Jesus manifestaram
a sua ignomínia comprando Judas, o infame que entregou Jesus à morte. Foi
também pelo dinheiro que os guardas se venderam para satisfazer os seus
interesses mesquinhos e escusos. Tratava-se de dinheiro sagrado do Templo, mas
os príncipes dos sacerdotes não tiveram escrúpulos ao
desviar grande soma dele para propalar a mentira e negar a Ressurreição.
Não se contentaram, diz São Severo, em matar o Mestre,
mas procuraram um meio de perder os discípulos, fazendo-os passar por
criminosos diante do poder estabelecido. É incontestável que os soldados se
deixaram corromper; os judeus haviam perdido a sua vítima e os discípulos
recobrado o seu Mestre, não através do furto, mas pela fé; não pelo engano,
senão pela virtude; não pelo crime, senão pela santidade; não morto, senão
vivo.
Em sua maldade, a cúpula judaica acabou por fazer brilhar
ainda com mais esplendor a grandeza do mistério que a Igreja comemora, pois o
dinheiro para silenciar a Ressurreição de Cristo ressaltou a verdade. O
verdadeiro Cordeiro Pascal imolado Se levanta glorioso e triunfante do sepulcro
como vencedor da morte, do demônio, do mundo e da carne, para brilhar como um
sol que espanca as trevas que cobrem o mundo e assentar sobre os escombros
deste uma nova civilização marcada pela cruz.
Cristo ressuscitado, ao sair vitorioso do sepulcro, nos
dá a esperança de uma nova civilização que raiará sobre o mundo descomposto em
que vivemos. Os que permanecerem inabaláveis nos princípios perenes, unidos à
Maria Santíssima, não terão o que temer, pois contam com a promessa de que as
portas do inferno não prevalecerão.
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