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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011


Ela te esmagará a cabeça

                                                                                                      *Pe. David Francisquini


No dia 8 de dezembro celebramos a tradicional festa da Imaculada Conceição de Maria, a Mãe de Deus, tendo Ela concebido por obra do Espírito Santo o Filho de Deus feito homem, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Os méritos de seu futuro Filho foram aplicados à Mãe antes mesmo de Ela O conceber e, por conseguinte, sem a nódoa do pecado original.
Em sua onipotência, Deus fez o homem do limo da terra, dando-lhe alma imortal. A partir deste fez a mulher, colocando sobre este primeiro casal toda a Sua predileção. E, para mais bem nobilitar a raça humana, quis participar dela pela Encarnação no ventre puríssimo de Maria. Coroou, assim, a obra da criação.
Como sabemos, esse primeiro casal foi infiel e não correspondeu aos planos do Criador. Mas nos Seus divinos e soberanos decretos, revelou Deus que dessa raça pecadora viria o futuro Salvador. Sua Mãe seria uma pedra de contradição que, como um terrível exército em ordem de batalha, esmagaria a cabeça da serpente infernal.
Porei inimizade entre ti e a Mulher, entre a tua descendência e a descendência d’Ela e Ela te esmagará a cabeça, e tu armarás traições ao Seu calcanhar.” Luta posta pelo próprio Deus, que a vem sustentando entre a raça bendita da Mulher e a raça maldita de satanás, entre os que são de Deus e os que são do demônio.
Luta que vem se avolumando no decorrer dos séculos. Nossa Senhora terça armas sem cessar com o demônio e seus sequazes. Sua vitória é garantida pelo próprio Deus, que A fez seu lugar-tenente na guerra contra o pecado, o demônio, o mundo enganador e a carne corrompida. Em Fátima, Ela mesma nos prometeu: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”. 
            Afinal, “quem é esta que surge como a aurora‚ bela como a lua‚ brilhante como o sol‚ temível como um exército em ordem de batalha?” (Cant 6‚ 8-10). Ao criar Maria, Deus onipotente A isentou da mácula original e fez n’Ela grandes maravilhas. Aquele que fez o Céu e a Terra resgatou da culpa da raça humana Aquela que seria a Mãe do Salvador livrando-a da culpa original. 
A Virgem Mãe de Deus está acima de todas as mulheres por ter virginalmente engendrado Aquele que os céus não podem conter. Eis a razão por que, ao criar Maria, Deus quis aplicar por antecipação os méritos de Cristo na Cruz, afastando d’Ela o pecado universal que maculara a raça humana. Só assim o Salvador poderia redimir os homens do pecado original.
Ao louvar Maria, o Anjo Gabriel diz: “Ave, oh cheia de graça!”. Como poderia ele dizer “plena de graça” se o pecado A tivesse maculado? Jamais! Em Maria nada falta. Deus A fez segundo os arcanos divinos A haviam concebido desde toda eternidade para ser a Mãe de Jesus Cristo, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
Ao oferecer os elementos de uma nova vida, a mulher é instrumento na mão de Deus. É Deus criando através dela. Assim também se dá com Maria ao gerar Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, por obra do Espírito Santo.
Não significa que Ela tenha gerado a divindade, pois o Filho foi gerado por via intelectiva desde toda a eternidade. Ao dar ao Filho os elementos para tornar-se homem, Maria se tornou Mãe de Deus. Por esta razão Ela não poderia ter a nódoa do pecado original, pois repugnaria à divindade tirar os elementos de sua humanidade de um ventre concebido no pecado.
Jesus Cristo veio ao mundo para destruir o cativeiro do pecado e da morte. Segundo afirmação de Santo Agostinho, Ele obteve o cetro da rainha das virgens que O concebeu – o rei da castidade – num seio virginal e puro onde Ele pudesse morar e dar-nos a entender que só um corpo puro e casto pode ser o templo de Deus.
           Antes de o sol nascer e deitar seus raios, já ilumina a Terra com um belo colorido. Antes de ser gerado e nascer, Jesus Cristo irradiou o esplendor da graça redimindo Maria, inocentando-A da culpa original, ostentando sobre Ela os raios da mais perfeita virtude, fazendo-A imaculada. Assim, sem mácula e com virtude perfeita Ele, veio ao mundo para realizar Sua missão redentora.

sábado, 26 de novembro de 2011

De Deus não se zomba!


De Deus não se zomba!


                                                                                          *Padre David Francisquini


Patrocinada pelo Ministério da Saúde, a experiência da distribuição gratuita de preservativos a estudantes do Ensino Médio em quatro capitais deverá ser estendida a 400 escolas públicas de todo o Brasil através da instalação de máquinas distribuidoras. A propósito e enquanto sacerdote, eu me julgo na obrigação de dizer uma palavra sobre o assunto.

Reporto-me a um dos modelos apontados pela Santa Igreja para a edificação de seus membros, São Pedro Julião Eymard, fundador da Congregação do Santíssimo Sacramento ou Sacramentinos. Como grande conhecedor de almas, ele considerou a transição da infância para a adolescência como a fase mais crítica da vida de um jovem, pois seu futuro dependerá do que ele foi nesse confronto decisivo da vida.

Ao não se deixar capitular pelos impulsos sexuais, a personalidade fica para sempre impregnada pela alegria de ter vencido aquela primeira batalha da vida. Falando certa vez para um público jovem, aquele santo francês assegurou: Se vedes em mim decisão e coragem, é porque eu soube vencer tal ímpeto da paixão e isso se expressa em minha própria voz.

         Com efeito, nada rompe mais a personalidade de um moço do que se enveredar pelo caminho tortuoso da impureza. São Paulo nos advertiu: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba. Aquilo que o homem semear, isto também colherá: aquele que semeia na sua carne, da carne colherá corrupção; mas o que semeia no espírito, colherá do espírito a vida eterna.

“Andai segundo o espírito e não satisfazei o desejo da carne. Efetivamente, a carne tem desejos contrários ao espírito e o espírito desejos contrários à carne; essas coisas são contrárias entre si para que não façais tudo aquilo que quereis... As obras da carne são manifestas: o adultério, a fornicação, a impureza, a luxúria...”.

         Existe um princípio regulador da função sexual que se obtém apenas dentro do matrimônio legítimo, pois só este proporciona o verdadeiro sentido de sua retidão moral no relacionamento homem e mulher. Não havendo tal formalidade, as relações sexuais se tornam imorais e, portanto, constituem sempre e em qualquer circunstância, pecado mortal inescusável.

Os defensores das relações pré-matrimoniais costumam alegar como obstáculos para a realização do casamento a prazo longo ou curto, as dificuldades para a obtenção de uma casa, a compra de móveis, a necessidade de conservar o amor, o desabafo do organismo, problemas de saúde, ou ainda a necessidade de maior conhecimento recíproco.

Contudo, tais alegações são feitas para abafar a própria consciência, pois como não querem ter filhos – para eles a grande tragédia da vida –, procuram eliminar todos os entraves que os impedem de se relacionarem e, ao mesmo tempo, gozarem de reputação ilibada perante a sociedade. Outra corrente quer fazer deste relacionamento uma coisa tão banal que julga ser melhor trazê-lo para a luz do dia.

Espero mostrar brevemente que os preservativos não vão solucionar os problemas dos jovens, mas agravá-los. Nosso governo, ao promover tal iniciativa, está semeando a cizânia no campo primaveril de nossa juventude. Contudo, a sociedade não tardará a colher o fruto desse infausto trabalho.


De Deus não se zomba! (II)

                                                                                         Padre David Francisquini

Ao comentar o infausto ensaio do governo brasileiro de promover a distribuição de preservativos a estudantes de Ensino Médio, mostramos que em vez de resolver o problema dos jovens, tal medida somente os agravará. Ressalto de passagem que “experiências” do gênero são sempre levadas a cabo em nome da “ciência”, a qual fica assim desvirtuada de seu sentido original, tornando-se uma palavra-talismã.

É, pois, ancorado na nova religião da “ciência e na técnica” que o Estado interfere em tudo, legisla e tenta regular a conduta do cidadão em campos nunca antes imaginados, para assim “redimir” os homens e a sociedade de todos os seus males presentes e futuros. Para citar um exemplo, lembro aos leitores a ridícula “lei da palmada”...
A propósito, acabo de ler estarrecedora notícia publicada no The Telegraph, de Londres, segundo a qual 38% da população da União Européia sofrem de distúrbios mentais e doenças cerebrais. O jornal inglês se baseia num estudo do Colégio Europeu de Neuro-psicofarmacologia. Para os estudiosos, as desordens mentais se tornam o maior desafio à saúde na Europa do século XXI.

Comentando a referida notícia, Luís Dufaur (http://www.ipco.org.br/home/) afirma que a causa desses males pode bem estar na tentativa de construir uma super-organização em bases puramente materiais que ignoram – e até hostilizam – o lado espiritual e a religião do homem. E indaga: “Não será uma das causas mais profundas desses desarranjos mentais?”.

Atentar contra os fundamentos cristãos da civilização constitui um dos maiores fatores de enlouquecimento. O pior é quando tal ataque é perpetrado metodicamente pelo Estado em nome da ciência. No caso concreto da distribuição de preservativos a estudantes, a iniciativa conta com o auxílio de pesquisadores de dois órgãos da ONU.
O cuidado com os jovens deve começar pelos pais e ser complementado pelos professores. É na juventude que se forma o caráter, o qual, por sua vez, influenciará no destino de cada um. Os pensamentos se transformarão em palavras, as palavras em atos, e estes em hábitos que formarão ou deformarão seu modo de ser.

O que nossas autoridades semearem nas escolas, a sociedade colherá no final do ciclo. A imoralidade vem ceifando mais vidas que a própria guerra e está na origem da violência, da criminalidade, do desajuste familiar e das separações; está na raiz da pior das epidemias, além de um incontável número de doenças. Através dos frutos pode-se saber se as sementes têm sido boas ou não.

Enquanto sacerdote, eu me reporto ao ensinamento da Igreja, que condena a liberação do sexo na adolescência, ou mesmo antes do matrimônio: “Bem aventurados os puros de coração porque possuirão o reino dos céus.” A união carnal só pode ser legítima quando se estabelece uma definitiva comunidade de vida entre um homem e uma mulher.

As relações sexuais pré-matrimoniais excluem, o mais das vezes, a prole e o que se apresenta como amor conjugal não pode se desenvolver como deveria, ou seja, num amor paterno e materno.

Caso eventualmente se desenvolva será em prejuízo dos filhos, que se verão privados da convivência estável da qual havia de poder realizar-se como convém e encontrar o caminho e os meios necessários para se integrarem na sociedade. (Declaração da Santa Sé nº 7).

sábado, 5 de novembro de 2011

A semente em terra fértil (II)

                                                                              *Pe. David Francisquini

Em recente artigo – A semente em terra fértil – tive ocasião de salientar a têmpera do homem do campo, formada primordialmente pela contemplação e reflexão. Hoje volto ao tema entrevendo uma montanha que se eleva no seu panorama. Ela estará sempre como uma bússola a nortear sua imaginação cheia de princípios, ainda que incipientes, sobre as virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade. 
A partir daquele mirante, o camponês poderá analisar o que acontece ao seu redor como uma chuva mansa que cai sobre a relva e ressoa harmonias às quais ele poderá associar as dádivas e as bênçãos de Deus sobre ele, sua família e seu campo. Enquanto a vegetação se beneficia da água, ele agradecerá a Deus, o Pai de todos, que faz chover sobre os justos e os injustos.
Enquanto os pássaros em revoada se põem a cantar, o camponês pensará no céu, nos anjos e nos santos, que numa homenagem perene louvam a Deus. Ao ver um passarinho apanhar um inseto e com ele alimentar seus filhotes, o camponês se lembrará de Deus que o ajuda sempre a alimentar seus filhos e educá-los para a vida.
De quando em quando, ele ouve um mugido do gado pastando, e se lembrará de Deus, bendizendo-O no fundo de seu coração por não se ter esquecido dele nas labutas diárias. Enquanto os cães ladram durante a noite, ele é levado a pensar nas sentinelas que Deus lhe deu como vigia para si, sua família e seu patrimônio.
 Na iminência ou mesmo durante uma tempestade com relâmpagos e trovões, ele poderá se recordar da justiça divina que premia os bons e castiga os maus. O temor de Deus, início da sabedoria, o levará a fazer propósitos firmes de abandonar o erro e o pecado e não transgredir mais os mandamentos divinos.
Não nos esqueçamos de que o homem do campo também padece das conseqüências do pecado original; o que o diferencia dos outros em nossos dias é o fato de ele se encontrar no habitat que lhe é próprio. Com efeito, ao contemplar a natureza, ele se lembrará da vida perfeita e incriada, ou seja, do próprio Deus que é o Pai da vida, d’Aquele que distribuiu seus bens sem medidas.
Não é sem motivo que o camponês reza o Pai Nosso, oração perfeita composta pelo próprio Homem-Deus. Não é sem motivo que ele não deixa de rezar a Ave-Maria à Mãe das mães. Enquanto reza ele reflete, e seu pensamento o leva a voar para uma região longínqua, ao dia de sua morte terrena e de seu encontro com Deus.
Se o seu caráter se tornar indomável, ninguém conseguirá dobrá-lo, devido à sua fé e ao seu amor a Deus. Enquanto ele estiver na terra, não há outro sentido senão o de passar seus dias amando e glorificando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. O que continuará na terra será o seu exemplo, o seu valor de luta e de intrepidez.
Tais considerações nos fazem reportar à Escritura Sagrada, com Deus sujeitando o homem a tirar da terra o seu sustento com trabalhos árduos todos os dias de sua vida. Se assim o fez, foi de Pai para filho, pois entre espinhos e abrolhos seu herdeiro formará o caráter ao comer o pão com o suor de seu rosto, até que volte à terra da qual ele foi formado.

domingo, 9 de outubro de 2011

A semente em terra fértil



                                                                                                      *Pe. David Francisquini


Ao percorrer o território de minha paróquia venho me defrontando com problemas que à primeira vista parecem sem solução. A sociedade dita moderna torna cada vez mais inviável a formação religiosa e moral de seus membros. Ninguém, ou quase tanto, sabe rezar as mais elementares orações do cristão.
Como a misericórdia de Deus nunca deixa de assistir os seus filhos – no caso concreto, pároco e paroquianos – de repente, a luz da graça toca o fundo da alma de certos pecadores, dando-lhes a confiança de que um dia triunfarão. A partir dali, um padre experiente percebe a solução aflorar como a semente lançada em terra fértil.
Se de um lado o ambiente religioso propicia felicidade de situação ao ministro de Deus, este precisa de outro lado esperar – muitas vezes anos a fio – o momento da graça para dizer a determinadas pessoas as verdades necessárias ao seu progresso espiritual visando o seu bem na terra e sua eternidade no céu.
Referi-me acima à semente lançada em terra fértil. Com efeito, a figura do lavrador na sua jornada diária pode simbolizar a ação de outro agricultor, ou seja, daquele que trabalha na seara do Senhor. Ainda que seja pertinaz e acurado no trabalho, ele aguarda preocupado que a semente germine e frutifique.
Em seu campo o agricultor se orienta ora pela chuva, ora pelo bom tempo, ora pelo vento, ora enfim por outros pontos de referência sempre ao alcance de sua observação e que o acompanham no seu afanoso trabalho. Na paróquia, cercado de embaraços e atropelos, o sacerdote fica às vezes como um cultivador cego e paralítico.
Nesse momento de aridez, resta-lhe o melhor dos instrumentos de apostolado que é a oração, o jejum e a penitência para levar a cabo a sua árdua tarefa de salvar as almas. É com espírito de fé e determinação que ele imita os Apóstolos que evangelizaram o mundo em cumprimento do mandamento de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Hoje os campos de minha região – Norte fluminense – encontram-se quase vazios e as cidades cada vez mais cheias. Um problema social? – Sim. Contudo, não nos basta tal constatação sociológica. O bom senso mostra que o homem do campo pode viver mais próximo de Deus que um citadino.
Oportunidades não lhe faltam para a oração e a reflexão. E também para a ação: como todo bom semeador, na medida em que cultiva a boa semente, vai arrancando a cizânia e as ervas daninhas. Tudo isso ele faz com a calma própria da vida camponesa, o que lhe remete a transcender e pensar em Deus e em sua alma.
Nessa lide constante para se manter e se enriquecer, ele deve lutar para extirpar de si as raízes do mal e as suas más tendências, as inclinações desordenadas que o convidam diuturnamente a transgredir as leis de Deus e da Igreja. O fruto dessa luta corresponderá à sua têmpera e ao seu valor.
Somam-se a esses valores a cultura adquirida, o espírito de luta, o senhorio, pois quem cultiva a terra se eleva a um patamar mais alto e mais nobre do que aquele que administra bens de terceiros, como acontece de modo quase generalizado nas cidades, onde a maior parte das pessoas trabalha em negócios de terceiros.
O homem do campo se forma pela meditação e reflexão. Tudo nele se reporta a Deus, à religião, à fé, à sua alma, ao seu futuro. Ao mesmo tempo em que amealha riquezas, se eleva e se enobrece com o seu trabalho, ele não desvia os seus passos da freqüência aos sacramentos e assim se prepara para o céu.
Não é nesse amontoado de prédios, de casarios, de favelas, que mais parecem ninhos de pombo – aliás, “campo fértil” para a proliferação das drogas, da promiscuidade, da limitação de filhos, da violência, da embriaguez, da ociosidade e da criminalidade – que o homem irá pensar em Deus e santificar-se.


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

As aves do céu e os homens na terra



                                                                              Pe. David Francisquini

Ao nos depararmos com a natureza criada, incontáveis perfeições e atributos se descortinam diante de nossos olhos, transportando-nos também do criado ao incriado, do limitado ao infinito, do terreno e passageiro à eternidade, do imperfeito ao perfeitíssimo Criador de todas as coisas.
Destinado a ocupar lugar ímpar na ordem visível das coisas, o homem deve refletir a Deus em tudo e, por isso mesmo, ele é considerado o rei da criação, pois é síntese das criaturas, com recursos de inteligência e de vontade suficientes para assimilar e colocar em prática todas as lições necessárias à sua existência.
Ao criar, Deus imprimiu nos seres o selo de sua existência e de suas virtudes de tal forma que a filosofia aristotélico-tomista parte do concreto e do visível para o abstrato e absoluto até chegar às idéias universais ¬ou princípios que devem pautar a vida do homem em seu peregrinar sobre a terra.
Na expectativa de deixar mais claro o alcance de tais leis universais, cito um exemplo ao alcance dos leitores, um ninho de passarinho. Não obstante ser ele construído de maneira instintiva e com material heterogêneo, seu ninho é uma pequena obra prima, com todas as condições para o aconchego e a multiplicação de cada espécie.
A variedade dos ninhos corresponde ao número das espécies de pássaros, o que nos torna fácil deduzir quem lhes ensinou a fazer tão requintada obra e, assim, eles colaboram com os planos divinos na criação. A construção de um ninho exige do passarinho dedicação e diligência.
Exemplo claro para o homem-rei da criação dotado de inteligência e vontade que, resoluto, colabora com os planos de Deus na criação ao enriquecer o universo com o seu engenho e arte. De passagem, lembro a existência de homens que não cooperam com a graça de Deus e, muitas vezes, obra contra ela, consciente e voluntariamente.
Enquanto os irracionais são gregários e se abrigam de maneira instintiva, o homem ao vencer a preguiça torna-se capaz de empreendimentos à procura de seu bem-estar e dos seus familiares, de façanhas e riscos, de descobertas, de obras de arte como a construção de verdadeiros palácios a indicar que são muito superiores aos lírios dos campos e das aves do céu.
Nessa perspectiva, a contemplação da criação divina deslumbra, nobilita e convida o homem a cooperar com Deus pelo fato de ele ter sido criado essencialmente religioso e ter sede de Deus. “Sede perfeito como vosso Pai Celestial é perfeito”, recomenda-nos o próprio Deus.
Com efeito, movido pelo espírito de perfeição imprimimos em tudo aquilo que fazemos de bom e de verdadeiro a elegância, a proeza, a apurada sensibilidade e senso psicológico para que tudo fique impregnado com proporção e harmonia.
Cada pessoa, cada família, cada povo - com as suas qualidades de alma desenvolvidas - representam faces das perfeições infinitas de Deus. No dizer do genial mestre do pensamento humano Santo Agostinho, basta ao homem obedecer aos Dez Mandamentos que o conjunto da sociedade andará em harmonia e progresso.
Se a civilização no conjunto de seus aperfeiçoamentos e edificações, como nas indumentárias, nos hábitos e costumes nos leva a amar a Deus, sem dúvida, o amor a Ele é o único meio de levar o homem ao ápice de si mesmo.
Contudo, se assim não proceder, o homem sistematicamente desobedecerá as Leis de Deus e da Igreja, tornar-se-á capaz das piores torpezas e horrores, degradando-se assim até o ponto de ter sede do absurdo e do pecado. E com o coração cheio de ódio trabalhará como fiel escravo do demônio para fazer da Terra o lugar mais parecido possível com o Inferno.
É o que pretendemos mostrar em ocasião oportuna. Até lá.