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quinta-feira, 10 de julho de 2014

“Renascimento” do quê?


Num lar católico, pelo seu modo de ser a mãe cria em torno de si o ambiente próprio para a formação do subconsciente dos filhos, onde as primeiras noções de moralidade e de bom comportamento deitam as suas raízes. Como por uma fresta de janela o raio de sol entra para formar um pequeno cenário de luzes e de sombras, a ação benfazeja da mãe faz o ambiente próprio para incutir no coração da criança a noção de recato e pudor.

À medida que a mãe consegue fazer desabrochar nos filhos o encanto pelo belo, nobre e elevado, ela desperta neles o horror ao feio, ao imoral, à cacofonia, pois desta antítese nascerá a ideia de moralidade. Noção fundamental que fará aflorar outros valores naqueles corações como o dever de lutar contra tudo que lhe for contrário. Trabalho de ourivesaria que só pode ser levado a cabo dentro da família e do lar.

A criança assim formada passará a amar o que é verdadeiro e sério, a ter uma ideia exata de Deus, pois a sua família não conhece fissuras, pai e mãe compreendem a necessidade do vínculo conjugal indissolúvel, condição normal e ideal para a formação e educação da prole.  Os pais, com a concorrência mais próxima da mãe, devem saber despertar nos filhos o senso do ser, de responsabilidade e do dever.

É no sadio ambiente familiar que se destila o espírito que deve dar sentido à vida. As cerimônias de nascimento, por exemplo, feitas do carinho e do desvelo da mãe incute nos filhos a ideia de um lar cristão. Ou ainda, o reencontro diário do pai e da mãe diante de uma imagem de Jesus Crucificado ou de Maria Santíssima, na recitação do terço em família – ato de piedade conhecido – vinca neles a ideia de Deus e da eternidade.

As mães pelo simples fato de cuidar da higiene dos filhos vão deixando claro para eles que nem tudo pode ser feito diante dos outros, como se banhar, se vestirem, etc. Isso remete ao espírito da criança a noção de bem e de mal, do belo e do feio, da verdade e do erro, em suma a noção de pecado que é a desobediência às leis Deus escritas naturalmente em seus pequenos corações.

Fonte: ABIM 
Aos domingos, a mãe conduz os filhos à Missa, e lá, a se comportarem bem. Vêm as aulas de catecismo já iniciado no recinto do lar. As celebrações religiosas passam a ser assíduas. Não será a babá eletrônica a cuidar dos filhos, mas mãe que lhes contará belas histórias que elas mesmas quando crianças ouviram de seus pais. A entonação de voz e a fisionomia da mãe tocam fundo no coração dos filhos, carnes de sua carne. 

Nas horas difíceis, as histórias ensinam heroísmo e confiança, expressão de como todo ser humano deve ser, pensar e agir. O corte, as dobras, a composição de cores de suas roupas e até mesmo o seu comprimento parecem incutir neles a ideia de príncipes e de princesas, pois Deus os criou para reinar contra as paixões desordenadas, e que para isso vale a pena lutar pela ordem. 

O que a mãe é, será também o seu filho. A temperança de vida se forma na família cristã. Como os pais procedem diante dos filhos, eles se comportarão diante de outros, quer licenciosamente ou com compostura, recato e nobreza. Como o sol lança os primeiros raios para inaugurar um novo dia, os primeiros dias da criança marcarão o que ela será pelo resto da vida. Não se iluda o leitor de que o que se passa hoje seja fruto do acaso.

O mundo vem se descristianizando desde o Renascimento... Renascimento do que mesmo? – Do paganismo! De lá para cá, o povo outrora cristão foi abandonando a fé católica. As crianças de hoje sequer aprendem as orações mais elementares e trilham por caminhos opostos à razão mesma de ter sido criada: prazeres, drogas e prostituição. Querem viver sem lei e os frutos todos conhecem: o crime, a violência, o homicídio...

Onde a miséria ou a pobreza se mistura com a promiscuidade, surgem todos os vícios, a lepra moral. É preciso organizar a sociedade – a começar pela família – sobre a ideia de Deus e da eternidade.  A noção de bem e de mal consignados nos Mandamentos é essencial para a uma sociedade. Não basta ter noção, é preciso criar condições para que vicejem a virtude do recato e do pudor.

As autoridades abdicaram de seus deveres. Leis atentatórias à moral cristã são aplicadas. Alastra-se a desordem social. A família está dilacerada. Hoje se reivindica tanto, cobra-se dos políticos bens materiais como saúde, emprego, transportes, lazer, mas nunca se ouve uma voz autorizada a ensinar que a moralidade é fundamento da ordem social ou que o decálogo deva ser cumprido. Quem semeia ventos!...

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Onde estão os nossos pastores?

*Pe. David Francisquini
Por instituição divina, a Igreja visa à salvação das almas, pois o preceito de Jesus Cristo é claro: “Ide por toda parte e pregai o Evangelho, aquele que crer e for batizado será salvo e o que não crer será condenado”. A Igreja é católica, isto é, universal, abarca todos os povos e nações, e haverá um só rebanho e um só pastor.
Nosso Salvador se comparou ao bom pastor que não apenas vigia, mas que é capaz de lutar e dar a vida por suas ovelhas. Quis Ele mesmo ser modelo vivo dos pastores que viria instituir para dar continuidade à Sua obra, os quais devem ser vigilantes e militantes na defesa do rebanho a eles confiado.
Exemplo de militância que a Igreja deve sempre mostrar é o de Nosso Senhor enfrentando por três vezes a Satanás, ensinando-nos com isso que a vida neste mundo é de luta. Outros exemplos deixou-nos o Divino Mestre quando discutia com os escribas, os fariseus e os doutores da Lei.
Portanto, o sacerdócio católico deve ser militante – tônica essencial da Santa Igreja até a consumação dos séculos. Depois do pecado de nossos primeiros pais, a luta contra as más paixões passou a ser regra neste exílio, neste vale de lágrimas, como se reza na Salve Rainha.
Luta posta pelo próprio Deus ao decretar: “Porei inimizades entre ti e a Mulher, entre a tua descendência e a descendência d’Ela, e Ela te esmagará a cabeça e tu armarás ciladas ao Seu calcanhar” (Gn. 3,15). Luta que não existe apenas agora, mas que há de recrudescer até o fim dos tempos.
Vigilância e luta poderia bem ser o lema dos sacerdotes, pois os filhos das trevas costumam ser mais sagazes do que os filhos da luz. Os seguidores de Satanás não se cansam de investir contra as muralhas indefectíveis da Santa Igreja, o que perpetuará esta luta até a fim do mundo.
Como é incessante hoje em todos os lugares e em todas as circunstâncias a propagação do erro – quer nas tendências, nas ideias e nos fatos – isso nos impõe, ou pelo menos deveria nos impor, não somente uma vigilância contínua, mas uma luta sem tréguas, sob pena de trairmos a missão sacerdotal.
Iniciativas como o aborto, a contracepção, a identidade de gênero, o pseudo-casamento homossexual e a prostituição; a eliminação da família, da propriedade e do pátrio poder; o interconfessionalismo religioso e o laxismo moral – todas elas visam à completa relativização do ensinamento de Jesus Cristo.
Meios não faltam aos propagadores do mal, cujos erros fazem grassar através da mídia, da educação, dos divertimentos, dos shows, das músicas que apodrecem a moralidade e, portanto, as famílias e a vida pública. Com toda razão, os fieis poderiam perguntar: – Onde estão os pastores?
Ao decretar que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Sua Igreja, Nosso Senhor sem dúvida nos confirmava na fé e na esperança. Caso contrário, poderíamos vacilar nessas virtudes, à vista da imobilidade de muitos pastores diante dos lobos que investem contra os seus rebanhos. 


segunda-feira, 9 de junho de 2014


Requinte, elevação, nobreza

*Pe. David Francisquini

Nosso Senhor Jesus Cristo comparou a Igreja a uma minúscula semente de mostarda que ao vicejar se enche de tal vigor que os pássaros podem se aninhar em seus ramos. A metáfora representa a potência e a expansão da Igreja ao deitar suas raízes em todos os campos da atividade humana. 

Corpo místico de seu divino fundador, dentro dessa fortaleza só pode haver requinte, elevação, nobreza, predicados próprios do Deus humanado. Razão sem dúvida sobejamente forte para que seus ministros se identifiquem com os hábitos e as indumentárias que lhe são próprios. 

Pousam sobre os sacerdotes os desígnios de Deus. Ao se apresentarem em público, seus predicados – internos ou externos – ajudam-nos sem dúvida a ser reconhecidos pelo rebanho fiel, que poderá assim ser mais facilmente conduzido ao redil, para se arrepender de suas faltas. 

O sacerdote não pode se confundir com a massa, pois ele é o fermento que a leveda. Na epístola aos Hebreus, São Paulo recomenda ao candidato a ministro de Deus que, além da vocação, se compadeça dos que estão na ignorância e no erro, porque também ele está cercado de fraquezas. Por isso deve oferecer sacrifícios, tanto pelos seus pecados quanto pelas culpas do povo fiel. 

Se o hábito não faz o monge, pelo menos ajuda enormemente a tornar mais digno o homem consagrado a Deus. Até o Concílio Vaticano II, o hábito talar – ou seja, a batina que desce ao calcanhar – caracterizava todo sacerdote católico. Infelizmente ele foi desprezado, juntamente com toda a hierarquia de valores que representava.

Bispos Leste2 - Vista de Limina - 2010, de acordo com os novos rumos e ventos

 As consequências aí estão: incontáveis apostasias, tanto nas fileiras do clero quanto entre os católicos. E compreende-se, pois sem esta barreira que separava o padre do mundo, ele se tornou mais vulnerável às nefastas influências deste; e ao verem o padre igualado a si mesmos os fieis se desedificaram.

Por ocasião da convocação do referido Concílio, os bispos, cardeais, metropolitas e patriarcas partiram revestidos de suas
Magna Assembleia Conciliar decide os novos rumos da Igreja 
respeitáveis indumentárias que transcendiam requinte e esplendor. A pompa com a qual se apresentaram foi objeto de admiração por parte dos fieis do mundo inteiro. Mas ao findar a primeira fase daquela Magna Assembleia, voltaram às suas dioceses despojados dos trajes que os elevavam em dignidade e nobreza, além da respeitabilidade própria desses atributos.

Não há dúvida de que as vestes eclesiásticas faziam parte da vocação, do chamado divino que desperta nas almas o sobrenatural, reaviva nelas a fé, a consciência do bem e do mal, produzindo sentimentos de arrependimento e de propósitos a ponto de se poder exclamar que Deus vive entre nós por meio do padre.

A presença de um sacerdote virtuoso e bom dá conforto, segurança, equilíbrio, convida a pensar em Deus e a viver com vistas à vida eterna. Diante da investida protestante do século XVI, o Concílio de Trento determinou que os clérigos portassem sempre o hábito talar, como manifestação de honestidade interior dos costumes.

São Pio X

Infelizmente, a dessacralização na Igreja já se fazia sentir no início do século XX entre os modernistas, que bradavam contra o “triunfalismo da batina” e queixavam-se do requinte e da grandezadas insígnias reais dos papas. Com santa justiça foram eles condenados por São Pio X. 

Por natureza e sagração, o sacerdote é outro Cristo. E seu instrumento para difundir a graça e o perdão. Isso pode ser visto, por exemplo, quando ele se aproxima de um moribundo que se contorce de dor e preocupação em face da eternidade. O agonizante se recompõe, a paz e a tranquilidade passam a reinar em seu coração.

*Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria - Cardoso Moreria-RJ

domingo, 25 de maio de 2014

Chegou o tempo?

Casamento com a Santa Missa
A mídia tem sido pródiga em divulgar declarações do ex-presidente do Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, o cardeal Walter Kasper, de 81 anos. Ele acaba de apresentar mais uma proposta escandalosa: a admissão na comunhão eucarística de divorciados que tenham contraído novas uniões. 
O que a doutrina católica ensina a respeito?  São Paulo deixa claro: a Escritura, inspirada por Deus, é útil para ensinar, repreender, corrigir e formar na justiça. E a Igreja ensina que o casamento é indissolúvel nas dores e nas alegrias, no luto e nas dificuldades, nas vitórias e nas derrotas, nos reveses e nas bonanças, nas desilusões e nas esperanças. 
Caso a união anterior não tenha preenchido as condições para a sua validade, diz-se que o casamento não existiu. Portanto, o matrimônio realizado posteriormente, preenchendo as devidas condições, passa a ser legítimo e verdadeiro. 
Aos efésios confirma São Paulo o Gêneses: o que Deus uniu o homem não separe. O homem deixará seu pai e sua mãe, e se unirá à sua mulher e serão dois em uma só carne. Ficam excluídos da Eucaristia aqueles que estão em aberta violação da Lei de Deus.
A Igreja não pode abrir as portas deste Sacramento aos cônjuges que violam ensinamentos multisseculares, pois eles próprios é que resolveram viver em situação irregular, abandonando com isso a frequência dos sacramentos.
Uma comunhão sacrílega 
Já aos coríntios, ao ensinar as condições para se comer da Carne de Cristo e beber de Seu sangue, São Paulo aponta o dever de se encontrar em estado de graça, pois quem o fizer indignamente come e bebe a própria condenação. 
A Igreja especifica as condições para o acesso à Eucaristia, a fim de que os fiéis a recebam com frutos. Nenhuma autoridade humana pode abrir seu acesso àqueles que vivem de maneira irregular, pois aproximar-se deste Sacramento em pecado mortal constitui sacrilégio, profanação do Corpo de Cristo. 
Ninguém pode ensinar algo diferente do que foi sempre ensinado, afirma a tradição. São Paulo adverte: “Ainda que alguém – nós ou um anjo baixado do céu – vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema.” 
O que dizer de um eclesiástico que ensina e propõe o contrário daquilo que o Magistério sempre ensinou? Santo Afonso de Ligório afirma, com base nas Sacras Letras, que é de fé que os impudicos, os impuros e os fornicadores não possuem o Reino dos Céus. 
A iniciativa do cardeal Kasper de tentar liberar a comunhão eucarística aos recasados acabará por envolver a instituição familiar numa crise sem precedentes, pois diz respeito aos fundamentos de nossa religião. Essa crise será também a ruína de tantos que deveriam pregar a boa doutrina. 
São Paulo Apóstolo
A vida matrimonial e familiar é sustentada pelos princípios, convicções e certezas oriundos da Fé, e tudo o que se constrói sobre o sentimentalismo não passa de edificação fantasiosa. 
Cumpre encontrar soluções para que os recasados se afastem do mau caminho, e não subterfúgios para abalar ainda mais os já tênues laços familiares, como propõe o cardeal Kasper.
São Paulo recomenda: “Prega a palavra, insiste, quer agrade, quer desagrade; repreende, suplica, admoesta com toda paciência e doutrina. Porque virá tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina, mas contratarão para si mestres conforme os seus desejos, levados pela curiosidade de ouvir. E afastarão o ouvido das verdades para abrirem às fábulas.”
Terá chegado esse tempo? – Para o referido cardeal, expoente do progressismo, parece que sim...

domingo, 18 de maio de 2014

Onde está o teu tesouro?

*Pe. David Francisquini
                                                              
Células constitutivas da sociedade, as famílias funcionam como um termômetro dela. Quando estão sadias, a sociedade se ordena. Quando não, o corpo social fica comprometido, com reflexos em todos os campos da atividade do homem, da religião à economia.  
Assim, o grau de decadência da sociedade atual pode ser avaliado em função da situação das famílias que a constituem. De tal modo elas se distanciaram da formação recebida de seus antepassados que romperam com a estabilidade perene dentro das mutações normais das coisas. Romperam com aquilo que é imutável no mundo que muda, ou seja, a tradição.
Em sua obra-prima Revolução e Contra-Revolução, Plinio Corrêa de Oliveira afirma que a crise do homem contemporâneo tem sua raiz nos problemas de alma mais profundos. E ao apontar para a amplitude da Revolução, o autor mostra que ela visa destruir toda uma ordem de coisas legítima a fim de substituí-la por uma situação ilegítima.
Ao sacramentar o matrimônio, Jesus Cristo abriu para os esposos uma via de santidade, na qual o fim natural da multiplicação da espécie humana foi elevado a um objetivo ainda mais nobre: o da geração de membros para o seu Corpo Místico. Por isso, a verdadeira composição da sociedade tem por base a união familiar indissolúvel entre o homem e a mulher.
Mas essa indissolubilidade está profundamente abalada, como também a educação religiosa e moral dos filhos. Devido ao hedonismo de nossos dias e de leis cada vez mais socialistas, a finalidade primordial do matrimônio – a procriação e educação da prole – não é mais levada em conta, levando à fragmentação da estabilidade e do equilíbrio da instituição familiar.
Hoje os filhos não mais aprendem com seus pais a se dirigirem a Deus, pois muitas vezes sequer são batizados. Como uma sociedade que não reza poderá alcançar as graças de Deus? Enquanto as igrejas estão vazias, os estádios, os shoppings centers, os bancos, as repartições públicas regurgitam de gente: “onde está o teu tesouro, aí está o teu coração”.
A ausência dos pais, especialmente da mãe, no ambiente doméstico, tem contribuído para corromper a sua autoridade junto aos filhos. As crianças são afastadas do aconchego materno e da vida de família e colocadas em creches, onde não raro seguem uma cartilha socialista, aprendendo vícios, passando a ter sede precoce de liberdade e independência.
Em vez de cultivar as mais sólidas virtudes e princípios que regerão suas vidas, as crianças são educadas para a intemperança, o desequilíbrio e o desajuste. Na realidade, apenas nos braços de uma mãe extremosa aprendem elas amar a Deus e ao próximo, a regrar os seus instintos. Quando os pais as entregarem à sociedade, elas saberão se comportar no convívio social.
Quando se elimina Deus do centro da vida humana, tudo perde a razão de ser. Se a sociedade se encontra hoje pervertida e erodida, é porque o conjunto das famílias abandonou a moral, a religião, até mesmo a lei natural. Quando isso acontece, ela cai nas mãos de políticos aventureiros, demagogos e inescrupulosos, oriundos eles mesmos de famílias e de colégios que os corromperam e doutrinaram.