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domingo, 26 de janeiro de 2014


Não vos admireis que o mundo vos odeie
 

Pe. David Francisquini          

            De tal modo a liturgia tradicional ressaltava a grandeza do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo que as mentalidades, as tendências e os costumes dos fiéis se moldavam todos para a sua solene celebração. Infelizmente, com as inovações pós-conciliares e a consequente laicização da sociedade, o Natal vem perdendo, ano após ano, muito de seu simbolismo.
            A deformação atingiu tal clímax que o Natal começou a ser celebrado nas praias, nos shoppings, clubes, restaurantes e praças, no contexto de uma efeméride mundana. E, na medida em que o neopaganismo avança as pessoas vão perdendo a noção dos períodos litúrgicos.
           Passado o dia 25 de dezembro, continuam na liturgia católica as festas relacionadas ao Natal. Entre outras, a comemoração dos santos inocentes no dia 28; a circuncisão; a festa do Santíssimo Nome de Jesus no primeiro domingo que se segue a circuncisão; a festa dos Reis Magos; e no domingo da oitava dos Reis Magos é celebrada a festa da Sagrada Família.
No dia 13 de janeiro comemora-se o batismo de Jesus, ocasião em que se inicia o novo período litúrgico,  apresentando a vida pública de Cristo. O período natalino ainda lança luz na festa da apresentação do Menino Jesus no Templo e a purificação de Nossa Senhora. Nesse dia, dedicado a Nossa senhora das Candeias, são bentas as velas cujo lume representa a luz de Cristo.           
        Com a introdução de leis como a do aborto, casamento homossexual, eutanásia, tolerância com a prostituição, mais um golpe foi desfechado contra o santo Natal, pois o ódio que rondava a manjedoura  de Jesus Cristo é o mesmo que se prolonga através dos séculos contra a Sua Igreja. Elas decorrem das palavras do divino Salvador: "Não vos admireis que o mundo vos odeie, porque Me odiou primeiro".            
         Em vez de amor, Jesus Cristo foi odiado no seu Presépio pelo establishment  da época. Em vez de aconchego, foi ameaçado de morte a ponto de obrigar a Sagrada Família a buscar refúgio no Egito, pois Herodes "irou-se em extremo e mandou matar todos os meninos de Belém e  arredores na idade de dois anos para baixo, segundo a data que tinha averiguado dos Magos".
            Aquele mesmo ódio acompanhou Jesus Cristo até o
Calvário, quando derramou todo o Seu sangue pela humanidade inteira.  Este ódio imenso não contém para nós alguma lição? Ai de nós, que jamais a compreenderemos suficientemente se não chegarmos a ser santos. Entre Jesus Cristo e o demônio, entre o bem e o mal, entre a verdade e o erro há um ódio profundo, irreconciliável, eterno, conforme nos ensinou Plinio Corrêa de Oliveira.
           E Herodes utilizando-se mal da sua autoridade maquinou matar o Menino Jesus. Para isso, ordenou o massacre de todas as crianças recém-nascidas de Belém e circunvizinhanças. De passagem, levanto uma pergunta. – Não acontece algo de semelhante hoje nas clínicas de aborto? As leis que vêm sendo feitas para sacrificar inocentes ainda no ventre materno não se assemelham ao decreto de Herodes?
            O profeta Jeremias havia anunciado: "Uma voz se ouviu em Ramá, grandes prantos e lamentações. Raquel chora os seus filhos e não se quer consolar porque eles já não existem". O profeta se utilizou desta figura enternecida de grande significado. Como Raquel deu a vida pelo seu filho Benjamim, ali mesmo recebeu sepultura.
            Como as duas tribos – Judá e Benjamim –  andavam juntas, Raquel gemeu em seu túmulo pelos filhos que morreram sob o ódio de Herodes. Assim a Igreja faz no Natal, e lamenta o frio bisturi que arranca do ventre materno aquelas pobres crianças que sequer ainda abriram os olhos para a luz,  e, sobretudo, ficarão privadas do batismo das mãos da Igreja.
            Peçamos para nós as melhores graças neste ano de 2014. Façamos o propósito de lutar incansavelmente contra todas as investidas dos adversários da Santa Igreja e da Civilização Cristã, à imitação de José que salvou o Menino e a Sua Mãe das mãos assassinas de Herodes.
           Quantos novos Herodes existem hoje quais lobos vorazes procurando devorar o que ainda resta de Civilização Cristã!

domingo, 29 de dezembro de 2013

 
 

                        *Pe. David Francisquini

            Noite de frio intenso em Belém. A cidade se encontrava envolta no burburinho preparatório do recenseamento convocado por César. Em vão, um casal discreto procurava acolhimento nas hospedarias, nem mesmo entre os parentes próximos, porquanto José e Maria desejassem lugar digno para o Natal do Criador do Céu e da terra.
            A natureza já se regozijava. Dela se exalava um perfume de agradável odor, ao passo que os corações dos homens de Belém se cerravam para Aquele que os enriqueceriam com Suas dádivas. Enquanto a noite avança, o incansável casal se depara ao longe com uma estrebaria, além de desconfortável, sem qualquer aconchego.
            O egoísmo e a dureza daquela gente fechavam as portas e os corações para o santo casal que, vigilante, aguardava o desejado das nações, o Rei dos reis, Aquele que viria tirar os pecados do mundo e beneficiar a humanidade inteira. Chega a noite ao seu ápice e o Sol do sol brilhou aos olhos extasiados de Maria e de José.
            Enquanto todos dormiam, os Anjos despertaram  os pastores na imensidão dos campos para lhes anunciar a grande alegria, extensiva a todo o povo: “Hoje vos nasceu, na cidade de David, o Salvador, que é o Cristo, o Senhor. E este é o sinal para vós: achareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura”.
            Natal, dia de alegria, de paz e de harmonia. Natal em que comemora o nascimento do Menino Jesus. Natal, dia de festa, de bênçãos e de calor humano. Natal cuja atmosfera se ilumina pelas graças d’Aquele que se uniu à natureza humana para trazer a Si a humanidade inteira. O Salvador veio ao mundo para a redenção de todos.
            Natal lembra bem estar, paz, inocência, brancura de alma. Deus-Menino, o pão da vida, vem à sua cidade que quer dizer a casa do pão. “Eu sou o maná que desci do Céu, que vossos pais comeram e, contudo morreram, mas quem comer deste pão viverá eternamente”. A Eucaristia e o Natal são um prolongamento de Cristo entre nós.
            Não há lugar onde se consagre o pão que sua substância não se transforme em Cristo. Qual lírio do campo, na manjedoura Jesus é adorado pelos anjos, pelos pastores e pelos reis. É o mesmo Deus de nossos sacrários. No instante mesmo em que o Anjo comunicava aos pastores a grande nova, toda a Milícia Celeste se uniu a ele em louvor a Deus, cantando: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade”.
            De boa vontade são aqueles que vivem em estado de graça, na amizade divina e no cumprimento de decálogo. Glória a Deus nas alturas é o que Cristo veio trazer à Terra ao fundar e instituir a Santa Igreja Católica, que é a Sua Igreja. Os céus se alegram e a terra inteira triunfa, pois Jesus veio a nós. E continua a vir no santo sacrifício da Missa.
            O nascimento do Filho de Deus em Belém foi previsto pelo profeta Miqueias. Na Palestina, subjugada pelos romanos imperava Roma na pessoa de César Augusto, que depois de ter vencido os inimigos se encontrava em grande paz. Ambicioso, decretou um recenseamento em todo o império, indo todos se alistar na sua cidade de origem.
            Da Casa de David, José e Maria foram a Belém. Viagem de quatro dias. Deus Pai dispôs as coisas para que o santo casal se dirigisse ao lugar onde a humanidade inteira procura hoje representar nas casas, nas igrejas, nos lares e nas cidades, o Presépio. Não apenas para prolongar, mas para perpetuar o grande acontecimento. 
            Ali, onde Maria deu à luz o divino Filho sem perder a virgindade, sem dor, num êxtase de elevação e nobreza. Maria tornou-se mãe do Filho de Deus conservando-se intacta através de um verdadeiro milagre. Sendo mãe, não deixou de ser virgem. Virgem antes, durante e depois do parto.
            Nossa Senhora percebeu não haver lugar para o seu Filho no coração empedernido daquele povo. A não ser uns poucos tocados pela graça como os Reis Magos e os pastores. Peçamos na noite de Natal ao Menino Jesus para sermos homens de boa vontade, unidos à Sagrada Família, aos reis Magos e aos pastores.
            Assim, glorificaremos a Deus.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013



Ai daquele por quem vêm os escândalos!

*Pe. David Francisquini

        
Diante da revolução cultural que vem carcomendo o tecido social, dir-se-ia que até a inocência infantil tem seus dias contados, se Deus não intervier para fazer cessar o curso dos acontecimentos.    Um dos meios ao nosso alcance para contrarrestar tal revolução consiste em elevarmos nossa mente a Deus pedindo-Lhe que intervenha, e ao mesmo tempo procurar nos elevar até Ele pela contemplação das obras da Criação.
            Por exemplo, no campo, onde o homem tem mais contato com a natureza, não há um só momento em que a ordem das
coisas que o rodeiam deixem de conduzi-lo a Deus. Enquanto a chuva tudo reverdece e o sol – sem o qual as coisas não seriam senão o que elas são – difunde o seu calor por toda a parte, outro calor anima os corações: a vida da graça.
            Assistido por ela, o homem transcende e contempla ora o sol, ora a lua, ora as estrelas, e se vive junto ao litoral, admira a imensidão em movimento das águas do mar que não cessam de proclamar a grandeza e a beleza do Criador. Há pouco, ao viajar pelo interior do Paraná, deparei-me com um bando de crianças a brincar num canteiro que me era familiar.
            Minha mais antiga lembrança desse canteiro remonta ao dia em que me dirigia para o seminário, acompanhado de meu venerando pai. Começava eu a trilhar os caminhos da vida dando ouvido à minha vocação sacerdotal. Como sacerdote, caminhando rumo ao ocaso da vida, eu pude enlevado contemplar a cena das referidas crianças, que empinavam papagaios.
         Tem razão Gilberto Amado ao dizer que “empinar papagaio é bom brinquedo, pois obriga a criança a olhar para o Céu”.
Enquanto uns empinavam suas pipas, outros meninos – numa espécie de torcida – erguiam as mãos até as colocarem juntas, como se estivessem em oração e com os olhos fixos no céu.
            Aquele pulsar, a louçania das crianças não era senão luz reflexa da inocência que reverbera diante do maravilhoso.   Nada nos eleva a Deus com tanta força do que a contemplação do belo e do épico, pois temos plasmado na alma os transcendentais do ser. Enquanto filhas de Deus, as crianças O louvam por possuir tais atributos de forma absoluta.
            Será que essas crianças espelhariam a mesma felicidade de situação e o mesmo brilho diante de um computador com jogos enaltecendo o feio, o violento, o monstruoso, o imoral, ou ao som de cacofonias? Elas louvariam assim a Deus? Ou estariam matando a inocência dentro de suas almas e com isso se distanciando d’Ele?
            Por oportuno, recordemos o ensinamento de Nosso Senhor
Jesus Cristo ao dizer em tom de carinho e atenção aos pequeninos: “Deixai vir a Mim as crianças, porque delas é o Reino dos Céus. Quem se tornar simples e humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos Céus”.
              E prossegue: “É impossível que não haja escândalos, mas ai daquele por quem eles vêm! Melhor seria que se lhe atasse em volta do pescoço uma pedra de moinho e que fosse lançado ao mar, do que levar para o mal a um só destes pequeninos”. 
             O que nos deixa perplexos mesmo é assistirmos hoje, inermes, a muitos dignitários eclesiásticos desprezando o bom, o belo, o artístico, pois recusar tais valores significa negar a inocência que nos convida à transcendência, e, através dela, a elevar os nossos corações a Deus. Resta-nos, contudo, a potente arma da oração!

domingo, 10 de novembro de 2013


Um escândalo, uma contradição, um erro

*Pe. David Francisquini

 

            Vimos em artigo precedente que regular o comportamento humano pela sensibilidade equivale recusar a inteligência que iluminada pela fé pode conhecer verdades superiores como as reveladas pelo próprio Deus. Eis a razão pela qual Caim foi censurado, pois foi lhe dito que possuía as rédeas nas mãos para dominar os seus instintos animais.
            Lastreado em ensinamentos do Papa Pio IX, tratamos ainda do bom entendimento entre a inteligência e a fé, além de das relações entre ciência e religião, concluindo que a ciência não pode dominar nem prescrever o que se deve crer e aceitar em matéria religiosa.
            Acenamos ainda para a teoria modernista ao afirmar que a contínua transformação de tudo obriga a Igreja a se adaptar à realidade dos fatos do tempo, não podendo condenar seus erros e vícios, procedimento este que vem causando enorme prejuízo à grei de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Por que Deus censurou Caim?
            *Pe. David Francisquini
            Porque possui alma imortal o homem é dotado de inteligência e vontade. Enquanto a razão tem por objeto próprio a verdade, e não o erro e a mentira, a vontade deve visar o bem. Por sua vez, os sentimentos devem acatar os ditames de uma e de outra.
            Pautar a conduta humana por sua faculdade sentimental e romântica seria negar a sua racionalidade, pois é através da razão que o homem regula seus sentimentos e emoções. Deus censurou Caim ao lhe dizer que ele possuía as rédeas nas mãos para dominar seus instintos animais.
            Enquanto os irracionais são dotados de forças instintivas e cegas que os impulsionam à natural procura de seu bem, o homem, para nortear sua conduta, precisa das faculdades da inteligência e da vontade, além da regra moral consubstanciada nos Dez Mandamentos da Lei de Deus. 
            Através da inteligência, o homem conhece as realidades visíveis e mesmo as invisíveis, e iluminado pela fé pode conhecer realidades mais altas, como as verdades reveladas por Deus segundo as Escrituras e a Tradição e transmitidas pelo Magistério multissecular da Santa Igreja Católica Romana.