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sábado, 12 de maio de 2018


Santa Missa: um sacrifício sem mácula

*Pe. David Francisquini

A Santa Missa é a incruenta renovação do sacrifício do Calvário, ou seja, da Paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Foi Ele próprio quem a instituiu na Última Ceia, para que seu holocausto na Cruz fosse renovado a cada dia em toda a face da Terra, até a consumação dos séculos.
No momento da Consagração, as espécies separadas do pão e de vinho nos conduzem ao mistério mais sublime da nossa santa Fé, ao se transformarem no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo.

parte de trás da casula - (paramento litúrgico)
parte de trás da casula - (paramento litúrgico)
A separação dessas espécies indica a morte mística. Os grãos de trigo secados ao sol, debulhados, moídos, amassados e cozidos ao forno simbolizam um processo no qual a ideia de uma trituração se encontra subjacente. Quanto às uvas, elas são preparadas e espremidas no lagar para dar o vinho [na foto ao lado, trigo e uva estilizados no sacrário]. Este procedimento na preparação do pão e do vinho nos faz adentrar na dolorosa Paixão de Cristo.
No Calvário houve derramamento de sangue e no Altar o sacrifício é incruento, mas a Vítima é a mesma: Jesus Cristo, que se imolou por nós. Pode-se compreender então o ódio dos inimigos da Fé contra a grande realidade do Altar — o centro da vida cristã — anunciado pelo profeta Malaquias: “Entre todos os povos, e em todos os lugares da Terra, do nascer ao pôr-do-sol, oferecer-se-á, à glória de Deus, um sacrifício sem mácula”.
Com a vinda do nosso divino Salvador, constituiu-se um vínculo perene entre o Céu e a Terra, pois o sacerdócio da nova Lei — fundado por Jesus Cristo — passou a ter a missão superior e grandiosa de oferecer sacrifício pelos pecados do seu povo: “Tu és sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedec”. Em toda a Terra, a qualquer hora do dia, é oferecido o sacrifício puro, sem mancha, santo e imaculado.
ornamentos da casula
Não poupou o Altar o processo revolucionário que se desencadeou contra a Cristandade medieval e cujo lúgubre curso, agora estertorante, vive seus últimos dias. Já a falsa Reforma luterana havia mudado a Missa por ser ela o centro de unidade da Igreja, juntamente com o Papa, sua cabeça visível. Tal reforma procurou extirpar tudo aquilo que dizia respeito ao sacrifício, à expiação, à impetração e imolação, ao afirmar que tudo não passava de mera lembrança.
Para a falsa Reforma, não há simplesmente distinção entre sacerdote e leigo, pois ela nega o caráter indelével que assinala e distingue o padre do simples fiel. Assim, todos poderiam oferecer a Missa, a qual não passaria de um ato de louvor, de uma ação de graças, de uma ceia celebrada com pão e vinho distribuídos de mão em mão a todos os presentes.
Em sua “missa” celebrada em língua alemã, Lutero conservou algumas orações sem valor intrínseco, porque desligadas do verdadeiro sacrifício instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, o ato mais sublime de nossa Fé, como expressão do sacrifício latrêutico — ato de reconhecimento e adoração a Deus como Senhor dos senhores —, foi extirpado pela heresia protestante.
ornamentos da casula
Como a Santa Missa é o sacrifício da nova Lei, sua celebração deve revestir-se da mais alta expressão de nobreza, elevação, dignidade e inocência. Junto ao altar, o celebrante — que é o sacrificador e representante da Vítima adorável — se eleva acima de toda a comunidade católica qual novo Monte Calvário, em que a Missa se     transforma, atingindo seu cume no momento da Consagração, quando Cristo se imola.
No sacrifício da nova Lei, o sacerdote não pode ter esposa nem filhos, por ser um seguidor de Cristo, cuja Cruz ele traz em suas costas, impressas no paramento [foto abaixo]. Este também tem um significado, por revestir alguém que vai operar algo de grandioso no altar onde Cristo se oferece pelos nossos pecados.
Ao se oferecer em holocausto por toda a humanidade, Jesus Cristo instituiu um sacrifício para os seguidores de sua Igreja, a única e verdadeira. Os fiéis que assistem a Missa unindo-se às intenções do sacerdote beneficiam-se dela, pois Cristo morreu para nos dar os meios de salvação. Se pelo batismo somos incorporados à Igreja como seus membros vivos, sê-lo-emos a Cristo no Altar por seu sacrifício, seus dons e oferendas, podendo inclusive, sempre que estivermos em condições, nos unir intimamente a Ele na sagrada Comunhão.
O mesmo ódio que rondou em torno do Calvário ronda hoje, em aras da igualdade, em torno do altar. Ele visa suprimir o verdadeiro sacrifício da Missa com mutilações e supressões para descaracterizá-lo e torná-lo mais ‘humanista’, mera ceia desprovida do caráter sagrado. Como o Cânon era recitado em silêncio, ninguém percebeu a modificação que ele sofreu, por parte de Lutero, suprimindo a ideia de união do sacrifício com a Santa Igreja.
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O requinte e a beleza do cerimonial de uma época têm íntima ligação com a mentalidade e os costumes dessa época, com sua maneira de pensar, sentir e julgar. Se, numa manifestação de orgulho e sensualidade, lhe forem subtraídos esses predicados, ela decai, por exemplo, no modo de trajar de seus contemporâneos, que se torna vulgar.
Creio que isso explica de algum modo o avanço galopante do ateísmo, da laicização e das ideias revolucionárias que vêm destruindo todos os valores morais e espirituais da sociedade, como a perda do fervor religioso, da noção de moral e, portanto, do pecado. O resultado desastroso não poderia ser senão o esvaziamento dos ambientes católicos.

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(*) Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira (RJ).

domingo, 8 de abril de 2018


Meu Senhor e meu Deus!


Pe. David Francisquini*

Pode parecer surpreendente, mas a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo não foi disposta para ser presenciada pelo povo em geral, mas apenas por algumas testemunhas previamente escolhidas, como os apóstolos e os discípulos.
Ao contrário da Paixão de Cristo, que, como afirma Santo Tomás de Aquino, foi manifestada a todo o povo e transcorreu numa natureza passível, mortal, conhecida de todos pela lei comum, como ele descreve em sua Suma Teológica.
Como a Ressurreição se operou para glória do Pai, não convinha por isso que fosse revelada a todos, mas somente àqueles que tinham a missão de difundir a Boa Nova por toda a Terra.
Não há prova tão convincente da divindade de Jesus Cristo quanto à sua Ressurreição gloriosa três dias depois de ter padecido e morrido na Cruz. A verdade da Ressurreição — sem a qual, segundo São Paulo, nossa fé seria vã — transparece nas páginas dos Evangelhos que narram o aparecimento de Jesus Cristo a seus discípulos, falando, comendo e bebendo com eles, além de oferecer seu divino Corpo para ser tocado, bem como mostrando o sinal dos cravos.
Os discípulos ficaram reluzentes de alegria e júbilo incontido. Não lhes restavam dúvidas de que Cristo ressurgira dos mortos. Mais ainda. Pode-se dizer que a Ressurreição foi gloriosa, pois Cristo não quis conviver com os seus fiéis discípulos como outrora, mas aparecendo-lhes de quando em quando, para não dar a entender que seu corpo era mortal, mas um corpo imortal.
Nisso, a verdade da Ressurreição apresenta um esplendor que nos confirma na fé e na esperança de podermos contemplar Jesus Cristo um dia no Céu. Na verdade, ao ressuscitar impassível, glorioso e com frequentes aparições, Ele quis certificar os seus discípulos dessa verdade sublime.
Cristo teve o cuidado minucioso de não induzi-los ao erro, acreditando que vivia como antes. Para isso aparecia-lhes de quando em quando, de maneira surpreendente e inusitada, pondo-se de repente entre eles estando fechadas as portas, ou então desaparecendo igualmente a seus olhos.
A psicologia do Salvador e a sua divina capacidade de ensinar tornaram sua didática muitíssimo superior à nossa, respeitando, contudo, o processo humano de aprendizado. Com efeito, Cristo procura ensinar seus fiéis discípulos a se guiarem pela fé, pela razão, pelo raciocínio, pela lógica, pela disciplina e pela coerência, constituindo uma verdadeira escola de formação.
Ele quis gravar em seus corações a verdade de que é verdadeiro Deus e Salvador do mundo. Não estabeleceu a escola das aparências, dos sentimentos, do ver para crer. Quis e quer assentar os alicerces da verdadeira doutrina, o luzeiro que enxota as trevas do paganismo.
Uma palavra surpreendente repreendeu Tomé, que havia dito que só acreditaria se tocasse a mão no lado e o dedo nas chagas do Mestre, ensinando com isso a todos os seus irmãos na fé. De fato, Jesus surge entre eles e manda Tomé tocar seu divino lado e suas chagas gloriosas. Tomé as toca e, em seguida, faz a sua profissão de fé exclamando: “Meu Senhor e meu Deus!”.
Jesus, por sua vez diz: “Tu, Tomé, creste porque viste. Bem-aventurados aqueles que não viram e creram”. Nosso Senhor ressalta a fé ao destacar a doutrina por meio do tato, o último dos sentidos do homem… Afinal, Tomé não havia acreditado em seus companheiros que lhe haviam dado a boa-nova da ressurreição de Cristo.
Somente no domingo, no mesmo dia da Ressurreição, Cristo apareceu cinco vezes, como narram os Santos Evangelhos: primeiramente, às santas mulheres no Santo Sepulcro; depois, ainda a elas, quando voltavam do Sepulcro; outra vez a Pedro; uma quarta vez aos discípulos de Emaús, e, por fim, a vários discípulos reunidos no Cenáculo, sendo que Tomé não se encontrava entre eles.
Antes de sua gloriosa Ascensão ao Céu, Nosso Senhor apareceu várias vezes a seus discípulos, inclusive a Tomé [pintura ao lado], que estava com eles, no Mar de Tiberíades e no monte da Galileia, para lhes indicar que Aquele mesmo Cristo que fora crucificado e tratado duramente pelo ódio lhes aparecera.
A escola de formação fundada por Jesus Cristo ficou gravada profunda e perenemente nas almas de seus discípulos, dando-lhes a esperança da vitória de Cristo na Terra, conquistando-a para o reino de Deus. Não há um lugar nesse Vale de Lágrimas onde não se tenha noção de que a Igreja Católica é a Igreja fundada por Jesus Cristo, a Arca da Aliança e Porta do Céu, que convida a todos a tomarem parte d’Ela.
Tal escola nunca foi, não é, jamais será a desse ecumenismo pós-conciliar banal, que confirma as pessoas no erro. Ao ressuscitar, Nosso Senhor disse a seus discípulos: “Ide por toda parte e pregai o Evangelho; quem crer e for batizado, será salvo, e quem não crer será condenado”. Portanto, a Ressurreição de Cristo vem manifestar a divindade e a indefectibilidade da Santa Igreja, fora da qual não há salvação.
No ato de fidelidade dos Apóstolos e dos discípulos do Senhor se assentam os fundamentos da Civilização Cristã na Terra. O esplendor e a grandeza dessa civilização, hoje quase em ruínas, conheceram o seu auge de glória na Idade Média. Outra civilização — mais esplendorosa, mais majestosa, mais hierárquica —, dar-se-á contudo com o Reino de Maria, profetizado em Fátima: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará.”

sábado, 24 de março de 2018

A coragem de dizer NÃO

*Pe. David Francisquini

Pilatos, o governador romano que cometeu o crime mais monstruoso de toda a História, não foi movido a praticá-lo por qualquer ódio ideológico; tampouco visava à conquista de novas riquezas, nem a comprazer a alguma Salomé. Neste particular difere de Herodes, que para salvaguardar seu trono, seu bem-estar e suas riquezas, perpetrou covardemente a matança dos Santos Inocentes.
Aliás, os grandes tiranos da História — Lenine, Stalin, Hitler, entre outros — por ambição ideológica e ódio a Deus, à Igreja e à Fé, inundaram a Terra com o sangue de mártires.
Pilatos, mesmo afirmando que não encontrou crime algum em Nosso Senhor Jesus Cristo, entretanto O condenou. O que o teria movido?
Plinio Corrêa de Oliveira considera numa de suas meditações sobre a Via Sacra que Pilatos foi levado a condenar o Justo pelo receio de desagradar a César Augusto. Portanto, não queria complicação política que pudesse indispor o povo judeu contra o jugo romano. Pilatos foi mole, indolente, numa palavra, cúmplice daquela pérfida orquestração contra a vida de Nosso Senhor.
Ao querer contemporizar com a mentalidade que grassava no povo judeu, pareceu-lhe que condenando Nosso Senhor à flagelação e à coroação de espinhos, contentaria com isso os judeus, livrando-O da sentença de morte.
Utilizou-se da política característica dos covardes, isto é, de “ceder para não perder”, sempre condenada ao fracasso mais rotundo. Depois de flagelado e “coroado”, Pilatos apresentou Jesus à populaça açulada, mas ela não se contentou e exigiu do governador a morte do Justo.
Grande lição. Quanto mais se cede, mais o inimigo prevalece. Em muitas ocasiões, é preciso saber dizer um “não” categórico, pois não se pode fazer concessões, nem mesmo contemporizar com o mal, pois entre a verdade e o erro, entre o bem e o mal há um ódio irreconciliável. Não há paz entre os que são de Deus e os que são da serpente, entre a raça da Virgem e a do demônio.
Pilatos não quis seguir a via da verdade, da inocência, as regras de um julgamento reto e justo, mas quis ajustar a verdade ao erro, a justiça à mentira e à iniquidade. Com o gesto infame de “lavar as mãos”, quis isentar-se da culpa pelo sangue inocente que seria derramado. E para estar bem com todos, entregou Nosso Senhor ao populacho para ser crucificado.
Partindo de um governador romano que na condição de juiz reprovasse o Inocente, caberia apenas uma condenação: a morte de cruz, pois não podia haver um crime mais ignominioso e que causasse maiores sofrimentos do que esse.
Santo Tomás afirma que o Homem-Deus quis morrer ostensivamente pregado na cruz, pois entre todos os gêneros de morte, nenhum era mais execrável. Ele o fez para ostentar como o pecado é ignominioso.
Esse gênero de morte foi conveniente por excelência para a satisfação dos pecados de nossos primeiros pais, por terem comido do fruto da árvore contra a vontade de Deus. Convinha que, para satisfazer esse pecado e obedecer à vontade do Padre Eterno, Cristo consentisse em ser pregado no madeiro para recuperar o que Adão perdeu por desobediência.
A sua divina presença santificou a Terra. Andou sobre ela para difundir o Evangelho e operar estupendos milagres, purificando-a com o preciosíssimo sangue vertido. Ao ser elevado na Cruz, santificou o ar que envolvia a Terra e, assim, atraiu a Si todas as coisas.
A figura da cruz, diz Santo Tomás, ao se expandir de um centro único em quatro extremos opostos, significa o poder e a providência de Nosso Senhor esparsos por toda parte, que dela pendente com uma mão atrai o povo fiel e com a outra o povo pagão.
Ao ser condenado à morte injusta na cruz, Jesus Cristo tinha escolhido esse gênero de morte para que fosse o Mestre de todas as dimensões — da largura, da altura, do comprimento e da profundidade —, como símbolo das boas obras, da estabilidade e da perseverança, da esperança perfeita e da graça gratuita.
Como Mestre da Verdade, prega em sua Cátedra, ou seja, a Cruz: “Quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”.

sábado, 3 de março de 2018


Bondade não significa fazer concessões

Pe. David Francisquini

A santidade infinita de Deus odeia o pecado e o persegue, pois este contraria as perfeições divinas. Em contrapartida, a sua insondável bondade ama o pecador e, por sua misericórdia, procura atraí-lo, utilizando-se de todas as gentilezas para extirpar do coração de seus filhos a maldade absoluta, para que vivam e se convertam de seus pecados.
Para isso o Filho de Deus se encarnou, tornou-se homem e “humilhou-se a Si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso também Deus O exaltou, e Lhe deu um nome que está acima de todo o nome; para que, ao nome de Jesus, se dobre todo o joelho no Céu, na Terra e no Inferno”, afirma São Paulo Apóstolo.
Com efeito, os sofrimentos pelos quais Nosso Senhor Jesus Cristo passou durante a Paixão são inexprimíveis e culminaram com a morte ignominiosa pelos nossos pecados. Ele, que já havia nos deixado os sacramentos e o Seu próprio corpo místico consubstanciado na Igreja como fonte de salvação.
Cabe-nos repetir com a tradição que Jesus Cristo deu os meios para um fim que é remédio para a nossa natureza corrompida, e não para que abusemos deles continuando na vida de pecado.
Jesus expulsa os vendedores do templo
Se Deus usa de misericórdia em relação ao pecador é para arrancá-lo do pecado, não sendo outro o objeto da súplica do Senhor da paciência, da calma e do silêncio enquanto pecamos, escreve o Pe. Tissot.
Deus age assim não para que a pessoa permaneça no pecado, mas para que o extermine completamente, porque, uma vez extirpado, o pecador abandona o mau caminho com bons propósitos de arrependimento e de emenda de vida. Ao mesmo tempo, Cristo sai triunfador, por ter-se aniquilado a Si mesmo e assim exterminado a iniquidade do pecado que se opõe ao fim do homem.
Bondade não significa fazer concessões, estimular a prática dos vícios, usufruir de sua liberdade para permanecer nas desordens morais do pecado. Nada disso. Representa o objeto da bondade e da misericórdia divinas.
Para tomarmos um exemplo gritante em nossos dias, bondade é o contrário do que vimos assistindo em relação à comunhão de recasados e de divorciados, ou ainda das segundas núpcias, ao se lhes permitir aproximar da mesa de comunhão. Isso não passa de protuberante abuso da misericórdia divina.
É lamentável constatar a sede e o afã de novidades de uma ala ponderável do clero, disposta a afrontar os ensinamentos multisseculares do Magistério da Igreja em nome da Misericórdia.
Ao se abrirem as portas dos sacramentos aos que vivem publicamente em estado de pecado sob a alegação de que Deus é bom e não condena ninguém, de que não somos juízes e que por isso não podemos julgar, e que cada qual siga a sua consciência, fica estabelecido o relativismo moral e religioso.
Santo Afonso Maria de Ligório
Digo-o com base e fundamento em Santo Afonso Maria de Ligório, que ensina:
“Não merece a misericórdia de Deus aquele que se serve da mesma para ofendê-Lo. A misericórdia é para quem teme a Deus e não para o que dela se serve com o propósito de não temê-Lo. Aquele que ofende a Justiça pode recorrer à Misericórdia; mas a quem pode recorrer o que ofende a própria Misericórdia?”.
Quem ofende a Deus confiante de ser perdoado porque Deus é bom e misericordioso tem uma malícia própria em escarnecer de Deus, em zombar de Deus para continuar a pecar e a usar dos sacramentos sem preencher as condições para recebê-los.
Receber os sacramentos sem estar em estado de graça é profanar o próprio sacramento. Quem recebe a sagrada comunhão em pecado mortal comete um sacrilégio, pois é preciso ter coração puro, recolhimento, espírito de fé, sem apego algum ao pecado.
Quem assim não procede imita o sacrilégio de Judas, que imediatamente após ter recebido a sagrada comunhão em estado de pecado, saiu do cenáculo impelido pelo demônio, como afirma São João Crisóstomo:
“Quem, utilizando-se de pretexto da misericórdia, vive em estado de pecado mortal sem deixá-lo, comete horrível sacrilégio, fica afastado do caminho do Céu que é o caminho reto, caminho de luz e de verdade, e não de trevas.
“Se tu, fiado na divina misericórdia, não temes fazer mal-uso dela em tempo oportuno, o Senhor vai retirá-la de ti, porque a Deus pertence a vingança. Chegada a hora da justiça, Deus não espera mais, cai sobre o pecador emperdenido como um raio justiceiro.”
A respeito do magnífico pensamento sobre a impunidade em que Deus deixa o pecador, assim expressa Santo Afonso: “Deus o deixará sem castigo nesta vida, e nisto consistirá o seu maior castigo. Compadeçamos do ímpio […] não aprenderá justiça” (Is 26, 10).
Referindo-se a esse texto, diz São Bernardo: “Não quero essa misericórdia, mais terrível que a ira. Terrível castigo, quando Deus deixa o pecador em seus pecados e parece que nem lhe pede contas deles” (Sl 10, 4).
Inferno
Desgraçados os pecadores que prosperam na vida mortal! É sinal de que Deus reserva para lhes aplicar sua justiça na vida eterna! Jeremias pergunta: “Por que o caminho dos ímpios passa em prosperidade?” (Jer. 12, 1).
E responde em seguida: “Reúne-os como ao rebanho destinado ao matadouro (Jer 12, 3). Não há, pois, maior castigo do que deixar Deus ao pecador amontoar pecados sobre pecados, segundo o que diz David: pondo maldade sobre maldade […]. Riscados sejam do livro da vida” (Sl 28, 28-29).
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domingo, 7 de janeiro de 2018

Bendito seja o seu santo nome

Pe. David Francisquini

O nome de Jesus está no íntimo do próprio Deus, cheio de sabedoria e bondade,  de doçura e amabilidade. Sua origem é divina, pois veio a nós da parte de Deus para ser como uma aurora que anuncia todo bem, ou como um sol que ilumina, aquece e retempera as almas.
O  Santíssimo Nome de Jesus se acha ligado à natureza humana, pela  Sua grande missão de redimir e salvar o gênero humano. Além de ser Deus, por ser a segunda pessoa da Santíssima Trindade,  é também homem. Portanto, o Seu nome é superior a todos os outros pelo fato de ser o Verbo de Deus encarnado, reconciliador dos homens com o Criador.
Diz o Apóstolo São Paulo: "Ao nome de Jesus Cristo dobra-se todo o joelho, no Céu, na terra e nos infernos". O nome de Jesus Cristo é também comparado a um óleo que ilumina, alimenta e unge, pois é luz, alimento e medicina.
Com efeito, Seu nome ilumina os espíritos, alimenta os corações, e, como remédio, alivia e dulcifica as feridas de nossa alma. Sim. Seu nome ilumina o nosso espírito, pois pelo batismo, recebemos o dom precioso da fé que nos arrebata das trevas e da barbárie do paganismo.
Imaginemos por um instante regiões outrora pagãs, cujos habitantes cultuassem falsos deuses e grassasse entre eles a barbárie, sacrifícios até de seres humanos. A História registra que bastou a fé católica ter penetrado naquelas trevas para que o nome de Jesus Cristo passasse a brilhar nas instituições, na vida individual das pessoas, no sadio progresso que artifício algum pode contradizer e negar.
E desse sadio desenvolvimento surgiram hospitais, escolas, orfanatos, obras de benemerência e caritativa. Sem dúvida, um avanço rumo ao bem que se deu em todos os campos da vida humana, amenizando em alguma medida os estragos do pecado original.
Nosso Senhor tendo nascido na gruta de Belém e morrido na Cruz, no monte Calvário, redimiu o gênero humano, além de proporcionar todos os meios para a sua salvação. Na verdade, instituiu a civilização cristã. É de Nosso Senhor a afirmação de quem não crer será condenado. E não basta crer, mas precisa ser batizado e professar a doutrina de Jesus Cristo, pois só assim obteremos a vida eterna.
Se outras trevas deitaram seu negrume sinistro sobre o mundo contemporâneo em razão da apostasia e do pecado de Revolução, o nome de Jesus continua como o sol a espargir seus raios sobre os que têm fé e estão dispostos a lutar pelo seu reino, que será um reino dedicado à Sua Mãe. Afinal, foi Ele mesmo quem afirmou também que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja.
A recordação do nome de Jesus Cristo nos faz lembrar os benefícios da Redenção e nos consola nas tribulações. Este santo nome nos concede forças para trilhar o caminho da salvação, reanima-nos e confirma-nos na virtude da confiança em meio às trevas características dos dias atuais. O Seu nome nos inflama de amor para conhecer, amar e servir a Deus com paciência e júbilo.
O nome de Nosso Senhor é como um perfume suave e atraente que nos cativa e nos enaltece, faz-nos um outro Cristo. Como bálsamo, o Seu nome nos vivifica contra os ataques e as emboscadas das potestades infernais. Quem se vir tentado, e invocar o nome de Jesus, não cairá nem sucumbirá sob o peso da fúria infernal.
Quem evoca o Seu nome será salvo. Ninguém se desviou do bom caminho por ter invocado o nome de Jesus, pois nome algum debaixo do céu tem tanta virtude de salvação quanto o nome de Jesus Cristo. Seu nome indica glória e majestade. Ao ser circuncidado recebeu este nome como verdadeiro filho de Abraão. Jesus é chamado o Filho de Deus feito homem, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade. 
Descrevendo as grandezas desse nome santíssimo, Santo Afonso faz um admirável pedido a Jesus Cristo:
"Gravai, meu Salvador, gravai em meu coração o vosso poderoso nome de Jesus, a fim de que, tendo sempre no coração pelo amor, eu O tenha também nos lábios e O invoque nos assaltos com que o inferno me ameaça para tornar-me novamente seu escravo e separar-me de vós.
No vosso nome acharei todo os bens: se eu estiver aflito, me consolará, recordando-me que muito mais vos afligistes por meu amor; se os meus pecados abalarem a minha confiança, me animará lembrando-me que viestes ao mundo para salvar os pecadores; se for tentado, me fortalecerá recordando-me que, se o inferno é poderoso para vencer-me, Vós o sois mais para socorrer-me; se enfim me sentir frio no vosso amor, despertará o meu fervor, lembrando-me o quanto me amais. Amo-vos, meu Jesus!” (...)

Ó Maria, se me amais, espero de vós uma graça, a de invocar sempre o vosso santo nome com o nome de vosso divino Filho. Fazei que esses doces nomes sejam a respiração de minha alma, que repita sempre durante a vida, para redizê-lo ainda no último suspiro: Jesus e Maria socorrei-me; Jesus e Maria, eu vos amo; Jesus e Maria, em vossas mãos entrego a minha alma”.