Liturgicamente o Natal termina oficialmente quando se celebra a Apresentação do
Menino Jesus no Templo e a purificação de Nossa Senhora, no dia 02 de
fevereiro ao benzer as velas de cera. É por essa razão que postamos mais um artigo
a respeito da chegada dos Reis Magos até Belém. Assim terminamos as considerações
deste tempo sagrado e benfazejo à piedade cristã.
Pe. David Francisquini
Pe. David Francisquini
Proclama o livro da Sabedoria: “Quando um silêncio profundo envolvia todas
as coisas e a noite ia a meio do seu curso, então, a tua palavra onipotente
desceu do céu e do trono real e, como um implacável guerreiro, lançou-se para o
meio da terra condenada à ruína, trazendo, como espada afiada, o teu
irrevogável decreto”.
Há pouco mais de 2.000 anos, um edito de César Augusto convocava um recenseamento de toda a terra. Naquele tempo, os recenseadores não iam, como hoje, de casa em casa interrogando as pessoas. Todos eram obrigados a se dirigir para tal fim à sua cidade de origem. Foi por esta razão que José – por ser da Casa e linhagem de David –, deixando Nazaré, na Galiléia, se dirigiu a Belém, na Judéia, a fim de se recensear com Maria, sua esposa.
O recenseamento concorreu para romper o silêncio e a rotina daquela cidade não muito distante de Jerusalém. Suas ruas, praças e hospedarias se encontravam cheias, num vai-e-vem contínuo de pessoas. Familiares, amigos, e mesmo estranhos se cumprimentavam e falavam dos pequenos acontecimentos de que se compunha a vida miúda daquela gente. Disso resultava um vozerio proporcional ao movimento da multidão, mas o suficiente para turbar os costumes da pequena Belém de Judá.
Foi em meio àquela balbúrdia que chegou São José, puxando um burrico sobre o qual se encontrava sua esposa, que estava grávida. Ninguém percebeu, sequer pôde entrever que o claustro virginal de Maria encerrava o Deus encarnado, “Aquele a quem nem o Céu nem a Terra podia conter”, prestes a vir ao mundo. José procurou por toda cidade um lugar onde pudesse nascer o Redentor: casas de parentes, hospedarias, casas particulares. Todas as portas se fecharam para ele e sua esposa.
Ou seja, o Redentor não encontrou abrigo onde pudesse vir à luz do mundo. São João escreveu que a Vida estava n’Ele, e esta Vida é a luz dos homens. É a luz que brilha nas trevas e as trevas não puderam envolvê-Lo. O verbo era Luz verdadeira que ilumina a todo homem que vem a este mundo. Ele estava no mundo, neste mundo que Deus criou por meio d’Ele, e o mundo não O quis reconhecer. Ele veio habitar entre os seus e os seus não O quiseram receber.
Cenário triste que se repete, ano após ano, nas celebrações do Nascimento do Redentor. Na verdade, tudo deveria parar a fim de ceder lugar, com todo o requinte possível, às celebrações d’Aquele que é a Luz do mundo. Afinal, Ele nos traz as melhores recordações de alegria, de paz, de harmonia e bem-estar. Natal do Menino Jesus em Belém de Judá. Natal em que a Terra inteira cobre de alvura para festejar o Inocente por excelência.
Não tendo São José e Nossa Senhora encontrado lugar no casario de Belém, foram se recolher junto à manjedoura, numa gruta que servia de abrigo aos animais. Foi ali que se deu o Natal do Menino-Deus, anunciado pelas vozes angélicas que ecoaram pelos campos e despertaram os pastores: “Glória a Deus nas Alturas e paz na terra aos homens de boa vontade!”. Nascido num campo como lírio perfumado, o Menino-Deus reuniu em torno de Si todas as classes, de reis a pastores.
A natureza toda se sente embevecida e elevada porque um Deus que é o criador de todas as coisas e que governa todo o universo tornou-Se criatura sem deixar de ser eterno e imutável.
Quem não se sente comovido contemplando uma criança tão elegante, terna e frágil, que sob o olhar enlevado e compassivo de sua Mãe e de São José, jazia com seus bracinhos estendidos numa manjedoura, assumindo profeticamente a posição que 33 anos depois assumiria ao morrer pregada na Cruz para a salvação da humanidade pecadora?
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Luz que Herodes não contempla
Pe. David Francisquini
Encerrávamos o nosso recente artigo sobre
o Natal com representantes de todas as nações da terra aos pés do Menino-Deus
recostado numa manjedoura, envolto em panos pobres e rotos. A brilhante estrela
que dissipou a neblina que envolvia todo o orbe guiou os Reis Magos – Melchior,
Gaspar e Baltazar – até o presépio, onde, prostrados, ofereceram ao Rei dos reis
ouro, incenso e mirra.
Com os Magos veio um numeroso séquito para
prestar homenagem ao Deus feito homem. Quanto à origem desses reis, consta que
fossem descendentes de Balaão, aquele que profetizou que de Jacó nasceria uma
estrela. O fato de chegarem treze dias depois do nascimento do Menino Jesus
torna plausível a hipótese de que fossem da região fronteiriça com a Judéia.
Em seu ato de adoração, os Reis Magos Lhe
ofereceram ouro em reconhecimento de
Sua realeza e esplendor; incenso que
com o seu crepitar e bom odor se eleva aos céus, símbolo da oração e
devotamento; e mirra, em reconhecimento ao sacrifício da
Redenção e do novo Sacerdócio que Ele veio instituir segundo a ordem de
Melquisedec.
Com efeito, esses Reis vieram com pompa e
majestade, para testemunhar a nobreza e grandeza do Menino que acabara de nascer
em Belém de Judá. Guiou-os a estrela não porque esta influencia a vida humana,
mas porque Jesus nasceu e é a origem dessa estrela que ilumina os céus no
Oriente, cobrindo a terra inteira com a sua luz.
Enquanto os anjos anunciaram aos pastores
o Natal de Cristo, a estrela O anunciava aos Magos, pois eles não tinham
profetas como o povo eleito, e os céus têm linguagens diferentes para
uns e outros povos. O surgimento da estrela foi ensejo de grande alegria para
os gentios, pois eles viram
nela a relação existente entre o Criador e seu Filho que se fez homem.
Se
a estrela foi o caminho, o caminho é Cristo, pois, pelo mistério de sua encarnação,
Cristo é nossa estrela, astro brilhante das manhãs que Herodes não
contempla, e que volta aparecer aos Magos para indicar o caminho que os levava
ao Salvador. Pode igualmente significar a graça de Deus e aquele que, pelo
pecado, como Herodes se deixa sujeitar ao império de satanás e perde a esta graça.
A
estrela é a fé iluminando nossas almas e conduzindo-nos a Cristo. No momento em
que os Magos foram pedir conselhos aos judeus, eles se haviam privado da
verdadeira luz da verdade que é Cristo. Ao encontrá-la de novo brilhando no
céu, eles seguem até Belém e ali encontram Maria com o Menino, ao qual prestaram
homenagens como Deus, Sacerdote e Salvador.
Se
Maria nos trouxe o Divino Pontífice que ofereceu a Deus reparação
perfeita, é Ela ainda que nos dá Cristo Jesus para reinar em nossos corações.
Não podemos encontrar Jesus sem Maria nem Maria sem Jesus. Seria como um pássaro
sem asas que quisesse levantar vôo. Maria, como medianeira de todas as graças, exerce
o papel de asas que nos levam a Cristo.
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Rompendo o silêncio dos indiferentes
Pe. David Francisquini
Há pouco mais de 2.000 anos, um edito de César Augusto convocava um recenseamento de toda a terra. Naquele tempo, os recenseadores não iam, como hoje, de casa em casa interrogando as pessoas. Todos eram obrigados a se dirigir para tal fim à sua cidade de origem. Foi por esta razão que José – por ser da Casa e linhagem de David –, deixando Nazaré, na Galiléia, se dirigiu a Belém, na Judéia, a fim de se recensear com Maria, sua esposa.
O recenseamento concorreu para romper o silêncio e a rotina daquela cidade não muito distante de Jerusalém. Suas ruas, praças e hospedarias se encontravam cheias, num vai-e-vem contínuo de pessoas. Familiares, amigos, e mesmo estranhos se cumprimentavam e falavam dos pequenos acontecimentos de que se compunha a vida miúda daquela gente. Disso resultava um vozerio proporcional ao movimento da multidão, mas o suficiente para turbar os costumes da pequena Belém de Judá.
Foi em meio àquela balbúrdia que chegou São José, puxando um burrico sobre o qual se encontrava sua esposa, que estava grávida. Ninguém percebeu, sequer pôde entrever que o claustro virginal de Maria encerrava o Deus encarnado, “Aquele a quem nem o Céu nem a Terra podia conter”, prestes a vir ao mundo. José procurou por toda cidade um lugar onde pudesse nascer o Redentor: casas de parentes, hospedarias, casas particulares. Todas as portas se fecharam para ele e sua esposa.
Ou seja, o Redentor não encontrou abrigo onde pudesse vir à luz do mundo. São João escreveu que a Vida estava n’Ele, e esta Vida é a luz dos homens. É a luz que brilha nas trevas e as trevas não puderam envolvê-Lo. O verbo era Luz verdadeira que ilumina a todo homem que vem a este mundo. Ele estava no mundo, neste mundo que Deus criou por meio d’Ele, e o mundo não O quis reconhecer. Ele veio habitar entre os seus e os seus não O quiseram receber.
Cenário triste que se repete, ano após ano, nas celebrações do Nascimento do Redentor. Na verdade, tudo deveria parar a fim de ceder lugar, com todo o requinte possível, às celebrações d’Aquele que é a Luz do mundo. Afinal, Ele nos traz as melhores recordações de alegria, de paz, de harmonia e bem-estar. Natal do Menino Jesus em Belém de Judá. Natal em que a Terra inteira cobre de alvura para festejar o Inocente por excelência.
Não tendo São José e Nossa Senhora encontrado lugar no casario de Belém, foram se recolher junto à manjedoura, numa gruta que servia de abrigo aos animais. Foi ali que se deu o Natal do Menino-Deus, anunciado pelas vozes angélicas que ecoaram pelos campos e despertaram os pastores: “Glória a Deus nas Alturas e paz na terra aos homens de boa vontade!”. Nascido num campo como lírio perfumado, o Menino-Deus reuniu em torno de Si todas as classes, de reis a pastores.
A natureza toda se sente embevecida e elevada porque um Deus que é o criador de todas as coisas e que governa todo o universo tornou-Se criatura sem deixar de ser eterno e imutável.
Quem não se sente comovido contemplando uma criança tão elegante, terna e frágil, que sob o olhar enlevado e compassivo de sua Mãe e de São José, jazia com seus bracinhos estendidos numa manjedoura, assumindo profeticamente a posição que 33 anos depois assumiria ao morrer pregada na Cruz para a salvação da humanidade pecadora?