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domingo, 17 de abril de 2011

Fonte de água viva


                                                                                     *Pe. David Francisquini


O tempo da Paixão compreende as duas últimas semanas depois da Quaresma propriamente dita. Ele visa preparar as almas, através de textos que a Igreja sabiamente vai colocando ao alcance dos fiéis, para o grande dia no qual Jesus Cristo instituiu o sacerdócio católico e a Eucaristia como sacramento e como sacrifício.
Antes mesmo de derramar o seu Sangue, Jesus Cristo se reuniu com os Apóstolos para a celebração da Última Ceia. Nesse memorável dia, o Divino Salvador celebrara o Santo Sacrifício da Missa, prefigura do santo sacrifício da Cruz e, ao mesmo tempo, sua misteriosa e mística renovação através das missas que se perpetuariam na Terra por todos os séculos dos séculos.
No dia seguinte Ele seria açoitado, coroado de espinhos e condenado à morte na Cruz, obrigado a conduzir às costas o madeiro até o alto do Calvário onde seria crucificado para a Redenção do gênero humano. Seus sofrimentos foram de um valor infinito. Com efeito, todos esses tesouros traduzidos em méritos advindos da Paixão constituem uma importância inapreciável.
Apenas um trecho das Sagradas Escrituras seria suficiente para explicar a grandeza e a sublimidade dos méritos do Nosso Divino Mestre: “Todo aquele que bebe dessa água terá ainda sede, porém, aquele que beber da água que eu lhe der não mais terá sede, porque a água que eu lhe der, nele transformar-se-á em fonte de água viva, que brotará até a eternidade” (Jo IV, 13-14).
Olhando para Nosso Senhor na Cruz, vêm-nos ao espírito as dádivas e os dons da graça divina, bem como a elevação da natureza ao estado sobrenatural. Há, realmente, um novo renascimento pela água e pelo espírito, que o Batismo nos infunde, a tal ponto que nos tornamos templos do Espírito Santo ou templos da Santíssima Trindade.
Ao morrer na Cruz, Cristo derrotou o mundo, o demônio e a nossa carne corrompida. O instrumento do deicídio tornou-se a chave para a eternidade: “A hora virá, porém, ou já veio, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, tais são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito; e os que O adoram em espírito e em verdade O devem adorar” (Jo, IV, 23 e sg).
Tais palavras nos levam a compreender a riqueza do Calvário em relação às almas. Deus nos dá os meios para que sejamos cristãos, isto é, de nos tornarmos filhos d’Ele, e, portanto, herdeiros do Céu. Assim como nas videiras os sarmentos produzem frutos bons, saborosos, de um perfume agradável e delicioso, assim também ficamos enxertados em Jesus Cristo e produzimos frutos que jorram para a vida eterna.
Para entendermos bem o que é a vida sobrenatural que Nosso Senhor veio infundir em nós, ocorre-me uma analogia. Tomemos uma lâmpada convencional. Com sua natureza física e química, ao ser atingido por uma corrente elétrica, o tungstênio faz acender a lâmpada que esparge luz para todos os lados, afastando assim as trevas.
O mesmo se dá com o homem que tem sua natureza decaída em razão do pecado original: ao receber a graça divina, fruto da Redenção, ele se eleva ao estado sobrenatural, passando a brilhar em sua alma o esplender divino. A graça o eleva e diviniza, sem que ele perca sua natureza humana.
Assim como o ferro posto ao fogo fica incandescente e se confunde com o próprio fogo, o fogo divino da graça e os dons do Espírito Santo enobrecem e elevam a uma tal grandeza homem, que este se torna filho de Deus e não Sua mera criatura. Eis aí o papel da Redenção, que pela graça nos tornou partícipes da natureza divina.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Pertencer à Igreja (final)



*Pe. David Francisquini

 
Tratamos em dois artigos anteriores (Pertencer à Igreja I e II) sobre os fundamentos da Igreja Católica lançados por Jesus Cristo ao iniciar a sua vida pública. Reunindo seus discípulos, escolhendo os 12 Apóstolos e pregando o Reino de Deus na terra, ao ser elevado na Cruz, Ele atraiu a Si todos os que seguiriam seus ensinamentos e seriam batizados.
A promulgação se deu no dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo pairou sobre os Apóstolos reunidos com Maria Santíssima no Cenáculo. São João Crisóstomo diz que os Apóstolos saíram de lá não com as tábuas de pedra como o fez Moisés, mas trazendo consigo o Espírito Santo e comunicando-O aos outros como um grande tesouro de verdades e de graças.
Nesse dia converteram-se três mil pessoas, recebendo o batismo pela pregação de São Pedro. O grande Santo Agostinho ensinou a doutrina de nossa incorporação ao Corpo Místico de Cristo – que é a Igreja – através do batismo, meio indispensável tanto para a salvação como para pertencer à Igreja.
Jesus Cristo fundou uma só Igreja para todos os homens em todos os tempos – um só Deus, um só Batismo, os mesmos sacramentos e os mesmos Mandamentos, em todos os lugares e em todos os tempos. A veracidade da Igreja se conhece por ser Una, Santa, Católica e Apostólica. Essas quatro prerrogativas só se encontram na Igreja que tem por chefe o Bispo de Roma, por isso também ela é chamada Romana. São Paulo chama a Igreja de “coluna e fundamento da verdade”, (I. Tim. 3, 15).
Só a Igreja Católica é indispensável para a salvação, porque é o meio instituído por Jesus Cristo, sem o qual não se pode alcançar a vida eterna. Abandoná-la é uma apostasia, e rompe com Jesus Cristo quem rompe com a Igreja. Nosso Senhor ensina numa de suas parábolas que quem rompe com a vide, seus galhos secam e são lançados ao fogo; portanto, perde a fé e está no caminho da perdição eterna.
Por isso devemos pedir a Deus e à Santíssima Virgem Maria, ao nosso Anjo da Guarda e ao anjo da guarda da Santa Igreja, São Miguel Arcanjo, para que não permitam que resvalemos na Fé e nos afastemos da Igreja, porque só Ela tem, como Corpo Místico de Cristo, palavras de vida eterna.
Alguém poderia perguntar: – Qual é o papel do sacerdote na Igreja? – Ninguém possui meios tão excelentes quanto eficazes para a santificação do que um padre vivendo numa paróquia, rezando diariamente o Ofício divino, celebrando o santo sacrifício da Missa, administrando os sacramentos, atendendo os moribundos, instruindo as crianças, aconselhando e dirigindo os jovens, harmonizando e educando as famílias. Mas será assunto para outra matéria.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Cigarro seguro?



                                                                                                                        Pe. David Francisquini (*)


Por ocasião do carnaval, mais uma vez o governo brasileiro agiu de modo irresponsável ao fazer grande estardalhaço com a difusão – segundo dados colhidos da mídia – de 80 milhões de preservativos, sob pretexto de “sexo seguro”, portanto, sem risco das chamadas DST, entre as quais a famigerada AIDS. A propósito, vi recentemente uma comparação que me pareceu bastante esclarecedora.
Trata-se de uma análise entre a campanha que vem sendo feita em âmbito mundial contra o tabagismo e, de outro lado, a campanha igualmente mundial contra a AIDS. A partir do momento em que autoridades mundiais concluíram que o uso do cigarro é perigoso para a saúde, os governos começaram a adotar todo tipo de medidas, inclusive recorrendo a leis.
Para quê? – Para desencorajar aqueles que fumam, é claro! Daí a proibição de se fumar em ambientes fechados e, hoje, até em lugares públicos. Nada mais eficaz. Ninguém ouviu falar de uma campanha nacional ou internacional para promover o “cigarro seguro” encorajando o uso de filtros capazes de reduzir o risco de câncer, insuficiência cardíaca e outras enfermidades decorrentes do fumo.
Com efeito, ninguém promove distribuição maciça de filtros para cigarros em escolas, em prisões como vem ocorrendo com os preservativos. Qual seria a razão? – Parece óbvia. Os promotores das campanhas contra o tabagismo são convictos que a abstinência do fumo constitui a maneira mais eficiente e eficaz para evitar as doenças decorrentes do fumo.
Por que então não se procede da mesma maneira em relação a AIDS? – Não. As mesmas autoridades que combatem as doenças provenientes do hábito de fumar insistem paradoxalmente em promover e patrocinar o dito “sexo seguro”. Quantas vezes ouvi o refrão nascido da sabedoria popular “para os mesmos males, os mesmos remédios”... Incoerência e contradição do século XXI?!
O que nossas autoridades deveriam fazer era, no caso da AIDS, advogar a abstinência, incentivar a fidelidade conjugal, desencorajando assim a promiscuidade. Por que não o fazem? – Infelizmente, essas mesmas autoridades rejeitam a castidade a priori, pois defendem uma cultura erótica, sustentam que o prazer sexual é um “direito humano”...
A Igreja Católica ensina que a castidade dentro e fora do casamento está de acordo com a Lei natural e a Revelação cristã e contribui para elevar o padrão moral da sociedade. Além de trazer benefícios para a saúde, ela é o meio mais eficaz para combater a AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis. Mas por preconceito ideológico, a prática da castidade é simplesmente rejeitada.
A propósito, afirma a Congregação para a Doutrina da Fé: “A união carnal, por conseguinte, não é legítima se entre o homem e a mulher não se tiver instaurado, primeiro e de maneira definitiva, uma comunidade de vida (...). Para que a união sexual possa corresponder verdadeiramente às exigências de sua finalidade própria e da dignidade humana, o amor tem de contar com uma salvaguarda na estabilidade do matrimônio. Tais exigências demandam um contrato conjugal sancionado e garantido pela sociedade”. (Declaração sobre alguns pontos de ética sexual, 1976, Vozes, Petrópolis) Portanto, comete grave pecado todo relacionamento sexual que não seja entre pessoas legitimamente casadas.
A distribuição em massa de preservativos abre as portas para o amor livre, para a licenciosidade dos costumes, desencadeando chagas e desordens sociais em cascatas, verdadeiros tsunamis da moralidade pública e individual bem como da estabilidade social. Com isso se esvaece a ordem e sem ordem não há paz.
Nosso Senhor – e Ele é Deus – que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, que é o seu corpo místico. Nesse sentido, nosso Redentor se encontra junto a nós, enquanto Pai amoroso, predisposto a nos compreender, perdoar e até usar de clemência para conosco. Enquanto pastor de almas, tenho alertado os leitores sobre a inutilidade de um vigia cego.
Ao escrever essas linhas o faço com o espírito da caridade nos ensinada pelo próprio Cristo, que se encarnou, padeceu e morreu na Cruz pela salvação de cada um de nós. Pelos méritos dEle temos sede de almas, razão que me leva a estar sempre alerta perante o favorecimento da corrupção, difundindo ou incentivando o pecado que cedo ou tarde conduzirá a ruína da sociedade.
Quem viver, verá.




domingo, 20 de março de 2011

Pertencer à Igreja (II)
                                                                        *Pe. David Francisquini


No artigo “Pertencer à Igreja”, procuramos mostrar o que é a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, o corpo místico de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ao nos referir à alma da Igreja, apontamos para o que ela tem de mais profundo, ou seja, a Fé, a Esperança e a Caridade, os dons da graça e do Espírito Santo. Todos esses tesouros celestes decorrem dos merecimentos de Cristo Redentor e dos Santos.
Por sua vez, o corpo da Igreja é representado pelo que ela tem de visível e externo, como a associação dos fiéis, o culto, o ministério, o governo e a ordem externa.
Ensina o Papa Pio XII na encíclica “Corpo Místico de Cristo”: “Assim como o Verbo de Deus para remir os homens com suas dores e tormentos quis servir-se de nossa natureza, assim, de modo semelhante, no decurso dos séculos se serve da Igreja para continuar perenemente a obra começada”.
Na sua obra Redentora, Jesus Cristo conquistou os merecimentos para a eterna salvação dos homens, mas não quis aplicar os méritos somente por meio de Si mesmo, mas com a ajuda de colaboradores. Por isso reuniu e formou os Apóstolos que auxiliados pelos sacerdotes governam, ensinam e santificam os fiéis.
“Não vos é segredo (...) que nesses tempos calamitosos foi desencadeada uma guerra cruel e temível contra tudo quanto é católico, por homens (...) imbuídos de doutrina malsã, fechando seus ouvidos à verdade, tem propalado e disseminado (...) doutrinas falsas de toda espécie, provindas do erro e das trevas”, alertou-nos Pio IX.
Pertencer à Igreja é coisa muito alta e muito árdua, já o dissemos. Na defesa da Igreja – de acordo com o aguerrido e virtuoso Pio IX – devemos fazer uso de todos os meios lícitos a nosso alcance, pois horroriza e confrange os corações considerar os monstruosos erros e artifícios inventados para prejudicar a Igreja.
Quer através de insídias e de maquinações, os inimigos da luz estão sempre se esforçando para apagar a piedade, a justiça e a honestidade. Eles lutam dia e noite para depravar os costumes, calcar aos pés os direitos divinos e humanos, perturbar a religião católica e a sociedade civil e até mesmo arrancá-los pela raiz como se lhes fosse possível.
Eles chegam mesmo a uma audácia jamais vista. “Abrindo sua boca e proferindo blasfêmias contra Deus” (Apoc. XIII, 6), eles ensinam pública e desavergonhadamente que os mistérios de nossa santa religião não passam de invenções humanas, que a doutrina da Igreja é contrária ao bem-estar da sociedade, e, se atrevem mesmo a insultar o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo.
Já Leão XIII, na encíclica Divinum Illud, consignou que a Igreja nascera do lado do segundo Adão, adormecido na Cruz. Ela se manifestou à luz do mundo de modo insigne no célebre dia de Pentecostes. E nesse mesmo dia, começou o Espírito Santo a repartir seus benefícios ao Corpo Místico de Cristo.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Pertencer à Igreja (I)
                                                                                                              *Padre David Francisquini


Entre os doze artigos do Credo, há um que afirma: “Creio na Santa Igreja Católica”. Os leitores sabem que não nos referimos apenas ao edifício material, onde os fiéis se reúnem para rezar, pagar seu tributo de amor a Deus pelos benefícios auferidos, receber os sacramentos e assistir ao Santo Sacrifício da Missa.
As homenagens que prestamos a Deus se chamam religião, enquanto o templo material se chama casa de Deus ou casa de oração. Mas afinal, o que é a Igreja Católica, Apostólica Romana? – É um grupo de fiéis reunidos que professam a mesma fé, participam dos mesmos sacramentos e estão submissos aos legítimos prelados, sobretudo ao Papa.
Com efeito, o Romano Pontífice é o Vigário de Cristo e a cabeça visível da Igreja, enquanto Jesus Cristo é a cabeça invisível. A Igreja é um corpo moral, Reino de Jesus Cristo ou Corpo Místico de Cristo. Seu corpo docente – a hierarquia – deve governar, ensinar e santificar, enquanto os fiéis, membros da Igreja discente, devem ser governados, instruídos e santificados.
Os que pertencem à hierarquia – papas, bispos e sacerdotes –recebem o Sacramento da Ordem, ao passo que os fiéis fazem parte da Igreja pelo batismo, porta de entrada de todos na Igreja Católica, fora da qual não há salvação. Contudo, não basta pertencer à Igreja para se salvar, é preciso ser membro vivo d’Ela, estar na graça de Deus.
Como escreveu Plinio Corrêa de Oliveira numa de suas belas Vias Sacras, “pertencer à Igreja é coisa muito alta e muito árdua. Devemos pensar como a Igreja pensa, sentir como a Igreja sente, agir como a Igreja quer que procedamos em todas as circunstâncias de nossa vida. Isto supõe um senso católico real, uma pureza de costumes autêntica e completa, uma piedade profunda e sincera”.
A Arca de Noé é apontada como uma prefigura da Santa Igreja de Cristo, pois todos os que nela entraram encontraram a salvação no dilúvio universal. Portanto, a nova arca da aliança é a barca de Pedro, ou seja, a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra Ela”.
Na Cruz, a Igreja saiu do lado de Jesus Cristo, como do lado de Adão surgiu Eva. Por isso a Igreja é a Esposa de Cristo. E todos nós, batizados, fazemos parte de Cristo como membros. Os que por ignorância invencível ou por impossibilidade de pertencerem à Igreja Católica procuram agir retamente pertencem à alma d’Ela pelo desejo ou pelo voto.
Os trigais, a vinha e os sarmentos, o grãozinho de mostarda, a parábola do bom pastor, o agricultor que saiu a semear no campo, os trabalhadores que foram contratados para trabalhar na vinha, a parábola do banquete, são exemplos entre outros da expansão da Igreja, de sua vitalidade, da sua força e da sua fundação. Através de suas maravilhosas parábolas, o Divino Mestre nos dá ensinamentos em profusão para que possamos entender a Santa Igreja. Revestido dos poderes sacerdotais da Santa Igreja de Jesus Cristo, tenho a obrigação de conduzir, evangelizar, converter e santificar as almas, por cujo bom ou mau desempenho eu deverei um dia prestar contas a Deus. Como deverá prestá-las cada fiel em particular, porque “pertencer à Igreja é coisa muito alta e muito árdua”. Mas vale a pena. Como nos foi prometido, a recompensa será demasiadamente grande e eterna!

Até breve, quando eu retomar ao tema.