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quarta-feira, 25 de julho de 2012
A impiedade sobre um trono
*Pe David Francisquini
Nosso Senhor
Jesus Cristo deu aos seus apóstolos o mandato de anunciar o Evangelho, a fim de
que suas palavras ressoassem pela Terra inteira: "Ide, fazei que todas as
nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu
estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Mt 28,19-20).
Fortalecidos
com esta missão, os apóstolos "saíram a pregar por toda parte, agindo com
eles o Senhor, e confirmando a Palavra por meio dos sinais que a
acompanhavam" (Mc 16,20). Eles pregavam utilizando-se da linguagem clara e
inequívoca que Jesus Cristo lhes ensinara, e cujas luzes eram destinadas a
perdurar até a consumação dos séculos.
As letras sacras estão permeadas de figuras ricas de significados para descrever o que se passava no coração dos apóstolos: “Em verdade, em verdade vos digo que vos haveis de chorar e gemer enquanto o mundo se alegrará; haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há de converter-se em alegria”. Ao se depararem com a Paixão e Morte de Cristo, a tristeza e a angústia penetraram profundamente nos seus corações; ao ver Cristo ressuscitado, seus corações se converteram em alegria.
A tristeza que
se apoderara do coração dos apóstolos não é ponderável. Para vislumbrá-la,
Nosso Senhor recorre ao exemplo de uma mulher que está para dar à luz. Ela fica
tomada de tristeza em razão do momento difícil, pois chegou sua hora. Mas, após
ter dado à luz, ela já não se recorda de sua anterior aflição, pela alegria de
ter trazido ao mundo uma nova criatura.
Se o exemplo deita
luzes sobre a ressurreição de Cristo – um homem saindo vivo de sua sepultura –,
ele ilumina igualmente a História inteira.
Se em conseqüência
do pecado original a mulher dá à luz em meio às dores do parto, nesta seqüela a
que o pecado de nossos primeiros pais a reduziu nós podemos, entretanto, ver a
figura da Igreja através dos séculos. Quanto sangue, quantas perseguições,
quantas heresias, quantas indiferenças, quantas frivolidades, em suma, quantas
dores teve a Igreja de enfrentar ao longo de sua bimilenar existência!
Tomemos os
nossos dias. Não há lugar do orbe onde não se trame contra a Igreja de Cristo. Costumes
cada vez mais hostis aos Mandamentos de Deus grassam numa sociedade que se
estadeia na luxúria e na opulência de viver, onde praticamente todos vivem privados
da graça e da vida sobrenatural.
Leis ímpias
contrárias à Lei Natural e à Lei Divina vão sendo aprovadas à revelia da
opinião pública, como acaba de acontecer entre nós com a equiparação da união de
pessoas do mesmo sexo com o casamento entre um homem e uma mulher. A aprovação
do aborto de anencéfalos pelo Supremo Tribunal Federal abre as portas para a
matança dos inocentes no ventre materno. Por sua vez, esta mesma lei abre
espaço para a eutanásia...
Se passarmos
para o campo político-social, quantos descalabros! Os leitores devem conhecer
muitos deles. Se acrescermos a isso a crise interna que assola a Santa Igreja,
tisnando a luz, descaracterizando o sal, desedificando a fortaleza para enfrentar
os males que afligem o mundo hodierno, deparamo-nos com uma realidade
profetizada por São Luis Maria Grignion de Montfort em sua Oração Abrasada:
“Vossa fé é transgredida; vosso Evangelho,
desprezado, abandonada vossa religião; torrentes de iniqüidades inundam toda a
terra, e arrastam até os vossos servos; a terra toda está desolada; a impiedade
está sobre um trono; vosso santuário é profanado, e a abominação entrou até no
lugar santo.”
Razão para
perdermos a esperança? – Jamais! Razão, sim, para confiarmos, com ardor sempre
crescente, na promessa feita por Nossa Senhora em Fátima relativa à futura
renovação da Santa Igreja e do mundo: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!”.
Eis o encanto
e a alegria que nos aguardam, pois será em meio aos sofrimentos e às dores
atrozes de nossos dias que a Igreja dará à luz a maior e melhor das civilizações
que será o Reino de Maria.
quarta-feira, 6 de junho de 2012
As prerrogativas da Mãe de Deus
*Pe David Francisquini
Os poucos textos referentes à Maria Santíssima encontrados nas Sagradas
Escrituras são valiosos em ensinamentos para se avaliar as suas prerrogativas e
de quão necessária é a devoção à Mãe de Deus e nossa. Ainda há pouco, a Igreja
comemorou a maior festa da Cristandade, a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Com efeito, São Paulo sentenciou que se Cristo não tivesse ressuscitado,
nossa fé seria vã.
Se ao deixar seu sepulcro selado Jesus Cristo pôde introduzir-se no
Cenáculo com as portas trancadas, sua onipotência obteve que, gerado em Maria
por obra do Espírito Santo, Ele deixasse o ventre materno preservando toda a
sua integridade virginal. Daí a teologia concluir que Maria Santíssima é virgem
antes, durante e depois do parto. Não há como ocultar tal verdade e dela
duvidar sob pena de se perder a fé na Divindade de Cristo.
Se o Filho de Deus teve um sepulcro onde ninguém antes havia sido
depositado, assim também foi o ventre de Maria. Mesmo depois de sua
Ressurreição, a Escritura Divina narra que todos os seus seguidores tiveram uma
veneração enorme ao seu sepulcro. Em outros tempos, quantas Cruzadas houve para
libertar o Santo Sepulcro? Assim, por que não devotar a mesma veneração, honra,
homenagem e amor Àquela que gerou o Redentor do mundo?
O anjo A saudou, ave, ó cheia de graça, o Senhor é contigo. Eva, a
primeira mulher, ouviu de Deus que geraria seus filhos na dor por causa do
pecado cometido. A Virgem Maria, pelo contrário, desterraria a tristeza por
meio do júbilo que sentia ao ser Mãe d’Aquele que tudo criou. Com razão o anjo
anuncia uma nova mensagem de paz e harmonia louvando Maria pela abundância das
graças que Ela possuía.
É plena de graça Aquela que o Espírito Santo cumulou com uma chuva
benfazeja de graças, inundando a sua alma muito acima de qualquer criatura.
Deus está em seu coração, o Filho de Deus se forma em suas entranhas virginais;
cheia de Deus está sua mente, plenos estão os seus sentidos. O filho de Deus
recebe a natureza humana por Maria e por isso Ela se torna a bendita entre
todas as mulheres.
Se de um homem e de uma mulher veio a maldição do pecado sobre a raça
humana, de Maria e de Jesus nos vieram de novo a bênção, a salvação, a redenção,
a alegria, a paz, o bem-estar e a harmonia. “Não te turbes Maria, porque achastes graça diante de Deus”. É como
se o Anjo dissesse: Não venho te
roubar a sublime e inviolável virgindade como fazem os homens enganosos e
falsos. Afinal, não sou o mensageiro da
mentira.
E o Anjo poderia ter continuado: Quem
merece graça diante de Deus não precisa temer, pois Tu estás adornada com as
mais excelsas virtudes como o brilho da pureza e da santidade. Eu vim dos Céus
não apenas para defender a tua inviolável virgindade, mas para custodiar e
conservar tua consciência imaculada e reta. E eis que conceberás em teu ventre
e darás à luz um filho e por-lhe-ás o nome de Jesus.
terça-feira, 8 de maio de 2012
Ai dos vencidos!
*Pe. David Francisquini
Os limites de meu mais recente artigo (Santo Agostinho, Bento XVI e Cuba)
fazem-me retornar hoje ao tema, a fim de expor mais algumas considerações que
considero oportunas. Tínhamos já visto que o regime cubano, porque
profundamente ditatorial e persecutório – e, sobretudo, por importar num pecado
coletivo e oficial –, é contrário à Revelação e ao Magistério da Igreja.
Com efeito, o Estado comunista cubano impõe leis que
propagam o amor livre, eliminam a família indissolúvel, instalam o divórcio e
promovem o aborto, além de facilitar toda sorte de aberração, por mais
antinatural que seja, como corromper a inocência das crianças e dos jovens ao
pregar a negação de Deus e da alma.
Uma das conseqüências imediatas dessa iniqüidade
coletiva é a criação de um ambiente nefasto e próprio a conduzir as pessoas a
cometerem pecados individualmente. Pois os maus exemplos instalados na
sociedade constituem matéria-prima para se esquecer de Deus, da fé e da
religião e de tudo que Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu em sua Paixão e Morte.
Ao negar os frutos da Paixão de Cristo – tão bem
assinalados por Santo Agostinho, conforme mostramos no artigo anterior – é a
sociedade cubana inteira que tenderá naturalmente a rolar precipício abaixo
rumo ao caos e à miséria. Ao proibir os cidadãos de cumprir seus deveres para
com Deus e para com o próximo, o Estado concorre em larga medida para a
perdição das almas.
O regime cubano
se encontra nos antípodas do ensinamento de Leão XIII quando nos fala sobre os
tempos áureos da Santa Igreja na Idade Média: “A filosofia dos Evangelhos governava os povos. E graças ao favor dos
príncipes e a proteção dos magistrados, havia entre a Igreja e o Estado uma
feliz concórdia e uma permuta amistosa de bons ofícios e por isso mesmo houve
um florescimento que artifício algum dos inimigos da Igreja pode negar e
subestimar”.
Diante da realidade vigente em Cuba, algum leitor
poderia me perguntar: – Qual deveria ser a atitude das autoridades
eclesiásticas? – Pactuar? – Recuar? – Ou seguir as pegadas dos mártires que
preferiram seguir as Leis de Deus à lei dos homens? A este hipotético leitor eu
respondo colocando inicialmente outra pergunta: – Afinal, o que pudemos
constatar de fato durante a viagem de Bento XVI a Cuba?
Tomamos conhecimento, entre outras coisas, de que o
Cardeal Ortega mandou a polícia prender os que reagiam contra o regime
castrista rezando no interior da Catedral de Havana... E o próprio Núncio
Apostólico se negou a receber aqueles que desejavam lhe expor, enquanto
representante do Pastor dos pastores, a situação desumana em que se encontram
na Ilha-cárcere...
Triste o paradoxo de pastores que entregam ao lobo
suas ovelhas! Como na época dos imperadores romanos, as ovelhas talvez ainda
possam exclamar “Vae victis!” (Ai dos vencidos!)
quarta-feira, 25 de abril de 2012
Santo Agostinho, Bento XVI e Cuba
*Pe. David
Francisquini
“Hoje é evidente
que a ideologia marxista, na forma em que foi concebida, já não corresponde à
realidade” (S.S. Bento XVI, in OESP
24/3/12, pg. A26).
Perplexo, um amigo me procurou e disse: “Padre, o que
se conclui das palavras de Sua Santidade é que se hoje é evidente que a
ideologia marxista já não corresponde à realidade, antes não era evidente,
portanto, ela correspondia à realidade”.
E acrescentou: “Ora, tendo diversos predecessores de
Bento XVI condenado essa ideologia como intrinsecamente perversa e oposta per
diametrum à doutrina católica, eu simplesmente não compreendo como ela pode
ter sido em algum momento aceitável e correspondido à realidade das coisas”.
Pus-me então a refletir e concluí que não tinha como
discordar, pois de fato muitos Papas afirmaram que o marxismo – ideologia que
nega a Deus e os frutos da Redenção ao pregar o materialismo como ideal
metafísico – é intrinsecamente perverso. E os regimes que o adotam não apenas
pregam, mas combatem por todos os meios, a civilização cristã e os valores
emanados do Supremo Magistério da Igreja.
Enquanto refletia, passavam pela minha mente algumas
notícias que eu acabava de ler nos jornais. Uma delas informava que o cardeal
de Havana, D. Jaime Ortega, chamou a polícia comunista para expulsar de uma
igreja os católicos que ali estavam em vigília de orações para protestar contra
o regime opressor. Outra notícia dizia que o Núncio Apostólico se negou a
receber uma comitiva de católicos perseguidos pelo comunismo que lhe fora pedir
para ter um breve encontro com Bento XVI.
Pensei comigo: se os próprios prelados cuja obrigação é
defender o seu rebanho o tratam deste modo, o que dizer então dos ditadores
comunistas e de seus sequazes?
Entre uma declaração perplexitante e dois fatos
concretos angustiantes recorri a Santo Agostinho. Nele encontrei estas
considerações sobre a Santa Igreja repassadas de unção, que me muito me consolaram.
“Ó Santa Igreja de Deus, tu conduzes e
instruis as crianças com ternura, os jovens com força, os anciãos com calma,
como comporta à idade, não apenas do corpo, mas ainda da alma. [...] Tu ensinas
aos reis que se devem dedicar a seus povos, e prescreves aos povos que se
submetam aos reis. Tu ensinas com cuidado a quem se deve a honra, a quem o
afeto, a quem o respeito, a quem o temor, a quem a consolação, a quem a
advertência, a quem o estímulo, a quem a correção, a quem a repreensão e a quem
o castigo. Tu fazes saber como, se nem todas as coisas são devidas indistintamente
a todos, a todos se deve a caridade e a ninguém a injustiça” (De moribus Ecclesiae, cap.
XXX, nº 63).
Com efeito, após essa bela
apóstrofe de Santo Agostinho, basta um breve exame da doutrina da Igreja e de
sua História para nos darmos conta de até que ponto ela é verídica para todos
os povos e em todas as épocas.
Haveria para o Estado
interesse mais fundamental, mais indispensável, mais sagrado do que se
enriquecer com os inestimáveis benefícios que só da ação da Igreja — acentuamos
a palavra “só” — lhe pode provir? Só a
Igreja é capaz de unir, não só em sociedade, mas numa espécie de convivência
pacífica, os cidadãos aos cidadãos, as nações às nações e os homens entre si pela
lembrança de nossos primeiros pais.
Ressalta ainda o grande Santo Agostinho que, se seguir
o que Nosso Senhor nos ensinou, a sociedade inteira tenderá naturalmente ao
progresso, ao bem-estar e à harmonia.
Exatamente isso é que não existe em Cuba após mais de
50 anos de comunismo, pois seu regime proíbe a propriedade particular assegurada
em dois Mandamentos da Lei de Deus, coíbe a livre iniciativa, nega a família e
a liberdade enquanto direitos fundamentais da pessoa humana. Em suma, Cuba é a própria
injustiça que tornou a vida desumana, fruto da ideologia marxista – tanto de
ontem como de hoje.
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