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domingo, 24 de janeiro de 2010

O ambiente rural e a feliz concórdia entre patrões e empregados

Pe. David Francisquini


Sempre tiro muito proveito espiritual, mas também psicológico e intelectual, em meu giro anual pelos campos do norte fluminense. Com efeito, não só a boca fala da abundância do coração. Metaforicamente, a pena também pode falar. Portanto, quero compartilhar com meus leitores o sabor de alguns frutos que colhi de meus recentes contactos com o homem do campo.

Entre as muitas conversas interessantes que mantive em meu mais recente percurso, detenho-me numa de modo particular. O interlocutor já era meu conhecido e, juntos, lembramo-nos da longa e luminosa trajetória da agricultura brasileira. Desde os tempos das capitanias hereditárias, passando pelas sesmarias, quando até as ordens religiosas tinham suas terras de cultivo.

Depois do ciclo da cana de açúcar vieram as lavouras de café, no século XIX, e com a abolição da escravatura aportaram as ondas de imigrantes europeus a povoar essa nova Canaã. As terras foram naturalmente se dividindo, e milhares de proprietários, grandes, médios e pequenos produzem hoje alimentos com fartura e baratos para o Brasil e para o mundo.

O camponês demonstra muita segurança de vida, capacidade de governo, o que por sua vez lhe dá muita auto-estima, pois se sente como senhor da terra, o que concorre para lhe cunhar personalidade marcante. Mas, a conversa ia longe, quando tratamos das relações cheias de harmonia e de bondade entre patrões e empregados. Tempos em que predominava o compadrio.

Havia nas fazendas de café a figura do meeiro que entrava com os braços e o dono com a terra, situação na qual o trabalhador acumulava ao longo de alguns anos renda suficiente para comprar suas terras. As relações amistosas faziam do proprietário compadre do trabalhador e vice versa. Com efeito, reinava ali o espírito muito familiar.

A bondade de nosso povo permitia que todos trabalhassem de acordo com seus dotes, mas ninguém ficava sem atividade. As tarefas eram distribuídas segundo as capacidades de cada um.


Nessa feliz concórdia, patrões e empregados desenvolviam seus talentos. A estrutura agrária sólida permitia que a fazenda fosse uma verdadeira escola de novos proprietários.


Formavam-se homens de têmpera, de determinação e cheios de resolução, predicados mais salientes do homem do campo de outrora. Futuros proprietários partiam para longe, onde compravam terras mais baratas, e com isso foram semeando em nossos sertões e criando novas povoações. Assim, o Brasil transformou-se na potência agrícola que hoje é.

Ainda teria algumas coisas a dizer..., mas o espaço acabou. Quem sabe numa próxima ocasião? Até breve.
À sombra das foices


Pe. David Francisquini


Em artigos anteriores, tive a oportunidade de escrever sobre meus agradáveis e proveitosos contactos com o homem do campo de nossa região. Ele faz parte do Brasil profundo, do Brasil brasileiro. Todo o panorama que o envolve — como já tive ocasião de ressaltar — serve de lição para o Reino dos céus: a semente lançada na terra, os pássaros, os lírios dos campos, a serpente...

Pode-se dizer que o trabalhador rural tem hoje muitos de seus direitos assegurados por lei, mas não é menos verdadeiro que lhe foi retirado um direito fundamental, qual seja o de se enriquecer na terra. Isso porque o governo acabou com a instituição do meeiro, do parceiro, cerceando assim a possibilidade do camponês construir um patrimônio.

Grosso modo, pode-se afirmar que o êxodo rural começou no momento em que as lantejoulas dos empregos na indústria se acenderam nos grandes centros urbanos, erradicando os camponeses da terra onde nasceram e trasladando-os para a vida urbana — aliás, muito pouco urbanizada nas periferias onde eles iam morar. Conseqüência gritante dessa ruptura foi a desintegração de suas famílias.


Contudo, a legenda do camponês enquanto empreendedor, honesto, independente e com senhorio encontra-se tão presente na mentalidade de nosso povo, que os homens da cidade, sejam profissionais liberais, comerciantes, industriais ou políticos sentem que lhes ficaria faltando algo na personalidade se não possuíssem um pedaço de terra. Foi o que pude observar no meu mais recente giro pelos campos. Médicos, advogados, funcionários públicos sempre procuram ter sua terra, onde criam gado e plantam cereais ou frutas. Foi assim que cheguei a entender o tamanho do ódio que certos revolucionários socialo-comunistas e ecologistas têm em relação à nossa estrutura agrária.

Tais revolucionários compreendem perfeitamente o que resta de ordem natural e da civilização cristã de outrora em nosso interior e, por isso mesmo, querem erradicar tais resíduos de nosso meio rural. Eles o fazem através da propalada Reforma Agrária e dos movimentos ditos sociais como o MST, que agem não mais à sombra de cruzes ostentadas ad hoc por “padres de passeata e freiras de mini-saia”, mas da foice e do martelo.

Não são mais as lantejoulas da indústria nos grandes centros que acenam para os homens do campo, mas a demagogia que mentirosamente os convida a se tornarem proprietários rurais, mercê da distribuição de terras efetuada pelo Estado.

Na verdade, eles nunca receberão o título de propriedade como jamais passarão de meros posseiros do INCRA, sem qualquer estabilidade e condição de progresso. Tais lantejoulas não passam de isca lançada pelas esquerdas aos incautos, numa tentativa de cooptá-los para a revolução social que os conduzirá ao ódio a Deus e à sua santa Religião.
O Brasil de ontem, de hoje e de amanhã - I e II


Pe. David Francisquini
Quando ainda seminarista, presenciei –– numa casa paroquial do interior do Paraná –– dois sacerdotes conversando sobre o Conselho Indigenista Missionário. Não sabendo exatamente do que eles tratavam, colocaram-me ao corrente de suas novas incumbências junto ao órgão recém-criado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil): o indigenismo.

Surpreso, pois não havia índios por lá, e sequer eu vislumbrava o rumo que o clero tomaria na década de 70, quando me cai nas mãos um livro de autoria do pensador católico Plinio Corrêa de Oliveira, com dedicatória: Tribalismo Indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil do século XXI.

Sua leitura veio trazer resposta à minha perplexidade. E observando hoje a celeuma sobre a demarcação de terras na reserva Raposa Serra do Sol e a drástica intenção do governo em expulsar de lá os produtores de arroz, bem como a crescente agitação na América Latina em torno da questão indígena, percebo quanta razão tinha aquele insigne escritor.

Com efeito, o ideal missionário de catequizar, semear o Evangelho, a fé, como fizeram Nóbrega, Anchieta e tantos clérigos que por aqui aportaram, não é mais compartilhado por elementos do clero de nossos dias. Eles promovem uma luta de classes sistemática e um ecologismo radical que ferem toda forma de civilização.

Ao constituir missões entre os índios, a Igreja evangelizava ensinando o que o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo nos legou ao instituir a Santa Igreja Católica, isto é, expandir a fé e os princípios por Ele ministrados e consignados nas páginas do Santos Evangelhos.

Com a evangelização, os missionários faziam obra civilizadora em que os silvícolas se beneficiavam da ação da Igreja, constituindo uma civilização plasmada nos princípios cristãos da propriedade particular, da família, da constituição de cidades estruturadas.

Ali, deveriam levar vida digna e desenvolveriam suas qualidades a serviço de si e de outros, além de criar ambiente propício à salvação eterna e à glória de Deus.

Ao contrário do ideal católico, a neomissiologia prega o desmantelamento da família e da sociedade contemporânea, a extinção do pudor e a morte da tradição cristã. Os novos propulsores desse ideal acusam de tirano, opressor, sanguinário e ladrão o branco que veio para a América.

Eles acusam os missionários e os colonizadores que exerceram missão sagrada, como o Bem-aventurado Padre Anchieta, homem de grande santidade, que obteve notável êxito junto às tribos indígenas. Eles pregam o comunismo-tribal que se ufana de ser mais comunista do que o próprio comunismo.

O que dizer de alguém que pretendesse implantar isso no Brasil? Talvez pudesse ser qualificado de um demolidor utópico que visa destruir a Nação, desmantelar a sociedade e levar o País ao caos, mais ou menos como já vem ocorrendo na Venezuela e Bolívia.

Os neomissionários –– acolitados por órgãos governamentais e não governamentais de todos os naipes –– ora empregando a força, a prepotência e a ameaça na tentativa de criar nações indígenas em nosso hinterland, conduzirão fatalmente o Brasil a uma revolução fratricida. Prometo voltar ao assunto em próximo artigo.

O Brasil de ontem, de hoje e de amanhã (II)




No artigo anterior, manifestei minha perplexidade – sobretudo enquanto sacerdote – diante do programa da neomissiologia adotada pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Os próprios índios não querem ficar no estado em que se encontram. Em contato com a civilização, eles querem viver com dignidade, com saúde, com conforto e bem-estar.

Para entender o que se passa com a neomissiologia, é indispensável o leitor se ater a alguns pontos que a transporta muito além daquilo que Marx e Lenine propuseram. Ela se fundamenta num ponto totalmente falso, ou seja, o de acabar com todas as formas de individualidade, pois isso iria contra o bem comum.

Algumas tribos indígenas são antropófagas e seus membros acreditam que comendo o adversário incorporariam neles as “qualidades” do inimigo. No ser humano, é preciso fazer uma justa distinção entre a pessoa e o seu egoísmo, pois é falso concluir que o homem, vivendo e trabalhando para si e para os seus, seja egoísta e inimigo da sociedade e do bem comum.

A falsa solução que os neomissionários apresentam é que a salvação do “bem comum consiste em que a pessoa seja totalmente absorvida, padronizada e dirigida pela coletividade. Seria o único meio de nos evadirmos do caos infernal do egoísmo”. (Plinio Corrêa de Oliveira, "Tribalismo indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil do século XXI", Editora Vera Cruz Ltda., 7ª edição, São Paulo, 1979, p. 41)

Sob tal prisma pode-se compreender a celeuma em torno dos índios, em particular o que vem ocorrendo em nossos dias em Roraima. Não passa pela cabeça dos índios tal concepção, pois ela vai tão longe que nem mesmo o antigo regime soviético professava concepção tão coletivizada de sociedade como preconizam os corifeus da neomissiologia.

Os pregoeiros desse regime, com veemência furibunda, querem o desmantelamento do Estado e de todos os organismos que o integram. O Estado – conforme asseguram – deve desfazer-se em uma galáxia de corpúsculos mais ou menos justapostos e tão autônomos quanto possível. Daí, certamente, a reação do comandante militar da Amazônia, em recente pronunciamento, ao qualificar de caótica a atual política indigenista e atentatória à soberania nacional.

Já em 1560, o Padre Luis da Grã relata que convocou para uma reunião os chefes indígenas da Bahia e os fez comprometer-se, com um juramento, a respeitar quatro pontos: Não ter senão uma mulher; não se embebedar; não dar ouvidos aos pajés; não matar nem comer carne humana. Podemos assim avaliar o que já era naquela época a catequese, a pregação e o ensinamento tradicional junto aos índios. Consistia ela numa série ininterrupta de ensinamentos visando a integração dos indígenas na sociedade cristã.

Anchieta reconhece em carta de 1555 que os índios eram tão indômitos em comer carne humana e a não reconhecer a autoridade, que ele não via outro remédio senão a Europa enviar para cá gente para colonizar e civilizar os silvícolas. Hoje, o CIMI se envolve em luta de raças para conservar os pobres índios no estado de barbárie. Defendem a nudez deles como coisa normal, quando lemos no Gênesis que foi o próprio Deus quem confeccionou e ensinou nossos pais Adão e Eva a se cobrirem, após o pecado original e quando foram expulsos do paraíso.



E o CIMI teima em pregar o contrário do mandado de Jesus Cristo aos Apóstolos: evangelizar, ensinar, batizar e difundir a fé cristã a todos os povos da Terra, como condição para a salvação eterna de suas almas. Diante disto o que fazer?


Devemos rezar a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, para proteger nosso País da desintegração que o ameaça. Que Ela proteja e preserve os índios dessa neomissiologia; que Ela os converta; que Ela proteja todos os brasileiros e faça com que eles vejam e reajam à neomissiologia com a fibra de nossos antepassados, que expulsaram o invasor holandês-protestante, no século XVII.

Não seja incrédulo



Pe. David Francisquini



Os acontecimentos ainda recentes da Semana Santa impelem-nos a fazer uma reflexão sobre a Ressurreição gloriosa de Jesus e de fatos ocorridos logo após esta vitória fulgurante de Nosso Salvador.

Jesus repousou em seu sepulcro como outrora o profeta Jonas no ventre da baleia, mas seus inimigos O temiam. Cientes da profecia de sua Ressurreição, eles pediram a Pilatos que colocasse guardas junto ao jazigo, a fim de evitar que o corpo do Senhor fosse roubado. E eis que se deu um grande terremoto. O anjo do Senhor chegando à sepultura afastou a pedra, e sentou-se em cima dela. Seu aspecto era como de relâmpago, e os guardas quando o viram, ficaram apavorados e como mortos.

Ao recobrarem os sentidos, eles partiram céleres para o Templo, a fim de anunciar a Ressurreição do Redentor. Era a notícia que seus inimigos sequer queriam cogitar. Diante do fato, o que fizeram eles? Deram dinheiro aos guardas para espalhar a notícia de que o corpo do Redentor havia sido roubado enquanto eles mesmos dormiam. Santo Agostinho assim rebateu tal alegação: “Se dormíeis, como podeis ter visto os discípulos roubarem o corpo do Senhor?”.

Se os inimigos temiam a Ressurreição do Salvador, por que os seus discípulos –– testemunhas oculares de incontáveis milagres –– tiveram dificuldade em aceitar tal verdade? Quando as santas mulheres vieram trazer-lhes a boa nova, os Apóstolos foram tardos em crer na notícia. Por que agiram assim? Encontravam-se eles sucumbidos por tão profunda tristeza que, aparecendo Jesus aos discípulos de Emaús, estes não O reconheceram.

Para confirmá-los na fé, o Redentor lhes perguntou: “Que conversas são essas que mantendes pelo caminho, e por que estais tristes?”

Um deles disse-Lhe: “Só tu és forasteiro em Jerusalém, que não sabes o que ali tem passado nesses dias?”

E Ele disse-lhes: “Que é?”.

Responderam: “Sobre Jesus Nazareno, que foi um varão profeta, poderoso em obras e em palavras diante de Deus e todo o povo; e de que maneira os nossos príncipes e sacerdotes e os nossos magistrados o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram”.

E só o reconheceram quando Ele “tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e lhes dava”.

Mesmo Jesus aparecendo e mostrando-lhes as chagas, os Apóstolos tiveram dificuldade em crer. Estavam obcecados pela idéia que lhes dominava o espírito, de que sua crucifixão e morte seriam a maior derrota para a causa do seu reino.

Ao lhes aparecer, foi necessário que Ele pedisse algo para comer. Trouxeram-lhe um favo de mel e uma posta de peixe. Para eliminar qualquer dúvida a seu respeito, Jesus comeu diante deles. Mesmo assim, Tomé, um dos onze não estava presente nesta aparição. Afirmou que só acreditaria se colocasse o dedo na chaga de Cristo ressurrecto: “Se eu não vir em suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o meu dedo no lugar dos cravos, se não meter a mão em seu lado, não acreditarei”.

Dias depois, estavam os Apóstolos de Jesus no mesmo lugar e Tomé com eles. Veio Jesus, estando fechadas as portas: “A paz seja convosco”.

E dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. E disse a Tomé: “Mete aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; chega também a tua mão e mete-a em meu lado; não seja incrédulo, mas fiel”.


Tomé fez a profissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus!”.

É oportuno consignar as palavras de Plinio Corrêa de Oliveira a respeito da Mãe do Salvador, por ocasião de sua crucifixão: “Mas há uma lâmpada que não se apaga, nem bruxuleia, e que arde só ela plenamente, nesta escuridão universal. É Nossa Senhora, em cuja alma a fé brilha tão intensamente como sempre. Ela crê. Crê inteiramente, sem reservas nem restrições. Tudo parece ter fracassado. Mas Ela sabe que nada fracassou. Em paz, aguarda Ela a Ressurreição. Nossa Senhora resumiu e compendiou em si a Santa Igreja, nesses dias de tão intensa deserção”.
Sem Maria Santíssima seremos órfãos da ordem sobrenatural



Pe. David Francisquini



Redigi numa série de artigos sobre os erros apontados por Nossa Senhora em Fátima. Com efeito, o tema além de muito extenso dá margem a outras considerações como a eutanásia, a eugenia e a dissolução dos costumes. E não poderia omitir a crise que atinge o próprio clero, sobre a qual fomos advertidos por Paulo VI: “A fumaça de satanás penetrou no recinto sagrado”.

Encaixaria no mesmo panorama a crise no Oriente Médio e toda a avalanche de males que vem soterrando o que ainda resta de Civilização Cristã na face da Terra. Em sua última aparição em Fátima, a Virgem Santa disse quem Ela era, o que veio fazer, o que os homens deveriam realizar para discernir o caminho certo, com vistas ao retorno à Civilização Cristã.

São suas as palavras colhidas pela vidente Lúcia: “Quero te dizer que faça aqui (Cova da Iria) uma capela em minha honra, que sou a Senhora do Rosário, que continue sempre a rezar o terço todos os dias...”. E mais adiante: “É preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados”. E assumindo um aspecto triste: “Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido”.

Cheia de bondade, a celeste Rainha volta-se para nós, apontando os meios que a Igreja sempre ensinou a seus fiéis: oração, penitência e emenda de vida, ou seja, as alavancas para mudar os rumos dos acontecimentos. Mais especificamente, Ela nos indica a recitação do terço todos os dias. Afinal, foi Ela quem nos ensinou esta oração, através de São Domingos de Gusmão.

O terço representa uma força com eficácia infalível para se conquistar o beneplácito de Deus, porque nos prende Àquela que O trouxe a este mundo, por obra do Espírito Santo. Como Mãe do Verbo Encarnado, Ela tornou-se também nossa mãe. Daí a apreensão d’Ela diante dos males que afligem a Igreja e seus filhos.

Como solução, Ela nos indica as vias sagradas da vida cristã, apresentando, como que num quadro, os três terços que compõem o santo rosário, rezado há séculos pelos fiéis, por tantos santos e recomendado por inúmeros Papas. E sempre aconselhado pela Igreja, especialmente nos momentos cruciais.

O rosário é apresentado aos três pastorinhos numa visão de cores variadas e repletas de luz, que se difundem no interior mais profundo da alma humana, pois é a própria Virgem Santíssima que aconselha: “Meus filhos, sigam este caminho e encontrareis a paz, a harmonia e a concórdia”.

“Maria é o elo que liga Deus aos homens”. Se foi por meio d’Ela que Ele veio a nós, será também através d’Ela que deveremos ir a Ele. Sair desse caminho equivale ao fracasso e à derrota. Ainda mais, sem Maria seremos órfãos da ordem sobrenatural.
O Rosário, nossa funda



Pe. David Francisquini


Um padre zeloso vivendo dentro de uma paróquia, ou mesmo um leigo que tenha uma vida religiosa comum, pode perceber na vida moderna as dificuldades e os obstáculos como que intransponíveis para a salvação das almas. Digo “como que”, pois, apesar dos obstáculos, a graça de Deus nunca falta. Mas trata-se de uma verdadeira engrenagem, de uma máquina de grande potencial, cujos fios entrelaçados quais teias de aranha, captam as almas com uma facilidade inacreditável.

Notam-se, aqui e acolá, as emboscadas, as armadilhas constantes que, desde a mais tenra idade, turvam o panorama com uma verdadeira avalanche de vícios e defeitos, propagados em profusão, impelindo as almas para caminhos contrários aos Dez Mandamentos. Nesta perspectiva, vamos mostrar como a Virgem de Fátima tinha toda razão ao se manifestar no século passado preocupada com o avanço da imoralidade, da perversidade e do endurecimento das almas.

Em Fátima, no dia 13 de julho de 1917, Nossa Senhora mostrou aos três pastorinhos o inferno, onde caem as almas dos pobres pecadores como chuva miúda, ou como uma torrente que despenca, formando uma cachoeira. Por que tudo isto? Para nos advertir dos perigos que nos espreitam com análogo destino, caso nos deixemos arrastar pela impiedade reinante e o ateísmo latente e difuso de nossa época.

Entretanto, como negar que tudo impele as almas nessa direção? Não é gritante e mesmo alarmante o relativismo moral, a indiferença, a acomodação e adaptação com o vício, um como que pacto profundo e secreto que une as pessoas entre si, em sentido contrário ao que pediu Nossa Senhora?


As pessoas vêem o problema, às vezes sentem-se inclinadas a um movimento bom de querer deixar a má situação em que vivem, mas encontram um obstáculo intransponível, muitas vezes, no próprio ambiente onde vivem. Este exerce sobre elas uma pressão ditatorial que as impede de se moverem no sentido do bem. É como se tivessem de nadar contra a correnteza, o que é árduo.


A partir do relativismo moral, estabelece-se a cidadania do vício, que no começo é mais deleitoso e atraente. Para isso concorrem poderosamente os maus exemplos propagandeados pelos meios de comunicação social, com suas novelas e filmes, exibindo verdadeiras cenas de alcova, sem falar dos sites de pornografia e pedofilia não pouco comuns na internet. Tudo, enfim, direcionando para o abismo.

Como não ver nessa conjugação de forças um intento de estabelecer o reino de satanás? Tudo isso explica a tristeza manifestada por Nossa Senhora em suas aparições, com o coração cercado de espinhos que os homens ingratos nele cravam sem piedade. O único meio para reverter tal situação é a devoção ao Imaculado Coração de Maria e o atendimento de seus pedidos.

Nada pode impedir a vitória do bem, ainda quando o mal pareça invencível e indestrutível. É eloqüente o exemplo de David com Golias: uma funda e cinco pedrinhas colhidas numa torrente foram suficientes para que ele prostrasse por terra o invencível gigante.

Nossa Senhora colocou em nossas mãos essas pedrinhas. Ela no-las deu na forma das contas do Rosário, que é a nossa funda para prostrarmos satanás, seus sequazes, suas pompas e suas obras. Com a oração, teremos forças para imitar os bons exemplos contidos na vida dos santos. Através da prece humilde e confiante veremos nossa vontade ser fortalecida, e obteremos de Deus a união dos bons contra o mal. Nascerá daí uma luz de esperança que iluminará este túnel escuro, no qual a humanidade se encontra.

Pretendo, no próximo artigo, estender-me um pouco mais sobre os meios que a Igreja coloca à nossa disposição para vencermos essa luta e alcançarmos nossa salvação.
A Rússia espalhou seus erros



Pe. David Francisquini


O mundo católico comemorou no dia 13 de maio mais um aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora em Fátima, Portugal. Conforme descrição da vidente Lúcia, a Celeste Peregrina não estava triste nem alegre, mas séria, e pedia a recitação diária do santo Terço pela conversão dos pecadores e em reparação dos pecados cometidos contra o seu Imaculado Coração.

Na aparição de julho de 1917, a Virgem após pedir a consagração da Rússia ao Seu Imaculado Coração, a comunhão reparadora dos primeiros sábados, e, sobretudo que os homens deixassem de ofender a Deus, disse: “Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas; por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará!”.

Para um observador superficial, com a queda do Muro de Berlim e com a falência da URSS, as profecias de Fátima perderam a atualidade, e, portanto, poder-se-ia desarmar o espírito diante dos erros aludidos por Nossa Senhora. Mas, lendo atentamente suas advertências, percebe-se logo que os erros da Rússia por Ela mencionados continuam mais atuais e mais ameaçadores que nunca.

Vivemos todos numa sociedade, cujo clima de ateísmo prático penetra pelos poros com a crescente dissolução dos costumes, com a prática do amor livre e o desmoronamento da família. Quem poderia imaginar, por exemplo, que mãos ungidas fizessem o contrário do que Nossa Senhora pediu? Vemos clérigos apoiando o MST, até mesmo participando de invasões de terra, visitando Cuba e defendendo Fidel Castro.

Na América Latina, assistimos a governos esquerdistas que sistematicamente vêm difundindo nos seus respectivos países erros contrários à mensagem de Nossa Senhora em Fátima, como a adoção do aborto, o incentivo ao controle de natalidade, o apoio ao movimento de legalização do assim chamado “casamento” homossexual, a estatização dos bens de produção, a Reforma Agrária socialista e confiscatória, o dificultar a livre iniciativa mediante pesadas cargas tributárias, um indigenismo antipatriótico e anticristão, a pressão pela liberalização das drogas, o aumento vertiginoso da criminalidade, etc.


Governos eleitos e escudados pela democracia, com base na Teologia da Libertação, vêm se afastando dos princípios do cristianismo por meio de uma legislação socializante, a fim de implantar um modo de vida tão parecido quanto possível ao do ideal marxista-leninista, são exemplos de como as advertências em Fátima estão atuais.


Com efeito, o que a Mãe de Deus predisse foi uma crise religiosa e moral que só será vencida pela oração, pela emenda de vida e pelo cumprimento inteiro dos Mandamentos da Lei de Deus.
São Miguel Arcanjo, Príncipe da milícia celeste



Pe. David Francisquini



Os anjos são puros espíritos criados por Deus para sua glória e serviço. Ao criá-los, Deus quis torná-los participantes da vida divina para glorificá-Lo, servi-Lo e serem felizes para sempre. Os anjos por si mesmos glorificam a Deus pelas suas perfeições. Como uma obra de arte revela e glorifica o artista que a compôs, assim os anjos glorificam a Deus com sua existência e com hinos de louvor e adoração. Daí se compreende que os anjos, cobrindo as planícies e os ares de Belém, cantaram o hino “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade”. No Céu, por sua vez, os serafins louvam a Deus cantando o eterno “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos”, a exemplo do que o sacerdote faz ao celebrar o santo sacrifício da Missa, no término do prefácio.

Os anjos servem a Deus de um modo particular, auxiliando os homens a alcançar a vida eterna. Já o nome deles lhe indica a condição: vem do grego e significa mensageiro. A Sagrada Escritura fala de exércitos celestes e de bilhões de anjos, e que a categoria deles são de nove coros e três ordem a saber: Serafins, Querubins, Tronos; Dominações, Principados, Potestades; Virtudes, Arcanjos e Anjos. As Escrituras referem-se em diversas passagens aos anjos, mas foi São Paulo Apóstolo quem nos ensinou mais acerca deles, por que foi arrebatado até o terceiro Céu, como nos atesta ele próprio. E transmitiu isso a seus discípulos.

No início, todos os anjos eram agradáveis a Deus, mas, submetidos a uma prova –– como depois o foram nossos primeiros pais ––, parte deles se revoltou contra Deus, cometendo pecado de soberba e orgulho, ao pretender ser iguais a Deus. Satanás, o chefe dos anjos revoltosos, foi um anjo muito graduado –– lúcifer ––, o qual foi precipitado como um raio nos abismos infernais, juntamente com seus pérfidos sequazes: Houve no Céu uma grande batalha: Miguel e os seus anjos lutavam contra o dragão, e o dragão com seus anjos lutava contra ele. Porém, estes não prevaleceram, nem o seu lugar se encontrou mais no Céu. Foi precipitado aquele grande dragão, aquela antiga serpente, que se chama demônio e satanás, que seduz todo o mundo, foi precipitado na Terra e foram precipitados com eles seus anjos (demônios)” (Apoc. 12, 7-8). Na carta de São Judas, lê-se: “Quando o Arcanjo Miguel disputando com o demônio altercava sobre o corpo de Moisés, não se atreveu a proferir contra ele a sentença de maldição, mas disse somente: reprima-te o Senhor”.

O principal adversário de satanás e dos demônios na peleja que então se travou foi São Miguel, que significa: “Quem como Deus?” Foi São Miguel Arcanjo, todo abrasado no fogo e na luz de Deus, quem liderou os anjos bons nessa tremenda batalha contra os anjos maus, chamados doravante demônios. São Miguel é um fiel defensor e servidor de Maria Santíssima.

São Miguel é citado também no capítulo 12 do Livro de Daniel, onde lemos “Ao final dos tempos aparecerá Miguel, o grande Príncipe que defende os filhos do povo de Deus, e então os mortos ressuscitarão. Os que fizeram o bem, para a Vida Eterna, e os que fizeram o mal, para o horror eterno”.

A São Miguel atribuem-se três funções: a de guiar e conduzir as almas ao Céu como se lê na Missa dos defuntos; de defender a Igreja e o povo cristão; e de presidir no Céu o culto de adoração à Santíssima Trindade e oferecer a Deus as orações dos santos e dos fiéis. Invoquemo-lo sempre no combate contra as potestades infernais e as forças do mal que procuram desviar-nos do caminho do Céu.

Em minha experiência sacerdotal, tenho constatado o aumento vertiginoso do poder infernal sobre as almas, a sociedade e as instituições. E mesmo sobre os corpos, interferindo na própria saúde individual. Isto como conseqüência dos pecados contra o amor de Deus e do próximo: os pecados de homicídio, de libertinagem moral, do crescente consumo de drogas, de músicas dissolutas e imorais, com ritmo inebriante, às vezes com letras fazendo apologia do diabo e da violência, que estão presentes por toda a parte. Também pela proliferação de seitas satânicas. As principais vítimas do demônio são a infância e a juventude.

Para fazer frente a tantos males produzidos pelos demônios, é eficaz a oração que é rezada ao final das missas do rito tridentino: “São Miguel Arcanjo, protegei-nos no combate, cobri-nos com vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantemente o pedimos, e Vós, Príncipe da Milícia Celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno a satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém”.



O Perfil do Sacerdote na história I  e II

Pe. David Francisquini

Constitui fato inconteste na História dos povos –– por mais decadentes e selvagens que tenham sido –– a existência de uma religião com suas respectivas estirpes sacerdotais. O erro, o vício, a violência, a selvageria e mesmo a idolatria não os impediram da necessidade absoluta de ter uma religião e sacerdotes que cuidassem do culto. Portanto, foi sempre notória a estima pelo sacerdócio desde a mais remota antiguidade. Sua excelência explica-se talvez pelo fato de só os membros das famílias ilustres, e dentre eles os mais veneráveis, terem exercido esse ofício, que supõe a dignidade e a grandeza da missão sacerdotal. Revestida de tamanha autoridade, o múnus sacerdotal tinha força para entronizar e destronar reis.

Muitos reis acumularam o poder sacerdotal em países como Egito, Pérsia e Etiópia. E quando não eram reis-sacerdotes, a classe sacerdotal ocupava lugar relevante, compondo uma aristocracia com seus ministros nobres. Distinguiam-se pelo fausto das vestes, das riquezas e do saber, com templos suntuosos, ricos em arte, ouro, prata e pedras preciosas.

Exemplos de membros de famílias ilustres antigas, que praticaram o múnus sacerdotal foram Noé, Abraão (quadro acima) , Isaac, Jacó e Jó. A figura legendária do sacerdote-rei Melquisedec, que ofereceu um sacrifício de pão e de vinho, era pré-figura do sacerdócio da Nova Lei. Com o advento do povo eleito, Deus passou a escolher os sacerdotes entre os membros da tribo de Levi.


Um exemplo faz ressaltar a grandeza, a elevação e a magnificência do sacerdócio. De Alexandre Magno se dizia que a Terra toda estremecia diante de seus exércitos. Em sua passagem pela Palestina, prometeu ele passar a fio da espada todos os seus habitantes. O Sumo Sacerdote Jaldo, reconhecendo a impotência do exército hebreu, revestiu-se –– juntamente com os demais sacerdotes –– de suas melhores vestes e foi ao encontro do conquistador. Para espanto de seu exército, Alexandre rendeu-se diante daquele aparato, apeou de seu cavalo e inclinou-se numa profunda reverência ao sacerdote. Ato contínuo, dirigiu-se até o Templo de Jerusalém para oferecer sacrifícios e incontáveis riquezas para o culto divino. O grande guerreiro explicou para seu camareiro que não reverenciou um homem, mas Deus na pessoa do sacerdote.


Se o sacerdócio na Antiguidade se revestiu de tanta grandeza e esplendor, o que dizer do sacerdócio da Nova Lei, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, como nos diz São Paulo Apóstolo na epístola aos Hebreus? O sacrifício que o sacerdote oficia no altar é o mesmo sacrifício da Cruz, de maneira incruenta e misteriosa, sob as espécies de pão e vinho.


Conto voltar ao assunto.
 
O perfil do sacerdote na História (II)



Se no Antigo Testamento o sacerdócio encontrava-se sempre aliado à realeza –– como vimos no artigo anterior ––, com muito mais razão deveria estar no Novo Testamento. Isto porque Jesus Cristo, Deus e Senhor de todas as coisas, quis unir-se à natureza humana a partir da família real de Davi, nascer de Maria Virgem por obra do Espírito Santo e cumprir em Si tudo o que Moisés e os profetas anunciaram.

O sacerdócio eterno foi instituído por Jesus Cristo, verdadeiro Sacerdote e Rei, segundo a ordem de Melquisedec. Sob este aspecto, o sacrifício da Nova Lei ultrapassa de longe o de todas as religiões e os sacrifícios por elas oferecidos. Ao receber o sacramento da Ordem, o sacerdote católico torna-se para sempre indelevelmente caracterizado.

Em vista do exposto, podemos perguntar: qual é o tamanho da dignidade do sacerdote? Em vão busca-la-emos entre os profetas do Antigo Testamento, dos quais o maior foi aquele que teve a insigne graça de colocar as mãos sobre a cabeça do Salvador do mundo, no rio Jordão, no Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo: São João Batista!

Mas o sacerdote da Nova Lei tem a dita de consagrar a hóstia com suas palavras e de tê-la diariamente em suas mãos. Ao ministrar a Eucaristia, ele diz: “Eis o Cordeiro de Deus, eis Aquele que tira os pecados do mundo”. Este é um privilégio tal, que não é concedido nem mesmo aos anjos.

Malaquias chama os sacerdotes de anjos que falam em nome de Deus. Portanto, desprezá-los é desprezar o próprio Deus. Ao administrar os sacramentos –– pelo poder de que os reveste a ordenação sacerdotal ––, eles fazem as vezes do próprio Deus.

Consideremos que Nossa Senhora, ao conceber o Menino Jesus em suas entranhas puríssimas, concebeu-O uma única vez, o que não poderia ter sido de modo diferente. Com o sacerdote isso vai além: todas as vezes que celebra o Santo Sacrifício, ele traz Jesus Cristo sobre o altar, toma-O em suas mãos e O sacrifica misteriosa e incruentamente ao Pai.


Uma pessoa que sinta vocação para tal dignidade precisa examinar-se bem se foi mesmo chamada por Deus, e se está disposta a imolar-se por Ele; se está disposta a levar vida digna e santa, praticando as virtudes da ciência, prudência, mortificação, responsabilidade, castidade impoluta e amor de Deus; se é impelida por um ardente e desinteressado desejo de salvar almas, totalmente desapegada dos bens e dos prazeres do mundo.

Numa palavra, o sacerdote precisar estar disposto a ser santo, pois ele é como uma luz de candeeiro colocada sobre o mais alto de uma fortaleza. Ou ainda como um exército pronto para o combate. Um padre nunca se salva ou se condena sozinho, pois necessariamente levará consigo muitas das ovelhas que lhe foram confiadas.
Nossa fé não é vã! (I)



Pe. David Francisquini



No sábado de Páscoa – a maior festa dos judeus – Jesus repousa no túmulo. No Antigo Testamento, o tempo pascal era celebrado em memória da liberdade do povo judeu da escravidão do Egito, tarefa levada a cabo por Moisés. Nosso Divino Salvador fora crucificado na Sexta-feira, expirando às três horas da tarde. Segundo a tradição, ele morreu voltado para o Ocidente, onde se daria a grande expansão do cristianismo.

Ao abençoar as casas no tempo pascal a Igreja recorda, através de seus ministros, a saída dos hebreus do Egito, quando Deus poupou do Anjo exterminador as casas dos hebreus que haviam sido marcadas com o sangue do cordeiro. Este prefigura o verdadeiro Cordeiro de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, cuja imolação obteve nossa salvação, livrando-nos da morte eterna e se oferecendo a nós na Eucaristia.

No terceiro dia depois de sua morte, na manhã de domingo, 20 de março do ano 782 da fundação de Roma, e 34 da era cristã, Jesus Cristo, por um ato de seu próprio poder, reuniu ao corpo sua alma e, ressurecto, saiu glorioso do sepulcro. Houve grande abalo na Terra, e quando os guardas amedrontados voltaram a si do seu espanto e desmaio, a laje que fechava a entrada do sepulcro estava afastada. Sobre ela estava sentado um anjo, e o túmulo estava vazio.

As santas mulheres, vindas para os cuidados de sepultura, foram as primeiras a averiguar o acontecimento, seguidas dos apóstolos Pedro e João, que acorreram pressurosos ao túmulo ao saberem da ressurreição de Cristo. Até os guardas romanos que selavam o sepulcro correram para relatar aos sacerdotes o acontecido, tendo recebido deles oferta de dinheiro para propagar a mentira de que o corpo havia sido roubado.

Todos os anos, no domingo de Páscoa, celebra-se o aniversário desse memorável acontecimento que culminou a missão do Divino Salvador na Terra e, ao mesmo tempo, provou a divindade de sua pessoa e de sua obra. São Paulo nos adverte que se Cristo não tivesse ressuscitado, a nossa fé seria vã. Chamo a atenção dos leitores para o fato de o domingo de Páscoa ser uma festa móvel que ocorre entre os dias 22 de março a 25 de abril.

Assim como a morte de Cristo é coisa certíssima, também o é a sua Ressurreição, pois Ele foi visto não só uma vez, mas durante os 40 dias que passou na Terra – os Evangelhos mencionam dez diferentes aparições d’Ele, antes de subir triunfante ao Céu.


Voltarei ao tema.
Quantos hoje imitam Pilatos!



Pe. David Francisquini


Por que Jesus Cristo padeceu e morreu pregado numa Cruz? Se Ele é a inocência por excelência, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, por que os homens O cobriram de ultrajes, de ignomínias e de dores? Para entender o que se passou com o Filho de Deus, devemos remontar ao momento no qual Deus foi ultrajado pela desobediência e soberba de nossos primeiros pais.

Para reparar tamanha infâmia e suas conseqüências para a humanidade, Deus prometeu ao mundo um Redentor. O pecado original privara o homem da graça de Deus, as portas do Céu se fecharam para ele, a cegueira grassava em seu espírito, a inclinação para o mal o conduzia ao vício e à desordem dos sentidos, à doença, à morte, enfim, a todas as misérias deste mundo.

Se quem pecou foi o homem, não deveria ele pagar por esse medonho pecado? Mas como poderia ele, dotado de natureza limitada e finita, reparar uma ofensa infinita feita a um Deus infinito? A ofensa se mede pelo ofendido, e não só pela própria ofensa e pelo ofensor. Tão-só um Deus-homem seria capaz de remediar as conseqüências de tal pecado. Donde a Redenção prometida por Deus Pai e consumada por Deus Filho no alto do Calvário ao morrer crucificado entre dois ladrões. Se Jesus Cristo não tivesse se encarnado e morrido para pagar a dívida infinita dos pecados dos homens, todos seríamos escravos do demônio e excluídos da visão beatífica, do Céu para onde vão os justos após a morte.

A despeito da pregação da doutrina cheia de unção e de força do amor a Deus e ao próximo confirmada pelos mais portentosos milagres, o ódio e a perseguição ao Divino Redentor foram num crescendo até atingir o paroxismo. “É preciso que um homem morra para salvar o povo”, disse Caifás em sua casa, onde se encontravam sacerdotes, escribas e anciãos.

Vindo de encontro aos funestos desejos dessa assembléia, Judas Iscariotes foi a peça-chave para que Jesus Cristo fosse entregue nas mãos de seus algozes. Sua pergunta infame –– “Quanto me dareis se eu vo-lo entregar?” –– causou alegria e foi prontamente aceita. Depois da última ceia, quando celebrou a primeira Missa, Cristo dirigiu-se com seus Apóstolos para rezar no Horto das Oliveiras.

Não tardou Judas a chegar com uma turba portando archotes, lanças, espadas e varapaus. Jesus foi amarrado e arrastado até os tribunais de Anás e Caifás. O príncipe dos sacerdotes lhe disse: “Conjuro-te pelo Deus vivo, que nos diga se és o Cristo, o Filho de Deus”. Respondeu-lhe Jesus: “Sim, eu sou. Digo-vos, porém, que de ora em diante vereis o filho do homem sentado à direita do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do Céu”.

Então o príncipe dos sacerdotes rasgou suas vestes, dizendo: “Blasfemou, que vos parece?”. E os presentes bradaram: “É réu de morte!” Conduzido ao pretório de Pilatos, Jesus Cristo foi cruelmente açoitado, coroado de espinhos, vestido com um manto de irrisão e condenado à morte de cruz. Diante daquele populacho açulado, que preferiu a liberdade do criminoso à do Justo, foi cometido o crime mais hediondo de toda a História. E quantos hoje a seu modo imitam Pilatos, o proconsul romano, autor da iníqua sentença que condenou nosso Redentor!

Percorreu Jesus Cristo a Via dolorosa até o Calvário, onde Se deixou crucificar e morrer pela salvação dos homens, por este homem que sou eu. “Tudo está consumado” –– foram suas últimas palavras, e, inclinando suavemente a cabeça, entregou o seu espírito.


Aos pés da Cruz estava sua Mãe Santíssima acompanhada das santas mulheres. Por Eva, o pecado entrara no mundo. Por Maria, nos adveio o Salvador e Redentor da humanidade.