Tenho sede!
Pe. David Francisquini
Carrasco dando fel e vinagre para Jesus |
exemplos de vida e resolução que tocam nas nuvens do mistério. Um deles é a narração, pelas páginas dos evangelhos, da sede devoradora que consumia Nosso Senhor Jesus Cristo durante a paixão. Que lições tal sede nos dá?
O
Divino Mestre de fato sofreu sede física pelos sofrimentos atrozes a que foi
submetido, pela quantidade de sangue que derramou, e pela consequente febre que
O abrasava. Essa sede simbolizava outra, que superabundava no seu espírito: a
sede de redimir os homens. Para saciá-la, em vez de água, seus verdugos Lhe
deram vinagre e fel.
Foi
por meio de uma verdadeira guerra que Jesus Cristo conquistou o seu reino, que
não era deste mundo, mas que se travou aqui na terra para que fosse completo.
Ele se tornou homem, padeceu e morreu na Cruz para nos salvar, além de nos
deixar a Igreja, seu Corpo Místico.
Na
pena de Plinio Corrêa de Oliveira, a Igreja “em suas instituições, em sua
doutrina, em suas leis, em sua unidade, em sua universalidade, em sua
insuperável catolicidade, é um verdadeiro espelho no qual se reflete nosso
Divino Salvador. Mais ainda, Ela é o próprio Corpo Místico de Cristo”.
Enquanto
tal, a Igreja forjou e plasmou a civilização cristã, passando a reinar nos
corações e na sociedade. Em sua agonia mortal no Horto das Oliveiras, Nosso
Senhor anteviu o que se passa hoje com a perda da fé, a descristianização da
sociedade, a perfídia dos corações, dentro e fora da Santa Igreja. E sofreu por
tudo isso!
O
que nos diria nas atuais circunstâncias? – Quae
utilitas in sanguine meo? Qual a utilidade do meu sangue? Ele nos olharia
com infinita compaixão, constatando a perda de milhões de almas todos os dias,
vendo a impiedade grassar em todos os rincões da terra.
Veria
também a indiferença e a frieza daqueles que poderiam serIrreverência na comunhão
chamados de pupila de
seus olhos e delícias do seu coração, os preferidos do seu divino amor e
predileção. Qual a utilidade do meu sangue se a borrasca e a escuridão
continuam a cobrir toda a terra? Não se vê uma nesga de luz.
Que
utilidade é esta de seu sangue? Durante a Crucifixão, até as pedras se
fenderam, os sepulcros se abriram como que proclamando que Ele era rei dos
vivos e dos mortos. Sua ardente sede de almas, representada pela sede física,
simbolizava o zelo divino em purificar a terra.
Para
Santo Agostinho, Aquele que parecia homem sofreu tudo isso, e todos os que
estavam escondidos de Deus, sofreram. Assim se cumpriram as Escrituras: “E
na minha sede me deram a beber vinagre" (Sl 68, 22). "Tenho sede", como se
dissesse: Isso precisa ser feito. Com efeito, os judeus eram o vinagre,
resultado da degeneração do vinho dos patriarcas e profetas.
Antes de expirar, Jesus pôs aos olhos
de todos o cumprimento da Lei, o que foi predito, o complemento de toda sua
obra salvadora, servindo-se de exemplo para os seus discípulos e seguidores: “Tudo
está consumado”, o sacrifício estava completo, a honra de Deus havia sido
expiada e as portas do céu abertas.
Jesus
Cristo perseverou até o fim, e sofreu sua Crucifixão, Paixão e Morte vencendo o
mundo, o demônio e a carne. A vitória da Cruz luminosa e resplandecente passou
a reinar em todas as instituições, sobretudo a familiar, como elemento saudável
e vivificador da sociedade cristã.
Nossa Senhora das Dores |
Pelas
chagas de Jesus Cristo fomos todos curados. As suas feridas, espinhos e açoites
se tornaram fonte inexaurível para nossas reflexões, além de um tesouro também
inesgotável para haurirmos forças e zelo para trabalhar pela glória de Deus e a
salvação das almas.
Resta-nos
recorrer à Mãe de todas as mães nos momentos de aflição, à Mãe Dolorosa que
acompanhou seu divino Filho em todos os passos da Paixão, e pedirmos a Ela a
graça de ter sempre diante dos nossos olhos o Redentor sofredor e chagado, como
Ela O contemplava na Paixão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário