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quarta-feira, 6 de junho de 2012

As prerrogativas da Mãe de Deus


*Pe David Francisquini

“Quem é essa que surge como aurora, bela como a lua, brilhante como o sol, terrível como um exército em ordem de batalha? (Cant 6, 8-10). A Virgem Maria, representada pela devoção dos fiéis também como Rainha e Mãe, nunca deixou de ser virgem ao conceber seu Filho, que é, ao mesmo tempo, o Unigênito do Eterno Pai unido à natureza humana por obra do Espírito Santo.
Os poucos textos referentes à Maria Santíssima encontrados nas Sagradas Escrituras são valiosos em ensinamentos para se avaliar as suas prerrogativas e de quão necessária é a devoção à Mãe de Deus e nossa. Ainda há pouco, a Igreja comemorou a maior festa da Cristandade, a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Com efeito, São Paulo sentenciou que se Cristo não tivesse ressuscitado, nossa fé seria vã.
Se ao deixar seu sepulcro selado Jesus Cristo pôde introduzir-se no Cenáculo com as portas trancadas, sua onipotência obteve que, gerado em Maria por obra do Espírito Santo, Ele deixasse o ventre materno preservando toda a sua integridade virginal. Daí a teologia concluir que Maria Santíssima é virgem antes, durante e depois do parto. Não há como ocultar tal verdade e dela duvidar sob pena de se perder a fé na Divindade de Cristo.
Se o Filho de Deus teve um sepulcro onde ninguém antes havia sido depositado, assim também foi o ventre de Maria. Mesmo depois de sua Ressurreição, a Escritura Divina narra que todos os seus seguidores tiveram uma veneração enorme ao seu sepulcro. Em outros tempos, quantas Cruzadas houve para libertar o Santo Sepulcro? Assim, por que não devotar a mesma veneração, honra, homenagem e amor Àquela que gerou o Redentor do mundo?
O anjo A saudou, ave, ó cheia de graça, o Senhor é contigo. Eva, a primeira mulher, ouviu de Deus que geraria seus filhos na dor por causa do pecado cometido. A Virgem Maria, pelo contrário, desterraria a tristeza por meio do júbilo que sentia ao ser Mãe d’Aquele que tudo criou. Com razão o anjo anuncia uma nova mensagem de paz e harmonia louvando Maria pela abundância das graças que Ela possuía.
É plena de graça Aquela que o Espírito Santo cumulou com uma chuva benfazeja de graças, inundando a sua alma muito acima de qualquer criatura. Deus está em seu coração, o Filho de Deus se forma em suas entranhas virginais; cheia de Deus está sua mente, plenos estão os seus sentidos. O filho de Deus recebe a natureza humana por Maria e por isso Ela se torna a bendita entre todas as mulheres.
Se de um homem e de uma mulher veio a maldição do pecado sobre a raça humana, de Maria e de Jesus nos vieram de novo a bênção, a salvação, a redenção, a alegria, a paz, o bem-estar e a harmonia. “Não te turbes Maria, porque achastes graça diante de Deus”. É como se o Anjo dissesse: Não venho te roubar a sublime e inviolável virgindade como fazem os homens enganosos e falsos.  Afinal, não sou o mensageiro da mentira.
E o Anjo poderia ter continuado: Quem merece graça diante de Deus não precisa temer, pois Tu estás adornada com as mais excelsas virtudes como o brilho da pureza e da santidade. Eu vim dos Céus não apenas para defender a tua inviolável virgindade, mas para custodiar e conservar tua consciência imaculada e reta. E eis que conceberás em teu ventre e darás à luz um filho e por-lhe-ás o nome de Jesus.

terça-feira, 8 de maio de 2012


Ai dos vencidos!

*Pe. David Francisquini

Os limites de meu mais recente artigo (Santo Agostinho, Bento XVI e Cuba) fazem-me retornar hoje ao tema, a fim de expor mais algumas considerações que considero oportunas. Tínhamos já visto que o regime cubano, porque profundamente ditatorial e persecutório – e, sobretudo, por importar num pecado coletivo e oficial –, é contrário à Revelação e ao Magistério da Igreja.
Com efeito, o Estado comunista cubano impõe leis que propagam o amor livre, eliminam a família indissolúvel, instalam o divórcio e promovem o aborto, além de facilitar toda sorte de aberração, por mais antinatural que seja, como corromper a inocência das crianças e dos jovens ao pregar a negação de Deus e da alma.
Uma das conseqüências imediatas dessa iniqüidade coletiva é a criação de um ambiente nefasto e próprio a conduzir as pessoas a cometerem pecados individualmente. Pois os maus exemplos instalados na sociedade constituem matéria-prima para se esquecer de Deus, da fé e da religião e de tudo que Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu em sua Paixão e Morte.
Ao negar os frutos da Paixão de Cristo – tão bem assinalados por Santo Agostinho, conforme mostramos no artigo anterior – é a sociedade cubana inteira que tenderá naturalmente a rolar precipício abaixo rumo ao caos e à miséria. Ao proibir os cidadãos de cumprir seus deveres para com Deus e para com o próximo, o Estado concorre em larga medida para a perdição das almas.
 O regime cubano se encontra nos antípodas do ensinamento de Leão XIII quando nos fala sobre os tempos áureos da Santa Igreja na Idade Média: “A filosofia dos Evangelhos governava os povos. E graças ao favor dos príncipes e a proteção dos magistrados, havia entre a Igreja e o Estado uma feliz concórdia e uma permuta amistosa de bons ofícios e por isso mesmo houve um florescimento que artifício algum dos inimigos da Igreja pode negar e subestimar”.
Diante da realidade vigente em Cuba, algum leitor poderia me perguntar: – Qual deveria ser a atitude das autoridades eclesiásticas? – Pactuar? – Recuar? – Ou seguir as pegadas dos mártires que preferiram seguir as Leis de Deus à lei dos homens? A este hipotético leitor eu respondo colocando inicialmente outra pergunta: – Afinal, o que pudemos constatar de fato durante a viagem de Bento XVI a Cuba?
Tomamos conhecimento, entre outras coisas, de que o Cardeal Ortega mandou a polícia prender os que reagiam contra o regime castrista rezando no interior da Catedral de Havana... E o próprio Núncio Apostólico se negou a receber aqueles que desejavam lhe expor, enquanto representante do Pastor dos pastores, a situação desumana em que se encontram na Ilha-cárcere... 
Triste o paradoxo de pastores que entregam ao lobo suas ovelhas! Como na época dos imperadores romanos, as ovelhas talvez ainda possam exclamar “Vae victis!” (Ai dos vencidos!)

quarta-feira, 25 de abril de 2012


Santo Agostinho, Bento XVI e Cuba
  
                                                                                                        *Pe. David Francisquini

Hoje é evidente que a ideologia marxista, na forma em que foi concebida, já não corresponde à realidade(S.S. Bento XVI, in OESP 24/3/12, pg. A26).
Perplexo, um amigo me procurou e disse: “Padre, o que se conclui das palavras de Sua Santidade é que se hoje é evidente que a ideologia marxista já não corresponde à realidade, antes não era evidente, portanto, ela correspondia à realidade”.
E acrescentou: “Ora, tendo diversos predecessores de Bento XVI condenado essa ideologia como intrinsecamente perversa e oposta per diametrum à doutrina católica, eu simplesmente não compreendo como ela pode ter sido em algum momento aceitável e correspondido à realidade das coisas”.
Pus-me então a refletir e concluí que não tinha como discordar, pois de fato muitos Papas afirmaram que o marxismo – ideologia que nega a Deus e os frutos da Redenção ao pregar o materialismo como ideal metafísico – é intrinsecamente perverso. E os regimes que o adotam não apenas pregam, mas combatem por todos os meios, a civilização cristã e os valores emanados do Supremo Magistério da Igreja.
Enquanto refletia, passavam pela minha mente algumas notícias que eu acabava de ler nos jornais. Uma delas informava que o cardeal de Havana, D. Jaime Ortega, chamou a polícia comunista para expulsar de uma igreja os católicos que ali estavam em vigília de orações para protestar contra o regime opressor. Outra notícia dizia que o Núncio Apostólico se negou a receber uma comitiva de católicos perseguidos pelo comunismo que lhe fora pedir para ter um breve encontro com Bento XVI.
Pensei comigo: se os próprios prelados cuja obrigação é defender o seu rebanho o tratam deste modo, o que dizer então dos ditadores comunistas e de seus sequazes?
Entre uma declaração perplexitante e dois fatos concretos angustiantes recorri a Santo Agostinho. Nele encontrei estas considerações sobre a Santa Igreja repassadas de unção, que me muito me consolaram.
 “Ó Santa Igreja de Deus, tu conduzes e instruis as crianças com ternura, os jovens com força, os anciãos com calma, como comporta à idade, não apenas do corpo, mas ainda da alma. [...] Tu ensinas aos reis que se devem dedicar a seus povos, e prescreves aos povos que se submetam aos reis. Tu ensinas com cuidado a quem se deve a honra, a quem o afeto, a quem o respeito, a quem o temor, a quem a consolação, a quem a advertência, a quem o estímulo, a quem a correção, a quem a repreensão e a quem o castigo. Tu fazes saber como, se nem todas as coisas são devidas indistintamente a todos, a todos se deve a caridade e a ninguém a injustiça” (De moribus Ecclesiae, cap. XXX, nº 63).
Com efeito, após essa bela apóstrofe de Santo Agostinho, basta um breve exame da doutrina da Igreja e de sua História para nos darmos conta de até que ponto ela é verídica para todos os povos e em todas as épocas.
Haveria para o Estado interesse mais fundamental, mais indispensável, mais sagrado do que se enriquecer com os inestimáveis benefícios que só da ação da Igreja — acentuamos a palavra “só” — lhe pode provir? Só a Igreja é capaz de unir, não só em sociedade, mas numa espécie de convivência pacífica, os cidadãos aos cidadãos, as nações às nações e os homens entre si pela lembrança de nossos primeiros pais.
Ressalta ainda o grande Santo Agostinho que, se seguir o que Nosso Senhor nos ensinou, a sociedade inteira tenderá naturalmente ao progresso, ao bem-estar e à harmonia.
Exatamente isso é que não existe em Cuba após mais de 50 anos de comunismo, pois seu regime proíbe a propriedade particular assegurada em dois Mandamentos da Lei de Deus, coíbe a livre iniciativa, nega a família e a liberdade enquanto direitos fundamentais da pessoa humana. Em suma, Cuba é a própria injustiça que tornou a vida desumana, fruto da ideologia marxista – tanto de ontem como de hoje.

terça-feira, 10 de abril de 2012


Meus votos de Páscoa
 *Pe. David Francisquini

Jesus Cristo Nosso Senhor não veio destruir a antiga Lei, mas cumpri-la e aperfeiçoá-la. Com a sua gloriosa Ressurreição no Domingo de Páscoa, Ele fez brilhar nova luz para que na Igreja resplandecesse o que havia sido obscurecido pela Sinagoga. De sábado, o dia do Senhor passou para domingo.
O sol ainda não havia raiado naquele domingo quando Maria Madalena – aquela que obteve o perdão de seus muitos pecados porque muito amou e, por isso mesmo, teve a sua alma purificada de toda culpa – saíra para visitar Cristo em seu sepulcro. O Evangelho narra que ela estava acompanhada de outra Maria e ambas portavam os aromas próprios para embalsamar o corpo do Salvador.
Ao encontrarem a tumba vazia, Maria Madalena sai pressurosa ao encontro dos apóstolos Pedro e João para avisá-los do grande acontecimento. Quem perdoa pouco, ama pouco, e quem perdoa muito, ama muito. Maria Madalena, que havia recebido um grande perdão, se resplandece ao rever Cristo com vida nova, sendo naquele momento mesmo confirmada na fé da Ressurreição.
E as duas Marias que precederam os apóstolos na visita à sepultura do Senhor representavam a gentilidade e o judaísmo, povos que fariam parte da Igreja Católica fundada por Jesus Cristo. Até aquele momento, foi Maria, a Mãe do Salvador, quem assistiu a Igreja, quem A compendiou em meio às densas trevas de deserção que grassou naqueles três dias. Nela, a virtude da fé brilhava com tal intensidade, que salvou e iluminou as almas escolhidas para serem o fundamento do mundo regenerado.
Cristo com a sua Ressurreição como que renascera do Sepulcro, pois do que adiantaria ter fé se Ele não tivesse ressuscitado? Eis o maior milagre da divindade do Salvador do mundo, que não só ressuscitou Lázaro, mas com seu poder infinito ressuscitou a Si mesmo.
Aquele que havia sido gerado num ventre virginal sem detrimento da integridade da Mãe, porque Deus tudo pode, até ter uma Mãe Virgem; Aquele que a virgindade havia encerrado no ventre materno veio à luz da vida, e o sepulcro cerrado O devolvia agora à vida imortal.
Tendo saído íntegro, manifesta Cristo todo o seu poder, toda a sua glória, toda a sua grandeza da mesma forma em que havia deixado o corpo virginal de Maria. Sai do sepulcro deixando-o selado, para que um anjo do céu removesse a pesada pedra da sepultura, e assim confundisse os inimigos.
A terra estremecida presta homenagem ao vencedor da morte, porque tudo n’Ele é vida e, como um sol, difunde sobre a terra a claridade de todas esperanças.  Ao sair do sepulcro Cristo deu o maior argumento apologético de sua divindade, de que Ele é o Rei e travou a batalha contra a morte, contra o demônio, contra o mundo e a natureza corrompida.
Nuvens espessas pairam sobre grande parte da humanidade neste início de milênio, com o desespero parecendo bater-lhe à porta. Que a Ressurreição de Cristo console e dê esperanças redobradas às almas aflitas! Estes são os meus votos nesta Santa Páscoa de 2012.