De
que nos serve uma fonte sem canal?
*Padre
David Francisquini
Analisando os fatos históricos decorrentes da ação
nefasta do protestantismo – que arrebatou da Santa Igreja metade da Europa –,
pode-se conjecturar que mesmo depois do Concílio de Trento prosseguiu um
trabalho sutil, matreiro, silencioso e bem orquestrado por parte daqueles que,
não aderindo abertamente à heresia luterana, preferiram permanecer no interior
do Corpo Místico de Cristo para continuar a corrompê-lo.
Representação de protestantes derrubando imagem de Nossa Senhora |
Antoine
Arnauld [1612–1694], prócer da mesma corrente herética, publicou o livro A
Comunhão frequente, no qual induzia à penitência pública, à dilação da absolvição
para satisfação dos pecados e – como meio salutar de penitência –, ao
afastamento das almas da comunhão frequente, chamada por ele de “luxúria
espiritual”. Apesar disso, seu livro obteve na época a aprovação de nada menos
que 11 bispos...
O
jansenismo representou um verdadeiro câncer que arruinou o edifício religioso das
almas dos fiéis. Ele chegava ao ponto de deixar os doentes morrerem sem os
devidos sacramentos. Sem destruir os altares dos santos e de Maria Santíssima,
esses inimigos da fé atacavam sutilmente essa devoção, sob o pretexto de
afastar abusos e fórmulas exageradas. Aparentemente submissos à orientação da
Igreja, os jansenistas procuravam encontrar meios cada vez mais escusos para explicar
a vida interna da Igreja, mas sem mudar os sentimentos que os alinhavam aos
seus antepassados protestantes.
Frontispício de umas das primeiras edições (1976) de "Glórias de Maria Santíssima" |
Em
seu livro Revolução e Contra-Revolução, Plinio Corrêa de Oliveira cita
Pio XII quando este sustenta: “É um inimigo que se tornou cada vez mais concreto,
com uma ausência de escrúpulos que ainda surpreende: Cristo sim, a Igreja não!
Depois: Deus sim, Cristo não! Finalmente o grito ímpio: Deus está morto”. Se
a Revolução é processiva – como podemos ler nas páginas da obra supracitada –,
eis o referido processo e seu desenvolvimento no seio da Santa Igreja com o
escopo de destruí-La.
Alegando
sempre e antes de tudo zelo pelas almas, ei-lo que inicia a ruína individual das
pessoas ou de uma instituição como a Igreja. Depois, em nome da fé, procura demolir
as devoções multisseculares. Por fim, começa
a se infiltrar em todos os campos da vida humana, para demolir com mais eficácia as estruturas da fé católica, o fervor das
principais devoções com foco em Nosso Senhor e Nossa Senhora. Uma vez obtido
isso, os bons vão se tornando tíbios, deixando ao inimigo campo aberto para que
implante seus mais ímpios desígnios. Assim chegamos ao neopaganismo de nossos
dias.
A
prova da existência desse processo corrosivo é a onipresença da mentalidade
jansenista, a qual se manifesta, por exemplo, sob o manto de muitos sofismas,
na protelação cada vez maior da administração dos sacramentos da Confissão, da Comunhão
e da Crisma.
Santo Afonso de Ligório |
Afinal,
para esse grande moralista, a “intercessão de Maria não é apenas útil, mas
necessária à nossa salvação. Não de uma necessidade absoluta, mas de
necessidade hipotética, pois esta é a ordem providencial estabelecida por Deus.
Essa é a vontade de Deus, que tenhamos tudo, mas tudo por Maria. Por isso,
procuremos a graça, mas procuremo-la por Maria. Ela é, pois, toda a razão da
minha esperança: espero em Deus, fonte da graça, mas de que me serviria a fonte
sem o canal que é Maria?"
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