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quarta-feira, 13 de outubro de 2021

 Não ocultemos as verdades


Pe. David Francisquini


Os católicos não devem ocultar como sob um véu os preceitos mais importantes do Evangelho, temerosos de serem talvez menos ouvidos, ou até completamente abandonados, advertiu São Pio X em sua encíclica “Jucunda Sane”. Afinal, a verdade e o bem não constituem mercadoria avariada que necessita entrar de contrabando, devendo, portanto, ser ensinados integralmente pela Santa Igreja. 

Contudo, o mesmo santo pontífice explicou que “sem dúvida, não será alheio à prudência, também ao propor a verdade, usar certa contemporização, quando se tratar de esclarecer homens hostis às nossas instituições e inteiramente afastados de Deus”. Sobre as feridas que devem ser tratadas, São Pio X cita São Gregório Magno, segundo o qual elas devem ser apalpadas com mão delicada. 

E conclui o raciocínio desse seu ensinamento de ‘nada esconder’ com as palavras que seguem: “Mas essa mesma habilidade assumiria o aspecto de prudência carnal se erigida em norma de conduta constante e comum; e tento mais que desse modo pareceria ter-se em pouca conta a graça divina, que não é concedida apenas ao sacerdócio e aos seus ministros, mas a todos os fiéis de Cristo.”

 Uma das excelências da vida é meditar sobre os desígnios de Deus na criação. Temos para isso a filosofia e a teologia da História. Como bom pai, Deus sempre velou pelos seus filhos.  Quando Jesus Cristo se incarnou no seio puríssimo da Virgem Maria, Ele veio cumprir a Lei para a salvação do gênero humano, razão para O glorificarmos hic et nunc, isto é, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos.

Assim, no Antigo Testamento, Deus suscitou patriarcas, profetas e doutores para instruir e guiar seus filhos já estabelecidos como povos. E no Novo Testamento – dando continuidade ao plano da salvação – suscitou apóstolos e discípulos para que, por sua vez, deixassem sucessores. Com efeito, esses homens de Deus disseram verdades... Detenhamos hoje num entre muitos desses apóstolos, S. Luís Maria Grignion de Montfort (1673-1716). 

 Almas como a dele nos foram e nos são enviadas para atuar e fazer cumprir o plano de Deus num determinado período da História, atuando no plano específico da salvação para que os homens não se conformem com as máximas do século, conforme nos admoestou São Paulo, guiando os outros como os antigos profetas. Foi deste luminar francês que Deus quis se utilizar para estabelecer no mundo a forma completa e perfeita da devoção a Nossa Senhora.

Um homem para ser santo precisa praticar virtudes heroicas, e São Luís praticou, entre tantas outras, a de romper com a atmosfera otimista do contexto histórico no qual viveu; ele enfrentou com denodo a feroz intransigência dos despreocupados; suportou a não menos feroz perseguição do próprio episcopado, encerrando a sua vida missionária podendo pregar em apenas duas dioceses de seu país. Ou seja, a perseguição vinha de onde menos se esperava, mas ele tudo suportou. Por quê?

Em primeiro lugar, para a glória de Deus e, em segundo, porque sabia que assim agindo cumpria a missão que Deus lhe pedira, ou seja, pregar que “se de Maria veio Jesus Cristo, será também por Maria que Ele deve reinar na terra e nos corações. Este ensinamento veio preparar não apenas a vinda de outros homens com luzes proféticas para outras missões de guiar o Povo de Deus, mas explica a vinda da própria Mãe de Deus à Terra, tão grande a sua Misericórdia em relação aos seus filhos. 

Apenas em outubro comemoramos duas dessas vindas, além de uma aparição milagrosa, a de Nossa Senhora Aparecida, em 1717. A primeira das vindas foi em Lepanto, no dia 7/10/1571, consagrado a Nossa Senhora do Rosário. A segunda foi bem mais recente, e com uma particularidade, Nossa Senhora falava português, ou seja, em Fátima (1917). Detenho-me nesta última, cuja última aparição ocorreu no dia 13 de outubro daquele ano. 

Em suas mensagens em Portugal, veio confirmar o acerto e a necessidade dessa doutrina sobre Ela, pedindo com insistência que a difundisse pelo mundo inteiro, o que se deu 200 anos redondos depois da morte de São Luís Grignion de Montfort. Ela falou nomes de nações, inclusive que muitas delas iriam desaparecer; falou de guerras; falou de costumes e modas; por fim, que o seu Imaculado Coração triunfaria e teríamos a paz. 

Com efeito, sua aparição ocorreu no dia 13 de maio, repetindo-se sempre no mesmo dia de cada mês até 13 de outubro daquele ano, com exceção do mês de agosto, quando os videntes estavam presos. Numa das aparições a Mãe de Deus mostrou aos videntes o inferno... Segundo narração da Irmã Lúcia, uma das videntes, “Nossa Senhora estende as mãos, emite um facho de luz que penetra a terra, por meio da qual as crianças puderam ver uma terrível cavidade, e nelas se via um pavoroso mar de fogo, com almas incendiadas pelo fogo que delas mesmas saía, viam-se, também, demônios, como negros carvões em chamas, neste mesmo oceano de fogo.”

Ela, portanto, Mãe nossa, nada velou às crianças, por mais aterrorizante que pudesse ter sido tal visão. Pediu a comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados, a recitação do terço, a mudança de vida e a “consagração da Rússia” ao Seu Imaculado Coração.  Caso fossem acatados os pedidos d’Ela, haveria paz no mundo; caso contrário, a Rússia espalharia seus erros pelo mundo. 

A última aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria deu-se um mês exato antes da revolução comunista na Rússia. E como os seus pedidos não foram atendidos, ou o foram molemente, a partir dessa revolução aconteceu o que Ela predisse, ou seja, os erros comunistas grassaram e ainda continuam grassando pela terra. Não existe um só rincão no orbe que não esteja maculado por algum de seus erros. 

E Nossa Senhora continua nos avisando não apenas no íntimo de nossos corações, mas também nos acontecimentos de hoje, como com a pandemia da Covid e suas consequências; nos fatos políticos e até nos fenômenos da natureza... São parábolas? Bem que poderão ser. Lembremo-nos do ensinamento de Nosso Senhor na pena de São Mateus, 13: “Por que razão lhes falas por meio de parábolas? E ele, respondendo, disse-lhes: Porque a vós é concedido conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não. Por isso lhes falo em parábolas, porque vendo não veem, e ouvindo não ouvem, nem entendem.”


O mês de outubro é consagrado a Nossa Senhora do Rosário, cuja festa se celebra no dia 7. Mas temos ainda Nossa Senhora Aparecida no dia 12 e no dia 13 Nossa Senhora de Fátima. Ocasião propícia para meditarmos que no tempo em que o Filho de Deus se fez carne em Nossa Senhora, o mundo não era mais digno de receber Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, se o Padre Eterno O enviou não foi por causa do mundo, mas por causa de Nossa Senhora, foi para atender a um pedido d’Ela, tal é o poder de sua súplica. 

Lembremos mais uma vez que somos seus filhos e supliquemos a Ela que nos ajude com seu maternal auxílio.


terça-feira, 28 de setembro de 2021

 

Dependentes, só de Deus


*Pe. David Francisquini




As grandes manifestações do dia 7 de setembro último -- festa de nossa Independência -- ao mesmo tempo que deram muita esperança ao País de sair do atual impasse a que foi submetido por forças nada ocultas, causaram abatimento não pequeno nas hostes esquerdistas, incluindo os que sonhavam com a dita terceira via, o que parece bom presságio. 

Tenho o hábito, adquirido desde os anos de Seminário, de recorrer às Sagradas Escrituras para preparar sermões e outros estudos, entretendo-me ora com a sabedoria, ora com a ciência, ora com os conselhos ali encontrados, ora com a linguagem grandiloquente e a beleza incomparável de suas metáforas.

Do Novo Testamento, cito apenas a parábola dos lírios do campo, que só poderia ter sido expressa por um Deus... Detenha-se comigo, leitor(a), e admiremos uma vez mais a beleza da narração de São Mateus ao escrever as palavras de Jesus Cristo quando tratou de nosso desapego aos bens terrenos:

E por que vos inquietais com o que vestirá? Considerai como crescem os lírios do campo; eles não trabalham nem fiam. E digo-vos, todavia, que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu jamais como um deles” (6,28).

As palavras inspiradas pelo Espírito Santo são portadoras de grande carga simbólica. Quantos servos de Deus dedicaram as suas vidas a fim de meditá-las, estudá-las, e assim se santificarem, tendo muitos deles deixado consignadas grandes obras para o aproveitamento dos homens e regozijo dos anjos, redundando tudo para a glória de Deus.

 Ainda ontem, lendo e meditando o Livro do Eclesiastes, que muitos atribuem a Salomão, refleti sobre o simbolismo das referências à direita e esquerda, expressões hoje até muito bagatelizadas, mas que não deixam de despertar curiosidade quando tomadas dos livros sagrados e aplicadas às circunstâncias políticas como a que atravessamos no presente momento.

Com efeito, um embate bastante politizado vem ocorrendo no Brasil, fenômeno pouco comum entre nós, pelo menos até o advento das redes sociais, pois os grandes meios de comunicação imperavam de modo absoluto como os únicos que sabiam e poderiam ‘pensar’ pelos brasileiros, impingindo suas tendências, suas modas, suas ideias, enfim, sua filosofia de vida.

As grandes manifestações populares em defesa de nossas antigas instituições -- como a família, guardiã dos bons costumes, da boa ordem social com o respeito ao próximo e ao seu patrimônio, resguardada por um Judiciário que inspirava confiança não apenas imediata, mas perene -- representam a projeção do que a média dos brasileiros pensa sobre o que se convencionou chamar de direita e esquerda em matéria política, aliás termos hauridos dos tempos da Revolução Francesa.

Por oportuno, menciono uma passagem que me atraiu a atenção do livro do Eclesiastes: “O coração do sábio está na sua mão direita, e o coração do insensato na sua esquerda” (Ecl.10,2). Ainda que o autor dessas palavras não tivesse em vista o Brasil atual, nem nossa política, creio ser válida a sua aplicação às circunstâncias de nossa situação.

Enganam-se os que pensam em conduzir o Brasil para as vias propostas pela esquerda política, ou seja, o comunismo, o socialismo, o bolivarianismo e tanto outros ismos, com tudo de desastroso que se encontra em seu bojo.  As manifestações públicas de 7 de setembro e aquelas que as precederam a partir de 2013 demonstram a existência de um Brasil profundo a bradar que sua bandeira jamais será vermelha e que ele deve se manter nas vias da civilização cristã.

Nesse sentido, sob a proteção maternal de Nossa Senhora Aparecida, o Brasil se torna um luzeiro para o mundo, que parece estertorar-se diante de tantos contratempos criados e alimentados pelos próprios homens. Com efeito, tudo o que se tem procurado à guisa de solução vem fracassando ano após ano, dia após dia. Por quê? Porque os homens não querem reconhecer o erro cometido de terem rompido com a doutrina e a lei de Jesus Cristo.

Referi-me acima ao Eclesiastes, agora vejamos o que diz o livro Eclesiástico, 10,7-8: “A soberba é aborrecida por Deus e pelos homens e toda a iniquidade das nações é execrável. O reino é transferido de uma nação à outra por causa das injustiças, das violências, dos ultrajes e de toda sorte de enganos.”

De uma coisa eu tenho certeza e os conclamo a colocar em prática: rezar, confiar e esperar que o Brasil volte para o seu passado cristão, a fim de que seja como uma cidade forte situada sobre um monte, imune de ser ultrajado e violentado pela injustiça e de vir a depender de alguma nação despótica.

quinta-feira, 19 de agosto de 2021


Ponto final nas demarcações de terras indígenas


Pe. David Francisquini


Ora sugerindo, ora admoestando, ora criticando, já escrevi em diferentes ocasiões sobre temas candentes envolvendo os três poderes da república, sobretudo quando eles feriam questões morais e religiosas. Se tal direito é assegurado a todo cidadão brasileiro, por que não o seria para um sacerdote?

Com efeito, a vida pública brasileira vem se tornando cada dia mais borrascosa em decorrência do confronto ideológico de forças contrastantes. De um lado está a grande maioria da opinião pública nacional, que apoia o presidente Bolsonaro, a qual possui uma força de persuasão indizível com suas mobilizações nas redes sociais e multitudinárias manifestações públicas. São as forças vivas da Nação, conservadoras, anticomunistas, defensoras da família e da propriedade.

  De outro lado encontram-se os revolucionários que dia e noite têm procurado tumultuar a vida pública nacional, deixando com justa razão os brasileiros cheios de perplexidade. Na verdade, uma minoria bem articulada, atuante e barulhenta. A grande mídia cerra fileira praticamente toda do lado dela, fazendo isso reverberar Brasil afora, e até no exterior.

Hoje, pretendo tratar de uma questão que se confunde com a nossa história. Ao chegarem aqui os portugueses em 1500, encontraram — não se sabe desde quando — os indígenas, que juntamente com os lusitanos e mais tarde com os negros, forjaram o nosso povo que já se impôs no concerto das nações.

Tal foi a harmonia e a fusão dessas raças na formação de nossa nacionalidade, que bem antes da nossa Independência elas se uniram (1648) para expulsar os invasores holandeses na batalha de Guararapes, ocasião em que nasceu o Exército brasileiro. Tudo isso, sem dúvida, se deveu à têmpera e ao zelo apostólico de muitos missionários, sobressaindo os Padres Nóbrega e Anchieta.

Contudo, de umas décadas a esta parte, surgiram os chamados neomissionários, precursores e fundadores da assim chamada teologia da libertação, para contestar toda essa gloriosa história. Para eles, o indômito e venerável Anchieta teria sido — com a sua catequese de cunho religioso e civilizador — um desagregador, um genocida dos pobres índios!

Esses novos missionários ‘veem’ na organização tribal uma obra-prima de sabedoria antropológica, e, portanto, a missão deles constitui em fazer o contrário dos missionários de outrora: evitar a todo custo que os índios sejam contagiados pelos civilizados. Afinal, eles já vivem num paraíso, onde é coletiva a propriedade dos meios de produção. Segundo esta nova mentalidade, “só temos a aprender com os índios”, ou ainda que “os índios devem empenhar-se em promover agitação agrária”. E assim por diante.

A matéria de hoje é sobre o Marco Temporal. Acabo de recebê-la da Campanha Paz no Campo, dirigida pelo Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança. Trata-se de um manifesto alertando os proprietários brasileiros de que demarcação de terras indígenas ameaça as suas propriedades. Com efeito, “o Brasil está coalhado de áreas de conflito por questões indígenas” e o “STF está para tomar uma decisão que poderá aumentar ainda mais o caos já existente”. Caso a tome, “todas as propriedades rurais, inclusive as urbanas, poderão ser atingidas”.

Segundo o documento de Paz no Campo, “estava estabelecido que somente as terras ocupadas por índios até a data da promulgação da Constituição, 5/10/88, poderiam ser declaradas terras indígenas”. E essa data foi fixada mais tarde como sendo Marco Temporal da ocupação, e assim vinha sendo decidido pelos tribunais. A partir desse marco no tempo, não poderiam ser demarcadas mais terras onde antes não havia índios, nem as terras já demarcadas poderiam ser ampliadas. Com efeito, seria o ponto final desta questão de terras para os índios em nosso território!

Padres Anchieta e Nóbrega na cabana
Pindoguçu

Não me estendo mais por exiguidade de espaço, mas vale muito a pena conhecer a íntegra do documento, o que o caro leitor ou leitora poderá fazê-lo no site https://www.paznocampo.org.br/marco_temporal.php Chamo a atenção para o pedido no final do documento impresso. É um apelo aos brasileiros para que se dirijam aos Ministros do STF nos seguintes termos:

Na qualidade de cidadão(ã) brasileiro(a), independente de origem étnica em que a Providência Divina me fez nascer, venho fazer um apelo para que seja preservado o direito de propriedade e o Marco Temporal. E rejeitado o Recurso Extraordinário número 1.017.365, pelo qual se considera válida a demarcação de terras indígenas em locais onde muito antes da atual Constituição não havia índios”.

Junto minha voz à do apelo. O Brasil precisa de nós para que possa continuar sendo o reino de Nossa Senhora Aparecida. Que Ela nos ajude de modo especial neste momento crucial.

sábado, 31 de julho de 2021

A Igreja crê o que ela reza e reza o que ela crê

 

*Padre David Francisquini

 

Nos idos de 1950, ainda muito criança, todo lampeiro, ia aos domingos com meus pais assistir ao santo sacrifício da missa. Durante a celebração ficava observando os movimentos do sacerdote no altar, as formas e as cores dos paramentos litúrgicos, os cantos, além dos fiéis que, recolhidos, uniam suas intenções às do celebrante. 

Não entendia grande coisa do que ali se passava, mas podia perceber que algo de muito transcendente se operava naquele culto prestado a Deus. Ao voltar para casa, juntos com os meus irmãos, num clima tão sério quanto o permitia nossa idade, sob os olhares comprazidos dos pais, porfiava com eles em imitar as palavras e os gestos do padre, à guisa de também “celebrar” a missa.

Alguma coisa de imponderável daquele ritual se prolongava em nossos espíritos, a ponto de o querermos alegremente imitar. Mesmo sendo em latim, por ser bem ordenado, sem pressa, e ao som de músicas e cantos que elevavam os corações a Deus, concorria para a atuação da graça divina em nós, alimentando a fé e o amor à verdadeira Igreja de Jesus Cristo.

Tratava-se da missa de sempre, hoje incompreensivelmente muito combatida e perseguida, por bispos e até mesmo por altos escalões da Igreja. É chamada ‘tridentina’ para diferenciar da nova missa instituída por Paulo VI em 1969. Foi a Missa a que assisti sempre, até me ordenar sacerdote em 1974. Por fidelidade à Santa Missa e aos ensinamentos emanados do Magistério da Igreja, tive de procurar seminários, um após outro, para me manter fiel à tradição.

Ao entrar no seminário, antes mesmo da realização do Concílio Vaticano II, a Missa tridentina era aquela que encantava todos nós, desejosos de um dia poder celebrar os mistérios divinos da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Perseguido com outros colegas de seminário, eu acabei parando em Campos, onde permaneci como sacerdote que sempre só celebrou a Missa tridentina.

A liturgia dessa Missa, graças à sacralidade, elevação e beleza que lhe são próprias, enriquecida por seus paramentos, orações e gestos, marcou a vida da Igreja por séculos, atraindo graças eficazes para inculcar na sociedade reverência e amor a Deus. Contudo, depois do Concílio Vaticano II, houve uma transformação tal que culminou em uma como que apostasia e evanescência dos fiéis, em decorrência da perda generalizada da fé.

Por que “Missa tridentina”?  Foi e continua sendo a missa que sempre gozou de cidadania na Santa Igreja. Ela atingiu seu apogeu no Concílio de Trento (1545-1563), que teve como objetivo tomar posições referentes às críticas dos reformistas protestantes, além de unificar o culto católico, expurgando os abusos litúrgicos e doutrinários que ensejaram a rebelião de Lutero.

Esse concílio se deveu antes de tudo à preocupação dos Padres conciliares em combater, defender e explicitar a doutrina da Igreja para se premunirem da ameaça do luteranismo.

Na verdade, a reação aos abusos e à decadência religiosa da Renascença veio do Concílio de Trento, que contrapôs os golpes dos luteranos com a unificação da liturgia católica, relacionando o crer com aquilo que se reza, traduzido na máxima lex orandi lex credendi, ou seja, que a norma da oração estabeleça a norma da fé. A Igreja crê o que ela reza e celebra ou reza o que ela crê.

O propósito de São Pio V, fiel depositário das intenções daquele Concílio, não era compor livros litúrgicos novos, mas reproduzir a oração da Igreja já em uso. Restituiu ao missal a primeira regra de orar, retomando assim a primeira norma dos santos padres, que consiste em manter a unidade na celebração dos ritos. Tal unidade na Igreja ao perpetrar um rito é de máxima conveniência, pois remonta aos primeiros tempos da Igreja com a tradição apostólica.

Afinal, o zelo que remonta à tradição deve nos afastar de todo o prurido de novidades que grassa no mundo moderno, para darmos assim continuidade à Igreja por todos os séculos dos séculos. O tema da Santa Missa – a renovação incruenta do santo sacrifício do Calvário – não poderia ser mais excelso, e os tempos decadentes de hoje bradam aos céus por desagravo.

Brademos com Elias Profeta: “Zelo zelatus sum pro Domino Deo Exercituum”, 1 Reis, XIX, 1, ou seja, eu me consumo de zelo pelo Senhor Deus dos Exércitos.

Espero poder voltar ao tema.

terça-feira, 6 de julho de 2021

Quem subsistirá ao dia da ira?

 

Quem subsistirá ao dia da ira?

 

Padre David Francisquini

 


Tratei recentemente da escalada de corrupção moral envolvendo crianças, tendo prometido voltar ao assunto, tamanha a sua gravidade. Infelizmente, se na estrutura familiar ainda perduram alguns valores morais, estes não remontam aos princípios, mas a meros atavismos, muito mais fáceis de serem tragados pela maré montante da Revolução gnóstica e igualitária.

Tornou-se rotina, por exemplo, pessoas provenientes de casamentos desfeitos realizarem uma ou mais uniões, agravando ainda mais a precariedade da estrutura que muitos ainda teimam em chamar de “familiar”, na medida em que trazem filhos de uma união para conviver com outros que não são seus genitores ou irmãos.

Como não perceber que esse arranjo dito familiar resulta da falta de princípios e de convicções religiosas que constituíam até um tempo não muito remoto a salvaguarda do casamento, mas igualmente da instituição da família? 

A união entre um homem e uma mulher que desejassem constituir família se dava num Cartório de Registro Civil (não havia ainda a lei do divórcio), mas era, sobretudo, sacramentado no Altar, onde os nubentes juravam diante de Deus fidelidade mútua – até que a morte os separasse – e a educação da prole. 

O casamento indissolúvel, consubstanciado num Sacramento da Santa Igreja, redunda no bem dos cônjuges, dos filhos e da sociedade. Foi ensinado nos santos evangelhos com validade para todos os tempos e lugares, não devendo o homem separar aquilo que Deus uniu.  Este é um arcabouço sólido para se edificar a união entre o homem e a mulher.

No entanto, na medida em que a Revolução anticristã prossegue seu processo multissecular para implantar todo um estado de coisas avesso à ordem – que é a paz de Cristo no Reino de Cristo –, ela vai derrubando os obstáculos com os quais se depara, sendo o principal deles a família, um dos pilares da civilização cristã.

Aqui no Brasil, a ministra Damares Alves vem denunciando reiteradas vezes o tráfico de


crianças para os piores fins, inclusive para serem abusadas sexualmente, com todas as sequelas que tais aberrações acarretam. 

Se Deus julga e sentencia quem escandaliza e desvia uma criança que para ele seria melhor uma mó ao pescoço e ser lançado nas profundezas do mar, qual é a ameaça que pesa sobre os articuladores que se utilizam das crianças como instrumentos de seus planos para eliminar a ideia de Deus da face da Terra?

Outro reflexo dos dias tenebrosos em que vivemos é o Projeto de Lei, 3.369/2015, do comunista Orlando Silva (PCdoB), conhecido como Estatuto das Famílias do Século XXI, que na opinião de publicações e pessoas autorizadas visa à legalização do incesto e da união entre duas ou mais pessoas.

Como sacerdote de Nosso Senhor Jesus Cristo, eu tenho o dever de ensinar os fiéis a cuidar de suas almas e a se santificar pela frequência habitual dos sacramentos. O ensinamento de hoje é apontar nas Escrituras Sagradas algumas passagens sobre a ira de Deus e os castigos infligidos por Ele àqueles que violam a sua santa Lei.
Deus fala em deixar a cidade em ruínas, desolada e arrasados os seus santuários, sem ofertas nem sacrifícios, a ponto de deixar as pessoas perplexas quando os inimigos ocuparem seus países e habitações, como aconteceu nas nações dominadas pelos regimes ditatoriais e ateus.

Diluvio
O Senhor fala em propagar entre as nações a espada, a desolação e a ruína de suas cidades. Recairá sobre elas o castigo de repente, como a águia se atira sobre a presa, porque rejeitaram obedecer aos decretos de sua santa Lei: “Porque é chegado o grande dia de sua ira, e quem subsistirá?” (Ap. 6, 17).

“Da sua boca saía uma espada afiada para com ela ferir as nações; ele as regerá com uma vara de ferro, e ele é o que pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-poderoso” (Ap. 19, 15).

“Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que vos ameaça? Fazei, portanto, frutos dignos de penitência [...] porque o machado já está posto à raiz das árvores. Toda árvore que não dá bom fruto, será cortada e lançada ao fogo” (Lc 3. 7 e ss.).