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sexta-feira, 9 de abril de 2021

 

Cristo vence, Cristo reina, Cristo impera!

 

                                                                                                            *Pe. David Francisquini


   Raia o domingo da Ressurreição. Eis que surgem as santas mulheres, em busca do Corpo de Cristo para embalsamá-lo com aromas e perfumes. Em seu afã, talvez elas se voltassem menos para considerações mais altas e sublimes, como a Sua divindade. É o que habitualmente acontece conosco: não costumamos descortinar os grandes horizontes da fé e dos princípios.

            Na verdade, como diz São Paulo, se Cristo não tivesse ressuscitado, a nossa fé seria vã. A Santa Igreja começa a difundir toda a verdade sobre a Ressurreição, escândalo para os judeus e escárnio para os gentios. Jesus Cristo veio para reinar nos corações dos homens através dos frutos de Sua Paixão e Morte, e assim conquistá-los para o seu reino, que não terá fim.

            Contemplando Cristo ressuscitado, vemo-Lo vencedor da morte e do pecado. Ao ressuscitar, Ele eliminou a corruptibilidade de seu corpo e nos concedeu a integridade na fé, para que ressurjamos como Ele no dia da ressurreição final. Como a semente morre para fazer surgir nova vida, assim teremos na ressurreição final uma nova vida.

            As santas mulheres estavam preocupadas com o obstáculo da pedra na porta do sepulcro, não passando por suas mentes Cristo ressuscitado. Com efeito, para quem crê verdadeiramente n’Ele, não há obstáculo intransponível. Cristo ressuscitou com as suas chagas para nos certificar na fé, como afiançou São Tomé, que, ao vê-Lo ressuscitado, as tocou.

            Aquele que morreu pleno de virtudes e com reputação das boas obras já aparecia
bem cedo no primeiro dia da semana, depois do alvorecer, refulgindo o esplendor de sua divindade ante os olhos de todos e os confirmando na fé. A pedra estava posta de lado e o sepulcro aberto, o corpo de Cristo já não estava lá. Para as piedosas mulheres, o corpo d’Ele havia sido roubado.

            Mas Cristo havia ressurgido como um sol, iluminando o mundo inteiro. As trevas tinham ficado para trás, o mundo novo havia nascido com o triunfo de Cristo sobre o demônio, onde passava a brilhar a cruz de Cristo. São Marcos, ao dizer "de manhã cedo", e São Lucas de "muito cedo", mostram que a ida das mulheres ao sepulcro se deu nos albores do domingo.

            Com isso quiseram mostrar a salvação do gênero humano por meio de uma analogia com o sol, pois assim como ele faz surgir a aurora e iluminará toda a Terra, assim também a ação da graça nas almas ilumina os espíritos para que os homens possam não apenas crer, mas professar a sua Fé. É um convite para que todos sigam o exemplo das santas mulheres, e usufruam das alegrias pascais.

            Os homens, reanimados pelo exemplo delas, comemoram a Ressurreição e participam de suas graças, que lhes infundiram uma vida nova sob a luz da fé. Junto da Mãe Dolorosa, a cujo lado os verdadeiros seguidores da Santa Igreja se reagruparão sempre, eles participam das alegrias da Páscoa. Nossa Senhora sempre afastará de nós os obstáculos que nos impedem de estar junto de seu Filho.

 

            O que na maior parte das vezes impede a nossa verdadeira união com Nosso Senhor é o fato de não vislumbramos os inúmeros sinais do que é espiritual. Tendemos a considerar todas as coisas do ponto de vista terreno, uma vez que nossas cogitações não são as cogitações divinas, como afirma a Escritura. O espírito apegado à matéria não se dá conta das coisas mais altas. Cristo ressuscitou.

            Os anjos da venturosa Ressurreição aparecem com roupas resplandecentes, para anunciar júbilo e felicidade. Neles transparecem humildade e doçura que convêm ao reino e à alegria do Senhor. O desenrolar da Ressurreição nos leva a desapegar do espírito carnal para saborearmos as alegrias pascais. Temos de removê-lo como a pedra que fechava o santo sepulcro de Nosso Senhor.

            O tamanho de uma pedra é imagem daquela que bloqueia nossos corações para as graças. Cabe-nos de livre vontade removê-la para atrair as graças suficientes que nos vêm da Ressurreição. Seremos homens novos quando nos despojarmos das vestes velhas do mundo corrompido pelo pecado e das doutrinas geradas por aqueles que sempre procuraram enganar e perder os bons.

            O sol, eclipsado durante a Paixão, indicava a tristeza e a angústia que jaziam nos corações dos homens que haviam crucificado o Filho de Deus. Os anjos, que agora aparecem, anunciam a vida e a ressurreição, convidando-nos ao desapego e à doação, despojando-nos do velho fermento da malícia e da corrupção. Lavado no Sangue do Cordeiro, o novo homem deve amar a Deus e o próximo.          

  Força nenhuma o demoverá dos seus sagrados desejos de santificação e salvação, a despeito de falsos benefícios terrenos, medidas protetivas enganosas, engendradas pelos grandes inimigos: o demônio, o mundo e a carne. Esta tríade perdeu força naqueles que têm fé em Cristo, vencedor da morte. Ele ressuscitou ao terceiro dia, imortal, impassível e triunfante, para nunca mais morrer.

            As santas mulheres, instruídas pelos anjos, anunciaram a boa-nova aos apóstolos. Cristo havia ressuscitado dos mortos e a ressurreição foi celebrada entre os seus discípulos. Sob essa luz misteriosa do entardecer de nossa era e no amanhecer da outra que virá, confiamos que Cristo vencerá de novo pela ação da Santíssima Virgem, cumulando-nos de novas alegrias com a vitória do Imaculado de Maria.

quarta-feira, 31 de março de 2021

Tenho sede!

Pe. David Francisquini

 

Carrasco dando fel e vinagre para Jesus
            Rica em lições e significados, a Semana Santa nos oferece inúmeros
exemplos de vida e resolução que tocam nas nuvens do mistério. Um deles é a narração, pelas páginas dos evangelhos, da sede devoradora que consumia Nosso Senhor Jesus Cristo durante a paixão.  Que lições tal sede nos dá?

            O Divino Mestre de fato sofreu sede física pelos sofrimentos atrozes a que foi submetido, pela quantidade de sangue que derramou, e pela consequente febre que O abrasava. Essa sede simbolizava outra, que superabundava no seu espírito: a sede de redimir os homens. Para saciá-la, em vez de água, seus verdugos Lhe deram vinagre e fel.

            Foi por meio de uma verdadeira guerra que Jesus Cristo conquistou o seu reino, que não era deste mundo, mas que se travou aqui na terra para que fosse completo. Ele se tornou homem, padeceu e morreu na Cruz para nos salvar, além de nos deixar a Igreja, seu Corpo Místico.

            Na pena de Plinio Corrêa de Oliveira, a Igreja “em suas instituições, em sua doutrina, em suas leis, em sua unidade, em sua universalidade, em sua insuperável catolicidade, é um verdadeiro espelho no qual se reflete nosso Divino Salvador. Mais ainda, Ela é o próprio Corpo Místico de Cristo”.

            Enquanto tal, a Igreja forjou e plasmou a civilização cristã, passando a reinar nos corações e na sociedade. Em sua agonia mortal no Horto das Oliveiras, Nosso Senhor anteviu o que se passa hoje com a perda da fé, a descristianização da sociedade, a perfídia dos corações, dentro e fora da Santa Igreja. E sofreu por tudo isso!

            O que nos diria nas atuais circunstâncias? – Quae utilitas in sanguine meo? Qual a utilidade do meu sangue? Ele nos olharia com infinita compaixão, constatando a perda de milhões de almas todos os dias, vendo a impiedade grassar em todos os rincões da terra.

            Veria também a indiferença e a frieza daqueles que poderiam ser

Irreverência na comunhão

chamados de pupila de seus olhos e delícias do seu coração, os preferidos do seu divino amor e predileção. Qual a utilidade do meu sangue se a borrasca e a escuridão continuam a cobrir toda a terra? Não se vê uma nesga de luz.

            Que utilidade é esta de seu sangue? Durante a Crucifixão, até as pedras se fenderam, os sepulcros se abriram como que proclamando que Ele era rei dos vivos e dos mortos. Sua ardente sede de almas, representada pela sede física, simbolizava o zelo divino em purificar a terra.

            Para Santo Agostinho, Aquele que parecia homem sofreu tudo isso, e todos os que estavam escondidos de Deus, sofreram. Assim se cumpriram as Escrituras: “E na minha sede me deram a beber vinagre" (Sl 68, 22). "Tenho sede", como se dissesse: Isso precisa ser feito. Com efeito, os judeus eram o vinagre, resultado da degeneração do vinho dos patriarcas e profetas.

            Antes de expirar, Jesus pôs aos olhos de todos o cumprimento da Lei, o que foi predito, o complemento de toda sua obra salvadora, servindo-se de exemplo para os seus discípulos e seguidores: “Tudo está consumado”, o sacrifício estava completo, a honra de Deus havia sido expiada e as portas do céu abertas.

            Jesus Cristo perseverou até o fim, e sofreu sua Crucifixão, Paixão e Morte vencendo o mundo, o demônio e a carne. A vitória da Cruz luminosa e resplandecente passou a reinar em todas as instituições, sobretudo a familiar, como elemento saudável e vivificador da sociedade cristã.

Nossa Senhora das Dores
            Sua sede incomensurável foi a de sofrer por nós e de conceder novamente aos homens aquilo que os nossos primeiros pais perderam, ou seja, a beleza, a pureza de nossos corações, a graça divina para estarmos constantemente em comunicação com o nosso Criador. E como seus filhos regenerados pelo Deus encarnado, sermos agradáveis a toda Trindade Santíssima.

           
Pelas chagas de Jesus Cristo fomos todos curados. As suas feridas, espinhos e açoites se tornaram fonte inexaurível para nossas reflexões, além de um tesouro também inesgotável para haurirmos forças e zelo para trabalhar pela glória de Deus e a salvação das almas.

            Resta-nos recorrer à Mãe de todas as mães nos momentos de aflição, à Mãe Dolorosa que acompanhou seu divino Filho em todos os passos da Paixão, e pedirmos a Ela a graça de ter sempre diante dos nossos olhos o Redentor sofredor e chagado, como Ela O contemplava na Paixão.

quarta-feira, 10 de março de 2021

 

Ai de vós, hipócritas!

Pe. David Francisquini

           

Manifestação dos caminhoneiros contra o lokdown
            Tantas – e não menos contraditórias – são as afirmações veiculadas pela grande

mídia, assim como as medidas levadas a efeito por muitas autoridades públicas, que parecem esconder algo do grande público que, já  quase exausto, não vem suportando mais o confinamento a que foi submetido, em razão das próprias divergências sobre a sua eficácia ou não.

            Diante do alarmismo em torno do vírus chinês e da multiplicação de lokdowns, constata-se que os números relativos à pobreza têm aumentado de maneira acentuada, dada a desestabilização na economia das nações. Abyssus abyssum invocat, isto é, um abismo atrai outro abismo, proclama um Salmo. Não se pode fazer o mal para que dele provenha um bem.

            No caso dos confinamentos não há nada de mensurável e de científico sobre a sua eficácia. O mesmo não se pode afirmar sobre a evidência de a pessoa não ter o que comer, pois o levará à ruína e à morte por inanição, a menos que haja um projeto, um propósito de fazer o mundo atual se resvalar para o abismo com a desgraça alheia.

            Há pior, sobretudo para os responsáveis do rebanho do Senhor, como um sacerdote. Além de fechar  as igrejas, de os fiéis não poderem assistir missas e frequentar os sacramentos, pois os defensores do confinamento afirmam que o papel da Igreja em sua missão salvífica não é essencial. O que se depreende que Deus fica em plano inferior nos aspectos humanos.

            Até mesmo o impedimento do sacerdote de assistir aos enfermos nos hospitais… A isto podem ser aplicadas as sábias palavras do Divino Mestre que ensinou: "Eu digo a vós, meus amigos: Não tenhais medo dos que matam o corpo e depois nada mais podem fazer. Mas eu mostrarei a quem vós deveis temer: temam Àquele que, depois de matar o corpo, tem poder para lançar no inferno. (Luc. 12 1-8)

           
Quanto à assistência religiosa, a saúde do corpo depende, muitas vezes, da saúde da alma, da administração dos sacramentos, da oração, das boas obras que ajudarão o bem do corpo. Separar a saúde do corpo da alma se transforma numa questão gravíssima que terá consequências desastrosas na vida civil. Santo Antônio de Lisboa em seus sermões sobre doenças e epidemias afirma terem elas sua origem no pecado e nas desordens morais. 

Manifestação contra o lokdown

            Medidas drásticas nas atuais circunstâncias se justificariam apenas no caso de lançar mão de medidas estratégicas para enfrentar calamidades extremas como, por exemplo, da necessidade de descanso dos funcionários da saúde, a fim de se reorganizarem e recobrarem forças para mais bem  continuar o trabalho. Mesmo isto seria temerário e exige muita cautela.

            A imposição de confinamento às pessoas sem previsão do fim da pandemia,
privando-as de ganharem o pão de cada dia, criará uma situação de pobreza tal que afetará até mesmo a vida religiosa em níveis surpreendentes, catastróficos até, sem encontrar o perseguido benefício de algum dado comprobatório de vidas salvas, de crescimento na fé, da moralização nos costumes em razão de tais decisões.

            Referi acima a um projeto de fazer o mundo se resvalar para o abismo. Com efeito, diante das medidas tomadas aqui, lá e acolá a propósito do epidemia só podemos concluir, com certeza, no aumento do desemprego, da pobreza e da fome ante a visão do desmantelamento das economias, trazendo o espectro de uma catástrofe global sem precedentes na história, um miserabilismo orquestrado.

            No cenário brasileiro, temos já uma situação bastante preocupante. Recentemente, um decreto em vigor no município de Araraquara gerou resultados que nos dão ideia do tipo de calamidade que nos aguarda. Enquanto isto, noticiam-se as intenções de vários governadores, nomeadamente dos Estados da Bahia, Santa Catarina e Paraná, a exemplo do governo de Brasília, que avançam com firme propósito de decretar o confinamento.

           
Enquanto isso, torna-se público que bilhões em verbas da União foram transferidos aos governos estaduais para tratar as vítimas do coronavírus, mas foram desviados para outras finalidades. A despeito disto, esses governantes reclamam por mais recursos do governo central, além de acusar politicamente o Presidente pela omissão e por todas as coisas ruins que têm sucedido no País.

            Afinal, uma  população inteira – emocionalmente descontrolada – apavorada mesmo diante da peste chinesa, ademais faminta, em consequência do “estratégico” confinamento, não terá a faculdade de refletir, e estará pronta a acolher a sugestão para acusar qualquer pessoa, a respeito do que quer que seja, e estará disposta a se submeter a qualquer coisa, por um pedaço de pão, ainda que bolorento.

            Para fazer o mal, nunca faltam os oportunistas de plantão que não hesitam em jogar o Brasil na mais profunda miséria, no rastro da Venezuela e, mais recentemente, da Argentina, e sobre a desgraça imposta à população colher algum ramo de louro para se autoproclamarem salvadores da pátria... A História está recheada de personagens deste
naipe. Este parece ser o jogo sórdido daqueles que apostam no ‘quanto maior a tragédia, melhor para nós’.

            Mas eles, por sua índole revolucionária, tropeçarão em seus próprios calcanhares em decorrência de seu orgulho, ensimesmados no desafio a  Deus, edificando para eles um mundo vergonhoso, sobre o qual sonham em estabelecer um paraíso às avessas, como um desesperado grito de revolta de non serviam (não servirei).

            Triste conduta daqueles que buscam celebridade em prejuízo de seus semelhantes! Isso se chama hipocrisia. Estejamos certos, o Senhor virá conhecer a obra dos filhos dos homens e seus empedernidos propósitos. Que Nossa Senhora Aparecida, Mãe, Advogada, Rainha, Imaculada e Auxiliadora dos cristãos, salve o Brasil dessas iniquidades!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

O despertar de uma reação sadia

 

Pe. David Francisquini


O demônio nunca dá o que promete. Como ele é o pai da mentira, este dito popular antigo será sempre atual, pelo menos enquanto o diabo for diabo, ou seja, para sempre. Como sacerdote, tenho testemunhado ao longo dos anos quão árduo tem sido o apostolado, sobretudo nos últimos tempos, pois são tantas lantejoulas a brilhar e tantos pratos de lentilhas a comer!

Em seu livro Revolução e Contra-Revolução, Plinio Corrêa de Oliveira trata do homem revolucionário, aquele moldado pela Revolução várias vezes secular, que se julga autossuficiente e agnóstico, mas idolatra a ciência e a técnica. Nelas ele espera e crê poder resolver todos os seus problemas, eliminar a dor, a pobreza, a ignorância, a insegurança, enfim tudo aquilo a que chamamos efeito do pecado original.

Não podendo se autoproclamar Deus, o revolucionário afirma que Ele não existe. Nega a redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas vai procurá-la na ciência e na técnica à espera de tempos cada vez melhores, e, quiçá, um dia poder vencer a morte. Com essa vã expectativa ele quer trabalhar cada vez menos e se divertir desbragadamente tanto quanto lhe for possível.

Resistência contra os holandeses

Então, ele faz uma espécie de bloqueio mental para qualquer cogitação sobre a vida sobrenatural, sobre um pensamento no Sagrado Coração de Jesus, fonte de vida e santidade; sobre o Imaculado Coração de Maria, por meio do qual obtemos as graças suficientes e necessárias para nos manter nas vias traçadas por Deus, ou nos reconduzir à verdadeira paz e à reconciliação com Ele por meio da Confissão.

Por outro lado, constato também algo de muito novo, ou seja, um estado de espírito, um sentimento de reação à Revolução igualitária que amadurece e se transforma em ideias, que por sua vez desemboca em ação contra a degringolada moral da sociedade. É de causar regozijo a um espírito reto, e amargura àqueles que não temem a Deus, ver o lado polêmico e ideológico desta reação.

Esta reação profunda na opinião pública, que não se cinge apenas ao Brasil, vem sendo ostentada com galhardia no mais das vezes por pessoas jovens, demonstrando que Deus em sua infinita misericórdia vem em socorro dos homens. Pelas atitudes dos revolucionários diante desta sadia reação, vê-se que ela não é vã, pois se fundamentada em princípios da lei natural e da religião.


Uma coisa é considerar as ideias em tese, outra é avaliá-las de perto, num indivíduo ou num grupo de pessoas, analisar as suas metas, métodos, modos e procedimentos. Costuma-se dizer que o ‘discurso’ da esquerda — religiosa ou não — é bonito, mas não passa de uma utopia. Basta ver o resultado da aplicação dessas ideias esquerdistas e socialistas nos países onde elas foram ou são aplicadas. Só produzem miséria e desolação.

O que foi e vem sendo feito no Brasil tanto nos meios religiosos quanto públicos — no executivo, legislativo e judiciário — não foi pouco. De mãos dadas esses poderes, somados à grande mídia e aos adeptos da teologia da libertação, já pintaram e bordaram a fim de implantar aqui os seus propósitos despóticos, prepotentes e ditatoriais, dilapidatários, subvertendo toda ordem. Infelizmente, não cessaram…

Por que desejam eles, por exemplo, a legalização do aborto, do incesto, da libertinagem, da poligamia, do divórcio, da eutanásia e das piores sem-vergonhices? Por que no campo social e econômico visam sempre a abolição da propriedade privada com a velha política da Reforma Agrária, acrescida de outros ardis recentes como a questão indígena, quilombola e trabalho escravo? 

Na verdade, eles não visam o bem comum, mas o caos e a instabilidade em todos os campos da vida social. Com essas iniciativas antinaturais, pretendem regular uma modalidade temperamental difusa, a fim de discriminar os que defendem a família monogâmica e natural estabelecida pelo Criador e assim implantar a libertinagem que acabará o que ainda resta de civilização cristã. Eis a agenda da esquerda.

Contrariando a lei natural, os fautores revolucionários parecem não ter calculado bem os seus passos, e

Estácio de Sá contra os franceses

em sua ânsia de destruir a estrutura social vigente avançaram muito depressa, o que causou nas forças vivas do País uma reação ordeira, saudável e eficaz em sentido contrário, provocando como consequência, uma polarização ideológica na opinião pública, por eles tão temida.


Em minha opinião, esta luta se estabeleceu como um bem para a causa católica, pois deixa
manifesta a esperança em um futuro melhor para as almas e para o País. Este fenômeno de opinião pública não ocorreu sem a graça divina, que ajudou as almas a conhecer o mal enquanto tal, refletido na falta de piedade e na compreensão da caridade cristã, ou seja da bondade que norteia a vida em sociedade.

Alguém poderia perguntar se eles realmente amam os pobres, que eles propalam defender e dar suas vidas. Acontece que as Escrituras afirmam o contrário, ou seja, os ímpios são impiedosos em relação aos pobres, eles fazem perecer os indigentes da terra, roubam deles, e se servem deles apenas para se enriquecer e tirar vantagens. Portanto, não nos iludamos.



terça-feira, 5 de janeiro de 2021

 

Quem como a Virgem Maria?    

Pe. David Francisquini


  
O ano de 2021 se inicia sombrio e imprevisível, deixando as pessoas cheias de perplexidade. O que esperar dos dias vindouros? Se o passado recente não é penhor para o presente e o futuro próximo, como nos guiar e ajudar o próximo durante a confusão e as trevas? Que luz poderá ser orientadora para nos fazer chegar a um porto seguro?

            A única luz verdadeira brilhou num presépio em Belém para dar certezas e convicções profundas neste desterro e num vale de lágrimas. Essa luz se consubstanciou na Santa Igreja Católica Apostólica Romana, contra a qual Deus prometeu que as portas do inferno não prevaleceriam. Como instituição divina, ela é a nossa bússola a apontar sempre o Norte, ainda que em meio à escuridão não possamos ver nada ao nosso redor.

            O mundo pagão se contorcia numa agonia sem precedentes quando a luz de Belém surgiu num cenário único e dividiu a História em antes e depois de Cristo. As trevas foram então pouco a pouco se dissipando para dar lugar à Cristandade, na qual reinava o Rei de Judá, o Rei Imortal, sempre a guiar os homens proporcionando-lhes todos os meios possíveis para alcançar o porto seguro.

            Contudo, o “não servirei” de Lúcifer repetiu-se na Terra para impedir os homens de seguirem o caminho da verdade e terem a verdadeira vida, fazendo desta terra de exílio uma antecâmara do céu. E à semelhança da revolta celeste, grande parte dos homens virou as costas para Jesus Cristo e a Igreja, seu corpo místico, para cavar a própria tumba.


            Como maus mercadores, os homens caminham hoje perdidos e desamparados nas trevas cada vez mais densas,  entregues à sua própria sorte. E Deus se ri deles. Vejamos. Acabamos de assistir estarrecidos à aprovação do aborto na vizinha e católica Argentina. Mais ao longe, no Extremo Oriente, a Coreia do Sul repetiu a medida, enquanto as autoridades mundiais fingem querer salvar vidas durante a pandemia que grassa. 

            Parece que a História se repete, pois enquanto reis iam adorar o Menino Jesus em Belém, o sanguinário Herodes procurava um meio de matá-Lo, e para tal promoveu a matança dos inocentes. Aqui e agora, o estado laico introduz o assassinato de crianças no ventre materno. Será que o justo Deus, Senhor dos Exércitos, assistirá a tudo isso sem fazer justiça? Oportunamente tratarei deste particular.

            Acalentados pelas promessas de Nosso Senhor, sobretudo assistidos por graças muito particulares, fiéis do mundo inteiro que seguem os ditames perenes da única e verdadeira Igreja de Deus vêm manifestando uma fé cheia de esperança quanto ao futuro da Santa Igreja.

            Ademais, iluminados pela luz do Espírito Santo, conseguem discernir bem o joio do trigo, o que lhes permite fazer apostolado em âmbito mundial por meio da comunhão dos santos, e também pela facilidade e rapidez das comunicações em nossos dias. As mensagens de Nossa Senhora crescem aos nossos olhos. Em Fátima, por exemplo, nos foi assegurado o triunfo do Imaculado Coração de Maria.

            Num ímpeto de entusiasmo, São Luís Maria Grignion de Montfort perpassa o tempo e o espaço quando prevê os acontecimentos em nossos dias:

            “Vossa divina fé é transgredida; vosso evangelho é desprezado; abandonada vossa religião; torrente de iniquidade inunda toda a terra, e arrasta até os vossos servos; a terra toda está desolada. A desolação das desolações cobriu a terra inteira; a impiedade está sobre um trono; vosso santuário é profanado e a abominação entrou no lugar santo.”

    E prossegue: “Tornar-se-á tudo, afinal, como Sodoma e Gomorra? Calar-vos-eis sempre? E nós, grande Deus! Embora haja tanta glória e tanto lucro, tanta doçura e tanta vantagem em Vos servir, quem tomará vosso partido? Quase nenhum soldado se alistará em vossas fileiras? Quase nenhum São Miguel clamará, no meio de seus irmãos, cheio de zelo pela vossa glória: Quis ut Deus?”

            Sejamos ardorosos em lutar pela glória de Deus, elevando os nossos corações e os nossos olhos a Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa, e roguemos a Ela, que é plena de prerrogativas, uma das quais é a onipotência suplicante, ou seja, tudo o que Ela pede a Deus é obtido, que nos conceda a graça de sermos guardiões zelosos da Santa Igreja de Deus e de sua santa doutrina, hoje tão conspurcadas.