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segunda-feira, 8 de junho de 2015

Nobreza da graça e nobreza de sangue


Pe. David Francisquini

No Calvário, bem junto à Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, achava-se reunida não apenas a nobreza da graça, mas também a mais requintada nobreza de sangue. Maria Cleofas e São João, o discípulo amado, eram primos de Nosso Senhor. Maria Santíssima, pertencente à estirpe de David, era a mãe do Homem-Deus, o Redentor do mundo, até então escravizado pelo pecado e jazendo na mais completa pobreza espiritual.
Dentre os muitos atributos dos demagogos e populistas de nossos dias, talvez um dos mais salientes seja a pretensa ajuda às classes pobres em nome de princípios igualitários e revolucionários. A respeito desses demagogos, podemos repetir o dito segundo o qual “eles amam tanto os pobres, que os multiplicam quando chegam ao poder”. Na verdade, só se ama o próximo quando se ama a Deus! Demagogia e amor de Deus se excluem. Afinal, que gesto pode ser comparado ao do Homem-Deus e de todas as almas nobres que se aglutinavam naquela hora trágica da redenção do gênero humano?
Não há nada que engrandeça e eleve mais nesta terra de exílio do que a nobreza hereditária quando ela ama e teme a Deus. Jesus Cristo nasce de uma virgem da linhagem de reis e é chamado de filho de David, para ensinar a importância e a grandeza das elites junto aos desamparados e aos pobres de espírito. Maria Cleofas era prima de Nossa Senhora, grau muito próximo de parentesco que a distingue com a mais qualificada nobreza que jamais houve no mundo, não propriamente pelo fato de descender de David e de reis de Israel, mas por afinidade com o sangue do Redentor divino.
Cumpre ressaltar que a nobreza desse parentesco com o Homem-Deus era dobrada segundo o Pe. Antônio Vieira, pois Jesus Cristo não tendo pai na terra, sua linhagem provinha de sua Mãe. A nobreza de Maria Cleofas está acima de qualquer nobreza por parentesco com a Mãe de Jesus e com o Homem-Deus. Se o Evangelho ressalta a presença dela junto à Cruz, é para distinguir a sua nobreza de sangue e espiritual.
Quando um nobre é inteiramente católico e consciente de seus altos e grandiosos deveres, seus feitos – contrariamente a qualquer demagogo – enobrecem toda uma nação. O calvário foi por excelência um ato de heroísmo de valor incomparável para todas as classes sociais. Não entende o papel do nobre, a não ser contemplando o Homem-Deus, a sua Santa Mãe, Maria Cleofas, e São João Evangelista aos pés da Cruz.
Se houvesse reino em Israel, Maria teria sido a sua rainha e Jesus Cristo o seu rei. Nessa cena todos contemplam um rei e uma rainha conquistando a Terra para Deus. A redenção possibilitou aos homens trilhar as vias do bem, atingir um apogeu de civilização que foi a Idade Média, sobre a qual Leão XIII proclamou que naquele tempo a filosofia do Evangelho governava os povos. O requinte, as boas maneiras, a elevação, a distinção, o respeito, a dedicação, o zelo, o heroísmo foram os resultados dessa epopeia do Homem-Deus. Da cruz germina o espírito de cruzado e a militância. Desabrocham e desenvolvem a epopeia, o heroísmo e o desvelo  dos cruzados na defesa da Terra Santa.  
São João fala de Maria Cleofas como prima de Nossa Senhora, mas não menciona o parentesco dela com Nosso Senhor, para nos dar a entender quanto o Homem-Deus preza a graça, seja nobre ou plebeu, pois ela nos torna participantes da vida divina. 
Também aos pés da Cruz se encontrava Maria Madalena, a penitente. Ela se elevou da escravidão do pecado, da pobreza de alma, à vida divina pela penitência, pois sendo Nosso Senhor a luz verdadeira, ilumina todos os homens que vêm a este mundo.  "Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu e os seus não o receberam. Deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus a todos os que O receberam, esses que creem em seu nome e não nasceram do sangue, nem do desejo da carne, nem da vontade do homem, mas nasceram de Deus."
Deus, eterno e de natureza puramente espiritual, criou todos os seres e coisas para a sua glória e reverência. Na sua infinita sabedoria e ciência, criou primeiro os anjos e o reino material, e depois o homem com alma e corpo. Os anjos são puros espíritos dotados de inteligência e vontade, elevados à glória e à contemplação divina pela graça. Contrariamente aos homens, eles são incapazes de hesitar. Por isso a punição dos que se revoltaram foi irreversível.  Os homens, contudo, não tiveram pela infinita bondade de Deus a mesma sorte, tendo o Criador lhes enviado seu Filho para restaurar a honra divina ultrajada pelo pecado de nossos primeiros pais e abrir-lhes as portas do céu, dando a todos os meios de salvação.
Ao morrer na Cruz, Nosso Senhor Jesus Cristo tornou-se instrumento de salvação. Sendo Deus, quis nascer somente de uma virgem por obra do Espírito Santo. Como veio por meio d’Ela, quis tê-La bem perto de Si junto à Cruz, para partilhar com Ele a sua Paixão e Morte, e torná-La, assim, nossa Mãe a partir do momento em que A recomendou a São João Evangelista. A Nossa Senhora é atribuído o privilégio de corredentora do gênero humano.

É por isso que o melhor caminho para se chegar a Jesus Cristo é através da devoção a Maria, cuja intercessão nos alcança todas as graças de Deus. Confiantes, fixemos os nossos olhos no Coração Imaculado de Maria, pois é nele que se encontram a esperança e a certeza do triunfo do bem neste mundo tão conturbado pela pobreza de espírito.

sábado, 23 de maio de 2015

A Senhora da Graça


Pe. David Francisquini                               


Anunciação Fra Fillipo Lippi 1406-1469


Na linguagem da Igreja tradicional, Maio significa mês de Maria, a medianeira de todas as graças entre Deus e os homens, Aquela a quem o embaixador celeste São Gabriel anunciou que seria a Mãe do Messias, o esperado das nações. Cheio de reverência, o Anjo A saudou: “Deus te salve, cheia de graça; o Senhor é contigo”.

Concebida sem pecado original, sem nódoa alguma que A maculasse, Maria foi o instrumento escolhido por Deus para comunicar aos degradados filhos de Eva a maior de todas as graças: “E o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós”. Este foi sem dúvida o meio mais conveniente e sublime excogitado pelo Criador para que seu Unigênito viesse à Terra.

E ante a surpresa da Virgem, o Anjo prosseguiu: “Não temas Maria, pois achaste graça diante de Deus; eis que conceberás no teu ventre e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Esse será grande, será chamado filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono do seu pai David, reinará na Casa de Jacó, eternamente, e seu reino não terá fim.”

São Gabriel disse ainda à Virgem que o Espírito Santo A cobriria com sua sombra, pois quem d’Ela nasceria seria chamado Filho de Deus. Maria se tornou assim Filha de Deus Pai,  Mãe de Deus Filho e Esposa do Espírito Santo.

Se a concepção do Filho de Deus representou um oceano incomensurável de graças, nem por isso Nossa Senhora deixou de receber e cooperar com novas graças. À guisa de ilustração, no Cântico dos Cânticos, a Escritura indaga: “Quem é esta que surge como a aurora, formosa como a lua, brilhante como o sol, terrível como um exército em ordem de batalha?”.

            Não obstante todas essas graças inigualáveis, o auge da missão de Maria se deu ao pé da Cruz, quando se tornou corredentora do gênero humano por consentir que seu Divino Filho morresse para a nossa salvação. Foi também ali que Nosso Senhor no-la deu, ao constituí-la mãe de São João Evangelista.

Se Eva nos transmitiu o maior dos males ao comer o fruto proibido, Maria, a nova Eva, nos fez o maior dos bens ao ser inteiramente fiel aos desígnios de Deus, contemplando e assentindo que o seu Filho expiasse os pecados do mundo para nos abrir as portas dos céus. Eis aí a grande estatura e envergadura de alma de Nossa Senhora.

Falando sobre a graça e a glória, o Pe. Antonio Vieira nos ensina que o mesmo Deus que nos apontou na graça a misericórdia, nos mostrará na glória a sua verdade ao nos agraciar com a coroa de que Se fez devedor.

Como Mãe e medianeira dos homens por vontade divina, Maria nunca deixa de atender seus filhos em todas as suas necessidades. Eis como A enaltece o Pe. Vieira:

“Perguntai aos enfermos para que nasce esta celestial menina, dir-vos-ão que nasce para a Senhora da Saúde; perguntai aos pobres, dirão que nasce para a Senhora dos Remédios; perguntai aos desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo; perguntai aos desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação; perguntai aos tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres; perguntai aos desesperados, dirão que nasce para Senhora da Esperança.

“Os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz, os discordes, para Senhora da Paz, os desencaminhados, para Senhora da Guia, os cativos, para Senhora do Livramento, os cercados, para Senhora do Socorro, os quase vencidos, para Senhora da Vitória.

“Dirão os pleiteantes, que nasce para Senhora do Bom Despacho, os Navegantes, para Senhora da Boa Viagem, os temerosos da sua fortuna, para Senhora do Bom Sucesso, os desconfiados da vida, para Senhora da Boa Morte, os pecadores todos, para Senhora da Graça, e todos os seus devotos, para Senhora da Glória.

“E se todas essas vozes se unirem em uma só voz, todas essas perguntas em uma só pergunta, e todas as respostas em uma só resposta, ou, mais abreviadamente, todos esses nomes em um só nome, dirão que nasce Maria para ser Maria, e para ser a Mãe de Jesus: Maria de qua natus est Jesus.”

terça-feira, 28 de abril de 2015

“Como é frequente esta cena!”


    Na sua infinita sabedoria, Nosso Senhor utiliza a parábola da vinha pertencente a um bom e honesto pai de família que a havia arrendado para alguns vinhateiros que se revelaram maus. De tempos em tempos ele enviava um de seus servos para receber o valor combinado do aluguel da propriedade. Mas seu representante era sempre escorraçado, apedrejado e morto pelos vis cultivadores, um tanto parecidos com os militantes do MST no Brasil de hoje.
    Acabrunhado com o que vinha acontecendo, ele resolveu enviar o seu próprio filho, na esperança de que fosse respeitado e recebesse a importância a que tinha direito por justiça. Mas em vão. Sabendo-o herdeiro da vinha, os lavradores o caluniaram, mataram-no e o lançaram fora da propriedade. Note o leitor que esta parábola o Divino Mestre a dirigiu aos sumos sacerdotes e aos fariseus no Templo, na semana que antecedeu a Sua crucifixão e morte.
    Os sacerdotes do Sinédrio – os maus lavradores – entenderam perfeitamente a parábola. O povo de Israel era a vinha mal administrada por eles... A grandeza da missão de cuidar desta vinha se vinculava ao fato de o pai de família a ter plantado, cercado de sebes, construído nela um lagar e edificado uma torre. Palavras candentes foram ditas por Jesus a respeito desta vinha predileta:
    “Jerusalém, Jerusalém, que mata os profetas e apedreja os que lhe foram enviados! Quantas vezes Eu quis reunir os seus filhos como a galinha reúne os seus pintainhos debaixo das suas asas, mas vós o rejeitastes! Eis que a vossa Casa ficará deserta. Eu vos digo que vós não me vereis mais até que digais: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor! ’” (Lc, 13, 34).
    Este pai de família do qual Jesus fala na parábola é Deus Pai, que trata o homem como filho. A vinha é a casa de Israel; a sebe que rodeava a vinha eram os anjos que a guardavam; a lei era representada pelo lagar; a torre simbolizava o Templo e os lavradores maus, os sacerdotes da época. Porque São Lucas nos ensina que é necessário cumprir em relação a Nosso Senhor tudo o que está na Lei, nos profetas e nos salmos.
    Com esta parábola Jesus quis ensinar aos sumos sacerdotes que por causa de suas infidelidades a vinha lhes seria tirada e oferecida a outros vinhateiros, que a fariam frutificar em tempo oportuno, pois no Antigo Testamento a vinha do Senhor era representada pela Igreja mosaica.
    A partir da Paixão e morte de Nosso Senhor, Ele fundou uma nova igreja, a verdadeira vinha, e A entregou aos apóstolos. A Igreja Católica se plasmou e percorreu os séculos por toda a face da terra. Em outra ocasião, Cristo confirma que por meio do batismo todos os Seus seguidores farão parte desta Igreja por Ele fundada.
    Ao dar a vinha a outros vinhateiros esparsos por toda a Terra, sentando-se à mesa com Abraão, Isaac e Jacob no reino de Deus, fica assim confirmada a verdade pregada por um dos profetas de que a pedra antes rejeitada tornou-se a pedra angular, coisa maravilhosa a nossos olhos.
    Nosso Senhor tornou-se a pedra angular, a cabeça do Corpo Místico que é a Igreja, pois sendo crucificado e morto por aqueles que O rejeitaram, dirigiu-se aos gentios, e juntos constituíram esta pedra angular. Dois povos, os da raça de Jesus e os da gentilidade, se tornaram uma só cidade fiel e um só templo.

    A pedra rejeitada pelos doutores da lei antiga e toda a cúpula judaica passou a ser a cabeça da Igreja, pedra angular da ogiva que une judeus e gentios. Eis o mandamento admirável: “Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. O que crê e for batizado será salvo; o que porém, não crê, será condenado”.
    A Igreja assim edificada passou a confirmar a sua doutrina por meio de milagres que acompanham os que creem: “Expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas, manusearão as serpentes, e se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará mal; imporão as mãos sobre os enfermos e serão curados.” (Mc. 16,15-18). A Igreja instituída por Jesus Cristo é divinamente santa, ainda que hoje seja difícil ver a Sua santidade em seu componente humano, pois o sal deixou de salgar.
    Encerro com um pequeno exame de consciência, que extraio de alguns trechos da Via Sacra escrita por Plinio Corrêa de Oliveira em abril de 1941 para o jornal “O Legionário”:
“No caminho de nossa vida, vemos a Igreja que passa perseguida, açoitada, caluniada, odiada, e, ó meu Deus, por vezes até traída por muitos que se dizem filhos da luz só para melhor poderem propagar as trevas. Vemos isto. Na aparência a Igreja está fraca, vacilante, agonizante talvez. Na realidade, Ela é divinamente forte, como Jesus. Mas nós só vemos a fraqueza com os olhos da carne.
    “E somos tão míopes com os olhos da fé, que discernimos a custo a invencível força divina que a conservará sempre e sempre. A Igreja vai ser derrotada. Vai morrer. Eu, pôr ao serviço dessa perseguida, dessa caluniada, dessa derrotada, a exuberância de minhas forças, de minha mocidade, de meu entusiasmo? Nunca! Distanciemo-nos.
    “Não somos Cireneus. Cuidemos só e só de nossos interesses. Seremos advogados prósperos, comerciantes ricos, engenheiros bem colocados, médicos de boa clientela, jornalistas ilustres ou prestigiosos professores. E só no dia do Juízo é que compreenderemos o que perdemos quando a Santa Igreja passou por nosso caminho, e nós não a ajudamos!”
     E o ardoroso líder católico apontava o caminho: “Apostolado! Apostolado saturado de oração, impregnado de sacrifício. É este o meio pelo qual devemos ser Cireneus da Santa Igreja.”

sábado, 11 de abril de 2015

O vencedor da morte
Pe. David Francisquini

Tal é o temor dos inimigos de Nosso Senhor que, mesmo depois de Lhe infligir morte de cruz, arrancaram de Pilatos autorização para que o Seu sepulcro fosse selado e vigiado por guardas. Mas o ódio deles era perfeito. Não se contentaram com aquilo. Era preciso difamar, acusar o Inocente de sedutor; acusar os seus discípulos de embusteiros, capazes até de violar o sepulcro e roubarem o corpo do Senhor. Com efeito, a situação de todos aqueles que tramaram a Sua morte ficaria pior do que antes caso Cristo ressuscitasse.
Além de matar o Divino Salvador, era preciso conspurcar a sua honra. Quanto aos discípulos, tímidos e medrosos, jamais fariam por si mesmos aquilo que os inimigos lhes atribuíam. Eles, os algozes, conheciam os milagres de Nosso Senhor, inclusive a ressurreição de Lázaro. Conheciam a Sua vida exemplar, constante censura para eles. Jesus Cristo era a própria vida! Caso Ele ressuscitasse, pairaria sobre os criminosos uma séria ameaça. Seria o fim de uma vida fácil e despreocupada advinda do prestígio do mando.
Deus Pai, depois de criar o Céu e a Terra, criou numa sexta-feira o homem à Sua imagem e semelhança, e no sábado descansou. Cristo, por sua vez, morre numa sexta-feira e descansa tranquilo o sono dos justos no repouso do sepulcro. Como o profeta Jonas, que fica três dias e três noites no ventre da baleia, Cristo enquanto homem fica no seio da terra. Não há como contestar!
Posto que a nação judaica O rejeitara por infidelidade e incredulidade, os discípulos de Jesus tomaram o Antigo e o Novo Testamento e estabeleceram a Igreja Católica Apostólica Romana, fundada por Ele com as palavras: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Ela frutificou entre os povos pagãos, sobretudo pela ação dos apóstolos, ao levar-lhes a boa-nova de Cristo ressuscitado para que pudessem crer. Assim nasceu e foi moldada a civilização cristã.
Ao imaginar a Ressurreição de Cristo, aqueles que tramaram a Sua morte temeram, pois sua situação ficaria muito pior do que antes... Ao reconhecerem a verdade da Ressurreição pela boca dos guardas, desprezaram o arrependimento e a contrição do crime, e não fizeram penitência.
São Mateus, em sua narração evangélica, afirma que alguns guardas foram até à cidade dar a notícia da Ressurreição. Apenas tomaram conhecimento dela, os príncipes dos sacerdotes se reuniram e deliberaram subornar com grande soma de dinheiro aqueles guardas, para que dissessem que enquanto dormiam os discípulos roubaram o corpo do Senhor...
Foi por meio do dinheiro que os inimigos de Jesus manifestaram a sua ignomínia comprando Judas, o infame que entregou Jesus à morte. Foi também pelo dinheiro que os guardas se venderam para satisfazer os seus interesses mesquinhos e escusos. Tratava-se de dinheiro sagrado do Templo, mas os príncipes dos sacerdotes não tiveram escrúpulos ao desviar grande soma dele para propalar a mentira e negar a Ressurreição.
Não se contentaram, diz São Severo, em matar o Mestre, mas procuraram um meio de perder os discípulos, fazendo-os passar por criminosos diante do poder estabelecido. É incontestável que os soldados se deixaram corromper; os judeus haviam perdido a sua vítima e os discípulos recobrado o seu Mestre, não através do furto, mas pela fé; não pelo engano, senão pela virtude; não pelo crime, senão pela santidade; não morto, senão vivo.
Em sua maldade, a cúpula judaica acabou por fazer brilhar ainda com mais esplendor a grandeza do mistério que a Igreja comemora, pois o dinheiro para silenciar a Ressurreição de Cristo ressaltou a verdade. O verdadeiro Cordeiro Pascal imolado Se levanta glorioso e triunfante do sepulcro como vencedor da morte, do demônio, do mundo e da carne, para brilhar como um sol que espanca as trevas que cobrem o mundo e assentar sobre os escombros deste uma nova civilização marcada pela cruz.

Cristo ressuscitado, ao sair vitorioso do sepulcro, nos dá a esperança de uma nova civilização que raiará sobre o mundo descomposto em que vivemos. Os que permanecerem inabaláveis nos princípios perenes, unidos à Maria Santíssima, não terão o que temer, pois contam com a promessa de que as portas do inferno não prevalecerão.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

A maior tragédia da História 

Pe. David Francisquini

Não conseguindo incriminar Jesus, os sacerdotes contaram com a figura sinistra de Judas Iscariotes, um dos doze apóstolos, que nutria a pior das intenções em relação ao Mestre”
Sem temer a Deus e cometendo o maior crime de todos os tempos, a única preocupação dos príncipes dos sacerdotes ao se aproximar a Páscoa era de condenar Jesus Cristo à morte de Cruz. E procuravam afanosamente um meio para fazê-lo, cuidando para que o povo não soubesse de seus desígnios, pelo receio de uma sublevação.
Com os olhos postos apenas no campo temporal e político, a inveja dos sacerdotes lhes carcomia o coração. Procuravam uma justificativa para o crime como meio de aliviar suas consciências ímpias, agitadas pelo ódio diante dos grandes milagres de Jesus e da correspondente manifestação de afeto que o povo Lhe votava.
A ressurreição de Lázaro os deixou ainda mais perturbados, pois tendo Jesus encontrado seu amigo jazendo havia quatro dias na sepultura, ergue Sua voz de poder infinito e ordena a Lázaro que venha para fora. Compreende-se com facilidade a multidão que acorreu às ruas no Domingo de Ramos para aclamá-Lo filho de David, portanto, Rei.
Não conseguindo incriminar Jesus, os sacerdotes contaram com a figura sinistra de Judas Iscariotes, um dos doze apóstolos, que nutria a pior das intenções em relação ao Mestre. Ficou acertado de parte a parte que Judas receberia trinta dinheiros como paga de seu ofício sacrílego. As portas se abriram para que se consumasse a traição.
Judas abriu então seu coração a satanás. Com efeito, o Evangelho afirma que o demônio apossou-se dele por causa de sua ganância, insensibilidade e cobiça. Havia muito que Judas se voltara tão-só para a satisfação de seus próprios interesses e caprichos, pois sonhava em ocupar alta posição no Reino do Divino Mestre.
Nele não havia admiração ou enlevo pelo Divino Mestre, que conduziria ao desapego e à dedicação, mas seu arraigado desamor fazia com que tudo aquilo que era lançado na bolsa para o bem comum de todos, ele apropriava para si. Muitos ficavam perplexos diante da brutalidade de Judas, não entendendo por que Jesus o tolerava entre os seus escolhidos. Sendo Deus, como poderia ter escolhido um homem tão vil para evangelizar a Terra?
Isso não quer dizer que Judas, o traidor infame, tenha se corrompido de uma hora para outra. Ao entrar no Colégio Apostólico, ele certamente teve verdadeira admiração pelo Divino Mestre. Mas à medida que se deixava aliciar pela avareza foi paulatinamente se distanciando, até perpetrar a traição mais abjeta da História.
 Percebendo a decadência de Judas e sabendo que ele era o homem previsto pelos profetas para consumar a sua traição, Jesus fez de tudo para dissuadi-lo. E São João narra que Iscariotes, ao receber um pedaço de pão molhado no vinho, sinal de distinção e apreço, renunciou esta última graça, e satanás entrara em seu coração.
Segundo Santo Agostinho, ao tolerar Judas no Colégio Apostólico, Jesus quis ensinar às gerações futuras que poderia haver bispos e hierarcas que incorreriam em deslizes, maus exemplos e mesmo em heresias, facilitando assim ao povo fiel a compreensão das tramas que se dariam no seio da Igreja.
Assim, vislumbramos as traições perpetradas por heresiarcas dentro das fileiras católicas ao longo dos séculos. Judas, escolhido pelo próprio Nosso Senhor, aliou-se aos inimigos e decidiu liquidar com Aquele que veio à Terra fazer o bem. É triste recordar essa verdade, na mesma noite em que Cristo quis permanecer entre nós pela Eucaristia.
A palavra de Nosso Senhor ecoou entre os apóstolos... “Ai daquele por quem o Filho
do homem será entregue; melhor fora que não tivesse nascido”. Sua profecia deixou a todos desconcertados. Mas, ao mesmo tempo, Ele nunca deixava de lhes fazer sentir sua grande bondade e poder para tirar as almas pecadoras do vício e do mal.
Ao proferir essas palavras relativas a Judas, Cristo nos faz compreender a malícia do traidor, que não se dissuadiu e consumou a sua perfídia. Mesmo participando do mais elevado mistério daquela noite, a Eucaristia, ele não se converteu, tornando-se sua culpa por isso ainda maior, pois se aproximou da Sagrada Mesa com o intuito de entregar Jesus aos seus algozes.
Nosso Senhor não declinou o nome de Iscariotes para que este não ficasse espiritualmente ainda pior. Apenas assinalou o crime e o castigo ao qual incorreria quem o praticasse, para que a ameaça levasse Judas a afastar-se de sua má conduta.
Osculando-o no Jardim das Oliveiras, Jesus o trata como amigo: “Amigo, a quê vieste? Com um ósculo trais o Filho do homem?”. Jesus o disse com tanta bondade e censura, que era para Judas ter-se ajoelhado diante d’Ele e pedido perdão. No entanto, permaneceu insensível em relação à ferocidade do crime que acabava de cometer.

Apanhou o dinheiro das mãos dos inimigos em paga de sua traição... e foi se enforcar.