Na sua infinita sabedoria, Nosso Senhor utiliza a
parábola da vinha pertencente a um bom e honesto pai de família que a havia
arrendado para alguns vinhateiros que se revelaram maus. De tempos em tempos
ele enviava um de seus servos para receber o valor combinado do aluguel da
propriedade. Mas seu representante era sempre escorraçado, apedrejado e morto
pelos vis cultivadores, um tanto parecidos com os militantes do MST no Brasil
de hoje.
Acabrunhado com o que vinha acontecendo, ele resolveu
enviar o seu próprio filho, na esperança de que fosse respeitado e recebesse a importância
a que tinha direito por justiça. Mas em vão. Sabendo-o herdeiro da vinha, os
lavradores o caluniaram, mataram-no e o lançaram fora da propriedade. Note o
leitor que esta parábola o Divino Mestre a dirigiu aos sumos sacerdotes e
aos fariseus no Templo, na semana que antecedeu a Sua crucifixão e morte.
Os sacerdotes do Sinédrio – os maus lavradores
– entenderam perfeitamente a parábola. O povo de Israel era a vinha mal
administrada por eles... A grandeza da missão de cuidar desta vinha se
vinculava ao fato de o pai de família a ter plantado, cercado de sebes,
construído nela um lagar e edificado uma torre. Palavras candentes foram ditas
por Jesus a respeito desta vinha predileta:
“Jerusalém, Jerusalém, que mata os profetas e apedreja os
que lhe foram enviados! Quantas vezes Eu quis reunir os seus filhos como a
galinha reúne os seus pintainhos debaixo das suas asas, mas vós o rejeitastes!
Eis que a vossa Casa ficará deserta. Eu vos digo que vós não me vereis mais até
que digais: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor! ’” (Lc, 13, 34).
Este pai de família do qual Jesus fala na parábola é Deus
Pai, que trata o homem como filho. A vinha é a casa de Israel; a sebe que
rodeava a vinha eram os anjos que a guardavam; a lei era representada pelo
lagar; a torre simbolizava o Templo e os lavradores maus, os sacerdotes da
época. Porque São Lucas nos ensina que é necessário cumprir em relação a Nosso
Senhor tudo o que está na Lei, nos profetas e nos salmos.
Com esta parábola Jesus quis ensinar aos sumos sacerdotes
que por causa de suas infidelidades a vinha lhes seria tirada e oferecida a
outros vinhateiros, que a fariam frutificar em tempo oportuno, pois no Antigo
Testamento a vinha do Senhor era representada pela Igreja mosaica.
A partir da Paixão e morte de Nosso Senhor, Ele fundou
uma nova igreja, a verdadeira vinha, e A entregou aos apóstolos. A Igreja
Católica se plasmou e percorreu os séculos por toda a face da terra. Em outra
ocasião, Cristo confirma que por meio do batismo todos os Seus seguidores farão
parte desta Igreja por Ele fundada.
Ao dar a vinha a outros vinhateiros esparsos por toda a
Terra, sentando-se à mesa com Abraão, Isaac e Jacob no reino de Deus, fica
assim confirmada a verdade pregada por um dos profetas de que a pedra antes
rejeitada tornou-se a pedra angular, coisa maravilhosa a nossos olhos.
Nosso Senhor tornou-se a pedra angular, a cabeça do Corpo
Místico que é a Igreja, pois sendo crucificado e morto por aqueles que O
rejeitaram, dirigiu-se aos gentios, e juntos constituíram esta pedra angular.
Dois povos, os da raça de Jesus e os da gentilidade, se tornaram uma só cidade
fiel e um só templo.
A pedra rejeitada pelos doutores da lei antiga e toda a
cúpula judaica passou a ser a cabeça da Igreja, pedra angular da ogiva que une
judeus e gentios. Eis o mandamento admirável: “Ide por todo mundo e pregai o
Evangelho a toda criatura. O que crê e for batizado será salvo; o que porém,
não crê, será condenado”.
A Igreja assim edificada passou a confirmar a sua
doutrina por meio de milagres que acompanham os que creem: “Expulsarão demônios
em meu nome, falarão novas línguas, manusearão as serpentes, e se beberem
alguma coisa mortífera, não lhes fará mal; imporão as mãos sobre os enfermos e
serão curados.” (Mc. 16,15-18). A Igreja instituída por Jesus Cristo é
divinamente santa, ainda que hoje seja difícil ver a Sua santidade em seu
componente humano, pois o sal deixou de salgar.
Encerro com um pequeno exame de consciência, que extraio
de alguns trechos da Via Sacra escrita por Plinio Corrêa de Oliveira em abril
de 1941 para o jornal “O Legionário”:
“No caminho de nossa vida, vemos a Igreja que passa
perseguida, açoitada, caluniada, odiada, e, ó meu Deus, por vezes até traída
por muitos que se dizem filhos da luz só para melhor poderem propagar as
trevas. Vemos isto. Na aparência a Igreja está fraca, vacilante, agonizante
talvez. Na realidade, Ela é divinamente forte, como Jesus. Mas nós só vemos a
fraqueza com os olhos da carne.
“E somos tão míopes com os olhos da fé, que discernimos a
custo a invencível força divina que a conservará sempre e sempre. A Igreja vai
ser derrotada. Vai morrer. Eu, pôr ao serviço dessa perseguida, dessa
caluniada, dessa derrotada, a exuberância de minhas forças, de minha mocidade,
de meu entusiasmo? Nunca! Distanciemo-nos.
“Não somos Cireneus. Cuidemos só e só de nossos
interesses. Seremos advogados prósperos, comerciantes ricos, engenheiros bem
colocados, médicos de boa clientela, jornalistas ilustres ou prestigiosos
professores. E só no dia do Juízo é que compreenderemos o que perdemos quando a
Santa Igreja passou por nosso caminho, e nós não a ajudamos!”
E o ardoroso líder
católico apontava o caminho: “Apostolado! Apostolado saturado de oração,
impregnado de sacrifício. É este o meio pelo qual devemos ser Cireneus da Santa
Igreja.”
Um comentário:
“Não somos Cireneus. Cuidemos só e só de nossos interesses. Seremos advogados prósperos, comerciantes ricos, engenheiros bem colocados, médicos de boa clientela, jornalistas ilustres ou prestigiosos professores. E só no dia do Juízo é que compreenderemos o que perdemos quando a Santa Igreja passou por nosso caminho, e nós não a ajudamos!”
O trechinho acima do post reflete uma realidade: poucos se esforçam para pertencerem ao Reino de Deus, enquanto uma maioria quer vencer na vida e ajuntar tesouros, como se ficasse aqui para sempre; a Igreja seria tratada como algo distante, de que deveria ser membro que desse frutos.
Muitos não a vêem como extensão do Corpo de Cristo, conf Cl 1 18; 1 24, etc..
De repente, vem a morte súbita ou lenta; aí deparará que vida fútil levou; só atrás de coisas desse mundo e vai para o lado de lá de mãos vazias e um lindo patrimônio para filhos resolverem debulhar em festinhas, além de não os ter ensinado na fé cristã.
Não compensa esse grave risco de deixar para "se converter" na hora da morte, como vários pretendem.
Também, quantos deixaram o sacerdócio como seminaristas e casaram-se; estão super arrependidos, sabemos disso!
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