Crise de fé, crise de costumes
Padre
David Francisquini
Plínio Correa de Oliveira |
A quebra dos valores morais e religiosos ao
longo das últimas décadas vem causando não poucos estragos em todos os setores
da sociedade, levando-nos a exprobrar em diversas ocasiões o comportamento inescrupuloso
de muitos de nossos representantes que ocupam cargos públicos.
Como já expliquei em outras ocasiões e volto a insistir, a
raiz da questão encontra-se na crise de fé que atinge todos os homens deste
início de século, na base da qual estão o orgulho e a sensualidade, como
apontou o pensador católico Plinio Corrêa de Oliveira.
Como essa crise tem como campo de ação o próprio homem
com os seus defeitos e vícios decorrentes do pecado original, os quais vêm
sendo alimentados artificialmente há mais de meio milênio por meios
revolucionários, hoje ela atingiu um clímax. A essa situação podem ser
aplicadas as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo quando se referiu ao profeta
Isaías:
"Este povo honra-me com os seus lábios, mas o seu
coração está longe de mim. Em vão me presta culto; a doutrina que ensina são
preceitos humanos" (Mt. 5. 5-7). E o divino Mestre chama esse povo de
hipócrita exatamente por aparentar em seu coração uma coisa e fazer o contrário.
Finge prestar culto a Deus, mas na verdade se ocupa das pequenas vantagens
terrenas.
Ao se jactar de cultuar a Deus, essas pessoas na verdade se
encontram bem longe d'Ele, pois seus corações não são retos e não praticam o
que é justo diante de Deus. Honram pela boca, exigem de Nosso Senhor sinais e
milagres, mas não querem reconhecer a sua divindade, nem recebê-Lo. Ademais, procuram
armar traições e ciladas para poder apanhá-Lo em contradição.
Mas Nosso Senhor desmascarou os fariseus mostrando-lhes o
que se passava em seus corações. O que mancha o homem são os homicídios, as
glutonarias, os adultérios, a fornicação, as rixas e as contendas, isso é o que
mancha o homem; não o que entra bela boca, mas o que sai da boca.
Não é bem a isso que assistimos nos parlamentos modernos de
muitas nações, mais particularmente o nosso parlamento, do qual podemos falar
como testemunhas? O Brasil, afundado tanto moral quanto economicamente por
malversação do dinheiro público, viveu – talvez anestesiado – uma crise sem
precedentes até há pouco.
É difícil imaginar o nível de degradação moral e
religiosa que chegou o nosso Brasil. Creio ter sido obra de uma graça enorme o fato
de ele ter acordado dessa letargia e encher-se de indignação diante do comportamento
indecoroso, desleal, mentiroso e túmido de malefícios, ódio e rancor de nossos
governantes e ir para as ruas exigindo justiça.
Ainda hoje subsistem alguns remanescentes que nos deixam
pasmos em alguns debates ou inquirições no nosso parlamento, como as sabatinas
que muitos deputados e senadores fizeram recentemente ao Ministro Sergio Moro,
nas quais faltou gravidade e decoro por parte dos inquiridores que se prevaleceram
da chamada imunidade parlamentar para provocar, humilhar e ofender alguém que
luta por valores morais.
As ideias revolucionárias e contestatárias proliferaram
como pragas e a elas se aplica o que o profeta Isaías vaticinou: “A vinha do Senhor dos exércitos é a casa de
Israel, e os homens de Judá a planta, na qual ele tinha as suas delícias; esperei que praticassem a retidão, e eis que
há só iniquidade, e que praticasse a justiça, e eis que somente se ouvem
clamores” (Is. V 7).
São Tomas de Aquino |
E mais adiante Ele afirma, no versículo 29: "Ai de
vós que ao mal chamais bem e ao bem mal, que tomais as trevas por luz e a luz
por trevas, que tendo o amargo por doce, e o doce por amargo. Ai de vós que
sois sábios aos vossos olhos e segundo vós mesmos, prudentes... Vós que justificais
o ímpio pelas dádivas, e aos justos tirais o seu direito”.
Quem é prudente procura edificar sua casa sobre a rocha firme,
que vai enfrentar as tempestades, o transbordamento dos rios e a impetuosidade
dos ventos, como alerta Nosso Senhor. O insensato edifica sua casa na areia, “cai
a chuva, transbordam os rios, sopram os ventos e investem contra aquela casa, e
ela cai e sendo grande a sua ruína” (Mt. X, 27).
É o que o Brasil viveu nesse longo período de governos da
esquerda, que aparelharam a máquina do Estado a serviço de sua ideologia.
É elucidativo quando Santo Tomás de Aquino diz ter sido o
diabo quem edificou sua casa por meio de homens ímpios, na areia. Isto é, na
inconstância e na infidelidade de homens carnais, chamados de areia devido à sua
esterilidade e por não estarem unidos entre si, mas divididos por uma multidão
de opiniões.
A chuva, diz ele, é o ensinamento que rega o homem e as
nuvens são de onde sai a chuva. Alguns são despertados pelo Espírito Santo, são
os profetas e os apóstolos; os outros pelo espírito do diabo, são os hereges.
Os bons ventos são os espíritos de diversas virtudes que
operam de maneira invisível no sentido dos homens e os inclinam a operar o bem.
Já os maus ventos são os espíritos imundos que levam os homens a operar o mal;
os bons rios são os evangelistas e mestres do povo; os rios maus são os homens
cheios de espírito imundo e instruídos de verbosidade, das profundezas de cujos
corações nascem os erros e as mentiras.
O que se passa no Brasil ocorre mais ou menos em todas as
nações, que se encontram na mesma encruzilhada. Por outro lado, também há uma minoria grande
que reage para colocar o Brasil nos trilhos. No fundo dos corações nasce uma
esperança, uma certeza da vitória dos bons, porque existe a promessa de Nosso
Senhor de que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja.