*Pe.
David Francisquini
Entre os exercícios de piedade promovidos pela Santa
Igreja para o tempo da Quaresma nenhum é tão eficaz quanto a Via Sacra. De
conteúdo doutrinário amplo e profundo, ela se compõe de 14 estações
representando o doloroso e heroico caminho de Nosso Senhor Jesus Cristo
carregando a Cruz, desde o pretório de Pilatos até o monte Calvário.
Sua origem é atribuída à Santíssima Virgem Maria, que
visitava com frequência os lugares sagrados onde seu divino Filho padeceu e
morreu pelos nossos pecados. Procurando seguir suas maternais pegadas, os
primeiros cristãos se puseram por sua vez a visitá-los, a fim de meditar nos
indizíveis sofrimentos de Jesus e de Maria, co-redentora do gênero humano.
Quando a Terra Santa caiu em mãos dos infiéis, e não
podendo mais os cristãos visitar sem perigo esses veneráveis lugares, os
medievais começaram a erigir cruzeiros um pouco por toda a Europa,
representando as estações de Jerusalém. E esses cruzeiros ou estações foram
sendo enriquecidos ao longo dos tempos pela piedade dos cristãos, e
contemplados com indulgências concedidas pelos Papas.
Por exemplo, ganhamos indulgências quando recolhidos e
meditando na Paixão de Jesus Cristo, passamos de estação em estação da Via
Sacra. Reflexão inédita, porque é através dela que o cristão pensa em Jesus
Cristo – nos sofrimentos, no heroísmo e no infinito amor d’Ele para conosco. Um
Deus que Se torna homem e Se imola por nós, escolhendo o pior martírio que é o de
morrer pregado na Cruz.
Quem não se estremece e se compadece de um Deus que
tanto nos amou? Quem não vê e contempla a dureza, o escárnio, a zombaria, o
desprezo e a humilhação de um Deus todo ensangüentado, repleto de chagas e de
ferimentos? Quem não se condói vendo-O abandonado, desprezado, triturado como
um verme que se contorce sobre a ação da dor?
Muitas almas se perdem por não pensarem na paixão e
morte de Jesus Cristo! Tivéssemos nós presentes Jesus coroado de espinhos,
revestido de um trapo, segurando a cana da irrisão, todo coberto de sangue e chagado,
dificilmente deixaríamos de pensar em nossos pecados.
Conta Santo Antônio Maria Claret que ao deixar um grupo
de religiosos um local de missão para ir pregá-la em outras paragens, ensinou aos
seus neófitos o exercício da Via Sacra. Qual não foi o contentamento desses
missionários ao retornarem àquele lugar e encontrarem todos os fiéis em estado
de graça. Sem dúvida, foram obedientes aos conselhos recebidos.
São Leonardo de Porto Maurício sugeria àqueles que
desejassem com ardor evitar um mal, progredir na virtude, levar uma vida santa
e piedosa e atingir em pouco tempo a perfeição cristã, a prática fervorosa do
piedoso exercício da Via Sacra. São Boaventura aconselha que tenhamos sempre
diante dos olhos Jesus Cristo em sua Cruz agonizante e morrendo, caso desejemos
conservar a chama da devoção e da piedade.
O fim dessa devoção é cultivar em nós os sentimentos
que devemos ter de gratidão e amor para com um Deus que padeceu, sofreu e
morreu por nós. É para avivar em nós os mais firmes movimentos de contrição
pelos nossos pecados, para cuja remissão nosso Salvador não só padeceu e morreu,
mas ainda nos proporcionou com Seu sangue a insigne graça de imitá-Lo em suas
virtudes.
A Quaresma e a Semana Santa são tempos propícios para
seguirmos o exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Mãe Santíssima. Enquanto
se avolumam assustadoramente o pecado e a devassidão, levando um número
incontável de almas a se condenar, contemplemos a Paixão e Morte de Jesus no
exercício da Via Sacra. Meditemos nas palavras do Real Profeta: “Quae utilitas in sanguine meo?”
Um comentário:
A grande maioria das pessoas não se preocupa com a vida eterna por isso não meditam na morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. A vaidade e falta de amor a Deus nos têm levado a esse estado de coisas. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo
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