Carta Aberta ao Excelentíssimo Sr.
Presidente da Câmara
Prezado Senhor Rodrigo Maia,
Permita-me fazer algumas
apreciações e, ao mesmo tempo, demonstrar minha indignação pela maneira como
vem sendo conduzida a política brasileira, de modo particular pelas duas casas
legislativas, cuja Câmara dos Deputados é presidida pelo senhor.
Como sacerdote no interior
do Estado do Rio de Janeiro, no meu contato direto com os paroquianos posso
afirmar que as ponderações que farei são compartilhadas por grande parte deles
que anelam todo o bem que se possa fazer por esse Brasil, nascido sob o signo
da Cruz.
De um fato, estou seguro, a
maioria absoluta da população brasileira está desagradada e desaprova a maneira
de os nossos deputados e senadores conduzirem o processo de recuperação moral e
institucional do País desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro.
Pelo que tenho ouvido, a
postura do Parlamento tem decepcionado e muito o público brasileiro, que
percebe a má vontade de seus representantes em votar projetos originários do
poder executivo, ora desfigurando-os, ora desidratando-os, ora postergando as
suas votações.
Desapontamento esse que não
atinge apenas questões econômicas, mas sobretudo àquilo que diz respeito à
ordem moral e familiar. Sendo a família a “célula mater” da sociedade, com ela
esfacelada não haverá ordenação harmônica, estável e duradoura possível na vida
social.
Para o magistério
tradicional da Igreja não se pode violar o direito fundamental do ordenamento
familiar, pois sem ele os desígnios mais altos do bem-estar e a própria
sobrevivência da sociedade estariam comprometidos. E a essência familiar é
constituída por um homem e uma mulher, e isso foi determinado por Deus ao
criá-los, dizendo: crescei e multiplicai-vos e enchei toda Terra.
Foi uma vitória quase miraculosa o
povo brasileiro ter tirado do poder a esquerda que há décadas vinha
meticulosamente destruindo os valores morais de nossa sociedade, não só pelo
péssimo exemplo que davam, mas também por leis cada vez mais permissivas,
tornando-a frágil, degradada e sem qualquer perspectiva de futuro.
Nos últimos anos do PT, tais
desvios já vinham se conformando em perseguição religiosa àqueles que por dever
de consciência religiosa reagissem contra a introdução de leis sobre homofobia,
identidade de gênero, aborto, equiparação do casamento monogâmico entre um homem
e uma mulher com as uniões de pessoas do mesmo sexo e adoção de crianças pelos
mesmos.
Nesse contexto, foi criado
um ambiente favorável ao vício, à delinquência e à corrupção generalizada, que
em contrapartida inibia a virtude, a honra e a dignidade da grande maioria dos
brasileiros. Com efeito, tudo caminhava para o descalabro e para o caos.
Infelizmente, o câncer que carcomia a ordem não foi totalmente extirpado.
Suas metástases ainda seguem
fazendo estragos não pequenos nas duas Casas Legislativas, frustrando assim os
mais nobres anseios da sociedade. É dever dos governantes exercerem seu poder
dentro dos parâmetros da justiça à procura do bem-estar social. Isto, Sr.
Deputado, é um princípio universal e tem demonstrado que, quando bem cumprido,
traz desenvolvimento, paz e progresso moral e material para as nações.
Caso tal princípio não seja
observado, ocorrerá exatamente o contrário, só trará desgraças, atrasos e até
convulsões sociais, como afirma Santo Agostinho em sua obra “A Cidade de Deus”,
quando as nações violam a Lei de Deus, não existindo céu nem inferno para as
mesmas, o prêmio ou castigo será conquistado nesse mundo, como podemos
constatar hoje na Venezuela!
Exemplos patéticos foram as
ditaduras comunistas e nazistas do século passado, e que ainda perduram neste
tão conturbado início deste milênio. Esperamos bem que nessa fase da vida
pública brasileira, nossos políticos — muitos deles imbuídos de ideologias
ateias e comunistas — não continuem nos conduzindo por essas vias tenebrosas.
Estaremos atentos e dispostos a cumprir nosso dever diante do Criador a fim de
evitar tal desgraça para nossa Pátria. Disso Vossa Excelência pode estar
seguro, pois o povo brasileiro já deu provas concretas de sua determinação e
coragem.
Com efeito, os valores
morais e civilizatórios advindos do Cristianismo são as bases de uma sociedade
sadia. Basta conhecer um pouco da história da civilização ocidental para
perceber o quanto a Igreja Católica contribuiu para tirar as nações europeias
do verdadeiro caos advindo com a queda do Império Romano em meados do século V.
Ao longo dos séculos, os
ensinamentos cristãos foram pouco a pouco transformando os costumes e as leis
pagãs, substituindo-as pelos sábios ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Inúmeros frutos atestam a transformação em todos os ramos e atuação do homem,
tanto no campo intelectual, quanto no espiritual, assim como na arte, nos
costumes, nas leis, na política, na vida familiar, que ninguém pode negar ou
subestimar o valor histórico da ação benfazeja da Igreja em todos os setores da
vida do homem.
Ninguém tem o direito de
destruir esta grande conquista da humanidade, que foi a cristianização dos
costumes e das leis, pois retornaríamos ipso facto à barbárie. E o bom senso
popular proclama que é exatamente esse o desejo da esquerda para o Brasil, pelo
papel de relevância que o nosso País vem ocupando no concerto hodierno das
nações. Ao observar as discussões que ora vêm ocorrendo no Senado e na Câmara,
pode-se concluir que — infelizmente — nada de relevante vem sendo feito para a
construção de nosso futuro, pelo contrário, o boicote é total.
Volto a afirmar que o fundamento da
sociedade é a família. Ela só será bem constituída se for nos moldes cristãos,
ou seja, monogâmica e indissolúvel, que é direito dos pais formarem seus filhos
dentro da moralidade. Tudo o que fugir disso é inaceitável e fatalmente, cedo ou
tarde, nos conduzirá à ruína.
Atualmente são tantos os
fatores de degradação que podem colaborar para abalar a família, que é dever
imperioso dos legisladores zelarem pela sua fundamental proteção e defesa.
Tenham certeza de que não é fazendo concessões aos erros modernos que poderão
salvá-la, na verdade, isso só a enfraquecerá mais.
No preâmbulo de nossa Constituição
está dito que mesma foi promulgada sob a proteção de Deus. Sendo assim, as leis
devem ser conformes com a Sua santa vontade. Caso contrário não proporcionarão
a harmonia, a paz e o progresso almejado por todos.
Apenas para constar, mais uma
observação. A mídia, pelo menos a grande imprensa escrita ou televisiva está cada
vez mais desacreditada, porque tem corroborado no sentido de destruir os
valores da civilização cristã em nossa sociedade. Felizmente a população
ordeira e laboriosa tem tido opções no acesso à informação idôneas e de
qualidade, sem o cunho político esquerdista e marxista que domina nas TVs
abertas, por meio das redes sociais, e isso foi uma conquista. O Brasil espera
que os nossos legisladores não queiram votar leis que possam cercear a
liberdade de expressão e o acesso à informação idônea e de qualidade.
Nascido sob o signo da Cruz, o
primeiro ato oficial do Brasil foi a celebração da Santa Missa. Nascido
cristão, assim deveremos nos manter numa nação soberana, imponente e varonil.
Pedimos a Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, que vele pelo povo
brasileiro, e ilumine os nossos governantes a fim de que façam uma
administração dentro dos valores morais e cristãos, assegurando para esta
grande nação e a este povo ordeiro, laborioso e pacífico um futuro de paz,
harmonia e autêntico progresso.
Padre David Francisquini
Cardoso
Moreira, 16 de novembro de 2019