*Pe. David Francisquini
Dotada por Deus de qualidades, pendores e apetências, a natureza humana
possui uma perfeição naturalmente ordenada e tendente a um fim supremo,
absoluto e eterno.
Tomemos uma criança. Ela nasce constituída de corpo e alma, com ideias,
desejos e sensibilidade. Que formação ela deve receber para a educação de seu
caráter e de sua personalidade?
Apesar de o Batismo apagar a nódoa do pecado original, não elimina contudo
as más tendências com que toda criança nasce, tendências estas que a
acompanharão até o seu último suspiro: Militia est vita hominis super
terram", isto é, a vida do homem sobre a terra é uma luta (Jó, 7, 1).
De onde a necessidade imprescindível de toda criança ser educada
sobretudo pelos pais, dever ao qual eles nunca deveriam furtar-se.
Analisando-se uma criança, vê-se que sua principal tendência está
voltada para Deus, que ao criá-la dotou-a com o senso do “ser”, o qual a faz
confusamente sentir que, embora única, ela não se encontra sozinha no universo,
onde existem outros seres que lhe são semelhantes, a começar pelos pais.
Portanto, se ela e todas as coisas existem, haverá um ente dotado de
perfeições infinitas – Deus – que é a razão de sua existência e de cuja glória
participam todos os seres criados.
Mesmo sem fazer esses silogismos, a criança possui uma ideia de Deus,
porque todo ser tem unidade, bondade, beleza e verdade.
Se Deus assim criou os homens, o que faria o inimigo de Deus – o demônio
e seus
sequazes – para truncar os planos divinos? Procurará circundá-los de
contradições, incertezas, instabilidades, egoísmos, ideias de fruição. E na
criança, sem jogo de palavras, procurará trincar o cristal límpido da inocência
primaveril, através do qual ela contempla e ama a Deus nas coisas boas,
verdadeiras e belas.
Procurará ainda colocar no seu próprio ser, no íntimo que a governa, com
vistas a impedi-la de atingir o fim para o qual foi criada, a aflição, a
torcida, os caprichos, as intemperanças, enfim a desordem. Para quê? Para que
ela renegue a sabedoria divina fechando sua alma para a contemplação; para que
não possa admirar, por exemplo, a beleza de uma planta, de um pássaro, de um
rio cristalino, de um magnífico pôr do sol, e de relacionar isto com a outra
vida que é eterna.
A criança quando chora é porque sente falta de algo; quando ri é porque
está feliz, seja pela presença da mãe, seja pelo carinho do pai ou pela
aproximação de seus irmãozinhos. Assim ela se desenvolve em todo o seu processo
humano, tal como se observa numa semente que desabrocha, cresce, produz flores
e frutos. Essa maturação se dá no sadio, reto e virtuoso processo humano de uma
criança.
Mas ai daquele que escandalizá-la! Melhor lhe fora que se lhe pendurasse
ao pescoço uma pedra de moinho, e se submergisse nas profundezas do mar.
O que me motiva escrever estas linhas é a minha indignação diante da
escandalosa quantidade de livrinhos da rede pública de ensino para a
(de)formação das crianças brasileiras, desde o maternal, passando pelo jardim
de infância e continuando mais além, estimulando-as à fruição de sensações, de
experiências desconhecidas do mundo infantil, numa palavra, habituando-as desde
a mais tenra idade ao mundo da prostituição, ao mundo todo posto no pecado,
conforme ensinou Nosso Senhor.
Seria este um conúbio espúrio do demônio com o governo do PT para
implodir a família enquanto instituição, não permitindo que os pais eduquem
seus filhos no caminho do bem, do verdadeiro e do belo, mas obrigando-os, pelo
contrário, a fazê-los percorrer um caminho inverso ao desejado pelo Divino
Salvador quando disse “deixai vir a Mim as criancinhas, porque delas é o Reino
dos Céus”? E, em outra ocasião, “ai daquele que escandalizar um destes
pequeninos”?