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segunda-feira, 17 de setembro de 2012


Limpar a poeira e tirar o mofo (II)

Pe. David Francisquini

Em recente artigo com o título em epígrafe, procurei analisar a causa mais profunda da baldeação em massa de católicos das hostes da Santa Igreja Católica Apostólica Romana para os renques protestantes, conforme as estatísticas e segundo podemos observar em nossa volta. Ao retornar ao tema, convido o leitor para considerarmos juntos alguns momentos da vida religiosa antes do Concílio Vaticano II.
No Paraná, onde eu cursava o seminário, ouvi no sermão de uma Sexta-feira Santa o bispo alertar os fiéis sobre a ação dos protestantes, que à época percorriam as cidades de sua diocese batendo de casa em casa, a fim de lançar dúvidas e sementes da cizânia na cabeça das pessoas.

Esses disseminadores da divisão entre as fileiras católicas não tiveram ambiente para continuar seu proselitismo e acabaram por deixar a diocese. Para reconforto dos fiéis, esse mesmo hierarca organizava as tradicionais associações religiosas femininas e masculinas, e não raras vezes promovia, em torno da catedral diocesana, manifestações públicas com a presença de todas elas revestidas de suas respectivas insígnias.
Com entusiasmo, ouvi um zeloso padre contar-me ter feito um debate público com os protestantes, mostrando-lhes não terem conhecimento de Deus nem dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. As crianças de sua paróquia sabiam mais sobre os ensinamentos divinos que os seus dirigentes.
            Creio que falta hoje aos meus colegas do clero o espírito polêmico e militante da Santa Igreja Católica. Julgo oportuno trazer a lume o que diz São Pedro na sua primeira epístola, a fim de esclarecer a responsabilidade do ministério sacerdotal:
           “Apascentai o rebanho que Deus vos confiou, velando sobre ele, não por constrangimento, porém, espontaneamente, conforme a vontade de Deus; não por um ganho vergonhoso, porém, por dedicação. Não vos porteis como senhores sobre a herança [de Deus], porém, tornando-vos um exemplo para o rebanho do íntimo do coração. E quando aparecer o príncipe dos pastores vós obtereis a coroa incorruptível da glória; e vós também, ó jovens, submetei-vos aos mais velhos” (1Petr. 5, 1-11).
Podemos apalpar nessas santas palavras o reflexo e o esplendor com que o guia de almas deve se dedicar em função da vocação para a qual foi chamado. Aplica-se aqui a parábola do mau administrador que dissipou os bens de seu senhor, pois ao conceder o pão da verdade e da verdadeira doutrina, o sacerdote é na verdade o administrador dos mistérios de Deus.
Ademais, ele administra as águas que jorram dos sacramentos e das cerimônias religiosas realizadas com sacralidade. Ele é o bom exemplo de conduta digna e santa do seu estado sacerdotal; ele promove e cultiva a recitação do Rosário; ele santifica no momento solene da bênção do Santíssimo Sacramento; ele instrui na religião; ele entoa hinos e joga o incenso de bom odor a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Com rituais que mais se assemelham ao protestantismo – sem falar dos escândalos nos meios católicos – sacerdotes há que acabam preparando o espírito dos fiéis para aceitar a doutrina errada. Ora pregam pouco a devoção a Nossa Senhora; ora descuram da água benta e das devoções externas, como o uso da medalha de São Bento e da Medalha Milagrosa; ora não arranjam tempo para atender devidamente às confissões e preparar as instruções religiosas; ora enfim, omitem o dever de falar de Deus e da alma, do prêmio e do castigo, da mudança de vida e do combate aos trajes modernos e imorais que pervertem os costumes das famílias e invadem até os ambientes religiosos.
O que mais estarrece são as heresias e a perseguição àqueles sacerdotes que querem portar a sua batina e celebrar o rito tradicional da missa tridentina, o qual nunca foi proibido, como afirma Bento XVI no Motu Próprio Summorum Pontificum.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012


Limpar a poeira e tirar o mofo I
Pe. David Francisquini

 
A propósito de recentes estatísticas apontando o crescimento das facções protestantes em detrimento da religião católica, recordo-me que no final da década 1960 um jornalista muito arguto e pouco fiel à nossa santa fé chegou a afirmar que o Brasil não tardaria a se transformar no maior país ex-católico do mundo.
À época, eu cursava o Seminário Menor no Paraná e já podia perceber a transformação paulatina e persistente nos meios católicos através de sacerdotes ditos progressistas. Com ou sem pretexto, eles compareciam no Seminário a fim de fazer reuniões, acenando sempre para uma mentalidade nova a contrarrestar valores então vigentes, qualificados não sem alguma malícia de “empoeirados” ou cobertos de mofo.
Por ser conservadora, a diretoria do referido seminário começou a sofrer pressão de um órgão do Vaticano e do episcopado paranaense para se adaptar aos novos tempos, sob pena de abandonar aquela casa de formação sacerdotal. Seu ex-reitor deve possuir em seus arquivos os documentos que exigiam a sua cabeça e a dos demais sacerdotes que o coadjuvavam.
A diocese tinha cerca de cem seminaristas menores, doze mil congregados marianos e filhas de Maria, além de outras associações de leigos. Um sacerdote aggiornato do Rio Grande do Sul, encarregado pelo bispo, visitava uma a uma dessas associações, sempre propondo limpar a poeira e tirar o mofo através da modernização, mesmo que precisasse desautorar o sacerdote que dirigia as referidas associações.
Num ambiente assim hostil ao ensino tradicional, surgiu uma nova liturgia. O altar do santo sacrifício da Missa foi substituído por uma mesinha de frente para o povo, músicas profanas foram introduzidas nas celebrações, o espírito religioso dos fiéis cedeu lugar a uma mentalidade mundana, e muitas vezes se parodiavam os protestantes. Já no Seminário Maior em Curitiba, presenciei e ouvi de um sacerdote no sermão a apologia do protestantismo ao afirmar que a Igreja havia mudado sua posição.
            À noite daquele mesmo dia, com a presença de todos os seminaristas, católicos e protestantes se reuniram numa igreja da capital paranaense. No púlpito se revezavam padres e pastores. Houve padres que ousaram defender o fim do celibato. A partir daí, muitos sacerdotes passaram a sofrer de um mal que ficou conhecido como “crise de identidade”, outros ainda lamentavelmente abandonavam o sacerdócio em decorrência das novidades surgidas a partir do Concílio Vaticano II.
Para os avisados a notícia da redução do número de católicos no Brasil não chega a surpreender, pois o ambiente vinha sendo amplamente preparado, como se pode observar na leitura do livro “Em defesa da Ação Católica”, de Plinio Corrêa de Oliveira. Nessa obra, escrita em 1943, o autor mostra a mudança não apenas de comportamento, mas igualmente de doutrina, a partir de uma ala modernista que se tornou atuante já na década de 1930, não respeitando os tradicionais ensinamentos da Santa Igreja.
Às vezes me pergunto se o clero brasileiro, sobretudo o episcopado, está realmente preocupado com a defecção e apostasia dos católicos que passam a engordar as fileiras do protestantismo. Fala-se muito em ecumenismo nos meios católicos, mas como o clero teria deixado escapar tantas ovelhas de seu rebanho? São os católicos que estão fazendo proselitismo para esvaziar os ambientes das seitas protestantes, ou são estas que se aproveitam da decadência religiosa e do clero? Como fica o dogma de que fora da Igreja não há salvação?
            Essas perguntas me vêm ao espírito ao imaginar a situação alarmante daqueles que apostataram ao renegar a fé recebida no santo batismo. Qual teria sido a causa mais profunda desse abandono em massa – um terço dos católicos – da fé no único Deus verdadeiro e da religião única e verdadeira desse mesmo Deus que é a Santa Igreja Católica Apostólica Romana? Para responder tais interrogações, precisamos analisar a vida religiosa antes do Concílio Vaticano II, assunto que fica para um próximo artigo.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

IPCO enfrenta pela 4ª vez a intolerância de agitadores pró aborto e pró ...


A impiedade sobre um trono
                                                        
                                                             *Pe David Francisquini


Nosso Senhor Jesus Cristo deu aos seus apóstolos o mandato de anunciar o Evangelho, a fim de que suas palavras ressoassem pela Terra inteira: "Ide, fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Mt 28,19-20).
Fortalecidos com esta missão, os apóstolos "saíram a pregar por toda parte, agindo com eles o Senhor, e confirmando a Palavra por meio dos sinais que a acompanhavam" (Mc 16,20). Eles pregavam utilizando-se da linguagem clara e inequívoca que Jesus Cristo lhes ensinara, e cujas luzes eram destinadas a perdurar até a consumação dos séculos.

As letras sacras estão permeadas de figuras ricas de significados para descrever o que se passava no coração dos apóstolos: “Em verdade, em verdade vos digo que vos haveis de chorar e gemer enquanto o mundo se alegrará; haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há de converter-se em alegria”. Ao se depararem com a Paixão e Morte de Cristo, a tristeza e a angústia penetraram profundamente nos seus corações; ao ver Cristo ressuscitado, seus corações se converteram em alegria.
A tristeza que se apoderara do coração dos apóstolos não é ponderável. Para vislumbrá-la, Nosso Senhor recorre ao exemplo de uma mulher que está para dar à luz. Ela fica tomada de tristeza em razão do momento difícil, pois chegou sua hora. Mas, após ter dado à luz, ela já não se recorda de sua anterior aflição, pela alegria de ter trazido ao mundo uma nova criatura.
Se o exemplo deita luzes sobre a ressurreição de Cristo – um homem saindo vivo de sua sepultura –, ele ilumina igualmente a História inteira.
Se em conseqüência do pecado original a mulher dá à luz em meio às dores do parto, nesta seqüela a que o pecado de nossos primeiros pais a reduziu nós podemos, entretanto, ver a figura da Igreja através dos séculos. Quanto sangue, quantas perseguições, quantas heresias, quantas indiferenças, quantas frivolidades, em suma, quantas dores teve a Igreja de enfrentar ao longo de sua bimilenar existência!
Tomemos os nossos dias. Não há lugar do orbe onde não se trame contra a Igreja de Cristo. Costumes cada vez mais hostis aos Mandamentos de Deus grassam numa sociedade que se estadeia na luxúria e na opulência de viver, onde praticamente todos vivem privados da graça e da vida sobrenatural.
Leis ímpias contrárias à Lei Natural e à Lei Divina vão sendo aprovadas à revelia da opinião pública, como acaba de acontecer entre nós com a equiparação da união de pessoas do mesmo sexo com o casamento entre um homem e uma mulher. A aprovação do aborto de anencéfalos pelo Supremo Tribunal Federal abre as portas para a matança dos inocentes no ventre materno. Por sua vez, esta mesma lei abre espaço para a eutanásia...
Se passarmos para o campo político-social, quantos descalabros! Os leitores devem conhecer muitos deles. Se acrescermos a isso a crise interna que assola a Santa Igreja, tisnando a luz, descaracterizando o sal, desedificando a fortaleza para enfrentar os males que afligem o mundo hodierno, deparamo-nos com uma realidade profetizada por São Luis Maria Grignion de Montfort em sua Oração Abrasada:
Vossa fé é transgredida; vosso Evangelho, desprezado, abandonada vossa religião; torrentes de iniqüidades inundam toda a terra, e arrastam até os vossos servos; a terra toda está desolada; a impiedade está sobre um trono; vosso santuário é profanado, e a abominação entrou até no lugar santo.”
Razão para perdermos a esperança? – Jamais! Razão, sim, para confiarmos, com ardor sempre crescente, na promessa feita por Nossa Senhora em Fátima relativa à futura renovação da Santa Igreja e do mundo: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!”.
Eis o encanto e a alegria que nos aguardam, pois será em meio aos sofrimentos e às dores atrozes de nossos dias que a Igreja dará à luz a maior e melhor das civilizações que será o Reino de Maria.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

As prerrogativas da Mãe de Deus


*Pe David Francisquini

“Quem é essa que surge como aurora, bela como a lua, brilhante como o sol, terrível como um exército em ordem de batalha? (Cant 6, 8-10). A Virgem Maria, representada pela devoção dos fiéis também como Rainha e Mãe, nunca deixou de ser virgem ao conceber seu Filho, que é, ao mesmo tempo, o Unigênito do Eterno Pai unido à natureza humana por obra do Espírito Santo.
Os poucos textos referentes à Maria Santíssima encontrados nas Sagradas Escrituras são valiosos em ensinamentos para se avaliar as suas prerrogativas e de quão necessária é a devoção à Mãe de Deus e nossa. Ainda há pouco, a Igreja comemorou a maior festa da Cristandade, a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Com efeito, São Paulo sentenciou que se Cristo não tivesse ressuscitado, nossa fé seria vã.
Se ao deixar seu sepulcro selado Jesus Cristo pôde introduzir-se no Cenáculo com as portas trancadas, sua onipotência obteve que, gerado em Maria por obra do Espírito Santo, Ele deixasse o ventre materno preservando toda a sua integridade virginal. Daí a teologia concluir que Maria Santíssima é virgem antes, durante e depois do parto. Não há como ocultar tal verdade e dela duvidar sob pena de se perder a fé na Divindade de Cristo.
Se o Filho de Deus teve um sepulcro onde ninguém antes havia sido depositado, assim também foi o ventre de Maria. Mesmo depois de sua Ressurreição, a Escritura Divina narra que todos os seus seguidores tiveram uma veneração enorme ao seu sepulcro. Em outros tempos, quantas Cruzadas houve para libertar o Santo Sepulcro? Assim, por que não devotar a mesma veneração, honra, homenagem e amor Àquela que gerou o Redentor do mundo?
O anjo A saudou, ave, ó cheia de graça, o Senhor é contigo. Eva, a primeira mulher, ouviu de Deus que geraria seus filhos na dor por causa do pecado cometido. A Virgem Maria, pelo contrário, desterraria a tristeza por meio do júbilo que sentia ao ser Mãe d’Aquele que tudo criou. Com razão o anjo anuncia uma nova mensagem de paz e harmonia louvando Maria pela abundância das graças que Ela possuía.
É plena de graça Aquela que o Espírito Santo cumulou com uma chuva benfazeja de graças, inundando a sua alma muito acima de qualquer criatura. Deus está em seu coração, o Filho de Deus se forma em suas entranhas virginais; cheia de Deus está sua mente, plenos estão os seus sentidos. O filho de Deus recebe a natureza humana por Maria e por isso Ela se torna a bendita entre todas as mulheres.
Se de um homem e de uma mulher veio a maldição do pecado sobre a raça humana, de Maria e de Jesus nos vieram de novo a bênção, a salvação, a redenção, a alegria, a paz, o bem-estar e a harmonia. “Não te turbes Maria, porque achastes graça diante de Deus”. É como se o Anjo dissesse: Não venho te roubar a sublime e inviolável virgindade como fazem os homens enganosos e falsos.  Afinal, não sou o mensageiro da mentira.
E o Anjo poderia ter continuado: Quem merece graça diante de Deus não precisa temer, pois Tu estás adornada com as mais excelsas virtudes como o brilho da pureza e da santidade. Eu vim dos Céus não apenas para defender a tua inviolável virgindade, mas para custodiar e conservar tua consciência imaculada e reta. E eis que conceberás em teu ventre e darás à luz um filho e por-lhe-ás o nome de Jesus.