Nem a natureza ficou insensível
*Pe. David Francisquini
Enquanto ainda não
desponta para nós, o sol, que nunca deixa de iluminar a terra, se vela em
outros confins. As trevas da noite que cobrem a pessoa adorável de Nosso Senhor
Jesus Cristo e de seus discípulos estão prestes a se dissipar. A Páscoa se
aproxima.
Ao contemplar e refletir
sobre tão sublime mistério da Ressurreição, podemos imaginar a noite escura que
de repente passa a brilhar com toda intensidade, para simbolizar o maior
milagre da divindade de Cristo: o Filho de Deus que se encarnou, padeceu e
morreu, agora ressuscita, após vencer a morte, o demônio e o pecado.
Com a Ressurreição, um
novo dia raia para a humanidade. Inicia-se para os apóstolos e os discípulos o
período da evangelização, que redundaria séculos mais tarde na civilização
cristã: “Ide por toda parte e pregai o Evangelho. Aquele que crer e for
batizado será salvo, o que não crer será condenado. Eis que estarei convosco
todos os dias até a consumação dos séculos”.
Os Santos Evangelhos
narram que pelo fim da noite de sábado saíra Maria Madalena em companhia de
outra Maria para visitar o sepulcro, e eis que se deu um grande terremoto. O
anjo do Senhor desceu do Céu e, chegando ao túmulo, afastou a pedra e sentou-se
em cima dela. Seu aspecto era como o de um relâmpago, e sua veste, branca como
a neve.
O grande terremoto que se desencadeara com um
estrondo à semelhança de canhão homenageava e anunciava o grande Rei que
ressurgiu dos mortos. Diante do que presenciavam, os guardas se sentiram
aterrados, e o anjo disse às mulheres: “Não vos amedronteis: sei que procurais
a Jesus que foi crucificado. Não está aqui, pois ressuscitou como havia dito.
Vinde e vede o lugar onde fora deitado o Senhor." (S.Mat. 28, 1-7).
O Criador de todas as coisas
não jaz mais na sepultura. Diante do esplendor do arauto celeste, a natureza
estremeceu. E os inimigos de Cristo, que rondavam em torno do Sepulcro, ficaram
apavorados, desmaiando uns e fugindo outros.
Segundo São Beda, do princípio do mundo até aquele
momento em que Cristo ressuscitou, o dia começava a ser contado na véspera.
Isto era para indicar que os homens passaram do dia para a noite, pois, com o
pecado original, a luz do paraíso terrestre havia desaparecido.
Com a Ressurreição, o
mundo – envolto até então nas trevas do pecado e na sombra da morte – retornou
à luz da vida e começou a brilhar com intensidade, pois as trevas do paganismo
tinham acabado de ser vencidas pelo grande Redentor.
Desaparece assim o sábado,
passando Cristo a iluminar o mundo com o novo dia do Senhor, enquanto a sua
Igreja resplandece para substituir a obscurecida sinagoga, isto é, o Antigo
Testamento. A aliança de Deus com os homens estava restabelecida.
Quando Jesus Cristo expirou na Cruz, a natureza não ficou
insensível nem indiferente, pelo contrário, convulsionou-se. O mesmo se deu no
momento de sua gloriosa Ressurreição. Ficou assim assinalado que a natureza
divina e humana de Cristo manifestou extraordinário exemplo de grandeza, poder
e humildade.
O poder da Ressurreição
vence a morte, espanta as trevas e suplanta o poder de satanás. O terremoto
indica que os corações dos homens se comovem pela fé na paixão e morte do
Salvador e nos incita a fazer penitência pelos nossos pecados, a fim de nos
enchermos de um santo e salutar pavor, que é o início da sabedoria.
Ao ressuscitar, Cristo e
Senhor Nosso destrói o véu da morte que O envolvia, fazendo com que o céu e a
terra se voltem a relacionar. O Anjo do Senhor manifesta o brilho da claridade,
da clarividência e da felicidade, pois Cristo Salvador ressuscitou dos mortos.
Ao
ver o anjo descer do Céu, retirar a grande pedra que estava à entrada da
sepultura e sentar-se em cima dela, os inimigos do Salvador estremeceram de
pavor e medo. Como será então quando Ele voltar à terra para julgar os vivos e
os mortos? Os elementos da natureza seguramente não ficarão insensíveis...
Nenhum comentário:
Postar um comentário