Postagem em destaque
Peçamos a coragem de dizer “não” Pe. David Francisquini Pilatos, o governador romano que cometeu o crime mais monstruoso de toda a His...
Postagens mais visitadas
-
O homem do campo Pe. David Francisquini Como de costume, este ano já percorri a região rural de meu município no pastoreio das almas ...
-
Lei da homofobia no reino dos bichos (I) Pe. David Francisquini Depois de contemplar as variedades quase sem fim das perfeições ex...
-
O anjo da guarda, nosso melhor amigo (II) Pe. David Francisquini* Hoje retorno à matéria sobre o Anjo da Guarda, que Deus criou para...
-
Sagacidade e força Na sua infinita sabedoria, Deus dotou a natureza com admirável perfeição: os mais fracos servem aos mais fortes e os ...
sábado, 25 de fevereiro de 2017
quinta-feira, 12 de janeiro de 2017
Por que tanta vontade de trucidar
criancinhas?
Padre
David Francisquini
Às vésperas do Natal, a partir do caso
específico de suspensão da prisão preventiva de pessoas que trabalhavam numa
clínica clandestina de aborto no Rio de Janeiro, o Supremo Tribunal Federal
acabou por liberar a sua prática até os três meses de gestação, fato que vem
provocando acirrada polêmica no país.
Abortar
constitui crime não apenas para um católico, mas para todos os homens, em todos
os tempos e lugares, como decorrência da lei natural, pois ninguém tem o
direito de praticá-lo simplesmente pelo fato de formar opinião individual de
que o mesmo não importa em crime.
Com efeito, os princípios da lei
natural inscritos nos corações de todos os homens são acessíveis à razão e se
impõem a todos, independentemente de suas crenças – ou descrenças – religiosas,
mesmo que eles ocupem situação de preeminência na vida social, política ou
mesmo no Judiciário.
Vimos verificando que o Estado
brasileiro, apesar de se dizer laico ou neutro, acaba por impor sua ideologia
pela introdução de leis ao gosto de minorias que postulam uma vida social e
pública desvinculada de qualquer fator religioso, contrariando, aliás, o
direito natural e divino.
Trata-se de um confessionalismo
ideológico agnóstico e laico, de um estranho estado de direito democrático e
pluralista, no qual, na prática, apenas os ditos incrédulos modelam e impõem as
leis a seu talante. Nesse sentido, foi significativa a decisão da nossa Suprema
Corte sobre o aborto, na calada da noite.
No exato momento em que, desdenhando as
cinzas do sanguinário ditador Fidel Castro, cultuadas em Cuba por dois
ex-presidentes petistas, o Brasil enlutado pranteava a tragédia ocorrida com o
time da Chapecoense, algo de muito mais trágico acontecia entre as quatro
paredes do STF: a descriminalização do aborto até o terceiro mês de gestação,
condenando, ipso facto, milhões de brasileiros indefesos à morte atroz.
Quando os egrégios ministros do
STF deveriam estar voltados contra a corrupção que se alastrou em todos os
campos da sociedade brasileira, sobretudo no meio político, sua preocupação era
paradoxalmente de autorizar o crime contra os inocentes.
Apenas para recordar, o caso ocorrido
na clínica clandestina carioca foi parar no STF, onde o Ministro Marco Aurélio
Melo votou pela liberdade dos funcionários por entender que não cabia prisão
preventiva. Contudo, o Ministro Luís Roberto Barroso apresentou um voto
ampliado, descriminalizando, na prática, o aborto.
Recordemos ainda que, antes de se
tornar Ministro do STF, o Dr. Luís Roberto Barroso, quando ainda advogava, impetrou
ação que passou a vigorar contra os anencefálicos, pondo assim a guilhotina
para funcionar contra as crianças portadoras de deficiências, alegando
tratar-se de duro fardo para as mães de filhos especiais.
É a primeira vez na História do Brasil
que o aborto amplo e irrestrito passa a vigorar juntamente com o aborto
decorrente de estupros. Elevado à condição de ministro do STF, o Dr. Barroso,
do alto de seu “notável saber jurídico e reputação ilibada”, passou a
trabalhar à revelia das disposições constitucionais, que garantem a
inviolabilidade do direito à vida, ao favorecer a causa do aborto.
Os seus argumentos são lastreados nos
jargões mais surrados dos defensores do aborto um pouco por todo o mundo, ou
seja, que sua criminalização é incompatível com os direitos fundamentais da
mulher, entre eles os sexuais e reprodutivos, bem como de sua autonomia e
integridade física e psíquica, além dos da igualdade.
Ao alegar os direitos sexuais e
reprodutivos da mulher, com frequência se menciona, como uma palavra de ordem,
seu suposto direito ao aborto. Isso tem como base o pressuposto hedonista,
segundo o qual a vida sexual seria destinada ao prazer das partes, e não
relacionada com a vida em família e a procriação da prole.
O Sr. Ministro, ao alegar ainda que só
a mulher engravida, acaba por minimizar o direito fundamental de todo ser
humano, direito inalienável decorrente de sua própria constituição enquanto ser
racional e volitivo, ontológico e com direito à vida. Isso faz parte da própria
sanidade mental e moral do indivíduo.
Do ato entre um homem e uma mulher é
gerado um novo ser, que deve ser respeitado e garantido pela própria
Constituição e pelo Supremo Tribunal, e não simplesmente eliminado. Todos os
tratadistas de filosofia aristotélico-tomista defendem o direito à vida como
direito fundamental do próprio ser racional.
Por exemplo, como se explica tanto
alarde contra quem ‘assassina’ uma capivara ou uma sucuri, crime qualificado
como inafiançável, enquanto libera de toda responsabilidade quem pratica um
aborto em nome do ‘direito’ da mulher de decidir sobre a manutenção de sua
gravidez, porque somente ela pode conceber?
Por que tanta vontade de trucidar
criancinhas? Será que, data venia, o Sr. Ministro está a
serviço de minorias ideologizadas, que recorrem à Justiça para mudar leis e
costumes nos moldes da ativista colombiana Mónica Roia, visando um impacto
sentimental para mover a opinião pública?
Parece ter sido este o ponto de
convergência entre os ministros, que a Suprema Corte acolheu. Nada disso é novo, pois esta cantilena foi denunciada há muito no meu livro Catecismo
contra o aborto (Capítulo VII – Aborto, Saúde Pública e Estado Leigo –
p. 37, Artpress, 2009).
Que os parlamentares abram os olhos
para o delineamento de um ativismo ditatorial do Judiciário em prol do aborto,
se não quiserem perder a prerrogativa de legisladores. Na realidade, estamos
assistindo à maior debilitação do vínculo familiar, com a consequente
destruição da família conforme Jesus Cristo a instituiu.
Cumpre, portanto, fazer valer o direito
da Santa Igreja de ser ouvida. Direito que não está vinculado a maioria alguma,
mas à suma autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que também foi Mestre,
independentemente de as multidões O aclamarem.
sábado, 24 de dezembro de 2016
Natal e as saudades da inocência
Pe. David Francisquini
Na
noite do Santo Natal a alma cristã fica como que envolta numa luz especial, pálido
reflexo da Luz incriada que Se tornou homem e passou a habitar entre nós.
Aquele que é Todo-Poderoso se faz pequenino, frágil, débil, uma criança que
cativa os corações por sua inocência, doçura e afabilidade.
Na
sua infinita sabedoria, nosso Redentor quis proceder assim para ter ‘certa’
proporção conosco. Daí a natureza encantadora das noites em que celebramos o
seu nascimento. A representação singela da gruta armada dentro de uma igreja ou
de um lar atrai a atenção de todos pelo seu ambiente acolhedor, por sua
atmosfera deliciosa de ser sentida, própria a um Deus que se fez criança para
nos elevar à dignidade de filhos d’Ele.
As
melodias natalinas se assemelham a reverberações celestes que pervadem nossas
almas com doçura e amenidade angélicas. É o Céu que habita a Terra e nos
nobilita, na medida em que nos deixamos enlevar pelos seus encantos. De onde o Natal
ser a verdadeira festa do Menino Jesus. Quem, por exemplo, não se encanta ao
ouvir a canção Noite Feliz? Quem não se extasia ao ouvir as notas harmoniosas
do Gloria in Excelsis Deo, entoada
pelos anjos nos campos de Belém, aos pastores ignotos naqueles campos,
pastoreando as suas ovelhas?
Nesses
momentos, quem não sente saudades de sua infância inocente? Daquela infância
evocada por Cassimiro de Abreu em seus versos, com cuja lembrança nós retroagimos
no tempo e nos sentimos crianças; que nos faz deixar por alguns momentos de ser
nocentes, isto é, nocivos,
prejudiciais, daninhos, para tornarmo-nos inocentes.
O
Natal de Jesus Cristo veio trazer o fogo à Terra para incendiar os nossos corações.
Assim exclama Santo Afonso de Ligório:
"Vim trazer o fogo à Terra,
disse Jesus Cristo, e o trouxe de fato. Antes da vinda do Messias, quem amava
Deus sobre a terra? Ele era apenas conhecido em uma pequena região do mundo,
isto é, na Judeia; e mesmo lá, quão poucos eram os que O amavam no tempo de Sua
vinda!”
Segundo o mesmo bispo e doutor da Igreja, “no resto da terra, uns adoravam o sol,
outros, os animais, outros ainda as pedras ou criaturas ainda mais vis. Mas,
depois da vinda de Jesus Cristo o nome de Deus se difundiu por toda parte e foi
amado por muitos. Desde então os corações se abrasaram nas chamas do divino
amor, o Deus foi mais amado em poucos anos do que nos quatro mil anos que
decorreram depois da criação”.
Muitos
cristãos costumam preparar em suas casas um presépio para representar o Natal de
Jesus Cristo. Mas hoje são poucos os que pensam em preparar seus corações, a
fim de que o Menino Jesus possa nascer neles e ali repousar. Sejamos nós desse
pequeno número e procuremos nos dispor dignamente para arder nesse fogo divino
que torna as almas contentes neste mundo e felizes no Céu.
Com
a queda do homem depois do pecado, trincou-se o relacionamento habitual entre Adão
e Deus. No imponderável das tardes, Deus caminhava no Paraíso com os nossos
primeiros pais, num convívio de pai com filhos. Aquele que era as suas
delícias, que os visitava com todo desvelo paterno, deixou de fazê-lo. Com
efeito, não foi Deus quem rompeu com Adão, mas foi este que, ao comer o fruto
proibido, rompeu com Deus, afastando os seus descendentes do Criador.
Deus
puniu os homens impondo-lhes a pena de trabalhar a terra para comer mediante o
suor de seu rosto. As intempéries, a morte, as doenças, a natureza agreste
investiam contra ele, mas uma esperança pairava de que um dia Deus voltaria
para resgatar as primícias de sua criação. E de fato aconteceu, quatro mil anos
depois.
Na
noite do Natal a Misericórdia divina vence a justiça punitiva e resgata o homem
contaminado pelo pecado. Volta a conviver com ele e fazer as suas delícias estar
com os filhos dos homens. Deus se faz homem, e passa a pertencer à raça humana,
nascendo na noite de Natal: "O Verbo
se fez carne e habitou entre nós e vimos a Sua glória, glória própria do
unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade".
Na
terra todos eram nocentes e nessa condição não havia quem pudesse reabilitar a
amizade entre Deus e os homens. O Filho de Deus se serviu da Imaculada Virgem
Maria para nos trazer o Inocente por excelência. Ele veio pagar pelos
pecadores.
Daí
a importância do Natal, que é a festa de Luz, porque Jesus Cristo é a Luz
verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo. São João Evangelista diz
“que estava no mundo, e o mundo foi feito
por Ele, e o mundo não O conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não O
receberam".
Esse
ensinamento não nos faz pensar em Deus em nossos dias tão
tenebrosos para a fé e para as almas? Não nos faz lembrar as promessas de Nossa
Senhora de Fátima e o triunfo do seu Imaculado Coração?
Que
esses pensamentos ocupem nossas cogitações e nossas vias ao longo de 2017. São
os meus votos neste Santo Natal a todos os leitores.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
Pe. David
Francisquini
Em
artigo anterior escrevemos sobre a corte celeste,
morada das almas santas que fazem parte da Igreja triunfante. Hoje nos ocuparemos de outro novíssimo do
homem, o purgatório, local onde se encontram as almas dos fiéis defuntos
que sofrem temporariamente as penas de um fogo purificador e, por isso mesmo, abrasador.
Ali
as almas não contemplam a glória de Deus e padecem dores semelhantes às provocadas
pelo fogo terreno. Sofrimentos indizíveis – afirmam os tratadistas – que
imaginação alguma seria capaz de avaliar. Trata-se de penas dos sentidos, que
as almas devem padecer pelos pecados cometidos contra o Criador.
Elas
sofrem por não terem feito bom uso dos tesouros inesgotáveis da Igreja em seu
favor, como são as indulgências plenárias e parciais. Sabemos da existência do
purgatório pelas Sagradas Escrituras, quando exortam o pensamento santo e
salutar de orar pelos mortos para que sejam livres dos seus pecados. Nosso
Senhor fala de um cárcere de onde não se sai antes de pagar o último centavo.
A
tradição católica encarregou-se de criar o costume de repicar os sinos para
manifestar o luto pela morte de alguém; de estabelecer, no dia de finados, as Missas
dos defuntos; de fazer as orações e as solenidades fúnebres que acompanham o
sepultamento; de torná-lo digno e sacral pelas cerimônias das exéquias.
A
mesma tradição adverte para a importância e o significado de se socorrer as almas
do purgatório com Missas e boas obras. Com efeito, elas são atendidas através
de orações, jejuns, esmolas, recepção digna dos santos sacramentos e das
indulgências. E quem contribuir para remir uma alma do purgatório pode confiar
que terá nele redenção breve, pois Deus é probo e equitativo, rico em
misericórdia e perdão.
“É certo e até de fé que nós, com os nossos
sufrágios, especialmente com as orações recomendadas pela Igreja, bem podemos
auxiliar aquelas santas almas. Não sei como se poderá isentar de culpa quem
deixa de lhes oferecer qualquer auxílio, ao menos algumas orações", afirma
Santo Afonso Maria de Ligório.
Se
quisermos o socorro de suas orações, é justo que cuidemos de socorrê-las com as
nossas e com as boas obras, exalta o santo. E argumenta que a caridade nos
manda socorrer o nosso próximo em suas necessidades, mormente quando podemos fazê-lo
sem incômodo. Ora, cai debaixo da palavra ‘próximo’ essas almas que estão no
purgatório, porque pertencem à Igreja e à comunhão dos Santos.
Na
verdade, trata-se de um dever cristão socorrê-las em suas necessidades, por
serem verdadeiras prisioneiras de um fogo mais rigoroso que qualquer outro
sofrimento deste mundo. E embora já tenham se salvado, não podem fazer nada por
si mesmas, mas nós da Igreja militante podemos fazer por elas. Eis um dever
cristão. Em contrapartida, elas são gratas e rezam pelos seus benfeitores que se
encontram exilados aqui na terra e necessitando de ajuda sobrenatural.
O
envolvimento com as coisas terrenas pode acabar levando à negligência no
cumprimento das obrigações dos católicos e a uma perigosa consequência: o apego
às criaturas em detrimento do amor de Deus, nosso fim último, verdadeiro e sumo
bem, segundo o que determina o primeiro Mandamento da Sua Lei.
Ainda
que observantes dos preceitos do Decálogo e dos Mandamentos da Igreja, que
determinam, por exemplo, a frequência à Santa Missa aos domingos e dias santos
de guarda, à busca regular e sempre que necessário do sagrado tribunal da
Confissão – condição sine qua non
para a obtenção do perdão dos nossos pecados – é indispensável termos em mente que
as faltas cometidas contra os Mandamentos causam graves prejuízos à saúde da
alma.
Tais
faltas são como nódoas nas almas, com graves danos à integridade da vida sobrenatural
traduzidos em diferentes graus, seja pelo afastamento de Deus, seja pelas
reincidências nas faltas, seja ainda na proporção das deliberações e das
culpabilidades. Disso depende o tempo maior ou menor em que a alma do fiel
defunto fica no purgatório.
Importa
refletir sobre a situação do indivíduo colhido pela morte para entendermos o
real significado do purgatório e o seu sentido no contexto da misericórdia
divina. Lembremo-nos de que somos instados por Nosso Senhor a ser perfeitos como
o Pai celeste é perfeito. O Seu divino Filho nos conclama a aprender d’Ele que
é manso e humilde de coração. Isto requer de todo o verdadeiro católico uma
vida pura, desapegada das coisas deste mundo, modesta em todas as suas condutas.
No
entanto, os atrativos da vida não raro nos atrai de modo compulsivo para vias
faltosas, na contramão dos propósitos e contrários aos deveres de fiéis
seguidores de Cristo. Temos, por conseguinte, como resultado das transgressões
o quadro acima descrito, em que o fiel sente a sua alma acabrunhada pelos pecados.
Embora
tenham sido eles removidos pela absolvição sacramental da Confissão, ainda resta
um débito enorme para com a Justiça divina, ou seja, as penas temporais
resultantes das recaídas em faltas leves e graves praticadas ao longo da vida.
De acordo com os Doutores da Igreja, o Senhor, Justo Juiz, pune com severidade
as menores faltas, pois mesmo estas O desagradam infinitamente e requerem igual
reparação.
Como
o ouro passa pelo fogo para ser purificado de suas impurezas, assim deverão passar
as almas contaminadas pelos traços deixados pelo pecado. Todos os sofrimentos
da terra nada são se comparados ao menor sofrimento do purgatório, como afirmam
os santos. Dir-se-ia que nesta infeliz hipótese as vestes do pecador exigem
reparos, pois não estão à altura do grande banquete nupcial que o Senhor preparou
para os convidados.
Como
se sentiria uma pessoa em vias de comparecer diante de um grande personagem,
sabendo tratar-se de alguém da mais elevada honorabilidade e integridade moral?
É de bom tom que, em momentos como este, todos se apresentem da melhor forma
possível, trajando-se com o maior rigor e decência. Por que seria diferente ao
comparecermos diante de nosso Deus?
Se tivermos
consciência de não nos encontrarmos vestidos de maneira conveniente, torna-se
imperativo prepararmo-nos por meio de orações, atos reparatórios e penitenciais,
que têm o poder de minorar, e, em alguns casos, até de remover as nossas
dívidas temporais. Disto nos dão exemplo as biografias de inúmeros santos,
heróis e modelos irretocáveis da nossa fé.
Caso
contrário, essas penas serão debitadas no fogo purificador do purgatório. Como
diz o próprio nome, esse é um “lugar” de purificação onde as almas passam um
tempo maior ou menor, em todos os casos com uma duração que não tem proporção
com os critérios terrenos, mas sim com os da eternidade.
Esse
fogo purificador restitui às almas a vestimenta do amor de Deus, a santidade e
o vigor que lhe são afins, cuja realidade só as almas bem-aventuradas vislumbram
e almejam com perfeito ardor. Somente depois de refeitos e purificados
poderemos contemplar Deus face a face.
Se
refletirmos sobre as fraquezas humanas, entenderemos por que tantas almas,
mesmo as mais santas, levam o seu quinhão de padecimentos para o post mortem. Exceção feita da Imaculada
Mãe de Deus, Maria Santíssima, e de alguns poucos santos que aprouve à
Misericórdia de Deus, em Seus altíssimos desígnios preservar.
Entretanto,
o hábito salutar de confessar-se tão logo se tenha a infelicidade de cair em
pecado mortal mantém o fiel em estado de graça, na amizade de Deus, condição
indispensável para, além de sufragar as almas dos que já se encontram no
purgatório, conquistar para si méritos que aumentam a sua glória no Céu.
sexta-feira, 28 de outubro de 2016
Remédio
para lutar e vencer
Pe.
David Francisquini
A liturgia tradicional celebra no mais
alto grau as duas festas que a Santa Igreja comemora nos dias 1° e 2 de
novembro. A primeira nos recorda as almas santas que gozam da visão beatífica
na corte celeste; e a segunda, as almas que ainda padecem por suas faltas. A Igreja
Militante nos convida assim, aqui na Terra, à união com a Igreja Triunfante e a
Igreja Padecente, ou seja, com as almas do Céu e do Purgatório.
Convido o leitor a percorrer um pouco essas
magníficas paragens dos justos – dos santos, de todos os santos. Quanto ao
Purgatório, ficará para outra ocasião. Enquanto na Terra vivemos em meio à miséria
e à desolação, sobretudo nos dias de hoje, na corte celeste poderemos nos
deslumbrar diante das maravilhas calmas e alegres, próprias a um lugar onde
impera a ordem decorrente do bom, do verdadeiro e do belo.
Santo Tomás indaga se
Deus, com o seu infinito poder, poderia criar outros seres mais perfeitos que os
já criados. Ele afirma que sim, mas faz uma distinção ao apresentar as três exceções:
Jesus Cristo, a Virgem Maria e a bem-aventurança eterna, isto é, o gozo do
próprio Deus.
Essa bem-aventurança
é um bem que absorve o ser humano na contemplação beatífica. Sob tal aspecto,
não pode haver algo maior nem melhor que Deus pudesse fazer. Santo Agostinho
afirma que nessas três coisas Deus esgota sua ciência, seu poder, sua riqueza e
sua bondade. Para que se possa ter uma ideia da felicidade que os
bem-aventurados gozam no Céu, basta considerar diferença quase infinita deste
com a Terra.
Por maior que seja a
felicidade neste mundo, ela não passa de uma morte que vai se aproximando aos
poucos. Se quiser, uma vida que vai se extinguindo, ou uma morte que vive por
um espaço de tempo, segundo o conceito do Bispo de Hipona. Somos como
estrangeiros, peregrinos, transeuntes que fazem uma grande caminhada para um
destino infinito, para usar pensamento da Escritura Sagrada.
Ao olhar o que nos
cerca, tudo é vil e repugnante, como um cisco comparado à grandeza infinita de
Deus, que nos absorve e nos cumula de eterna felicidade, pois Ele é o
fundamento e a razão suprema do ser inteligente e volitivo que somos. Peregrinos nesta terra de exílio rumo à
eternidade, uma alternativa nos resta: amar o mundo visível, as coisas
perecíveis, desprezíveis, fugazes, que não passam de nuvens que esvoaçam e
desaparecem no firmamento, ou amar e viver eternamente para o fim último que é
Deus, sentido de nossa existência, porque é eterno, infinito, sólido,
incorruptível, verdadeiro e seguro.
No mundo há somente
suor, trabalho, tristeza, dor, temor e ilusão – “vaidade das vaidades tudo é
vaidade”, advertem-nos as Escrituras Sagradas. O Céu é uma cidade sem
sofrimento, onde não há pressa ou sofrimento algum. Nele há paz, descanso,
alegria sem par, segurança ilimitada, bem-estar, pois na Corte celeste reina a
ordem. É a Casa do Pai. Dentro dela, riquezas indescritíveis, harmonias
encantadoras, bens imperecíveis, união estreita e íntima entre os seus
cortesões.
Ao observar este vale
de lágrimas, o mundo que nos cerca, o que vemos? Pessoas envoltas em amarguras
e pecados, traições e desgostos, numa corrida desenfreada atrás de bens materiais,
de um gozo fugaz que traz, à maneira de efeito rebote, tristezas e remorsos, de
um mundo em que só há confusão e atribulação do espírito.
Como num espelho em
que se podem contemplar ligeiramente um rosto ou as figuras nele refletidas,
assim passam as comodidades, a segurança, o bem-estar da sociedade hodierna, que
se debate para manter-se numa aparente estabilidade, que se contorce enquanto avança
rumo às profundezas do caos.
Por outro lado, podemos
contemplar o mundo de felicidades e esperanças, que nos conduz a desapegar –
isso mesmo – de aborrecimentos, tribulações, prantos, tentações, perigos e mil
outras provações do gênero. A consideração desse mundo nos dá um lenitivo espiritual
que serve de remédio retemperante de nossas forças, a
caminho da cidade dos eleitos, lugar que não conhecerá fim.
Não se trata de uma
prisão como tantas existentes neste vale de lágrimas, onde os malfeitores e
criminosos são punidos, mas da verdadeira pátria dos homens virtuosos, da Jerusalém
celeste, que a nossa inteligência é incapaz de compreender, da cidade que
nenhuma riqueza da terra pode edificar e em que todos encontram felicidade de
conviver; cidade perfeita onde o nosso espírito encontrará a verdadeira felicidade.
Pensar na Corte celeste é remédio para lutar e vencer.
Assinar:
Postagens (Atom)