A Senhora da Graça
Pe. David Francisquini
Na linguagem da
Igreja tradicional, Maio significa mês de Maria, a medianeira de todas as
graças entre Deus e os homens, Aquela a quem o embaixador celeste São Gabriel
anunciou que seria a Mãe do Messias, o esperado das nações. Cheio de
reverência, o Anjo A saudou: “Deus te
salve, cheia de graça; o Senhor é contigo”.
Concebida sem pecado
original, sem nódoa alguma que A maculasse, Maria foi o instrumento escolhido
por Deus para comunicar aos degradados filhos de Eva a maior de todas as
graças: “E o Verbo de Deus se fez carne e
habitou entre nós”. Este foi sem dúvida o meio mais conveniente e sublime
excogitado pelo Criador para que seu Unigênito viesse à Terra.
E ante a surpresa da
Virgem, o Anjo prosseguiu: “Não temas
Maria, pois achaste graça diante de Deus; eis que conceberás no teu ventre e
darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Esse será grande, será
chamado filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono do seu pai David,
reinará na Casa de Jacó, eternamente, e seu reino não terá fim.”
São Gabriel disse
ainda à Virgem que o Espírito Santo A cobriria com sua sombra, pois quem d’Ela
nasceria seria chamado Filho de Deus. Maria se tornou assim Filha de Deus
Pai, Mãe de Deus Filho e Esposa do
Espírito Santo.
Se a concepção do
Filho de Deus representou um oceano incomensurável de graças, nem por isso
Nossa Senhora deixou de receber e cooperar com novas graças. À guisa de
ilustração, no Cântico dos Cânticos, a Escritura indaga: “Quem é esta que surge como a aurora, formosa como a lua, brilhante
como o sol, terrível como um exército em ordem de batalha?”.
Não obstante todas essas graças
inigualáveis, o auge da missão de Maria se deu ao pé da Cruz, quando se tornou
corredentora do gênero humano por consentir que seu Divino Filho morresse para
a nossa salvação. Foi também ali que Nosso Senhor no-la deu, ao constituí-la
mãe de São João Evangelista.
Se Eva nos transmitiu
o maior dos males ao comer o fruto proibido, Maria, a nova Eva, nos fez o maior
dos bens ao ser inteiramente fiel aos desígnios de Deus, contemplando e
assentindo que o seu Filho expiasse os pecados do mundo para nos abrir as
portas dos céus. Eis aí a grande estatura e envergadura de alma de Nossa
Senhora.
Falando sobre a graça
e a glória, o Pe. Antonio Vieira nos ensina que o mesmo Deus que nos apontou na
graça a misericórdia, nos mostrará na glória a sua verdade ao nos agraciar com
a coroa de que Se fez devedor.
Como Mãe e medianeira dos homens por vontade
divina, Maria nunca deixa de atender seus filhos em todas as suas necessidades.
Eis como A enaltece o Pe. Vieira:
“Perguntai aos enfermos para que nasce esta
celestial menina, dir-vos-ão que nasce para a Senhora da Saúde; perguntai aos
pobres, dirão que nasce para a Senhora dos Remédios; perguntai aos
desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo; perguntai aos
desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação; perguntai aos
tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres; perguntai aos desesperados,
dirão que nasce para Senhora da Esperança.
“Os cegos dirão que
nasce para Senhora da Luz, os discordes, para Senhora da Paz, os
desencaminhados, para Senhora da Guia, os cativos, para Senhora do Livramento,
os cercados, para Senhora do Socorro, os quase vencidos, para Senhora da
Vitória.
“Dirão
os pleiteantes, que nasce para Senhora do Bom Despacho, os Navegantes, para
Senhora da Boa Viagem, os temerosos da sua fortuna, para Senhora do Bom
Sucesso, os desconfiados da vida, para Senhora da Boa Morte, os pecadores
todos, para Senhora da Graça, e todos os seus devotos, para Senhora da Glória.
“E se todas essas
vozes se unirem em uma só voz, todas essas perguntas em uma só pergunta, e
todas as respostas em uma só resposta, ou, mais abreviadamente, todos esses
nomes em um só nome, dirão que nasce Maria para ser Maria, e para ser a Mãe de
Jesus: Maria de qua natus est Jesus.”
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