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sábado, 18 de dezembro de 2021

 

Missão de ensinar, guiar e santificar

 

Padre David Francisquini


Nada mais consentâneo com a condição sacerdotal do que fazer uso da autoridade divina das verdades reveladas para cumprir a missão de ensinar, guiar e santificar as almas neste vale de lágrimas.

Com efeito, a crise espiritual que assola o homem pós-moderno — qualificativo utilizado para causar expectativa de “bons fluidos” — é a fonte de tantos males. O ensinamento dos santos ao longo dos séculos consistiu em advertir e instruir os fiéis a propósito da falta de vida interior e de ocupação com tudo aquilo que norteia as almas, a fim de conduzi-las ao seu fim último, que é Deus.

A disposição dos evangelhos, abrindo e fechando o ano litúrgico, nos mostra a importância desses ensinamentos: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação” (Mt. 26, 41), para o qual as pessoas devem se ater sempre, já que a insistência do inimigo infernal é contínua e implacável contra uma pessoa e mesmo povos inteiros.

Não é bem isto que vem acontecendo hoje, em todos os ambientes frequentados por nós? Não é verdade que com suas artimanhas envolventes os asseclas infernais dispersos pela Terra procuram levar-nos para o abismo, ora por meio de ideologias, ora por manobras políticas ou falsas religiosidades? Fica, portanto, a advertência: “Vigiai e orai”!

Eis as maravilhosas afirmações da Escritura, sustentáculo da nossa fé, a nos asseverar com as palavras de São Paulo: Toda Escritura divinamente inspirada é útil para ensinar, repreender, corrigir, formar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, apto para toda boa obra” (II Tim. 3, 16-17).

Ademais, é-nos imensamente vantajoso deixar-nos conduzir por Aquele que é o caminho, a verdade e a vida: “(...) andai enquanto tendes luz, para que não vos surpreendam as trevas; quem caminha nas trevas não sabe aonde vai. Enquanto tendes luz, crede na luz para que sejais filhos da luz” (João 12. 35-36).

Reflita, caro leitor(a), quão benfazejas são essas palavras nesses dias de tanta perplexidade diante das crises que nos assolam, a fim de estabelecermos as balizas do pensamento e o critério de nosso peregrinar pela terra. Podemos ver, tanto no evangelho de São Mateus, quanto no de São Lucas, a narração do último domingo do ano litúrgico, dos acontecimentos que se abateram sobre Jerusalém, como prefigura de todas as épocas de crise.

Pode-se constatar que, de crise em crise, a Igreja instituída por Cristo Nosso Senhor chegou aos tempos atuais. Foram muitas e clamorosas tentativas de subverter sua ordem e ensinamentos no decorrer das centúrias, mas a Santa Igreja preservou e ensinou seus filhos, ministrando-lhes os sacramentos e mostrando-lhes os caminhos da salvação eterna. 

No Ofício Divino, São Jerônimo comenta as palavras do evangelho, dizendo: Quando virdes a abominação da desolação no lugar santo predita pelo profeta Daniel, quem ler entenda          .” Estas palavras se referem ao transtorno da fé que abalou os fundamentos do povo judeu, abolindo o sacrifício e a oblação, deixando o templo desolado por ter perdido a sua função.

Compreende-se, portanto, por que Pilatos colocou no Templo as estátuas de César e de Adriano. Segundo a Escritura, a abominação é chamada de ídolo, e a desolação é por ele ter sido posto no templo desolado e deserto.

Alguém ousaria contestar a semelhança com fatos do nosso cotidiano? Não é bem verdade que assistimos hoje à introdução de ídolos e a realização de cultos idolátricos no interior das nossas igrejas? 

A história recente nos traz à memória, por exemplo, o encontro interreligioso em Assis (1986), acontecimento-símbolo da mentalidade nova que revolucionou o conceito infalível da existência de uma só religião revelada, fora da qual não há salvação. É dogma de fé!

Tem-se, então, um pecado contra a fé, com uma agravante: a introdução de ídolos pagãos, algo abominável diante de Deus, escândalo para incontáveis almas, transtorno da ordem natural e divina que proclama o culto do verdadeiro Deus. Tais acontecimentos, que significam um largo passo rumo à panreligião, constituem uma ameaça cada vez maior para inúmeros fiéis.

Essas considerações devem nos fazer temer as consequências da vida desregrada de nossos dias, que abrange todos os campos da ação humana. Em todos eles os critérios divinos são sistematicamente rejeitados.

Meditemos, por exemplo, nesta advertência de Nosso Senhor, referindo-se aos tempos do anticristo ou prefiguras dele que agem contra Deus, promovendo a desolação em toda a terra: Quando virdes estabelecida no lugar santo a abominação da desolação” (Mt. 24, 15).

Ao ler comentários feitos pelos Padres da Igreja, podemos adiantar-nos em outras considerações que se aplicam bem aos dias atuais, como a introdução da Pachamama no templo de Deus. São Luís Grignion de Montfort já predissera profeticamente: Vossa divina fé é transgredida, vosso evangelho desprezado; abandonada vossa religião; torrentes de iniquidade inundam toda a terra, e arrastam até os vossos servos; a terra toda está desolada; a impiedade está sobre um trono; vosso santuário é profanado, e a abominação entrou até no lugar santo.”

Aqueles que buscam viver segundo a sã Doutrina de Nosso Senhor não devem descer às coisas mais baixas pelo desejo mundano. O que está no campo, não volte atrás para tomar o seu manto”, isto é, não volte às preocupações antigas, tornando a conviver no meio dos pecados passados, que manchavam seu corpo e perdiam sua alma.

Daí a importância da verdadeira fé, da boa orientação católica e da aquisição do senso do discernimento a fim de conhecer o momento de fugir da abominação e se proteger dos perigos de condenação eterna — “Então os habitantes da Judéia fujam para os montes” (Mt. 24, 16).


Cumpre salientar que ouvimos com frequência interpretações protestantes de textos bíblicos atribuindo aos fatos trágicos, mas naturais, ou ainda da inter-relação humana, como sinais da segunda vinda do Messias, muito embora se trate de algo que sempre aconteceu na história do mundo. Estas são interpretações subjetivas.

Na realidade, quando Cristo diz que haverá sinais no sol, na lua, nas estrelas e que as virtudes dos céus serão abaladas, a interpretação mais lógica e prudente está em aplicar essas predições à própria Igreja, com o efeito benéfico de não nos expormos ao debique dos inimigos a propósito de considerações sobre calamidades tantas vezes ocorridas no mundo.

Afinal, a Igreja se assemelha ao sol, à lua e às estrelas. Seu brilho poderá fenecer um tanto, em decorrência da violência inaudita de seus perseguidores e do apodrecimento moral no campo religioso e civil, mas as portas do inferno não prevalecerão contra Ela.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

 Como enfrentar a pior de todas as crises


*Pe. David Francisquini


Quão ricos e tocantes se nos afiguram os ensinamentos do Nosso divino Redentor em forma de modelares parábolas. Bons tempos em que todos os brasileiros as conheciam das narrações feitas dos púlpitos das igrejas. Era a parábola do bom samaritano, a do semeador, a do joio e do trigo, a do grão de mostarda, a da rede lançada ao mar... 

Em todas elas, com bonita narrativa sobre alguma ocorrência do dia a dia ao alcance de seus discípulos, o Homem-Deus transmitia seus ensinamentos sobre o Reino dos Céus. Referimo-nos à do grão de mostarda, considerado no Evangelho como a menor das sementes, mas do qual Jesus Cristo extraiu grande lição moral.  Assim, a Boa Nova com suas parábolas desvendou a verdade que ganhou o mundo e dominou toda a Terra.

Ao aludir à beleza da narração, refiri-me à do trigo e do joio, encontrada no capítulo 13 do livro de São Mateus. O inimigo lançou a semente má, do joio, sobre a semeadura do trigo, e eles cresceram juntos, indistintamente, causando confusão ao agricultor. Sabiamente, o dono da plantação instruiu seus serviçais a esperarem até a colheita para fazer a separação, atar em feixes o joio, levá-lo ao fogo e destinar ao celeiro a parte boa, o trigo. 

Na vida de todos os dias, quantas vezes nos deparamos com situações semelhantes, em que não sabemos no quê, ou em quem confiar, já que as palavras, as obras e os exemplos induzidos podem facilmente nos levar a fazer escolhas erradas, sobretudo quando influenciados pela má propaganda que tudo relativiza, estabelecendo meias verdades, tornando confusos os critérios de alternativa entre o bem e o mal, entre a justiça e o erro. 

Assim, ao longo dos séculos, foram surgindo inúmeros heresiarcas revestidos de pele de cordeiro, com seus engodos maquiavélicos, extraviando do rebanho santo um número incontável de almas, ora disfarçando a falsa doutrina que pregavam, ora desviando as consciências do seu reto pensar e agir, ora levando multidões ao descaminho com ensinamentos diferentes daqueles que sempre ensinou a Santa Igreja. Por isso mesmo, uma grande denúncia foi registrada em documento pontifício, a Encíclica Pascendi, do Papa São Pio X.

Em sua denúncia, o santo Pontífice alertava o mundo católico para a atuação do inimigo oculto no próprio seio da Santa Igreja. Clérigos e leigos que pregavam, sem embasamento sério, uma reforma que procurava desfazer de tudo o que havia de mais santo, não poupando sequer a pessoa divina do Fundador, a Ele mesmo se referindo como um simples homem. Assim, a perniciosa trama do progressismo, que naquele tempo se denominava modernismo, foi classificada pelo Papa como a pior de todas as heresias. 

Já 1846, em La Salette, Nossa Senhora, entre lágrimas, revelara a duas crianças que essa seria a pior crise de todos os tempos. Mais recentemente, esses revolucionários conspiradores, através de movimentos culturais, infiltraram-se nos meios universitários e intelectuais, a fim de colocar em prática os ensinamentos de Antonio Gramsci, o comunista finório que visou conquistar as mentes. 

É doloroso afirmar, mas quem em nossos dias não viu e não vê que nos meios católicos a cizânia penetrou de modo surpreendente, fazendo uma devastação dos valores perenes do Santo Evangelho em favor do comunismo internacional? Já não é de hoje que sistematicamente a infiltração do esquerdismo nos meios católicos vem ocupando lugar de destaque na direção dos rumos da Igreja. 

Ela, que há dois milênios combatia primorosamente as heresias utilizando aquilo que lhe é próprio, ou seja, a pregação e os ensinamentos emanados da apologética de grandes santos teólogos, cuja pena nos legou valiosíssimos tratados teológicos de grande profundidade e perfeita clareza de raciocínio. Santo Agostinho, figura de excelência entre esses luminares, pregava o uso da razão, da argumentação fundamentada na boa doutrina.

Entretanto, é difícil explicar a ação do mistério da iniquidade que hoje assola a sociedade como um todo. Chega-se a um ponto em que o pecado alcança grande vulto e assume uma perversidade sem medidas, visando atingir todos os homens sem exceção, a fim de corrompê-los em todas as manifestações de sua personalidade, tanto individuais quanto sociais, políticas, e mesmo religiosas. 

Com efeito, vivemos um trágico momento, amargamos uma situação da mais completa escuridão intelectual e espiritual, resultante de um processo iniciado há séculos, quando se tramou a marcha paulatina do desfazimento da sociedade moldada nos ensinamentos do Evangelho, cujos vestígios hoje apenas se vislumbram. 

Essa conspiração do mal exige reação enérgica e eficaz das forças vivas da sociedade que ainda teimam em subsistir, denunciando em todas as ocasiões oportunas os planos dos inimigos da fé católica. Invoquemos, pois, Nossa Senhora Aparecida, para que venha em nosso auxílio com a coorte de Anjos de quem é igualmente Rainha. 

Façamos a nossa parte, que na verdade não passará muito do tamanho de um grão de mostarda, mas que posto na terra e regado pela Mãe de Deus poderá se transformar num carvalho.


quarta-feira, 13 de outubro de 2021

 Não ocultemos as verdades


Pe. David Francisquini


Os católicos não devem ocultar como sob um véu os preceitos mais importantes do Evangelho, temerosos de serem talvez menos ouvidos, ou até completamente abandonados, advertiu São Pio X em sua encíclica “Jucunda Sane”. Afinal, a verdade e o bem não constituem mercadoria avariada que necessita entrar de contrabando, devendo, portanto, ser ensinados integralmente pela Santa Igreja. 

Contudo, o mesmo santo pontífice explicou que “sem dúvida, não será alheio à prudência, também ao propor a verdade, usar certa contemporização, quando se tratar de esclarecer homens hostis às nossas instituições e inteiramente afastados de Deus”. Sobre as feridas que devem ser tratadas, São Pio X cita São Gregório Magno, segundo o qual elas devem ser apalpadas com mão delicada. 

E conclui o raciocínio desse seu ensinamento de ‘nada esconder’ com as palavras que seguem: “Mas essa mesma habilidade assumiria o aspecto de prudência carnal se erigida em norma de conduta constante e comum; e tento mais que desse modo pareceria ter-se em pouca conta a graça divina, que não é concedida apenas ao sacerdócio e aos seus ministros, mas a todos os fiéis de Cristo.”

 Uma das excelências da vida é meditar sobre os desígnios de Deus na criação. Temos para isso a filosofia e a teologia da História. Como bom pai, Deus sempre velou pelos seus filhos.  Quando Jesus Cristo se incarnou no seio puríssimo da Virgem Maria, Ele veio cumprir a Lei para a salvação do gênero humano, razão para O glorificarmos hic et nunc, isto é, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos.

Assim, no Antigo Testamento, Deus suscitou patriarcas, profetas e doutores para instruir e guiar seus filhos já estabelecidos como povos. E no Novo Testamento – dando continuidade ao plano da salvação – suscitou apóstolos e discípulos para que, por sua vez, deixassem sucessores. Com efeito, esses homens de Deus disseram verdades... Detenhamos hoje num entre muitos desses apóstolos, S. Luís Maria Grignion de Montfort (1673-1716). 

 Almas como a dele nos foram e nos são enviadas para atuar e fazer cumprir o plano de Deus num determinado período da História, atuando no plano específico da salvação para que os homens não se conformem com as máximas do século, conforme nos admoestou São Paulo, guiando os outros como os antigos profetas. Foi deste luminar francês que Deus quis se utilizar para estabelecer no mundo a forma completa e perfeita da devoção a Nossa Senhora.

Um homem para ser santo precisa praticar virtudes heroicas, e São Luís praticou, entre tantas outras, a de romper com a atmosfera otimista do contexto histórico no qual viveu; ele enfrentou com denodo a feroz intransigência dos despreocupados; suportou a não menos feroz perseguição do próprio episcopado, encerrando a sua vida missionária podendo pregar em apenas duas dioceses de seu país. Ou seja, a perseguição vinha de onde menos se esperava, mas ele tudo suportou. Por quê?

Em primeiro lugar, para a glória de Deus e, em segundo, porque sabia que assim agindo cumpria a missão que Deus lhe pedira, ou seja, pregar que “se de Maria veio Jesus Cristo, será também por Maria que Ele deve reinar na terra e nos corações. Este ensinamento veio preparar não apenas a vinda de outros homens com luzes proféticas para outras missões de guiar o Povo de Deus, mas explica a vinda da própria Mãe de Deus à Terra, tão grande a sua Misericórdia em relação aos seus filhos. 

Apenas em outubro comemoramos duas dessas vindas, além de uma aparição milagrosa, a de Nossa Senhora Aparecida, em 1717. A primeira das vindas foi em Lepanto, no dia 7/10/1571, consagrado a Nossa Senhora do Rosário. A segunda foi bem mais recente, e com uma particularidade, Nossa Senhora falava português, ou seja, em Fátima (1917). Detenho-me nesta última, cuja última aparição ocorreu no dia 13 de outubro daquele ano. 

Em suas mensagens em Portugal, veio confirmar o acerto e a necessidade dessa doutrina sobre Ela, pedindo com insistência que a difundisse pelo mundo inteiro, o que se deu 200 anos redondos depois da morte de São Luís Grignion de Montfort. Ela falou nomes de nações, inclusive que muitas delas iriam desaparecer; falou de guerras; falou de costumes e modas; por fim, que o seu Imaculado Coração triunfaria e teríamos a paz. 

Com efeito, sua aparição ocorreu no dia 13 de maio, repetindo-se sempre no mesmo dia de cada mês até 13 de outubro daquele ano, com exceção do mês de agosto, quando os videntes estavam presos. Numa das aparições a Mãe de Deus mostrou aos videntes o inferno... Segundo narração da Irmã Lúcia, uma das videntes, “Nossa Senhora estende as mãos, emite um facho de luz que penetra a terra, por meio da qual as crianças puderam ver uma terrível cavidade, e nelas se via um pavoroso mar de fogo, com almas incendiadas pelo fogo que delas mesmas saía, viam-se, também, demônios, como negros carvões em chamas, neste mesmo oceano de fogo.”

Ela, portanto, Mãe nossa, nada velou às crianças, por mais aterrorizante que pudesse ter sido tal visão. Pediu a comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados, a recitação do terço, a mudança de vida e a “consagração da Rússia” ao Seu Imaculado Coração.  Caso fossem acatados os pedidos d’Ela, haveria paz no mundo; caso contrário, a Rússia espalharia seus erros pelo mundo. 

A última aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria deu-se um mês exato antes da revolução comunista na Rússia. E como os seus pedidos não foram atendidos, ou o foram molemente, a partir dessa revolução aconteceu o que Ela predisse, ou seja, os erros comunistas grassaram e ainda continuam grassando pela terra. Não existe um só rincão no orbe que não esteja maculado por algum de seus erros. 

E Nossa Senhora continua nos avisando não apenas no íntimo de nossos corações, mas também nos acontecimentos de hoje, como com a pandemia da Covid e suas consequências; nos fatos políticos e até nos fenômenos da natureza... São parábolas? Bem que poderão ser. Lembremo-nos do ensinamento de Nosso Senhor na pena de São Mateus, 13: “Por que razão lhes falas por meio de parábolas? E ele, respondendo, disse-lhes: Porque a vós é concedido conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não. Por isso lhes falo em parábolas, porque vendo não veem, e ouvindo não ouvem, nem entendem.”


O mês de outubro é consagrado a Nossa Senhora do Rosário, cuja festa se celebra no dia 7. Mas temos ainda Nossa Senhora Aparecida no dia 12 e no dia 13 Nossa Senhora de Fátima. Ocasião propícia para meditarmos que no tempo em que o Filho de Deus se fez carne em Nossa Senhora, o mundo não era mais digno de receber Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, se o Padre Eterno O enviou não foi por causa do mundo, mas por causa de Nossa Senhora, foi para atender a um pedido d’Ela, tal é o poder de sua súplica. 

Lembremos mais uma vez que somos seus filhos e supliquemos a Ela que nos ajude com seu maternal auxílio.


terça-feira, 28 de setembro de 2021

 

Dependentes, só de Deus


*Pe. David Francisquini




As grandes manifestações do dia 7 de setembro último -- festa de nossa Independência -- ao mesmo tempo que deram muita esperança ao País de sair do atual impasse a que foi submetido por forças nada ocultas, causaram abatimento não pequeno nas hostes esquerdistas, incluindo os que sonhavam com a dita terceira via, o que parece bom presságio. 

Tenho o hábito, adquirido desde os anos de Seminário, de recorrer às Sagradas Escrituras para preparar sermões e outros estudos, entretendo-me ora com a sabedoria, ora com a ciência, ora com os conselhos ali encontrados, ora com a linguagem grandiloquente e a beleza incomparável de suas metáforas.

Do Novo Testamento, cito apenas a parábola dos lírios do campo, que só poderia ter sido expressa por um Deus... Detenha-se comigo, leitor(a), e admiremos uma vez mais a beleza da narração de São Mateus ao escrever as palavras de Jesus Cristo quando tratou de nosso desapego aos bens terrenos:

E por que vos inquietais com o que vestirá? Considerai como crescem os lírios do campo; eles não trabalham nem fiam. E digo-vos, todavia, que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu jamais como um deles” (6,28).

As palavras inspiradas pelo Espírito Santo são portadoras de grande carga simbólica. Quantos servos de Deus dedicaram as suas vidas a fim de meditá-las, estudá-las, e assim se santificarem, tendo muitos deles deixado consignadas grandes obras para o aproveitamento dos homens e regozijo dos anjos, redundando tudo para a glória de Deus.

 Ainda ontem, lendo e meditando o Livro do Eclesiastes, que muitos atribuem a Salomão, refleti sobre o simbolismo das referências à direita e esquerda, expressões hoje até muito bagatelizadas, mas que não deixam de despertar curiosidade quando tomadas dos livros sagrados e aplicadas às circunstâncias políticas como a que atravessamos no presente momento.

Com efeito, um embate bastante politizado vem ocorrendo no Brasil, fenômeno pouco comum entre nós, pelo menos até o advento das redes sociais, pois os grandes meios de comunicação imperavam de modo absoluto como os únicos que sabiam e poderiam ‘pensar’ pelos brasileiros, impingindo suas tendências, suas modas, suas ideias, enfim, sua filosofia de vida.

As grandes manifestações populares em defesa de nossas antigas instituições -- como a família, guardiã dos bons costumes, da boa ordem social com o respeito ao próximo e ao seu patrimônio, resguardada por um Judiciário que inspirava confiança não apenas imediata, mas perene -- representam a projeção do que a média dos brasileiros pensa sobre o que se convencionou chamar de direita e esquerda em matéria política, aliás termos hauridos dos tempos da Revolução Francesa.

Por oportuno, menciono uma passagem que me atraiu a atenção do livro do Eclesiastes: “O coração do sábio está na sua mão direita, e o coração do insensato na sua esquerda” (Ecl.10,2). Ainda que o autor dessas palavras não tivesse em vista o Brasil atual, nem nossa política, creio ser válida a sua aplicação às circunstâncias de nossa situação.

Enganam-se os que pensam em conduzir o Brasil para as vias propostas pela esquerda política, ou seja, o comunismo, o socialismo, o bolivarianismo e tanto outros ismos, com tudo de desastroso que se encontra em seu bojo.  As manifestações públicas de 7 de setembro e aquelas que as precederam a partir de 2013 demonstram a existência de um Brasil profundo a bradar que sua bandeira jamais será vermelha e que ele deve se manter nas vias da civilização cristã.

Nesse sentido, sob a proteção maternal de Nossa Senhora Aparecida, o Brasil se torna um luzeiro para o mundo, que parece estertorar-se diante de tantos contratempos criados e alimentados pelos próprios homens. Com efeito, tudo o que se tem procurado à guisa de solução vem fracassando ano após ano, dia após dia. Por quê? Porque os homens não querem reconhecer o erro cometido de terem rompido com a doutrina e a lei de Jesus Cristo.

Referi-me acima ao Eclesiastes, agora vejamos o que diz o livro Eclesiástico, 10,7-8: “A soberba é aborrecida por Deus e pelos homens e toda a iniquidade das nações é execrável. O reino é transferido de uma nação à outra por causa das injustiças, das violências, dos ultrajes e de toda sorte de enganos.”

De uma coisa eu tenho certeza e os conclamo a colocar em prática: rezar, confiar e esperar que o Brasil volte para o seu passado cristão, a fim de que seja como uma cidade forte situada sobre um monte, imune de ser ultrajado e violentado pela injustiça e de vir a depender de alguma nação despótica.

quinta-feira, 19 de agosto de 2021


Ponto final nas demarcações de terras indígenas


Pe. David Francisquini


Ora sugerindo, ora admoestando, ora criticando, já escrevi em diferentes ocasiões sobre temas candentes envolvendo os três poderes da república, sobretudo quando eles feriam questões morais e religiosas. Se tal direito é assegurado a todo cidadão brasileiro, por que não o seria para um sacerdote?

Com efeito, a vida pública brasileira vem se tornando cada dia mais borrascosa em decorrência do confronto ideológico de forças contrastantes. De um lado está a grande maioria da opinião pública nacional, que apoia o presidente Bolsonaro, a qual possui uma força de persuasão indizível com suas mobilizações nas redes sociais e multitudinárias manifestações públicas. São as forças vivas da Nação, conservadoras, anticomunistas, defensoras da família e da propriedade.

  De outro lado encontram-se os revolucionários que dia e noite têm procurado tumultuar a vida pública nacional, deixando com justa razão os brasileiros cheios de perplexidade. Na verdade, uma minoria bem articulada, atuante e barulhenta. A grande mídia cerra fileira praticamente toda do lado dela, fazendo isso reverberar Brasil afora, e até no exterior.

Hoje, pretendo tratar de uma questão que se confunde com a nossa história. Ao chegarem aqui os portugueses em 1500, encontraram — não se sabe desde quando — os indígenas, que juntamente com os lusitanos e mais tarde com os negros, forjaram o nosso povo que já se impôs no concerto das nações.

Tal foi a harmonia e a fusão dessas raças na formação de nossa nacionalidade, que bem antes da nossa Independência elas se uniram (1648) para expulsar os invasores holandeses na batalha de Guararapes, ocasião em que nasceu o Exército brasileiro. Tudo isso, sem dúvida, se deveu à têmpera e ao zelo apostólico de muitos missionários, sobressaindo os Padres Nóbrega e Anchieta.

Contudo, de umas décadas a esta parte, surgiram os chamados neomissionários, precursores e fundadores da assim chamada teologia da libertação, para contestar toda essa gloriosa história. Para eles, o indômito e venerável Anchieta teria sido — com a sua catequese de cunho religioso e civilizador — um desagregador, um genocida dos pobres índios!

Esses novos missionários ‘veem’ na organização tribal uma obra-prima de sabedoria antropológica, e, portanto, a missão deles constitui em fazer o contrário dos missionários de outrora: evitar a todo custo que os índios sejam contagiados pelos civilizados. Afinal, eles já vivem num paraíso, onde é coletiva a propriedade dos meios de produção. Segundo esta nova mentalidade, “só temos a aprender com os índios”, ou ainda que “os índios devem empenhar-se em promover agitação agrária”. E assim por diante.

A matéria de hoje é sobre o Marco Temporal. Acabo de recebê-la da Campanha Paz no Campo, dirigida pelo Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança. Trata-se de um manifesto alertando os proprietários brasileiros de que demarcação de terras indígenas ameaça as suas propriedades. Com efeito, “o Brasil está coalhado de áreas de conflito por questões indígenas” e o “STF está para tomar uma decisão que poderá aumentar ainda mais o caos já existente”. Caso a tome, “todas as propriedades rurais, inclusive as urbanas, poderão ser atingidas”.

Segundo o documento de Paz no Campo, “estava estabelecido que somente as terras ocupadas por índios até a data da promulgação da Constituição, 5/10/88, poderiam ser declaradas terras indígenas”. E essa data foi fixada mais tarde como sendo Marco Temporal da ocupação, e assim vinha sendo decidido pelos tribunais. A partir desse marco no tempo, não poderiam ser demarcadas mais terras onde antes não havia índios, nem as terras já demarcadas poderiam ser ampliadas. Com efeito, seria o ponto final desta questão de terras para os índios em nosso território!

Padres Anchieta e Nóbrega na cabana
Pindoguçu

Não me estendo mais por exiguidade de espaço, mas vale muito a pena conhecer a íntegra do documento, o que o caro leitor ou leitora poderá fazê-lo no site https://www.paznocampo.org.br/marco_temporal.php Chamo a atenção para o pedido no final do documento impresso. É um apelo aos brasileiros para que se dirijam aos Ministros do STF nos seguintes termos:

Na qualidade de cidadão(ã) brasileiro(a), independente de origem étnica em que a Providência Divina me fez nascer, venho fazer um apelo para que seja preservado o direito de propriedade e o Marco Temporal. E rejeitado o Recurso Extraordinário número 1.017.365, pelo qual se considera válida a demarcação de terras indígenas em locais onde muito antes da atual Constituição não havia índios”.

Junto minha voz à do apelo. O Brasil precisa de nós para que possa continuar sendo o reino de Nossa Senhora Aparecida. Que Ela nos ajude de modo especial neste momento crucial.

sábado, 31 de julho de 2021

A Igreja crê o que ela reza e reza o que ela crê

 

*Padre David Francisquini

 

Nos idos de 1950, ainda muito criança, todo lampeiro, ia aos domingos com meus pais assistir ao santo sacrifício da missa. Durante a celebração ficava observando os movimentos do sacerdote no altar, as formas e as cores dos paramentos litúrgicos, os cantos, além dos fiéis que, recolhidos, uniam suas intenções às do celebrante. 

Não entendia grande coisa do que ali se passava, mas podia perceber que algo de muito transcendente se operava naquele culto prestado a Deus. Ao voltar para casa, juntos com os meus irmãos, num clima tão sério quanto o permitia nossa idade, sob os olhares comprazidos dos pais, porfiava com eles em imitar as palavras e os gestos do padre, à guisa de também “celebrar” a missa.

Alguma coisa de imponderável daquele ritual se prolongava em nossos espíritos, a ponto de o querermos alegremente imitar. Mesmo sendo em latim, por ser bem ordenado, sem pressa, e ao som de músicas e cantos que elevavam os corações a Deus, concorria para a atuação da graça divina em nós, alimentando a fé e o amor à verdadeira Igreja de Jesus Cristo.

Tratava-se da missa de sempre, hoje incompreensivelmente muito combatida e perseguida, por bispos e até mesmo por altos escalões da Igreja. É chamada ‘tridentina’ para diferenciar da nova missa instituída por Paulo VI em 1969. Foi a Missa a que assisti sempre, até me ordenar sacerdote em 1974. Por fidelidade à Santa Missa e aos ensinamentos emanados do Magistério da Igreja, tive de procurar seminários, um após outro, para me manter fiel à tradição.

Ao entrar no seminário, antes mesmo da realização do Concílio Vaticano II, a Missa tridentina era aquela que encantava todos nós, desejosos de um dia poder celebrar os mistérios divinos da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Perseguido com outros colegas de seminário, eu acabei parando em Campos, onde permaneci como sacerdote que sempre só celebrou a Missa tridentina.

A liturgia dessa Missa, graças à sacralidade, elevação e beleza que lhe são próprias, enriquecida por seus paramentos, orações e gestos, marcou a vida da Igreja por séculos, atraindo graças eficazes para inculcar na sociedade reverência e amor a Deus. Contudo, depois do Concílio Vaticano II, houve uma transformação tal que culminou em uma como que apostasia e evanescência dos fiéis, em decorrência da perda generalizada da fé.

Por que “Missa tridentina”?  Foi e continua sendo a missa que sempre gozou de cidadania na Santa Igreja. Ela atingiu seu apogeu no Concílio de Trento (1545-1563), que teve como objetivo tomar posições referentes às críticas dos reformistas protestantes, além de unificar o culto católico, expurgando os abusos litúrgicos e doutrinários que ensejaram a rebelião de Lutero.

Esse concílio se deveu antes de tudo à preocupação dos Padres conciliares em combater, defender e explicitar a doutrina da Igreja para se premunirem da ameaça do luteranismo.

Na verdade, a reação aos abusos e à decadência religiosa da Renascença veio do Concílio de Trento, que contrapôs os golpes dos luteranos com a unificação da liturgia católica, relacionando o crer com aquilo que se reza, traduzido na máxima lex orandi lex credendi, ou seja, que a norma da oração estabeleça a norma da fé. A Igreja crê o que ela reza e celebra ou reza o que ela crê.

O propósito de São Pio V, fiel depositário das intenções daquele Concílio, não era compor livros litúrgicos novos, mas reproduzir a oração da Igreja já em uso. Restituiu ao missal a primeira regra de orar, retomando assim a primeira norma dos santos padres, que consiste em manter a unidade na celebração dos ritos. Tal unidade na Igreja ao perpetrar um rito é de máxima conveniência, pois remonta aos primeiros tempos da Igreja com a tradição apostólica.

Afinal, o zelo que remonta à tradição deve nos afastar de todo o prurido de novidades que grassa no mundo moderno, para darmos assim continuidade à Igreja por todos os séculos dos séculos. O tema da Santa Missa – a renovação incruenta do santo sacrifício do Calvário – não poderia ser mais excelso, e os tempos decadentes de hoje bradam aos céus por desagravo.

Brademos com Elias Profeta: “Zelo zelatus sum pro Domino Deo Exercituum”, 1 Reis, XIX, 1, ou seja, eu me consumo de zelo pelo Senhor Deus dos Exércitos.

Espero poder voltar ao tema.

terça-feira, 6 de julho de 2021

Quem subsistirá ao dia da ira?

 

Quem subsistirá ao dia da ira?

 

Padre David Francisquini

 


Tratei recentemente da escalada de corrupção moral envolvendo crianças, tendo prometido voltar ao assunto, tamanha a sua gravidade. Infelizmente, se na estrutura familiar ainda perduram alguns valores morais, estes não remontam aos princípios, mas a meros atavismos, muito mais fáceis de serem tragados pela maré montante da Revolução gnóstica e igualitária.

Tornou-se rotina, por exemplo, pessoas provenientes de casamentos desfeitos realizarem uma ou mais uniões, agravando ainda mais a precariedade da estrutura que muitos ainda teimam em chamar de “familiar”, na medida em que trazem filhos de uma união para conviver com outros que não são seus genitores ou irmãos.

Como não perceber que esse arranjo dito familiar resulta da falta de princípios e de convicções religiosas que constituíam até um tempo não muito remoto a salvaguarda do casamento, mas igualmente da instituição da família? 

A união entre um homem e uma mulher que desejassem constituir família se dava num Cartório de Registro Civil (não havia ainda a lei do divórcio), mas era, sobretudo, sacramentado no Altar, onde os nubentes juravam diante de Deus fidelidade mútua – até que a morte os separasse – e a educação da prole. 

O casamento indissolúvel, consubstanciado num Sacramento da Santa Igreja, redunda no bem dos cônjuges, dos filhos e da sociedade. Foi ensinado nos santos evangelhos com validade para todos os tempos e lugares, não devendo o homem separar aquilo que Deus uniu.  Este é um arcabouço sólido para se edificar a união entre o homem e a mulher.

No entanto, na medida em que a Revolução anticristã prossegue seu processo multissecular para implantar todo um estado de coisas avesso à ordem – que é a paz de Cristo no Reino de Cristo –, ela vai derrubando os obstáculos com os quais se depara, sendo o principal deles a família, um dos pilares da civilização cristã.

Aqui no Brasil, a ministra Damares Alves vem denunciando reiteradas vezes o tráfico de


crianças para os piores fins, inclusive para serem abusadas sexualmente, com todas as sequelas que tais aberrações acarretam. 

Se Deus julga e sentencia quem escandaliza e desvia uma criança que para ele seria melhor uma mó ao pescoço e ser lançado nas profundezas do mar, qual é a ameaça que pesa sobre os articuladores que se utilizam das crianças como instrumentos de seus planos para eliminar a ideia de Deus da face da Terra?

Outro reflexo dos dias tenebrosos em que vivemos é o Projeto de Lei, 3.369/2015, do comunista Orlando Silva (PCdoB), conhecido como Estatuto das Famílias do Século XXI, que na opinião de publicações e pessoas autorizadas visa à legalização do incesto e da união entre duas ou mais pessoas.

Como sacerdote de Nosso Senhor Jesus Cristo, eu tenho o dever de ensinar os fiéis a cuidar de suas almas e a se santificar pela frequência habitual dos sacramentos. O ensinamento de hoje é apontar nas Escrituras Sagradas algumas passagens sobre a ira de Deus e os castigos infligidos por Ele àqueles que violam a sua santa Lei.
Deus fala em deixar a cidade em ruínas, desolada e arrasados os seus santuários, sem ofertas nem sacrifícios, a ponto de deixar as pessoas perplexas quando os inimigos ocuparem seus países e habitações, como aconteceu nas nações dominadas pelos regimes ditatoriais e ateus.

Diluvio
O Senhor fala em propagar entre as nações a espada, a desolação e a ruína de suas cidades. Recairá sobre elas o castigo de repente, como a águia se atira sobre a presa, porque rejeitaram obedecer aos decretos de sua santa Lei: “Porque é chegado o grande dia de sua ira, e quem subsistirá?” (Ap. 6, 17).

“Da sua boca saía uma espada afiada para com ela ferir as nações; ele as regerá com uma vara de ferro, e ele é o que pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-poderoso” (Ap. 19, 15).

“Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que vos ameaça? Fazei, portanto, frutos dignos de penitência [...] porque o machado já está posto à raiz das árvores. Toda árvore que não dá bom fruto, será cortada e lançada ao fogo” (Lc 3. 7 e ss.).

 


terça-feira, 22 de junho de 2021

 

Inútil será levantar de madrugada

 

  Padre David Francisquini

 

  A virtude da fé é a regra da vida, e a conduta virtuosa o espelho da alma de quem crê em Jesus Cristo e se conforma com os seus ensinamentos. Com efeito, aqueles que amam e temem a Deus constituem exemplo para todos, de modo especial para os inocentes, luz reflexa de integridade moral.

  A vida delas apresenta-se fácil aos olhos dos adultos, pois possuem uma espécie de bússola que as guia diante de exemplos que as encantam. Nosso Senhor serviu-se delas como exemplo para alcançarmos o reino dos céus, tornando-nos como crianças.

  Enquanto os incrédulos e orgulhosos do mundo as ofendem, os pequeninos em Cristo edificam-nas e honram-nas, por isso mesmo Nosso Senhor disse aos que as escandalizam que melhor lhes fora pendurar a mó de um moinho ao pescoço e se atirarem nas profundezas do mar.

  O Filho de Deus usa a linguagem corrente da época para nos ensinar esta verdade, pois a prática de amarrar a mó ao pescoço era própria para castigar os grandes criminosos, sobretudo pelos pecados de escândalo.

  As crianças devem ser alvo de carinho, afeto e predileção, uma vez que seus anjos
contemplam a face de Deus Pai que está nos céus.  Seria grosseiro não se comover por isso, pois o próprio Jesus disse: “Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o reino de Céu”.

  É para os que não se deixam comover que Nosso Senhor adverte severamente com a figura da mó ao pescoço, anatematizando os escandalosos que desviam as crianças do bom caminho, da luz da verdade e da ciência, do brilho da fé e do esplendor da virtude.

  Quem mais escandaliza em nossos dias? Impossível responder sem entrar no campo político-social. Ao propor o ensino da ideologia de gênero, por exemplo, a esquerda procede em relação às crianças de modo escandaloso, ensinando o amor livre, a pedofilia, e tudo o que decorre disso.

  Fazer o mal moral à criança é operar contra o próprio Jesus Cristo: “Quem recebe uma criança, a Mim recebe”. Na verdade, a esquerda anela por uma sociedade sem Deus, sem virtude, sem regras nem disciplina. Uma sociedade assim moldada resvalará infalivelmente para o caos e  a anarquia.

  Se o futuro de uma nação tiver suas raízes na família, no seio da qual as crianças sejam bem educadas, podemos esperar o que há de melhor para a sociedade. Caso contrário, ela resvalará para a própria destruição.

  Com os meios de comunicação atuais, torna-se impossível não ver isso acontecendo na Venezuela, na Argentina, bem como em todos os países dominados pelos regimes da esquerda, onde, ao lado da pobreza moral e espiritual, haverá sempre carência e miséria material. 

Ao falar do homem sábio e prudente que edifica a sua casa, Nosso Senhor ensina: “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e não as pratica, será semelhante ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa e ela caiu e foi grande a sua ruína” (Mt 7. 26-27).

  A ruína de que fala Nosso Senhor não se restringe à matéria, mas toca nos aspectos transcendentes, pois uma sociedade que nega Jesus Cristo e seus ensinamentos tem como meta a ruína moral, espiritual, econômica e social.                     

  Em próximo artigo pretendo dar continuidade a este tema, tão importante para guardarmos a fé e fazermos da virtude a regra de nossas vidas. Caso contrário, ser-nos-á inútil levantar de madrugada...

quinta-feira, 6 de maio de 2021

 

Uma conjuração anticristã


Padre David Francisquini


    


        Ao criar nossos primeiros pais homem e mulher, Deus os abençoou, ordenou-lhes que crescessem e se multiplicassem e enchessem toda a terra, sujeitando-a, como está escrito no livro Gênesis (1, 27-30): “Eis que vos dei todas as ervas, que dão sementes sobre a terra, e todas as árvores que encerram em si mesmas a semente do seu gênero, para que vos sirvam de alimento, e a todos os animais da terra, e  a todas as aves do céu, e a tudo o que se move sobre a terra, em que há alma vivente, para que tenham que comer. E assim se fez".

            Como assim dispôs o Criador, cabe-nos, por nossa natureza e pelas potencialidades e riquezas que nos foram dadas, prover à nossa própria subsistência e trabalhar em função de nosso progresso natural e espiritual, rendendo assim maior glória a Deus. O mesmo Pai não criou seus filhos iguais, antes, os dotou de capacidades diferentes, como se pode depreender da parábola dos talentos.

            Com efeito, nela o servo que soube trabalhar e fazer render os talentos recebidos de seu senhor foi premiado com outros tantos, e o que enterrou o talento foi castigado. Como foi agradável aos olhos de Deus a diligência daquele que se empenhou em fazer progredir suas próprias qualidades, e como foi desagradável a acomodação daquele que se manteve inoperante diante dos benefícios recebidos!

            Todos nós sabemos que a existência do homem é anterior à do Estado, cuja ação deve ser apenas supletiva, ou seja, exercer-se somente quando o corpo social não dispuser de meios para realizar determinada tarefa. O contrário disso a interferência em todos os aspectos da vida dos indivíduos e das sociedades é uma característica do Estado socialista.

            Este último contraria a ordem natural e desafia disposições divinas, com consequências desastrosas para todo o corpo social, pois torna os homens negligentes, sem iniciativas e desinteressados, priva-os de sua liberdade de fazer o bem e os leva à miséria e à desolação, embrutecendo da sociedade e levando ao decrescimento da fé.

            ***

            Recordamos que há mais de 100 anos Nossa Senhora de Fátima alertou a humanidade para os nefastos erros que o comunismo espalharia pelo mundo por meio da
Rússia.
Tendo em vista as comemorações do próximo dia 13 de maio, data de sua primeira aparição aos pastorezinhos, vêm-me ao espírito algumas considerações que desejo compartilhar com os leitores. 

            Por que, apesar de dotado de inteligência e de vontade – portanto um ser livre – tem o homem tão coarctada e perseguida em nossos dias sua liberdade para fazer o bem? Ele vem há séculos perdendo paulatinamente seus direitos fundamentais, como o de praticar a verdadeira fé, constituir e cuidar de sua família, ter a sua propriedade.

            Isso vem ocorrendo à maneira de um bolo colocado sobre uma mesa. Na medida em que as pessoas vão passando, cada qual tira um pequeno pedaço, e em pouco tempo o bolo desaparece... O mesmo se passa com os valores da alma, recebidos dos nossos maiores, que formavam o arcabouço de toda uma civilização fundamentada nos evangelhos.

            Como demonstra Monsenhor Delassus em seu imperdível livro A conjuração anticristã, existe um verdadeiro conluio para negar o pecado e a Redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele faz com que o homem vá perdendo espaço no panorama da civilização cristã e resvalando para uma vida tribal diametralmente oposta àquela plasmada pelos nossos incansáveis pregadores que evangelizaram o Ocidente.

            A alma brasileira, indelevelmente marcada pelos ensinamentos do Evangelho, vem sendo desconstruída pelos revolucionários de ontem e de hoje nos seus valores cristãos, como o casamento, a criação dos filhos, a ideia de Deus e da religião, a noção do bem e do mal, a perda das noções fundamentais de justiça, a desarmonia institucional, entre outros.

            De onde o constante apelo dos partidos de esquerda e do Judiciário no sentido de implantar ideologias nefastas, como o aborto, o incesto, a identidade de gênero, a poligamia, a adoção de filhos por parceiros homossexuais – como se tratasse de um casal normal –, o direito de herança, a eutanásia, entre outros crimes. Numa palavra, levando os homens para um despenhadeiro rumo ao caos, como já ocorre na Venezuela e na Argentina. 

            Em seu processo de apodrecimento generalizado da sociedade, a Revolução gnóstica e igualitária vem aos poucos eliminando, envenenando e matando, aqui, lá e acolá, com uma força de expansão própria à dos gases, esses valores morais que a civilização cristã recebeu da Igreja e nos transmitiu, tentando eliminar assim a própria ligação do homem com Deus. É a crise religiosa instalada nos quatro cantos da Terra.

            Em decorrência do que se propaga sobre o vírus chinês do Cavid-19, parece que o mundo não voltará mais à normalidade anterior. Se Deus não intervier, será o advento de um estado de coisas em que não haverá mais para os homens liberdade de ir e vir, de gerir seus negócios e sua vida como melhor lhes aprouver, nem de praticar a religião, especialmente a única verdadeira – a católica –, numa satânica tentativa de conduzi-los ao desespero e ao ódio a Deus.

            Aqueles que reagem a esta avalanche são tachados arbitrariamente com epítetos de
negacionistas, antidemocráticos, obscurantistas, contrários à ciência, todas elas palavras-talismãs cuidadosamente estudadas em laboratórios e utilizadas ad nauseam pela grande mídia para causar o maior estrago possível nas hostes conservadoras.

            Em suma, toda esta urdidura visa atacar no homem naquilo que lhe é natural – um ser racional e livre criado à imagem e semelhança de Deus –, para criar um homem novo à imagem e semelhança do demônio. Em seu frenesi desarticulador, tal é o objetivo final da fúria revolucionária.

            O ponto central da mensagem de Fátima trata dos erros da Rússia que se espalhariam pelo mundo para perder as almas. Urge atender aos apelos de Nossa Senhora, rezar e fazer penitência, recitar diariamente o terço, fazer a comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados, e, sobretudo, mudar de vida e de comportamento diante dos descalabros das modas imorais.

            Lutemos e procuremos fazer a nossa parte. Deus, por meio de sua Mãe Santíssima, nos dará a vitória!