Se Jacinta vivesse hoje...
Padre David Francisquini
Se as crises e catástrofes de nossos dias, portadoras de
trevas, coincidem com o que a Virgem de Fátima proclamou em 1917 aos três
pequenos pastores na Cova da Iria, como Mãe também garantiu aos seus filhos que
as trevas seriam dissipadas pela luz através da devoção ao seu Imaculado
Coração.
Diante do paradoxo, a alma cristã sente a sua
contingência e se volta confiante, na certeza do triunfo, para Aquele que é “o caminho, a verdade e a vida”. Segundo
São Luís Grignion de Montfort, a era prenunciada por Fátima será a mais
brilhante da história da Igreja.
Para esse período de fé, de certeza, de ordem, de piedade
e de paz, a Virgem pediu a consagração do mundo, com especial menção da Rússia,
ao seu Imaculado Coração. Caso seu pedido fosse aceito haveria paz; caso não, a
Rússia espalharia seus erros pelo mundo promovendo guerras e perseguições à
Igreja.
O Santo Padre o Papa, Vigário de Jesus Cristo, deveria
consagrar a Rússia ao Seu Imaculado Coração em união com todos os bispos do
mundo, no mesmo horário e momento em que a Cabeça da Igreja, representante de
Jesus Cristo entre nós, procedesse à solicitada Consagração indicada pela
Virgem.
Por que então Deus, através de sua santíssima Mãe, pediu ao
Papa que consagrasse a Rússia ao Imaculado Coração de Maria como condição para
que esta se convertesse? Por que o próprio Divino Filho não tomou a iniciativa
de converter a Rússia sem exigir contrapartida do Papa?
Tudo leva a crer que Nosso Senhor tenha colocado essa condição
para que a História registrasse a consagração, e mostrar assim a ação do
Imaculado Coração de Maria sobre os grandes acontecimentos terrenos, favorecendo
ao mesmo tempo a maior difusão possível da devoção a Ele.
Nestes 100 anos das aparições (1917-2017), os erros da
Rússia penetraram em todos os campos da atividade humana, até mesmo dentro da
Igreja Católica. Eis a razão das perseguições aos bons e de se promoverem
desordens no campo moral como o aborto, a eutanásia, a ideologia de gênero, as
uniões homossexuais. Afinal, o que resta da moral contida nas tábuas da Lei?
Lendo recente obra publicada pelo Carmelo de Coimbra – Um Caminho Sob o Olhar de Maria –, encontrei
fatos interessantes que elucidam a situação angustiante da atual crise moral e
religiosa, sem dúvida consequência do não atendimento dos apelos da Virgem à
conversão e à penitência.
A Irmã Lúcia, em carta ao Bispo de Leiria, afirma: “Jacinta se impressionava muito com algumas
coisas reveladas no segredo e no seu amor ao santo padre e aos pecadores
dizia-me muitas vezes: coitadinho do Santo Padre, tenho muita pena dos
pecadores.”
E prossegue: “Se
ela vivesse agora que estas coisas estão perto de acontecer, quanto mais não se
impressionaria. Se o mundo conhecesse o momento da graça que ainda lhe é
concedido e fizesse penitência! O tempo passa, as almas não morrem, a
eternidade permanece!”
Em outro lugar, Lúcia fala que na terra purificada haverá
uma só fé, um só batismo, uma santa Igreja Católica Apostólica, como a exclamar
o triunfo do Corpo Místico de Cristo através do Imaculado
Coração de Maria, quebrando o processo revolucionário, como uma serpente
insidiosa e peçonhenta, que vem se arrastando em meio a revoluções e guerras ao
longo de mais de 500 anos.
Digna de nota nesse sentido foi a expressão de Paulo VI ao
afirmar que de algum modo a fumaça de Satanás invadiu o Templo Santo. Seria
desalentadora a situação caso não existisse a garantia de Nosso Senhor Jesus
Cristo de que as portas do inferno não prevalecerão contra a Santa Igreja.
Ademais, teremos sempre no Coração Imaculado de Maria
Santíssima o “refugium nostrum” de
cada dia para as dores e angústias que solapam a nossa fé e atentam contra as nossas
esperanças. E por maiores que nos pareçam as provações, esta devoção nos
assegura que o socorro e o anteparo não nos faltarão jamais.
Outro aspecto de suma importância: para os que recorrem a
Nossa Senhora com confiança, Ela é “terrível
como um exército em ordem de batalha” para os inimigos da Igreja.
Estas reflexões são de molde a nos dar a certeza de que
estamos trilhando o caminho certo ao recorrermos aos favores de tão boa Mãe. Em
estreita união com o seu Imaculado Coração, avançaremos resolutos ao encontro
do seu divino Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, pois onde está Maria, está Jesus
Cristo.
Na linguagem aquilatada e cheia de amor de Deus de São
João Eudes desprende-se uma maravilha do pensamento: ele nos diz que Jesus está
tão intimamente ligado a Maria, que é mais fácil apartar do fogo o calor, do
que separar Maria de Jesus.
Aprendamos d’Ela e com Ela, para buscarmos este progresso
junto ao seu Imaculado Coração, sobretudo em ocasiões como a sua festa
transcorrida no dia 22 de agosto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário